quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

EDITORIAL: PARA EVITAR UMA DEMOCRACIA CORRUPTA - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

PARA EVITAR UMA DEMOCRACIA CORRUPTA


    A revelação de que dois deputados federais receberam dinheiro para votar a favor da emenda da reeleição confirma o que todos suspeitavam – sem que houvesse provas – desde janeiro, quando ela foi aprovada pela câmara. Houve negociações de todo tipo, numa gama que vai da legitimidade duvidosa até a pura e simples corrupção.
   Este jornal apoio o direito de o presidente da República disputar um mandato consecutivo nas urnas, embora preferisse que tal mudança de regra fosse decidida em plebiscito. Essa teria sido a fórmula mais democrática e a única capaz de evitar que episódios patéticos, como os revelados agora pelo repórter Fernando Rodrigues, comprometessem a tese.
        Infelizmente, apenas a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar as responsabilidades e identificar os infratores devolverá, ao trâmite da emenda que faculta a reeleição, o mínimo de legitimidade de que ela precisa para merecer o respeito da opinião pública.
        Sabemos que CPIs tendem a se transformar em palco de exibicionismo demagógico e que a convocação de mais uma delas desviará as atenções do fundamental: as reformas na estrutura do Estado, que o governo corretamente pleiteia e que o Congresso tarda em discutir e aprovar. Mas não há opção.
        Seja para não perdemos o passo da evolução internacional, seja para preservarmos a estabilidade, é imprescindível que as contas públicas sejam saneadas e o Estado atue com mais racionalidade e promova justiça social. Em suas linhas gerais, a Folha tem apoiado o programa de privatização e as propostas de reforma administrativa, fiscal e previdenciária.
        Mas não basta modernizar a economia, é preciso melhorar a política, aumentar sua transparência, corrigir suas mazelas.
        Este jornal acredita cumprir sua tarefa ao publicar informações relevantes, amparadas em provas. Caberá as instituições agir sem condescendência, se não queremos uma modernização de fachada e uma democracia corrupta.

                                         Editorial – Folha de São Paulo, 18 de abril de 1997.

Entendendo o texto:
01 – Esse texto é um exemplo de um editorial. Seção do formal em que são expressas as opiniões do editor-chefe ou do proprietário do formal a respeito dos principais acontecimentos tratados numa determinada edição.
        O editorial é o parecer particular, a opinião pessoal do editor. A partir dessas informações, responda:

           a) Dentre as modalidades discursivas – dissertativa, narrativa, descritiva – qual delas o texto representa por definição e composição? Justifique.
      Preponderantemente dissertativo, já que encerra opinião do editor.

           b) Qual o assunto-base de que trata o texto?
      A corrupção.

           c)     Qual o tema abordado?
      Por uma democracia sem corrupção.

           d) Qual a tese defendida pelo editor?
      Sem que o Governo aja com firmeza, não estabeleceremos uma democracia sem corrupção.

           e) Em qual argumento fundamental se apoia o autor, para sustentar a sua tese?
      A necessidade de reformas na estrutura do Estado.

    02 – O texto apresenta três partes bem definidas:
           a) Há uma síntese do assunto, em que o jornalista põe o leitor a par dos fatos. Que fatos são esses?
      A síntese: a denúncia de que dois deputados federais foram subornados, a fim de votar a favor da emenda da reeleição, aprovada em janeiro pela Câmara.

           b) No corpo do texto o autor revela a linha de pensamento do jornal. Que ações são defendidas pelo jornal?
      O corpo: apoia o direito de o presidente da república disputar a reeleição; sugeriu uma CPI par apurar as irregularidades; apela pela justiça social; aprova e confia no Governo quanto às suas decisões de privatizar e fazer reformas.

           c) Na conclusão, o autor expõe suas expectativas e leva o leitor a refletir sobre as posições editoriais apresentadas. Qual(is) é(são) a(s) expectativa(s) do formal?
      A conclusão: o editor espera que as instituições ajam sem condescendência.

    03 – A respeito do título:
          a) A oração constituinte do título possui que valor expressivo?
      Finalidade.

          b) Que reescritura ele receberia, se acrescentássemos uma conjunção e empregássemos o verbo numa forma do modo indicativo, sem que alterássemos o sentido da frase?
      Para que se evite uma democracia corrupta.

          c) Que frase do último parágrafo poderia ser agregada ao título, dando sentido completo, resumindo, dessa forma, o pensamento global editorial?
      Para evitar uma democracia corrupta, caberá às instituições agir sem condescendência.

   04 – No segundo e no quinto parágrafo, o autor faz uso da metonímia na sua comunicação, para indicar ações e posições assumidas. Transcreva essas passagens em referência.
       Este jornal apoiou “... a Folha tem apoiado...”

   05 – “Caberá às instituições agir sem condescendência...” Em relação à expressão sublinhada na frase acima:
a)   Justifique a ocorrência da crase.
       A crase ocorre em função da predicação do verbo “caber”, que exige complemento acompanhado pela preposição “a”, e esse complemento está representado por vocábulo feminino no plural.

b)   Classifique-a sintaticamente.
       Objeto indireto.

   06 – “... é imprescindível / que as contas públicas sejam saneadas / e o Estado atue com mais racionalidade / e / promova a justiça social.”
       A estrutura sintática registrada no trecho acima, constante no quinto parágrafo, é também encontrada no parágrafo seguinte. Transcreva o trecho em que se constata situação de mesmo valor sintático no parágrafo citado.
       “... é preciso melhorar a política, aumentar sua transparência, corrigir suas mazelas”.

   07 – No segundo parágrafo, o autor, ao expor o posicionamento filosófico do jornal, faz uma ressalva. A propósito:
a)   Qual é essa ressalva a que nos referimos?
      O jornal preferia que a mudança de regra a que faz referência fosse decidida através de plebiscito.

b)   Que elemento de coesão ocorre nessa situação e qual o seu valor semântico?
     “Embora” – valor concessivo.

   08 – Explique o emprego dos pronomes “estes” e “essa” que ocorrem no segundo parágrafo.
       O pronome “este” foi empregado para designar o jornal do qual ele, editor, faz parte, é integrante, participante, ou em que se encontra. Já o outro, “esse”, retoma a tal fórmula, o plebiscito, trazendo-o de volta ao texto.

   09 – A respeito da passagem “sem que houvesse provas”:
            a) Explique o emprego dos travessões que a destaca.
       Separa, dá destaque, a uma interferência do editor, com o sentido de emprestar um esclarecimento necessário ao conjunto de ideias apresentado.

            b) Substitua a expressão “sem que” por outra de igual valor.
       Mesmo que não / ainda que não.

            c) Reescreva a frase substituindo o verbo haver pelo verbo existir, e comente a mudança sintática processada na estrutura frasal.
Sem que existissem provas.
       Com a presença do verbo haver, na frase original, decorre a função sintática do objeto direto, representado pelo vocábulo “provas”, e a inexistência de um sujeito na oração. Com a reescritura, o verbo existir, porque possui uma outra predicação, não exige complemento e expõe o termo “provas”, agora como sujeito.

   10 – O texto não é abundante quanto a imagens produzidas por conotações, mas registra algumas imagens que merecem ser decodificadas. Então, decodifique-as:
         a) “Sabemos que CPIs tendem a se transformar em palco de exibicionismo demagógico...”
      Palco – lugar da cena, local para apresentar.

           b) “... se não queremos uma modernização de fachada...”.
      Fachada – aparência, sem consistência, sem valor real.




Nenhum comentário:

Postar um comentário