PARA
EVITAR UMA DEMOCRACIA CORRUPTA
A revelação de que dois deputados federais receberam dinheiro para votar a
favor da emenda da reeleição confirma o que todos suspeitavam – sem que
houvesse provas – desde janeiro, quando ela foi aprovada pela câmara. Houve
negociações de todo tipo, numa gama que vai da legitimidade duvidosa até a pura
e simples corrupção.
Este jornal apoio o direito de o presidente da República disputar um mandato
consecutivo nas urnas, embora preferisse que tal mudança de regra fosse
decidida em plebiscito. Essa teria sido a fórmula mais democrática e a única
capaz de evitar que episódios patéticos, como os revelados agora pelo repórter
Fernando Rodrigues, comprometessem a tese.
Infelizmente, apenas a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
destinada a apurar as responsabilidades e identificar os infratores devolverá,
ao trâmite da emenda que faculta a reeleição, o mínimo de legitimidade de que
ela precisa para merecer o respeito da opinião pública.
Sabemos que CPIs tendem a se transformar em palco de exibicionismo demagógico e
que a convocação de mais uma delas desviará as atenções do fundamental: as
reformas na estrutura do Estado, que o governo corretamente pleiteia e que o
Congresso tarda em discutir e aprovar. Mas não há opção.
Seja para não perdemos o passo da evolução internacional, seja para
preservarmos a estabilidade, é imprescindível que as contas públicas sejam
saneadas e o Estado atue com mais racionalidade e promova justiça social. Em
suas linhas gerais, a Folha tem apoiado o programa de privatização e as
propostas de reforma administrativa, fiscal e previdenciária.
Mas não basta modernizar a economia, é preciso melhorar a política, aumentar
sua transparência, corrigir suas mazelas.
Este jornal acredita cumprir sua tarefa ao publicar informações relevantes,
amparadas em provas. Caberá as instituições agir sem condescendência, se não
queremos uma modernização de fachada e uma democracia corrupta.
Editorial – Folha de São Paulo, 18
de abril de 1997.
Entendendo
o texto:
01 – Esse
texto é um exemplo de um editorial. Seção do formal em que são expressas as
opiniões do editor-chefe ou do proprietário do formal a respeito dos principais
acontecimentos tratados numa determinada edição.
O editorial é o parecer particular, a opinião pessoal do editor. A partir
dessas informações, responda:
a) Dentre as modalidades
discursivas – dissertativa, narrativa, descritiva – qual delas o texto
representa por definição e composição? Justifique.
Preponderantemente dissertativo, já que
encerra opinião do editor.
b) Qual o assunto-base de que
trata o texto?
A corrupção.
c) Qual
o tema abordado?
Por uma democracia sem corrupção.
d) Qual a tese defendida pelo
editor?
Sem que o Governo aja com firmeza, não
estabeleceremos uma democracia sem corrupção.
e) Em qual argumento fundamental se
apoia o autor, para sustentar a sua tese?
A necessidade de reformas na estrutura do
Estado.
02 – O
texto apresenta três partes bem definidas:
a) Há uma síntese do
assunto, em que o jornalista põe o leitor a par dos fatos. Que fatos são esses?
A síntese: a denúncia de que dois
deputados federais foram subornados, a fim de votar a favor da emenda da
reeleição, aprovada em janeiro pela Câmara.
b) No corpo do texto
o autor revela a linha de pensamento do jornal. Que ações são defendidas pelo
jornal?
O corpo: apoia o direito de o presidente
da república disputar a reeleição; sugeriu uma CPI par apurar as
irregularidades; apela pela justiça social; aprova e confia no Governo quanto
às suas decisões de privatizar e fazer reformas.
c) Na conclusão, o autor expõe
suas expectativas e leva o leitor a refletir sobre as posições editoriais
apresentadas. Qual(is) é(são) a(s) expectativa(s) do formal?
A
conclusão: o editor espera que as instituições ajam sem condescendência.
03 – A
respeito do título:
a) A oração constituinte do
título possui que valor expressivo?
Finalidade.
b) Que reescritura ele
receberia, se acrescentássemos uma conjunção e empregássemos o verbo numa forma
do modo indicativo, sem que alterássemos o sentido da frase?
Para que se evite uma democracia
corrupta.
c) Que frase do último parágrafo
poderia ser agregada ao título, dando sentido completo, resumindo, dessa forma,
o pensamento global editorial?
Para evitar uma democracia corrupta,
caberá às instituições agir sem condescendência.
04 – No
segundo e no quinto parágrafo, o autor faz uso da metonímia na sua comunicação,
para indicar ações e posições assumidas. Transcreva essas passagens em
referência.
Este jornal
apoiou “... a Folha tem apoiado...”
05 –
“Caberá às instituições agir sem condescendência...” Em relação à expressão
sublinhada na frase acima:
a)
Justifique a ocorrência da crase.
A crase ocorre em função da predicação
do verbo “caber”, que exige complemento acompanhado pela
preposição “a”, e esse complemento está representado por vocábulo
feminino no plural.
b)
Classifique-a sintaticamente.
Objeto indireto.
06 – “...
é imprescindível / que as contas públicas sejam saneadas / e o Estado atue com
mais racionalidade / e / promova a justiça social.”
A estrutura sintática registrada no trecho acima, constante no quinto
parágrafo, é também encontrada no parágrafo seguinte. Transcreva o trecho em
que se constata situação de mesmo valor sintático no parágrafo citado.
“... é preciso melhorar a política, aumentar sua transparência, corrigir suas
mazelas”.
07 – No
segundo parágrafo, o autor, ao expor o posicionamento filosófico do jornal, faz
uma ressalva. A propósito:
a)
Qual é essa ressalva a que nos referimos?
O jornal preferia que a mudança de regra
a que faz referência fosse decidida através de plebiscito.
b)
Que elemento de coesão ocorre nessa situação e qual o seu valor
semântico?
“Embora” – valor concessivo.
08 –
Explique o emprego dos pronomes “estes” e “essa” que ocorrem no segundo
parágrafo.
O pronome “este” foi empregado para designar o jornal do qual
ele, editor, faz parte, é integrante, participante, ou em que se encontra. Já o
outro, “esse”, retoma a tal fórmula, o plebiscito, trazendo-o de
volta ao texto.
09 – A
respeito da passagem “sem que houvesse provas”:
a) Explique o emprego dos
travessões que a destaca.
Separa,
dá destaque, a uma interferência do editor, com o sentido de emprestar um
esclarecimento necessário ao conjunto de ideias apresentado.
b) Substitua a expressão “sem
que” por outra de igual valor.
Mesmo que não / ainda que não.
c) Reescreva a frase
substituindo o verbo haver pelo verbo existir, e comente a mudança sintática
processada na estrutura frasal.
Sem que
existissem provas.
Com a presença do verbo haver,
na frase original, decorre a função sintática do objeto direto, representado
pelo vocábulo “provas”, e a inexistência de um sujeito na oração. Com a
reescritura, o verbo existir, porque possui uma outra
predicação, não exige complemento e expõe o termo “provas”, agora como sujeito.
10 – O
texto não é abundante quanto a imagens produzidas por conotações, mas registra
algumas imagens que merecem ser decodificadas. Então, decodifique-as:
a) “Sabemos que CPIs tendem a
se transformar em palco de exibicionismo demagógico...”
Palco – lugar da cena, local para
apresentar.
b) “... se não queremos uma
modernização de fachada...”.
Fachada – aparência, sem consistência,
sem valor real.
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