domingo, 18 de fevereiro de 2018

CONTO: O CASO DO ESPELHO - RICARDO AZEVEDO - COM GABARITO

CONTO: O CASO DO ESPELHO
                Ricardo Azevedo


    Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.
    Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
       --- Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
       --- Isso é um espelho --- explicou o dono da loja.
       --- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
       Os olhos do homem ficaram molhados.
       --- O senhor... conheceu meu pai? --- perguntou ele ao comerciante.
       O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
       --- É não! --- respondeu o outro. --- Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
       O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
       Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou cuidadoso o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
       A mulher ficou só olhando.
       No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal-da-cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
       --- Ah, meu Deus! --- gritava ela desnorteada. --- É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
       Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem comida.
       --- Que foi isso, mulher?
       --- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
       --- Que retrato? --- perguntou o marido, surpreso.
       --- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
       O homem não estava entendendo nada.
       --- Mas aquilo é o retrato do meu pai!
       Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
       --- Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
       A discussão fervia feito água na chaleira.
       --- Velho lazarento coisa nenhuma! --- gritou o homem, ofendido.
       A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar para casa.
       --- Que é isso, menina?
       --- Aquele cafajeste arranjou outra!
       --- Ela ficou maluca --- berrou o homem, de cara amarrada.
       --- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
       A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.
       Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
       --- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
       E completou, feliz, abraçando a filha:
       --- Fica tranquila: a bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

                                    AZEVEDO, Ricardo. O caso do espelho. In:
 Nova Escola, Maio 1999.p. 28-9.

Entendendo o texto:
01 – Na situação inicial do conto, há um homem do campo que vai a cidade. Ao passar diante de uma loja, ele comete um engano. Qual foi o engano cometido?
       O engano foi confundir um espelho com um retrato.

02 – Ao se referir-se à personagem como “um homem que não sabia quase nada” e que “morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata”, o narrador dessa história dá pistas, indícios sobre a personagem antes mesmo de o leitor saber o que vai acontecer. Como seria uma pessoa que vivesse como essa personagem: tivesse as mesmas características e habitasse o mesmo ambiente?
       O aluno deve perceber que “não saber quase nada” pode estar relacionado a uma condição cultural, de ingenuidade ou simplicidade na forma de encarar a realidade.

03 – Por que ao olhar o espelho o “homem que não sabia quase nada” achou que estava vendo o retrato do pai?
       Provavelmente, ele era muito parecido com seu pai. Além disso, é possível que ele nunca tivesse se olhado num espelho.

04 – Por que motivo o “homem que não sabia quase nada” continuou teimando que estava olhando para o retrato de seu pai mesmo com a explicação do dono da loja?
       Ele confiava somente no que via, e o fato de não saber o que era um espelho o levava a pensar que se tratava de um retrato.

05 – Para tentar ajudar na difícil situação, a mãe da moça foi verificar o retrato. Transcreva do texto as características que ela atribuiu à imagem que viu.
       Enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada.





21 comentários:

  1. Amei Por causa dessas resposta passei de ano hehehe😘😘😘

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  2. Não gostei não;-; não tem todas as atividades

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  3. Recantos,envolvidos,confirmar,umidos,cobrindo,pessoa,satisfeito,surpreendido,sepultura

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  4. O que fez o homem acredita que estava vendo seu pai?

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  5. O que a mulher viu quando olhou para o embrulho que estava na gaveta?

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  6. Por que a mulher ficou brava quando viu o embrulho que o marido havia guardado na gaveta?

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  7. O que a sogra viu ao olhar o embrulho?

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  8. Em sua opinião, por que cada pessoa viu uma imagem diferente? Justifique a sua resposta?

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  9. Pois a semelhança deles eram diferentes,e como eles tinham a semelhança diferentes eles viam a si mesmo,ou seja,outra imagem.

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