CRÔNICA: O JUSTO
Armando Nogueira
O treinador reuniu a turma no vestiário e escalou doze:
onze e o goleiro. O capitão do time estranhou, avisando que havia gente demais.
O
técnico, porém, sustentou a escalação:
– Isso é problema do juiz, o teu é
jogar e tentar ganhar a partida.
E
lá se foi o time para o campo.
Cinco minutos de jogo, a
torcida começou a gritar, alertando o árbitro: “O Pipira tem doze!” O árbitro
interrompeu a partida, contou os times e deu uma bronca no capitão que, por sua
vez, passou a bola ao treinador:
– Fala co’home ali.
O juiz foi ao técnico e mandou retirar de campo o
excedente. Uma confusão tremenda na pista. O técnico chamou o árbitro para uma
conversa em particular. Saíram dos dois na direção do centro do campo. A
torcida, aos berros, descompunha todo mundo pelo atraso.
Os dois isolados no grande círculo, o técnico pôs a mão no
ombro do juiz e entrou nas explicações:
– O problema é o
seguinte: eu sou um homem de cinquenta anos, estreando na profissão. E sou novo
aqui na terra. Acontece que, hoje de manhã, o presidente do clube me deu um
bocado de nome, pra pôr no time. Dois são protegidos do delegado, quatro do
comandante do destacamento, o goleiro é filho do gerente do banco, o presidente
diz que os dois ponta-de-lança em que jogar de qualquer maneira. Eu fui
escalando, escalando…
–
É, mas passou da conta – diz o árbitro, inflexível.
– E eu não sei que passou? Ia ser mais.
Por sorte, o sobrinho do prefeito amanheceu com o pé inchado e pediu para não
jogar. Senão, entravam treze.
– Bom, mas para começar o jogo, o
senhor tem que tirar um… – diz o juiz.
– Eu, tirar um? Deus me livre! Tira o senhor. Por mim, o
time joga com doze. Se o senhor está dificultando, vai lá o senhor e tira um, escolhe
lá um. O mais que posso fazer é colaborar com o senhor. Por exemplo, não tire
nem o cinco nem o seis que dá bolo com o chefe de polícia. E o pior é que agora
eu já confundi tudo: não sei mais se o oito é gente do comandante do
destacamento ou se é o filho do gerente do banco…
O
árbitro encarou o técnico do Pipira, enfiou o apito no bolso e saiu como uma
fera:
– Doze contra onze, comigo, não. Doze
contra onze, só se me expulsarem da Liga.
Parou diante do banco dos reservas do Serrinha
F. C. E dirigiu-se ao técnico, sentencioso como nunca:
– Carvalho, bota mais um dos teus
homens em campo, Carvalho. Eu tenho horror à injustiça!
NOGUEIRA,
Armando. Bola na rede. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973.
Entendendo o texto:
Depois de ter lido o texto
responda às questões abaixo:
01 – O técnico do Pipira, ao
escalar o time, baseou-se:
a.( ) na capacidade
de cada jogador
b.( ) nas
características dos adversários
c.(X) nas recomendações de seus superiores
d.( ) nas suas
próprias convicções.
02 –
Quais foram as três primeira providências do juiz ao perceber a manifestação da
torcida?
a) Interrompeu
a partida.
b) Contou os
jogadores.
c) Advertiu o
capitão do Pipira.
03 – O técnico
do Pipira informou que o time entraria em campo cm dois jogarias a mais. Por
que entrou com doze e não com treze?
Porque o sobrinho do prefeito pediu para
não jogar pois estava com o pé inchado.
04 – O técnico
negou-se a tirar de campo um dos jogadores. Por que não acatou a ordem do juiz?
Porque não queria desagradar seus
superiores preferindo que o juiz agisse em lugar dele.
05 – O que
o autor da narração deste episódio quis mostrar com o fato?
Mostrar a interferência de autoridades no
esporte, principalmente no futebol.
06 – Na
frase: “O técnico, porém, sustentou a escalação.” A palavra
em destaque significa:
a. (X) confirmou, ratificou o
time
b. ( ) fez as
despesas do time
c. ( ) aguentou o
peso, escorou o time
d. ( ) alimentou,
nutriu o time.
07 –
Localize as palavras, no texto, que tenham estes significados:
a)
Aquele que treina ou dirige os treinos e escala os jogadores.
Treinador e técnico.
b)
Aquele que tem autoridade e poder para julgar e dar sentenças.
Juiz e árbitro.
c)
Jogadores que podem substituir os titulares no decorrer da
partida.
Reservas.
d)
Pessoas que incentivam o time, desejando vitória.
Torcida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário