ARTIGO DE OPINIÃO: OS MUITOS FANTASMAS
Clóvis Rossi
O
encontro de ontem entre o presidente da Federação da Indústria do Estado de São
Paulo, Mário Amato, e o presidente da Central Única dos trabalhadores, Jair
Meneguelli, em torno de uma pauta comum de combate à inflação é revelador do
tamanho que ganhou o fantasma da disparada de preços.
Meneguelli
e Amato, representantes de um pedaço expressivo da sociedade, têm tão tremendas
diferenças de opinião a respeito de quase tudo que seria inimaginável vê-los
discutindo com proveito qualquer coisa. Mas a presença de um inimigo comum,
externo a ambos, colocou-os lado a lado, o que é primeiro passo positivo.
O
problema é que subsistem outros fantasmas, além da inflação, a travar p
aprofundamento dos contados entre sindicalistas e empresários. Vicente Paulo da
Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, aponta um
deles: “Os empresários são contraditórios. falam em pacto, mas gastam um
dinheiro para tentar remover da Constituição direitos sociais mínimos”.
Vicentinho
pede “um gesto concreto” de Mário Amato na direção do atendimento de
reivindicações dos sindicatos.
Entre
os dois outros interlocutores da mesa tripartite de um pacto contra a inflação,
empresário e o governo, pesa a mesma sombra de desconfiança. Os empresários
acham que o governo não faz o que deve, em matéria de corte do déficit público,
enquanto o governo jura que está fazendo tudo o que pode.
Também
entre governo e sindicalistas, há uma óbvia desconfiança, a ponto de Vicentinho
generalizar. “Falta credibilidade tanto por parte do governo como por parte do
empresário”. É muito possível que os empresários e o governo achem que a mesma
credibilidade deles exigida falte aos líderes sindicais.
Fica
difícil, nesse terreno pantanoso, caminhar na direção de um acordo que abata o
inimigo comum, a inflação. A única perspectiva é a constatação de que algo
precisa ser feito, porque mesmo as mais negras previsões feitas até o fim do
primeiro semestre começam a ser atropeladas por uma realidade ainda mais feia.
Clóvis
Rossi – Folha de São Paulo: A-2, 20 jul. 1998.
Entendendo
o texto:
01 – No
primeiro parágrafo, o produtor do texto afirma que o encontro ente Mário Amato
e Jair Meneguelli serve para revelar que a disparada dos Preços ganhou
proporções assustadoras. Qual o argumento que Clovis Rossi usa para demonstrar
a afirmação que faz?
A
inflação é tão assustadora que colocou à mesma mesa filosofias opostas para
debater um problema comum.
02 –
Embora reconheça que o encontro entre sindicalistas e empresários seja um passo
positivo para tentar resolver o problema da inflação, o articulista considera
difícil que esses contatos progridam e se estreitem mais. Qual o argumento
usado pelos sindicalistas e mencionado pelo autor para comprovar sua visão
pessimista?
A
contradição dos empresários.
03 –
Quando diz “Os empresários são contraditórios. Falam em pacto, mas gastam um
dinheirão para tentar remover da Constituição direitos sociais as palavras do
líder sindical.
Em termos de argumentação, que efeito produz a citação textual?
Comprovação
da verdade.
04 –
Clóvis Rossi cita textualmente as palavras de Vicente Paulo da Silva para
argumentar a favor de uma afirmação que fez anteriormente. De que afirmação se
trata?
Há muitos
fantasmas além da inflação.
05 – Qual
o argumento que usa para demonstrar que entre o governo e os empresários também
existe desconfiança?
O corte do déficit público.
06 – Por
que o articulista afirma cautelosamente que “é muito possível que os
empresários e o governo achem que a mesma credibilidade deles exigida falte aos
líderes sindicais”?
Porque ele vê falta de credibilidade entre empresários e governo.
07 – Lendo
o texto, no seu todo, pode-se concluir que Clóvis Rossi usou vários argumentos
para afirmar que:
a) A inflação é o maior de todos os
problemas que separam empresários e sindicalistas.
b) Apesar de um
pequeno progresso, o pacto entre empresários e sindicalistas encontra
obstáculos pela frente.
c) O governo
desconfia dos empresários tanto quanto os empresários desconfiam dos
sindicalistas.
d) Não há base
alguma para um acordo entre empresários e sindicalistas.
e) Os próprios
sindicalistas estão divididos entre si.
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