TEXTO: MAINÁ
Há indivíduos que querem
sempre que os outros adivinhem os preços de suas compras. São incapazes de
dizer que adquiriram, por exemplo, uma camisa pela bagatela de 15
reais. Preferem assim:
– Adivinhe por quanto
comprei esta camisa.
Se o outro dá um preço
aproximado, nada acontece. Se diz um mais alto, eles ficam felizes, sentem-se
vitoriosos, porque espertos, e afirmam, com satisfação:
– Muito menos.
Mas se acontece o preço
dado ser bem inferior, esses indivíduos se irritam! …
Foi o que sucedeu comigo.
Encontrei o Tinoco, num bar. Aliás, nem sei bem se ele é Tinoco ou Tonico.
Sempre lhe troco o apelido. Como não se incomoda, venho fazendo a confusão, há
muitos anos.
Tonico ou Tinoco tem a
mania de passarinho. Seu quintal é o maior viveiro que conheço. E o mundo pode
acabar-se, contanto que seus passarinhos escapem…
No encontro, Tinoco ou
Tonico podia ter-me dito que comprara um mainá da Ásia por tanto em dinheiro,
e, a seguir, normalmente, descrever o pássaro. Figura, porém, entre os que
querem que os demais acertem preços. E acabou dificultando nosso entendimento:
– Iolando, adivinhe por
quanto comprei um mainá.
Ora, não estou em dia com
o mercado de pássaros. Arrisquei um palpite:
– Dois mil reais.
Jamais fui tão infeliz!
Tonico ou Tinoco virou fera. Bateu na mesa e quase me agrediu:
– Você precisa perder a
mania de desfazer do que é dos outros.
– Perdão, Tinoco, não
tive essa intenção.
– Teve sim. Onde já se
viu um mainá asiático por dois mil reais? Isso é preço de periquito
australiano. Nem canário-da-terra custa tão pouco. Que desaforo!
– Desculpe, Tonico.
– Não posso desculpar.
– Mas, Tinoco, eu não entendo de pássaros.
– Vê-se logo que você não
entende. Aliás, de que você entende?
– De nada.
– Nota-se.
– Então, não leve a mal,
Tonico.
Ele, todavia, continuou
irritado:
– Um mainá por dois mil
reais! Pássaro raro da Ásia! Preto e azulado, com o bico e as patas amarelas!
Cometi outra
infelicidade:
– Você achou muito ou
pouco o preço que eu dei, Tinoco?
Desesperou-se:
– Quer ofender-me?
– Não, Tonico.
– Só pode querer. Está a
chamar-me de burro.
– Jamais, Tinoco.
– Mainá é pássaro que
fala tal qual o homem. Fala melhor que papagaio. Sua voz se assemelha à nossa.
O meu grita o dia todo: “- Pessoal! Penico de barro enferruja?”
– É asiático, mas fala
português, Tonico?
– Fala.
– Como poderia custar dois mil reais?
Vá desfazer nos raios que o partam.
Bateu na mesa, mais uma
vez. Levantou-se. Bufou. Saiu, furibundo, a resmungar desaforos. E até hoje não
sei quanto lhe custou o mainá…
NESTOR DE HOLANDA. Telhado
de Vidro. 2a. Edição,
Rio,
Cia. Brasileira de Divulgação do Livro.
Entendendo o texto:
01 – Por que há certos indivíduos que não dizem o preço de suas compras?
a ( ) porque
desejam esconder o preço
b (X) porque querem que
os outros o adivinhem
c ( ) porque
pagam muito caro por elas
02– O que acontece se a resposta for um preço aproximado?
Nada acontece.
03 – E se a resposta for um preço mais alto?
Ficam felizes,
sentem-se vitoriosos, porque se consideram espertos.
04 – Quando é que esses indivíduos se irritam?
Quando o preço dado for
bem menor.
05 – Tinoco ficava furibundo por ser chamado de Tinoco, ou vice-versa?
( ) sim (X) não
06 – Justifique, com uma frase do texto, a resposta dada à questão
anterior.
“Como não se incomoda, venho fazendo
confusão há muitos anos.”
07 – Qual era, para Tonico ou Tinoco a coisa mais importante do mundo?
O seu viveiro de
pássaros.
08 – Justifique a resposta dada à questão anterior, com uma frase do
texto.
“E o mundo pode acabar-se, contanto que
seus pássaros escapem.”
09 – O entendimento entre Tinoco ou Tonico e o autor desta história foi
dificultado porque:
a. ( ) o autor
não entendia de pássaros
b. ( ) Tinoco ou
Tonico estava furibundo desde o começo do dialogo
c. (X) Tonico ou Tinoco pertencia à
categoria dos que não dizem o preço de suas compras e querem que os outros o
acertem.
10 – Diante do preço sugerido por seu interlocutor, Tonico ou Tinoco se
refere a duas outras espécies de aves. São canário da terra e periquito australiano.
11 – Tonico ou Tinoco aceitou o pedido de desculpas do amigo?
( ) sim (X) não
12 – Pelo dialogo que segue ao pedido de desculpas, Tonico ou Tinoco
insinua que o amigo é:
a. ( ) um grande
conhecedor de vários assuntos, exceto de pássaros
b. (X) um ignorante
total
c. ( ) um débil
mental
13 – Embora asiático, o mainá falava português.
14 – Afinal Tonico e Tinoco voltou às boas, concordando em dizer o preço
do mainá?
( ) sim (X) não
15 – Justifique sua resposta à questão anterior com uma frase do texto.
“E até hoje não sei quanto lhe custou o
Mainá.
16 – Em: “São incapazes de dizer que adquiriram…” à palavra em destaque significa:
a. ( ) lucraram b. (X) compraram
c. ( ) angariaram.
17-Encontre no texto, a palavra ou expressão que é sinônima de:
a. insignificância:
bagatela.
b. Mas se ocorre: mas se acontecesse...
c. foi o que aconteceu
comigo: foi
o que sucedeu comigo...
18 – Na expressão: desfazer o contrato, a palavra grifada
tem o mesmo sentido de desfazer, usado no texto?
( ) sim (X) não
Justifique sua resposta:
Desfazer o contrato:
significa anular o contrato.
Desfazer: no texto, significa depreciar,
desmerecer, desvalorizar.
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