CRÔNICA: O ÚLTIMO A ENTRAR
Fernando Sabino
Só são permitidos seis em pé; como é
que já haviam entrado sete naquele ônibus de fim de linha em
West Hampstead? É que o trocador não tinha visto.
O chofer viu, no
momento de dar partida:
– Tem um sobrando aí atrás.
E não
deu partida. O trocador contou os passageiro em pé: é verdade, estava sobrando
um. Qual? Naturalmente o que entrara por último.
– Quem é que entrou por último?
O diabo é que haviam entrado todos
praticamente ao mesmo tempo.
– Um dos senhores tem que descer.
Cada um olhou para os demais, esperando que
alguém se voluntariasse. Ninguém se mexeu.
– Como é? Alguém tem de sair.
O chofer veio de lá, em auxílio do
colega. Fez uma preleção sobre o cumprimento da lei, ninguém se comoveu.
– Vamos chamar um guarda –
sugeriu ao trocador.
Saíram do ônibus, cada um para o seu
lado, à procura de um guarda.
Um velhinho,
alheio ao impasse, entrou muito lépido no ônibus, aumentando para oito o numero
de passageiros em pé. Em pouco voltava o chofer, acompanhado de um guarda. O
guarda foi logo impondo respeito:
– Salte o último
a entrar.
O bom velhinho não
vacilou: com autoridade não se brinca. Sem querer saber por que, do jeito que
entrou, tornou a sair. O chofer, secundando com um olhar vitorioso a decisiva
atuação do guarda, foi se aboletar de novo ao volante. Não sem uma última
olhada pelo espelhinho sobre os passageiros em pé: um dois, três, quatro,
cinco, seis, ué, que história é essa? Continuavam sendo sete?
– Ainda tem um
sobrando.
E veio de lá, disposto a conferir.
Não tinha dúvida: voltaram a ser sete.
– Um vai ter que sair.
Os passageiros
continuaram firmes – cada um plenamente de acordo, desde que fosse outro a
sair. Um deles, já irritado, e por estar mais perto da porta, cometeu a
imprudência de deixar o ônibus para buscar de novo o guarda, que já ia longe.
Os outros sugeriram ao chofer:
– Aproveita agora. Só tem seis, toca
o ônibus.
Faltava o trocador, que ainda não havia
voltado. O chofer convocou às pressas outro trocador nas imediações, que a
companhia costumava deixar de plantão no fim da linha:
– Entra aí e vamos embora, que já
estou atrasado.
O novo trocador assumiu o posto, e
quando o ônibus já ia arrancando, deu com o velhinho ali firme junto ao poste:
– E o senhor?
– Esperando ônibus.
–
Então entre.
O velhinho entrou, o ônibus partiu.
(SABINO, Fernando. A inglesa
deslumbrada. 3a. Edição.
Rio de Janeiro, Editora Sabiá, 1969)
Entendendo o texto:
Com base no texto, responda às questões:
01 – A situação descrita passa-se dentro de quê e onde?
a. ( ) avião, em um aeroporto francês
b. ( ) metrô, na cidade de São Paulo
c.
(X) ônibus, em uma estação rodoviária na Inglaterra
d. ( ) transatlântico, num cais de porto na Itália.
02 – Havia uma determinação sobre a quantidade de passageiros que podiam
viajar em pé e alguém percebeu que havia excesso. Quantos podiam viajar em pé e
quem percebeu o excesso?
Só seis pessoas podiam
viajar em pé e quem percebeu o excesso foi o motorista do ônibus.
03 – Mesmo ouvindo a ordem de descer, nenhum dos sete passageiros em pé,
se mexeu, pois:
a. ( ) todos entraram juntos no ônibus
b. ( ) o guarda ainda não havia chegado
c. ( ) o chofer não tinha feito sua preleção
d.
(X) cada um esperava que o outro saísse
04 – Como ninguém resolvesse desembarcar, surgiu a ideia de chamar um guarda.
Quem teve essa ideia?
O trocador.
05 – Quando o guarda ordenou que descesse o último a entrar, foi logo
atendido. Isso resolveu o problema?
( )sim (X) não Por quê?
Porque o número de passageiros em pé ainda excedia ao número permitido.
06 – Quando o ônibus finalmente partiu, estava de acordo com a
determinação legal?
( ) sim (X) não Por quê?
Porque o novo trocador convidou o velhinho para embarcar, havendo de
novo sete passageiros em pé.
07 – Qual teria sido a intenção do autor ao narrar essa história?
a.
(A) Demonstrar que sempre há alguém desrespeitando as leis.
b. ( ) Os ônibus sempre trafegam com excesso de passageiros.
c. ( ) Na Inglaterra, as leis são respeitadas por todos.
d. ( ) Os idosos têm sempre prioridade e por isso é
permitido não cumprir a lei.
08 – Marque a frase cuja palavra “linha” tem o mesmo significado da
usada no texto: “… haviam entrado sete naquele ônibus de fim de linha…”
(par. 1).
a.
(X) O ônibus ficou parado ali no fim da linha.
b. ( ) Pode confiar nele, pois é pessoa de linha.
c. ( ) Quero que plantem essas árvores em linha.
d. ( ) A linha era muito grossa, por isso não entrava no
buraco da agulha.
09 – Preencha as lacunas com as palavras comprimento ou cumprimento,
de acordo com o sentido a ser empregado:
a. “Seu” guarda, o comprimento da linha é enorme.
b. E a empresa exige o cumprimento do horário?
c. É só atrasar ou adiantar que vem bronca deste comprimento.
d. E os passageiros? Sabem que estão sujeitos ao cumprimento da lei?
e. Se não sabem, com o senhor lá, vai haver o cumprimento imediato.
f. E não vai me comover o comprimento da fila. Lei é
lei.
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