CRÔNICA: CHUÍ COMANDA O TRÁFEGO
Aníbal Machado
Num domingo, à
hora cinzenta em que terminam as festas e todos voltam meio
decepcionados para casa, rugiam de impaciência os automóveis ante o sinal
vermelho. Alguns farolavam de longe, pedindo passagem. Mas o vermelho
não cedia ao verde. E, com a força de seu símbolo, paralisava
o tráfego.
Os terríveis moleques da
Praça perceberam a confusão. Chuí, o principal deles, resolve intervir. Vai
para o meio do asfalto, começa a acenar aos motoristas.
Que passassem! Livre
estava o trânsito para a direita.
– Podem vir! Não estou
brincando! É verdade…
Hesitaram alguns a
princípio. Depois romperam. Outros os seguiram.
Chuí, imponente, estende
os braços para a rua principal. Os motoristas enfim acreditam nele. E a imensa
massa de veículos – cadilaques, oldsmobiles, buíques, fordes e chevrolés –
desfilam ao comando único do pequeno maltrapilho.
Em enérgico movimento,
Chuí ordena aos carros que parem. Gira o corpo, estica o braço, e manda que
sigam pela esquerda os da rua principal. No que é obedecido.
Passageiros e motoristas
atiram moedas. Mas o improvisado inspetor, cônscio de suas
responsabilidades, sabe que não pode abaixar-se para apanhá-las sem risco para
o trânsito.
A noite descera depressa e
os combustores não se acendiam.
Mais rubro na escuridão, o
sinal vermelho tendo perdido a função de proibir, só confiavam os motoristas no
braço infalível de Chuí.
Quando, gritando de longe,
a mãe do garoto o ameaçava com uma coça, aparece, uniformizado, um inspetor de
verdade. Prende Chuí e o leva chorando para o Distrito.
– Nós apanhamos as moedas
para você, gritam-lhe os companheiros.
Não eram as moedas que ele
queria, oh! não era isso! O que Chuí queria era voltar ao tráfego, continuar
submetendo aqueles carros enormes, poderosos, ao seu comando único, ao aceno do
seu bracinho…
Fonte: (Aníbal Machado. A morte da porta-estandarte e outras histórias. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1965)
Vocabulário:
Farolavam – piscavam os
faróis
Cônscio – consciente
Combustores – postes para
iluminação pública
Coça – surra
Entendendo o texto:
Marque com um x o sinônimo das palavras ou expressões grifadas:
01 – Em: “Um domingo à hora cinzenta em que terminam as
festas…” a expressão grifada significa:
a. ( )
pela
madrugada
b. ( ) ao amanhecer
c. (X) ao anoitecer
d. ( ) durante a tarde
02 – Em: “Mas o vermelho não cedia ao verde.” a palavra
grifada significa:
a. ( )
respondia b. (X) dava vez
c. ( )
prestava atenção d. ( ) fazia
sinal
03 – Em: “Mas o improvisado inspetor…”, a palavra
grifada significa:
a. ( )
preparado com
antecedência
b. ( )
marcado de repente
c. ( )
planejado com
atenção
d. (X) arranjado às
pressas
04 – Em: “… para apanhá-las sem risco para o trânsito…”,
a expressão grifada pode ser substituída por:
a. ( )
sem medo b. (X) sem perigo
c. ( )
sem importância d. ( ) sem
responsabilidade.
Assinale a alternativa de acordo com o texto.
05 – Do trecho: “… o vermelho não cedia. E, com a força do seu símbolo,
paralisava o tráfego. “, podemos entender que:
a. ( )
os carros estavam parados diante do sinal luminoso porque a luz vermelha era
intensa e atrapalhava a visão dos motoristas
b. (X) o sinal luminoso
havia enguiçado, indicando somente o vermelho, e por isso, os carros não podiam
andar
c. ( )
os motoristas não entendiam o significado da luz vermelha e, por isso,
permaneciam no mesmo lugar
d. ( )
os motoristas estavam cansados e, por isso, pararam diante do sinal luminoso,
esperando a luz verde.
06 – O fato de Chuí ter assumido o comando do tráfego indica que ele
estava querendo:
a. ( )
chamar a atenção dos motoristas
b. (X) ajudar os
motoristas
c. ( )
divertir os passageiros dos carros
d. ( )
preocupar os motoristas
07 – Em relação à atitude de Chuí, os motoristas demonstram dois
comportamentos diferentes no que se refere ao início e ao decorrer da história.
Esses comportamentos são, respectivamente:
a. ( )
confiança e
tranquilidade
b. ( )
indecisão e indiferença
c. (X) indecisão e
confiança
d. ( )
impaciência e aborrecimento
08 – O trecho que mostra a seriedade com que Chuí executou o papel de
guarda de trânsito é:
a. ( )
“Chuí, o principal deles, resolve intervir. Vai para o meio do asfalto, começa
a acenar para os motoristas.”
b. (X) “Mas o
improvisado inspetor, cônscio de suas responsabilidades, sabe que não pode
abaixar-se para apanhá-las sem risco para o trânsito.”
c. ( )
“… só confiavam os motoristas no braço infalível de Chuí.”
d. ( )
“… a imensa massa de veículo desfila ao comando único do pequeno maltrapilho.”
09 – Chuí vai chorando para o Distrito porque:
a. (X) não poderia
continuar comandando o trânsito
b. ( )
não poderia apanhar as moedas
c. ( )
temia ser castigado pela mãe
d. ( )
sentia medo do inspetor.
10 – Ao final do incidente, Chuí demonstra ter ficado:
a. ( )
realizado
b. ( ) nervoso
c. (X) frustrado
d. ( ) agradecido.
11 – Numere as frases segundo a ordem dos fatos no texto:
a. (3) Chuí resolve intervir.
b. (6) Os motoristas, agradecidos, atiram
moedas.
c. (1) O sinal luminoso está com defeito,
os motoristas impacientam-se.
d. (2) Os meninos percebem a confusão.
e. (4) Os motoristas ficam indecisos em
obedecer a Chuí.
f. (5) Chuí comanda o tráfego com
precisão.
g. (7) A mãe, preocupada, ameaça
castigá-lo.
h. (9) Chuí chora de frustração.
i. (8) Aparece um inspetor de verdade e
leva Chuí para o Distrito.
O inspetor deveria agradecer ao menino Chuí e não levá-lo a um instituto.
ResponderExcluirInfelizmente essa decisão não é muito longe da realidade, onde "autoridades" tratavam, até num passado não tão remoto, todo e qualquer desafortunado menino ou menina de rua como delinquentes ou bandidos. :-(
ExcluirFiquei maravilhado com essa crônica ao lê-la no agora longíquo ano de 1983, quando fui "promovido" à Quinta Série no Colégio Unidade Polo em Maringá. Adoraria saber qual o título tando do livro de inglês, como o de português, onde esta pérola estava inserida junto com outras (Menino de Engenho, O Recalcitrante, etc.)
ResponderExcluirEncontrei somente esta Fonte:(Aníbal Machado. A morte da porta-estandarte e outras histórias. Rio de Janeiro:
ResponderExcluirJosé Olympio, 1965)
O livro de português ao qual me referia era didático, publicado provavelmente em 1982-83.
ExcluirObrigado mesmo assim.