CRÔNICA: O DIPLOMA
Carlos Drummond de Andrade
– Olha o diploma da
mamãe! Quem tem sua mamãe, ofereça este diploma a ela! Ofereça um diploma
à sua mamãe!
O rapaz aproximou-se da
banca onde se exibiam os diplomas. Pediu licença para pegar um deles, enquanto
o vendedor continuava gritando a mercadoria sentimental.
Mirou e remirou o papel
com atenção.
– Onde é que bota o
retrato?
– Que retrato? – perguntou
o camelô.
– O meu, para
oferecer à minha mãe.
– Ah, compreendo, o
cavalheiro quer dar um retratinho a ela. Muito bem, coloque sua bonita
estampa nas costas do diploma, está vendo?
Timidamente, o rapaz
formulou a objeção:
– Mas, se ela enquadrar o
diploma e pendurar na parede, o retrato fica escondido nas costas.
– Perfeitamente, nesse
caso, ela pode pendurar o quadro de costas e o amigo fica aparecendo.
– Isso não. Eu queria
botar meu retrato na frente do diploma, junto disso tudo que está aí escrito.
– Não tem problema, cola
aqui neste canto, fica mais interessante.
O rapaz tirou um
embrulhinho do bolso, tirou do embrulhinho sua
fotografia em tamanho postal, aplicou-a sobre o diploma, no lugar indicado pelo
vendedor. Reconheceu aborrecido:
– Cabe não.
– Cabe sim. Com
licença, cavalheiro. Olhe como ficou bonito. O senhor não gosta do retrato
aqui neste canto?
– Ele precisa de mais
espaço… Se não, vai cobrir as letras da escrita…
– Ora, só umas
letrinhas. Vai levar?
– Bem… eu levo. Corto
o peito do meu retrato, assim ele cabe sem ofender as palavras. E como eu faço
para mandar para Inajaroba?
– Onde fica isso, meu
chapa?
– Sergipe, então não
sabe?
– Até este momento
não sabia, mas não tem problema. Enrola, bota no Correio, vai de avião.
– Chega todo
esbandalhado.
– Então, passa ali na
papelaria e pede para botar enchimento, fazer um embrulho bem legal.
– Mais um favorzinho,
moço – e o rapaz baixou a voz e a cabeça.
– Vai dizendo, vai
dizendo.
– Pode ler para mim o que
está escrito aí? Eu não gostaria que minha mãe recebesse o diploma sem eu saber
o que estou mandando dizer nele…
– Com todo prazer – e
leu com ênfase, para o rapaz e para o grupo em redor, a declaração de amor
de um filho à sua mamãe, em forma de diploma.
Carlos Drummond de Andrade, Caminhos de
João Brandão.
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora,
1970.
Entendendo o texto:
Após a leitura atenta do texto, responda às questões:
01 – Em que local aconteceu o diálogo do texto? Justifique sua resposta.
a. ( ) Num estabelecimento
comercial.
b. (X) à beira de uma
calçada de rua.
c. ( ) dentro de uma escola.
02 – Quais as personagens que atuam no texto?
Um camelô e um rapaz do povo.
03 – O rapaz demonstrou boas maneiras, ao se aproximar da banca? (X)
sim ( ) não
Justifique sua resposta.
Antes de pegar um dos diplomas, pediu
licença.
04 – Por que a mercadoria é chamada de sentimental?
Porque o camelô vendia
a manifestação de amor dos filhos pelas mães.
05 – Qual a primeira e principal preocupação do provável comprador?
A de colocar na frente
do diploma um retrato seu.
06 – No início do diálogo, o camelô emprega tratamento cerimonioso:
cavalheiro. Mais adiante, porém, trata o possível comprador por “meu chapa”. A
que você atribui essa mudança?
O vendedor empregou o
tratamento cerimonioso para destacar o cliente. Depois que o cliente disse que
levava a mercadoria tudo se simplificou. É o que transparece, em seguida, com o
emprego da linguagem coloquial.
07 – No trecho: “O rapaz tirou um embrulhinho do bolso,
tirou do embrulhinho sua fotografia de tamanho postal…”. Por
causa da presença das palavras em destaque, o contexto dessa pequena passagem
parece sugerir que o comprador pertencia à:
a. ( ) alta sociedade
b. ( ) classe media
c.
(X) classe pobre e mais humilde.
08– Por que o rapaz baixou a voz e a cabeça ao pedir um último
favorzinho ao camelô?
Porque, ao pedir que o camelô lesse o que
estava escrito no diploma, estava confessando ser analfabeto e isto era
constrangedor para ele, diante dos outros que estavam presentes.
09 – Identifique no texto a palavra ou expressão que significa:
a) Argumentou, demonstrou um inconveniente
através de um argumento:
Formulou objeção.
b) Estragado,
amassado, esfrangalhado:
Esbandalhado.
10 – Na frase: “Quem tem sua mamãe, ofereça este diploma
a ela.” A palavra em destaque é um pronome demonstrativo e o camelô a usou
porque o diploma estava:
a.
(X) com o falante
b. ( ) com os ouvintes
c. ( ) longe do falante e dos ouvintes.
11 – Na frase: “Eu queria botar meu retrato na frente do diploma,
junto disso tudo que está aí escrito.” as
palavras em destaque foram usadas pelo comprador porque o diploma estava com:
a. ( ) o falante
b.
(X) com o ouvinte
c. ( ) longe do falante e do ouvinte.
12 – Na frase: “Então, passa ali na papelaria…” a
palavra em destaque é um advérbio e foi usada pelo camelô porque:
a. ( ) a papelaria estava perto do falante.
b. ( ) a papelaria estava perto do ouvinte
c.
(X) a papelaria estava longe do falante e do ouvinte.
Nossa Jaqueline. Que texto lindo. Maravilhoso. Nesse tempo em que o mundo vive, nada como uma mensagem dessa, tão profunda. Sem falar que é se trata de Carlos Drumonnd de Andrade.
ResponderExcluirvaleu me ajudou muito
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