quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: O DIPLOMA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

CRÔNICA: O DIPLOMA
                             Carlos Drummond de Andrade

        – Olha o diploma da mamãe! Quem tem sua mamãe, ofereça este diploma a ela! Ofereça um diploma à sua mamãe!
        O rapaz aproximou-se da banca onde se exibiam os diplomas. Pediu licença para pegar um deles, enquanto o vendedor continuava gritando a mercadoria sentimental.
        Mirou e remirou o papel com atenção.
        – Onde é que bota o retrato?
        – Que retrato? – perguntou o camelô.
        – O meu, para oferecer à minha mãe.
        – Ah, compreendo, o cavalheiro quer dar um retratinho a ela. Muito bem, coloque sua bonita estampa nas costas do diploma, está vendo?
        Timidamente, o rapaz formulou a objeção:
        – Mas, se ela enquadrar o diploma e pendurar na parede, o retrato fica escondido nas costas.
        – Perfeitamente, nesse caso, ela pode pendurar o quadro de costas e o amigo fica aparecendo.
        – Isso não. Eu queria botar meu retrato na frente do diploma, junto disso tudo que está aí escrito.
        – Não tem problema, cola aqui neste canto, fica mais interessante.
        O rapaz tirou um embrulhinho do bolso, tirou do embrulhinho sua fotografia em tamanho postal, aplicou-a sobre o diploma, no lugar indicado pelo vendedor. Reconheceu aborrecido:
        – Cabe não.
        – Cabe sim. Com licença, cavalheiro. Olhe como ficou bonito.          O senhor não gosta do retrato aqui neste canto?
        – Ele precisa de mais espaço… Se não, vai cobrir as letras da escrita…
        – Ora, só umas letrinhas. Vai levar?
        – Bem… eu levo. Corto o peito do meu retrato, assim ele cabe sem ofender as palavras. E como eu faço para mandar para Inajaroba?
        – Onde fica isso, meu chapa?
        – Sergipe, então não sabe?
        – Até este momento não sabia, mas não tem problema. Enrola, bota no Correio, vai de avião.
        – Chega todo esbandalhado.
        – Então, passa ali na papelaria e pede para botar enchimento, fazer um embrulho bem legal.
        – Mais um favorzinho, moço – e o rapaz baixou a voz e a cabeça.
        – Vai dizendo, vai dizendo.
        – Pode ler para mim o que está escrito aí? Eu não gostaria que minha mãe recebesse o diploma sem eu saber o que estou mandando dizer nele…
        – Com todo prazer – e leu com ênfase, para o rapaz e para o grupo em redor, a declaração de amor de um filho à sua mamãe, em forma de diploma.

Carlos Drummond de Andrade, Caminhos de João Brandão. 
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1970.

Entendendo o texto:
Após a leitura atenta do texto, responda às questões:
01 – Em que local aconteceu o diálogo do texto? Justifique sua resposta.
a. (  ) Num estabelecimento comercial.
b. (X) à beira de uma calçada de rua.
c. (  ) dentro de uma escola.

02 – Quais as personagens que atuam no texto?
      Um camelô e um rapaz do povo.

03 – O rapaz demonstrou boas maneiras, ao se aproximar da banca? (X) sim    (   ) não         Justifique sua resposta.
      Antes de pegar um dos diplomas, pediu licença.

04 – Por que a mercadoria é chamada de sentimental?
      Porque o camelô vendia a manifestação de amor dos filhos pelas mães.

05 – Qual a primeira e principal preocupação do provável comprador?
      A de colocar na frente do diploma um retrato seu.

06 – No início do diálogo, o camelô emprega tratamento cerimonioso: cavalheiro. Mais adiante, porém, trata o possível comprador por “meu chapa”. A que você atribui essa mudança?
      O vendedor empregou o tratamento cerimonioso para destacar o cliente. Depois que o cliente disse que levava a mercadoria tudo se simplificou. É o que transparece, em seguida, com o emprego da linguagem coloquial.
07 – No trecho: “O rapaz tirou um embrulhinho do bolso, tirou do embrulhinho sua fotografia de tamanho postal…”. Por causa da presença das palavras em destaque, o contexto dessa pequena passagem parece sugerir que o comprador pertencia à:
a. (   ) alta sociedade
b. (   ) classe media
c. (X) classe pobre e mais humilde.

08– Por que o rapaz baixou a voz e a cabeça ao pedir um último favorzinho ao camelô?
      Porque, ao pedir que o camelô lesse o que estava escrito no diploma, estava confessando ser analfabeto e isto era constrangedor para ele, diante dos outros que estavam presentes.
    
09 – Identifique no texto a palavra ou expressão que significa:
a)    Argumentou, demonstrou um inconveniente através de um argumento:
Formulou objeção.
b)   Estragado, amassado, esfrangalhado:
Esbandalhado.

10 – Na frase: “Quem tem sua mamãe, ofereça este diploma a ela.” A palavra em destaque é um pronome demonstrativo e o camelô a usou porque o diploma estava:
a. (X) com o falante
b. (   ) com os ouvintes
c. (   ) longe do falante e dos ouvintes.

11 – Na frase: “Eu queria botar meu retrato na frente do diploma, junto disso tudo que está  escrito.” as palavras em destaque foram usadas pelo comprador porque o diploma estava com:
a. (   ) o falante
b. (X) com o ouvinte
c. (   ) longe do falante e do ouvinte.

12 – Na frase: “Então, passa ali na papelaria…” a palavra em destaque é um advérbio e foi usada pelo camelô porque:
a. (   ) a papelaria estava perto do falante.
b. (   ) a papelaria estava perto do ouvinte
c. (X) a papelaria estava longe do falante e do ouvinte.


2 comentários:

  1. Nossa Jaqueline. Que texto lindo. Maravilhoso. Nesse tempo em que o mundo vive, nada como uma mensagem dessa, tão profunda. Sem falar que é se trata de Carlos Drumonnd de Andrade.

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