sexta-feira, 18 de março de 2022

CONTO: O PRIMEIRO AMOR - ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

 Conto: O primeiro amor

            Elias José

        Logo que colocou os objetos embaixo da carteira, Pitu encontrou o bilhete. Leu, ficou vermelho, colocou no bolso, não mostrou pra ninguém. De vez em quando, mordia-lhe uma curiosidade grande, uma vontade de reler pra ter certeza. Era uma revelação que ele não estava esperando.

        Não podia dizer que estivesse achando ruim, pelo contrário... Ele estava com vontade de olhar para trás, para as últimas carteiras e procurar por uma resposta com o olhar. Era um tímido e não se encorajava. A professora explicava num mapa as regiões do Brasil e ele viajava num rumo diferente.

        Ainda bem que ela não estava olhando pra ele, nem fazendo perguntas, só estava expondo a matéria. Na hora da verificação, acabaria saindo-se mal. Não gostava de ignorar as coisas perguntadas. Só não se saía muito bem quando se tratava de fazer contas de números fracionários. A professora mesma dizia-lhe que em Português e matéria de leitura e entendimento ele se saía bem; em poesias românticas, em música sentimental. Estava meio perdido nos pensamentos confusos. O bilhete queimando no bolso. Uma vontade de relê-lo, palavra por palavra. Interessante, não era um bilhete bem escrito, tinha até erro de Português – por que a curiosidade? Só ele sabia dele, não foi como no dia do correio-elegante, pai, mãe e seu Francisco do armazém querendo saber, dando palpites. Agora, tinha um bilhete e era diferente. Tinha um bilhete que trazia uma declaração de amor e uma assinatura. Trazia mais: trazia um convite para um bate-papo na praça, às duas horas, se ele quisesse namorar de verdade.

        Marina era bonitinha, ele queria. Falta-lhe jeito de dizer, tinha que escrever um bilhetinho respondendo, era mais fácil. No intervalo, escreveu o bilhete, fechado no banheiro.

        Quando ela chegou, a resposta a esperava na carteira. Quase no fim da aula, ele criou força e olhou para trás. Marina sorria, confirmando. Ele sorria também. Diversas vezes, ele olhou pra trás e a encontrou olhando. Trocaram sorrisos e olhares. Os dois estavam vivendo uma ternura primeira e não sabiam escondê-la mais. Tanto assim que a professora pediu que ele virasse pra frente, observasse o que ela estava pedindo pra pesquisa do fim de semana. Naquele fim de semana, ele iria pesquisar alguma coisa nova que não tinha experimentado, como alguns outros de sua idade e turma.

Elias José. As curtições de Pitu. São Paulo, Melhoramentos, 1980.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 08-10.

Entendendo o conto:

01 – Como é possível perceber o lugar onde ocorre a ação do texto?

      O narrador faz menção a carteiras e a professora. Toda a situação descrita no texto também permite-nos concluir que a ação se passa em uma escola.

02 – O que acontece com Pitu e Marina, as principais personagens do texto?

      Eles estão iniciando um namoro.

03 – Por que Pitu fica vermelho ao receber o bilhete? Como o menino é?

      Porque ficou emocionado. Pitu é um pouco tímido, romântico e bom aluno em Português.

04 – No início de um relacionamento amoroso, geralmente, há alguém que toma a iniciativa, que dá o primeiro passo. De quem partiu a iniciativa no caso de Pitu e Marina? Justifique sua resposta.

      De Marina: foi ela que enviou o primeiro bilhete, encorajando o garoto com sorrisos e olhares ternos.

05 – Como você entende a frase: “Os dois estavam vivendo uma ternura primeira e não sabiam escondê-la mais.”?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Como é a comunicação entre Pitu e Marina?

      Pitu e Marina se comunicam por meio de bilhetes, sorrisos e olhares.

07 – Dê outro título ao texto.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – O texto apresenta personagens adolescentes, como você. Na sua opinião, o comportamento foi bem observado pelo escritor? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, o texto pode ser facilmente entendido e até mesmo feito uma peça teatral.

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