Poema: A escola da mestra Silvina
Cora Coralina
Minha escola primária...
Escola antiga de antiga mestra.
Repartida em dois períodos
para a mesma meninada,
das 8 às 11, da 1 às 4.
Nem recreio, nem exames.
Nem notas, nem férias.
Sem cânticos, sem merenda...
Digo mal – sempre havia distribuídos
alguns bolos de palmatória...
A granel?
Não, que a Mestra
Era boa, velha, cansada, aposentada.
Tinha já ensinado a uma geração
antes da minha.
A gente chegava “-- Bença, Mestra.”
Sentava em bancos compridos,
escorridos, sem encosto.
Lia alto lições de rotina:
o velho abecedário,
lição salteada.
Aprendia a soletrar.
Vinham depois:
Primeiro, segundo,
terceiro e quarto livros
do erudito pedagogo
Abílio César Borges –
Barão de Macaúbas.
E as máximas sapientes
do Marquês de Maricá.
Não se usava quadro-negro.
As contas se faziam
em pequenas lousas
individuais.
Não havia chamada
e sim o ritual
de entradas, compassadas.
“-- Bença, Mestra...”
Banco dos meninos.
Banco das meninas.
Tudo muito sério.
Não se brincava.
Muito respeito.
Leitura alta.
Soletrava-se.
Cobria-se o debuxo.
Dava-se a lição.
Tinha dia certo de argumento
com a palmatória pedagógica
em cena.
Cantava-se em coro a velha tabuada.
Velhos colegas daquele tempo...
Onde andam vocês?
A casa da escola inda é a mesma.
-- Quanta saudade quando passo ali!
Rua Direita, nº 13.
Porta de rua pesada,
escorada com a mesma pedra
da nossa infância.
[...].
Poemas dos becos de
Goiás e estórias mais. Global, s/d. p. 75-6.
Fonte: Português –
Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder
Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 18-20.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Cânticos: canções.
·
Sapientes: sábios, cheios de sabedoria.
·
Palmatória: instrumento que se usava para bater nas mãos das crianças.
·
Ritual: cerimônia, atos que se repetem.
·
Debuxo: esboço, primeiro desenho.
·
A
granel: à vontade; em grande quantidade.
·
Argumento: frase que objetiva convencer o ouvinte; no texto, avaliação,
arguição.
·
Erudito: sábio; indivíduo que tem vasto e variado saber.
·
Pedagogo: professor, educador.
·
Escorada: amparada.
·
Máximas: frases que geralmente expressam normas de conduta.
02 – Qual o assunto do
poema?
O eu poético rememora sua escola
primária, sua mestra, seus colegas de um tempo que há muito passou.
03 – Localize a escola no
tempo. Justifique sua resposta.
A escola é muito
antiga usava-se palmatória: não se usava sequer quadro-negro; as meninas
sentavam-se separadas dos meninos.
04 – Qual era o principal
“recurso pedagógico” usado na escola de mestra Silvina?
Era a palmatória,
a violência, o medo da dor que fazia a criança estudar.
05 – Qual é a imagem da
professora que ficou na memória do eu poético?
A professora
deixou até uma boa imagem: “a Mestra era boa, velha, cansada, aposentada”.
06 – Cite algumas das
atividades realizadas pelos alunos em classe.
Os alunos liam em
voz alta, faziam contas em lousas individuais, estudavam máximas, soletravam,
cantavam a tabuada em coro.
07 – Considerando os métodos
de estudo descritos no poema, quais seriam as qualidades que a escola pretendia
desenvolver no aluno?
Obediência,
memória, respeito, moralidade.
08 – Imagine como se sentiam
os alunos nessa escola. Justifique sua resposta.
Resposta pessoal
do aluno.
Parabéns pelo BLOG!! Extremamente bem organizado e tem me ajudado muito em minhas aulas.
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