Notícia: Cresce número de brasileiros que denunciam ter sofrido discriminação em Portugal
Falta
de informação e medo de prestar queixa ainda inibem vítimas no país
Gian Amato, especial para O
Globo
28/05/2019 - 09:50 / Atualizado em 29/05/2019 - 04:59
Em abril de 2019, estudantes portugueses colocaram caixa com pedras e paus para atirar nos "zucas" (ou seja, brasileiros) na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foto: Reprodução
LISBOA — As denúncias de xenofobia
feitas por brasileiros em Portugal aumentaram 150% em 2018.
Em 2017, apenas 18 brasileiros fizeram queixas à Comissão para a Igualdade e
contra a Discriminação Racial (CICDR). Já no último ano, 45 procuraram o órgão,
que é subordinado ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) do governo
português.
Os dados constam no Relatório Anual
sobre Situação da Igualdade e Não Discriminação Racial e Étnica em Portugal. O
documento revela que o total das reclamações aumentou 93%, passando de 179 para
346. Os brasileiros ocupam a terceira posição no ranking das queixas recebidas,
com 13%, atrás dos denunciantes negros que se consideram discriminados pela cor
da pele (17%, que podem incluir brasileiros) e ciganos, com 21%.
Diante de uma colônia imigrante que é a
maior do país — hoje com mais de 85 mil residentes oficiais, podendo
ultrapassar os 100 mil ainda neste ano, segundo estimativas —, o número
de reclamantes é pequeno. No entanto, muito brasileiros não prestam queixa
porque têm vergonha ou temem perder o emprego, sofrer represálias do empregador
e também dos vizinhos. Ou simplesmente não acreditam que haverá punição.
— Além da falta de informação e do medo
de dar queixa, há o sentimento de ineficácia, porque as pessoas não encontram
resposta se fizerem queixa. Então, para que, se não vai resolver nada?
Desmotiva se não há condenação. E as pessoas têm medo. Os brasileiros estão em
situação de precariedade trabalhista aguda e têm medo de retaliação. Há
chantagens e falta fiscalização das entidades. Isso não facilita a vida de quem
é vítima, seja por fator de origem nacional ou racial. No caso dos brasileiros,
as duas coisas podem se combinar — diz Mamadou Ba, dirigente da ONG SOS
Racismo.
Com a mais recente leva de imigração
brasileira em Portugal, iniciada em 2017 após três anos de estagnação,
aumentaram nas redes os relatos de discriminação sofrida por brasileiros. As
queixas envolvem o aluguel de imóveis — portugueses teriam preferência — e o
uso do sistema público de saúde português, no qual brasileiros dizem ter tido
dificuldade de marcar consulta ou conseguir o médico de família.
Um casal de português e brasileira, que
pediu para não ser identificado, contou que a mulher não conseguiu atendimento
no sistema público desde que soube que está grávida, em janeiro deste ano.
Nascida em Salvador, mas com visto de residência europeu obtido na Espanha, ela
procurou o centro de saúde, mas não conseguiu atendimento porque ainda depende
de uma entrevista no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para
regularizar sua documentação em Portugal. Ela e o marido, que é português, já
pagaram mais de €400 em consultas em um hospital particular e dizem não ter
dinheiro para o parto de €3 mil.
No fim de 2018, Sophia Velho, de 26
anos, contou que foi agredida por quatro portugueses. A confusão começou quando
portuguesas em um bar começaram a chamar as brasileiras de “vadias” que vão a
Portugal para “roubar os homens”. Na época, a gaúcha contou ao Extra que
“a sensação que passa de um episódio como esse é de impunidade total”.
Em agosto de 2017, foi publicada a Lei
de Combate à Discriminação, que estipula multas de até €8420 e enquadra como
crime de discriminação casos como recusa de aluguel de casa ou proibição de
entrada em estabelecimentos em razão da origem nacional e racial.
No fim de abril, um grupo de estudantes
da Universidade de Lisboa pôs pedras dentro de uma caixa para serem atiradas
nos brasileiros, ou “zucas”, “que passaram à frente no mestrado”. O episódio
aconteceu na Faculdade de Direito. Dias depois, os brasileiros fizeram
manifestações em universidades, onde distribuíram poesias e flores contra a
xenofobia.
AMATO, Gian. Cresce
número de brasileiros que denunciam ter sofrido discriminação em Portugal. O
Globo, 28 maio 2019. Disponível em: https://oglobo.com/mundo/crece-numero-de-brasileiros-que-denunciam-ter-sofrido-descriminacao-em-portugal-23698853.
Acesso em: 23 jan. 2020.
Fonte: Da escola para
o mundo – Projetos Integradores – volume único – Ensino médio – 1ª Edição, São
Paulo, 2020, editora Ática. p. 177-8.
Entendendo a notícia:
01 – De acordo com a
matéria, o que motivou o aumento da xenofobia contra brasileiros em Portugal?
Fatores como o
aumento crescente da imigração brasileira no país e o fato de os portugueses se
sentirem “roubados” em seus direitos pelos imigrantes.
02 – Além dos ataques
dirigidos a brasileiros em geral, há um ataque específico às mulheres
brasileiras. Que outro tipo de preconceito esse ataque revela?
O esperado é que os estudantes percebam
que, além da xenofobia direcionada aos brasileiros, as mulheres brasileiras
enfrentam o preconceito de gênero, já que são consideradas “vadias” e acusadas
de irem para lá roubar os homens.
03 – De que forma o governo
português tem buscado combater ações de xenofobia no país?
Por meio da
criação da Lei de Combate à discriminação, que estipula multas e enquadra como
crime de discriminação casos como recusa de aluguel de casa ou proibição de
entrada em estabelecimentos em razão da origem nacional e racial.
04 – Com base nos dados
relatados na notícia, que outras ações vocês acreditam que poderiam ajudar a
superar enfrentamentos e preconceitos?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Incentive os estudantes a discutir alternativas para a
superação da xenofobia, como atividades que desenvolvam a empatia e o olhar
respeitoso para com o outro.
05 – A reação dos
brasileiros à violência de um grupo de estudantes da Universidade de Lisboa foi
criativa e pacífica. Você já enfrentou episódios de preconceito contra você ou
alguém que conheça? Como reagiu? Discuta a questão com os colegas e pensem alternativas
pacíficas de resistência ao problema.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Incentive a troca de ideias entre os estudantes partindo da
perspectiva da cultura de paz. A denúncia aos órgãos oficiais e a busca por
direitos, aliada a ações que promovam convivência e trocas culturais, podem ser
boas formas de superar conflitos.
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