sexta-feira, 25 de março de 2022

NOTÍCIA: CASO DE IANOMÂMI LEVA A REAÇÃO INTERNACIONAL - O ESTADO DE S.PAULO - COM GABARITO

 Notícia: Caso de Ianomâmi leva a reação internacional

           Índia Paulina faz ritual para filha morta por infecção e aguarda cura de segundo filho

        Boa Vista – O filho morto embrulhado, outro enfrentando a infecção hospitalar numa incubadora do Hospital-Materno, a índia Paulina voltou para o país ianomâmi, no Parafuri, deixando alguns políticos brancos muito preocupados.

        “Estão chegando a Boa Vista os enviados de organizações internacionais de direitos humanos, alarmados pelo noticiário da morte do bebê Ianomâmi”, diz o deputado estadual e médico Lúcio Távora. “Vai recomeçar a campanha pela autonomia Ianomâmi”.

        São 2 mil índios e 9 milhões de hectares que contêm as maiores jazidas de ouro e de minério. Os políticos de Roraima defendem a demarcação das áreas onde estão hoje os Ianomâmis. Mas setores da igreja e organizações internacionais de proteção a índios e direitos humanos querem a demarcação contínua, costurando numa linha só todas as aldeias Ianomâmis do Brasil e da Venezuela.

        Morte ritual – Paulina salvou os filhos gêmeos do sacrifício. Pelos mandamentos dos Ianomâmis, deveriam ser mortos. Ela lhes daria uma folhinha que os sufocaria, ou prenderia seus lábios e nariz até mata-los. Depois os penduraria como frutos numa árvore. Tinha um motivo a mais para o infanticídio: com um filho de 3 anos, não poderia sequer engravidar. A sobrevivência dos gêmeos foi comemorada como “vitória total” pela madre Florença, uma mulata alta, de hábito branco, filha de guianês com brasileira, a “noviça rebelde” de Boa Vista, que percorre com sua moto Honda 70.

        Na aldeia do Parafuri, a uma hora e meia de voo de Boa Vista, Paulina vai cremar a filha morta. Das cinzas fará um mingau. E oferecerá porções aos parentes mais próximos. O ritual foi antecipado pelo antropólogo Edgard Dias Magalhães, na Casa do Índio. E contou que os Ianomâmis só não matam gêmeos se a mãe encontrar mulheres que os queiram, separados, como filhos. Mas é difícil encontra-las, porque há uma condição: não podem ter crianças de até 3 anos, nem poderão tê-las nos próximos três anos.

        “As tarefas destinadas às mulheres permitem que elas cuidem de uma criança por vez”, dia Magalhães. Paulina voltará para o filho que ficou no Hospital-Materno após o ritual na aldeia, que levará alguns dias. Irmã Florença prometeu cuidar dele como mãe. As crianças Ianomâmis chamam de mãe diversa mulheres, como as avós e as tias.

        “Na visão de mundo dos Ianomâmis, alguns rituais são necessários para a alma sair do corpo”, acrescenta Magalhães. A cremação “lança a alma para um outro nível”. Se ficar presa aos ossos, a alma e todos os parentes sofrerão muito. Nenhum índio esquece do doente que partiu para tratamento. Esperam vê-lo de novo, vivo ou morto. Paulina exigiu a promessa de que o sobrevivente dos gêmeos lhe seja enviado, caso morra. Ela os teve no mato, sobre cinzas de uma fogueira ou dentro de um igarapé, na água, como se fosse um sofisticado parto Leboyer. E cortou o cordão umbilical com uma taquara. (M.R.).

O Estado de S. Paulo, 4 nov. 1996.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 32-3.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Incubadora: aparelho para crianças nascidas antes do tempo.

·        Autonomia: independência.

·        Igarapé: estreito canal natural entre duas ilhas, ou entre uma ilha e terra firme.

02 – Qual é o tipo deste texto?

      É um texto informativo, publicado num jornal sobre um fato real.

03 – Qual o assunto do texto?

      Fala sobre o caso de uma índia Ianomâmi que, mesmo tendo resolvido não sacrificar os filhos gêmeos – conforme pregam os costumes da tribo –, perdeu um deles por infecção hospitalar.

04 – Qual é o destino dos gêmeos na cultura dos Ianomâmis? Por quê?

      É a morte, pois, segundo eles, a mãe não pode cuidar de dois filhos aos mesmo tempo.

05 – Qual é a única salvação possível para os gêmeos Ianomâmis?

      É a “adoção” por outras mulheres que possam cria-los separados.

06 – Como é o ritual funerário desses índios? Por que os rituais são necessários?

      Os índios queimam o cadáver e, com as cinzas, fazem um mingau que será oferecido aos parentes mais próximos. Os rituais são necessários para a alma sair do corpo: se ficar presa aos ossos, a alma e s parentes sofrerão muito.

07 – Onde vivem esses índios?

      A tribo da índia Ianomâmi Paulina vive na aldeia do Parafuri, a uma hora e meia de voo de Boa Vista.

08 – Pela leitura do texto, os casais Ianomâmis podem ter filhos livremente? Justifique sua resposta.

      Não. Como a mãe tem muitas responsabilidades só pode cuidar de um novo filho quando o anterior tiver 3 anos.

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