Notícia: Caso de Ianomâmi leva a reação internacional
Índia Paulina faz ritual para filha morta por infecção e aguarda cura de segundo filho
Boa
Vista – O filho morto embrulhado, outro enfrentando a infecção hospitalar
numa incubadora do Hospital-Materno, a índia Paulina voltou para o país
ianomâmi, no Parafuri, deixando alguns políticos brancos muito preocupados.
“Estão chegando a Boa Vista os enviados
de organizações internacionais de direitos humanos, alarmados pelo noticiário
da morte do bebê Ianomâmi”, diz o deputado estadual e médico Lúcio Távora. “Vai
recomeçar a campanha pela autonomia Ianomâmi”.
São 2 mil índios e 9 milhões de hectares
que contêm as maiores jazidas de ouro e de minério. Os políticos de Roraima
defendem a demarcação das áreas onde estão hoje os Ianomâmis. Mas setores da
igreja e organizações internacionais de proteção a índios e direitos humanos
querem a demarcação contínua, costurando numa linha só todas as aldeias
Ianomâmis do Brasil e da Venezuela.
Morte
ritual – Paulina salvou os filhos gêmeos do sacrifício. Pelos mandamentos
dos Ianomâmis, deveriam ser mortos. Ela lhes daria uma folhinha que os sufocaria,
ou prenderia seus lábios e nariz até mata-los. Depois os penduraria como frutos
numa árvore. Tinha um motivo a mais para o infanticídio: com um filho de 3
anos, não poderia sequer engravidar. A sobrevivência dos gêmeos foi comemorada
como “vitória total” pela madre Florença, uma mulata alta, de hábito branco,
filha de guianês com brasileira, a “noviça rebelde” de Boa Vista, que percorre
com sua moto Honda 70.
Na aldeia do Parafuri, a uma hora e
meia de voo de Boa Vista, Paulina vai cremar a filha morta. Das cinzas fará um
mingau. E oferecerá porções aos parentes mais próximos. O ritual foi antecipado
pelo antropólogo Edgard Dias Magalhães, na Casa do Índio. E contou que os
Ianomâmis só não matam gêmeos se a mãe encontrar mulheres que os queiram, separados,
como filhos. Mas é difícil encontra-las, porque há uma condição: não podem ter
crianças de até 3 anos, nem poderão tê-las nos próximos três anos.
“As tarefas destinadas às mulheres
permitem que elas cuidem de uma criança por vez”, dia Magalhães. Paulina
voltará para o filho que ficou no Hospital-Materno após o ritual na aldeia, que
levará alguns dias. Irmã Florença prometeu cuidar dele como mãe. As crianças
Ianomâmis chamam de mãe diversa mulheres, como as avós e as tias.
“Na visão de mundo dos Ianomâmis,
alguns rituais são necessários para a alma sair do corpo”, acrescenta
Magalhães. A cremação “lança a alma para um outro nível”. Se ficar presa aos
ossos, a alma e todos os parentes sofrerão muito. Nenhum índio esquece do
doente que partiu para tratamento. Esperam vê-lo de novo, vivo ou morto.
Paulina exigiu a promessa de que o sobrevivente dos gêmeos lhe seja enviado,
caso morra. Ela os teve no mato, sobre cinzas de uma fogueira ou dentro de um
igarapé, na água, como se fosse um sofisticado parto Leboyer. E cortou o cordão
umbilical com uma taquara. (M.R.).
O Estado de S. Paulo,
4 nov. 1996.
Fonte: Português –
Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder
Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 32-3.
Entendendo a notícia:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Incubadora: aparelho para crianças nascidas antes do tempo.
·
Autonomia: independência.
·
Igarapé: estreito canal natural entre duas ilhas, ou entre uma ilha e
terra firme.
02 – Qual é o tipo deste
texto?
É um texto
informativo, publicado num jornal sobre um fato real.
03 – Qual o assunto do
texto?
Fala sobre o caso
de uma índia Ianomâmi que, mesmo tendo resolvido não sacrificar os filhos
gêmeos – conforme pregam os costumes da tribo –, perdeu um deles por infecção
hospitalar.
04 – Qual é o destino dos
gêmeos na cultura dos Ianomâmis? Por quê?
É a morte, pois,
segundo eles, a mãe não pode cuidar de dois filhos aos mesmo tempo.
05 – Qual é a única salvação
possível para os gêmeos Ianomâmis?
É a “adoção” por outras mulheres que
possam cria-los separados.
06 – Como é o ritual
funerário desses índios? Por que os rituais são necessários?
Os índios queimam
o cadáver e, com as cinzas, fazem um mingau que será oferecido aos parentes
mais próximos. Os rituais são necessários para a alma sair do corpo: se ficar
presa aos ossos, a alma e s parentes sofrerão muito.
07 – Onde vivem esses
índios?
A tribo da índia Ianomâmi Paulina vive na
aldeia do Parafuri, a uma hora e meia de voo de Boa Vista.
08 – Pela leitura do texto,
os casais Ianomâmis podem ter filhos livremente? Justifique sua resposta.
Não. Como a mãe
tem muitas responsabilidades só pode cuidar de um novo filho quando o anterior
tiver 3 anos.
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