Poema: A rua das Rimas
Guilherme de Almeida
A rua que eu imagino, desde
menino, para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta,
quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita,
perfeita,
com pregões matinais de
jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas, todas
elas belas, singelas, amarelas,
doiradas, descabeladas,
debruçadas como namoradas para as calçadas;
e um passo, de espaço a
espaço, no mormaço de aço baço e lasso,
e algum piano provinciano,
quotidiano, desumano,
mas brando e brando,
soltando, de vez em quando,
na luz rala de opala de uma
sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que
arde, o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio
capadócio,
junto aos espiões, os
bordões dos violões;
e a serenata ao luar de
prata (mulata ingrata que me mata…);
e depois o silêncio, o
denso, o intenso, o imenso silêncio…
A rua que eu imagino, desde
menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde
desfolha um malmequer uma mulher
que bem me quer;
é uma rua, como todas as
ruas, com suas duas calçadas nuas,
correndo paralelamente, como
a sorte, como a sorte diferente de toda a gente,
para a frente,
para o infinito; mas uma rua
que tem escrito um nome bonito,
bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade,
liberdade,
tranquilidade: RUA DA
FELICIDADE…
Guilherme de Almeida.
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 70-1. Col. Literatura Comentada.
Fonte: Livro-
PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª
edição - Atual Editora – 2002 – p. 220-222.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Acácia: planta de flor amarela e cheirosa.
·
Alarde: barulho.
·
Baço: embaçado, sem brilho.
·
Bordão: som grave; corda de instrumento musical.
·
Brando: leve, lento.
·
Capadócio: trapaceiro, falso, impostor.
·
Escala: sequência gradativa de sons.
·
Lasso: frouxo, cansado.
·
Ócio: preguiça.
·
Opala: pedra de coloração azulada que emite cores vivas quando
exposta à luz.
·
Singelo: simples.
02 – Qual dos itens a seguir
traduz a ideia central do texto?
a) Para o eu lírico, na rua ideal tudo tem que ter nome sonoro, para poder rimar.
b)
Para o eu lírico, a rua ideal é aquela que
tem casas e prédios luxuosos, decorados e com muitos jardins.
c)
A rua ideal, para o eu lírico, é
simples mas rica em sensações, sons, tranquilidade e felicidade.
03 – O poema se intitula “A rua das rimas”. Rima é uma
semelhança de sons entre a terminação de duas ou mais palavras. Ela normalmente
ocorre entre palavras do final de versos. Observe:
“[...] um nome bonito,”
“[...] sempre repito”.
A rima também pode se dar no interior
de um único verso; nesse caso, chama-se rima interna. Veja as rimas internas
deste verso:
“Direita, estreita, bem feita, perfeita”
a) Identifique
no poema outras rimas entre palavras do final de versos.
Mulher/bem me quer; toda a
gente/para a frente.
b) Identifique
outro verso em que ocorram rimas internas.
Em todos os versos, como o 1°, por
exemplo.
04 – A palavra harmonia tem, entre outros, estes
sentidos: “ordem, acordo, semelhança, sucessão agradável de sons”.
a) Quando duas palavras rimam entre si, podemos dizer que seus sons são harmônicos? Explique.
Sim, porque apresentam sons semelhantes.
b) O poema recebeu o título de “A rua das rimas”. Podemos dizer que a rua sonhada pelo eu lírico é uma rua harmônica? Por quê?
Sim, porque todo o poema, que é uma descrição da rua, é construído
com rimas.
c) A harmonia existe nessa rua é apenas de som? Justifique sua resposta.
Não, tudo nessa rua – natureza, pessoas, música, etc. – leva à
tranquilidade e à felicidade.
05 – O poema é bastante
envolvente em razão do jogo sonoro que faz com as palavras. Além disso, também
é rico em sugestões de som e cor.
a) Destaque
do texto ao menos quatro referências a sons produzidos na rua do eu lírico.
Pregões, piano, violões, alarde de
crianças, serenata, silêncio (falta de som).
b) Destaque
do poema ao menos duas referências ao colorido dessa rua.
Lua rala, opala, luar de prata,
tarde que arde (amarela ou vermelha de sol).
c) A
presença desses sons e dessas cores sugere que a rua seja alegre ou triste? Por
quê?
Alegre, porque as cores e os sons lembram
movimento, vida.
06 – Observe este verso:
“e
algum piano provinciano, quotidiano, desumano”.
Ao atribuir características humanas ao
piano, o poeta fez uso da personificação
ou prosopopeia, um recurso de
expressão que consiste em dar vida a serres inanimados, ou atribuir ações,
ideias e sentimentos a seres inanimados ou irracionais.
a) Identifique a personificação presente neste outro fragmento:
“e
acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
doiradas, descabeladas, debruçadas como
namoradas para as calçadas;”
Acácias [...]
descabeladas, debruçadas.
b) Na sua opinião, que nova característica ganha a rua com o emprego da personificação?
Ela se torna humanizada.
07 – Releia o último verso
do poema. De acordo com as ideias desse verso e de todo o texto, o que é a
felicidade para o poeta?
É isso tudo que a
rua tem: tranquilidade, liberdade, simplicidade, harmonia, sentimentos, música,
humanidade, etc.
08 – Para conhecermos um
bairro ou uma cidade, precisamos percorrer cada uma de suas ruas e avenidas.
Para ler um poema, também precisamos percorrer cada um de seus versos. Assim,
os versos de um poema são como ruas e avenidas de uma cidade: que se ligam, se
completam e levam à todos os lugares. Com base nessa comparação, indique quais
dos itens seguintes correspondem a afirmações coerentes sobre o texto:
a) Os sons têm uma grande importância na construção do poema. Primeiramente, porque o poeta emprega muitas rimas; em segundo lugar, porque a rua que ele imagina é também cheia de sons, com vozes, canto e música.
b) A rua do poeta se chama Rua da Felicidade e o seu poema se chama “A rua das rimas”. Na visão do poeta, as rimas, ou a poesia, são uma forma de chegar à felicidade.
c) O poema, com seus sons que combinam uns com os outros (rimas), sugere uma rua em que tudo se harmoniza: a natureza, as pessoas, a música e a poesia.
Todos são coerentes ao texto.
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