sábado, 12 de março de 2022

POEMA: A RUA DAS RIMAS - GUILHERME DE ALMEIDA - COM GABARITO

 Poema: A rua das Rimas

              Guilherme de Almeida

A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino

é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,

direita, estreita, bem feita, perfeita,

com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;

e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,

doiradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;

e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço baço e lasso,

e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,

mas brando e brando, soltando, de vez em quando,

na luz rala de opala de uma sala uma escala clara que embala;

e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;

e de noite, no ócio capadócio,

junto aos espiões, os bordões dos violões;

e a serenata ao luar de prata (mulata ingrata que me mata…);

e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio…

A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino

é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher

que bem me quer;

é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calçadas nuas,

correndo paralelamente, como a sorte, como a sorte diferente de toda a gente,

para a frente,

para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito,

bendito, que sempre repito

e que rima com mocidade, liberdade,

tranquilidade: RUA DA FELICIDADE…

Guilherme de Almeida. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 70-1. Col. Literatura Comentada.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 220-222.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Acácia: planta de flor amarela e cheirosa.

·        Alarde: barulho.

·        Baço: embaçado, sem brilho.

·        Bordão: som grave; corda de instrumento musical.

·        Brando: leve, lento.

·        Capadócio: trapaceiro, falso, impostor.

·        Escala: sequência gradativa de sons.

·        Lasso: frouxo, cansado.

·        Ócio: preguiça.

·        Opala: pedra de coloração azulada que emite cores vivas quando exposta à luz.

·        Singelo: simples.

02 – Qual dos itens a seguir traduz a ideia central do texto?

a)   Para o eu lírico, na rua ideal tudo tem que ter nome sonoro, para poder rimar.

b)   Para o eu lírico, a rua ideal é aquela que tem casas e prédios luxuosos, decorados e com muitos jardins.

c)   A rua ideal, para o eu lírico, é simples mas rica em sensações, sons, tranquilidade e felicidade.

03 – O poema se intitula “A rua das rimas”. Rima é uma semelhança de sons entre a terminação de duas ou mais palavras. Ela normalmente ocorre entre palavras do final de versos. Observe:

        “[...] um nome bonito,”

        “[...] sempre repito”.

        A rima também pode se dar no interior de um único verso; nesse caso, chama-se rima interna. Veja as rimas internas deste verso:

        “Direita, estreita, bem feita, perfeita

a)   Identifique no poema outras rimas entre palavras do final de versos.

Mulher/bem me quer; toda a gente/para a frente.

b)   Identifique outro verso em que ocorram rimas internas.

Em todos os versos, como o 1°, por exemplo.

04 – A palavra harmonia tem, entre outros, estes sentidos: “ordem, acordo, semelhança, sucessão agradável de sons”.

a)   Quando duas palavras rimam entre si, podemos dizer que seus sons são harmônicos? Explique.

Sim, porque apresentam sons semelhantes.

b)   O poema recebeu o título de “A rua das rimas”. Podemos dizer que a rua sonhada pelo eu lírico é uma rua harmônica? Por quê?

Sim, porque todo o poema, que é uma descrição da rua, é construído com rimas.

c)   A harmonia existe nessa rua é apenas de som? Justifique sua resposta.

Não, tudo nessa rua – natureza, pessoas, música, etc. – leva à tranquilidade e à felicidade.

05 – O poema é bastante envolvente em razão do jogo sonoro que faz com as palavras. Além disso, também é rico em sugestões de som e cor.

a)     Destaque do texto ao menos quatro referências a sons produzidos na rua do eu lírico.

Pregões, piano, violões, alarde de crianças, serenata, silêncio (falta de som).

b)     Destaque do poema ao menos duas referências ao colorido dessa rua.

Lua rala, opala, luar de prata, tarde que arde (amarela ou vermelha de sol).

c)     A presença desses sons e dessas cores sugere que a rua seja alegre ou triste? Por quê?

Alegre, porque as cores e os sons lembram movimento, vida.

06 – Observe este verso:

        “e algum piano provinciano, quotidiano, desumano”.

      Ao atribuir características humanas ao piano, o poeta fez uso da personificação ou prosopopeia, um recurso de expressão que consiste em dar vida a serres inanimados, ou atribuir ações, ideias e sentimentos a seres inanimados ou irracionais.

a)   Identifique a personificação presente neste outro fragmento:

     “e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,

     doiradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;”

      Acácias [...] descabeladas, debruçadas.

b)   Na sua opinião, que nova característica ganha a rua com o emprego da personificação?

Ela se torna humanizada.

07 – Releia o último verso do poema. De acordo com as ideias desse verso e de todo o texto, o que é a felicidade para o poeta?

      É isso tudo que a rua tem: tranquilidade, liberdade, simplicidade, harmonia, sentimentos, música, humanidade, etc.

08 – Para conhecermos um bairro ou uma cidade, precisamos percorrer cada uma de suas ruas e avenidas. Para ler um poema, também precisamos percorrer cada um de seus versos. Assim, os versos de um poema são como ruas e avenidas de uma cidade: que se ligam, se completam e levam à todos os lugares. Com base nessa comparação, indique quais dos itens seguintes correspondem a afirmações coerentes sobre o texto:

a)   Os sons têm uma grande importância na construção do poema. Primeiramente, porque o poeta emprega muitas rimas; em segundo lugar, porque a rua que ele imagina é também cheia de sons, com vozes, canto e música.

b)   A rua do poeta se chama Rua da Felicidade e o seu poema se chama “A rua das rimas”. Na visão do poeta, as rimas, ou a poesia, são uma forma de chegar à felicidade.

c)   O poema, com seus sons que combinam uns com os outros (rimas), sugere uma rua em que tudo se harmoniza: a natureza, as pessoas, a música e a poesia.

Todos são coerentes ao texto.

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