sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CRÔNICA: A CIDADE E OS BICHOS - IVAN ÂNGELO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A cidade e os bichos
               Esforços para tornar menos dura a vida animal na metrópole
          
                                                                  Ivan Ângelo 


        Na última crônica, falei da trágica dedicação de um cão a seu dono, e posso ter deixado a impressão de que a humanidade é ingrata, maltrata os animais, ou não paga amor com amor.
        Não é isso. O que acontece é que o ambiente urbano foi afastando aos poucos o homem dos alados, quadrúpedes e bípedes, emplumados ou peludos, com os quais convivia. Sumiram não apenas do convívio, mas de vista. Meninos nunca viram um frango vivo, só o conhecem como um item das compras de supermercado; cabritos, cavalos, bois e burricos são seres da televisão, como os ETs. Para muitas crianças, bichos como coelho, gato e pica-pau são personagens falantes de desenho animado, geralmente histéricos, cujo comportamento e caráter nada têm a ver com os apresentados pelos animais de verdade. 
        Capivaras e garças recusam-se a ser expulsas da cidade. Quando vim para São Paulo, descobriu-se uma enorme preguiça no Parque Trianon. Jacarés apareceram no Tietê. Aves peregrinas, como o falcão da Groenlândia, visitam a cidade. Bandos de jandaias fazem algazarra nas árvores de frutas dos Jardins. Há tempos falei de um pássaro que não conhecia, "cinza-esverdeado, pés e bico como os de um periquito, pequeno penacho espetado na cabeça, como o de um pavão", que se instalou algumas vezes na viga do 11º andar do prédio onde moro, para apreciar o pôr-do-sol junto comigo. Sumiu, mas recentemente desfiz o mistério ao ver um igual numa loja de rações da Vila Madalena: informaram-me que era uma calopsita, grande periquito nativo da Austrália. Por que ela estaria voando solta pelo bairro de Perdizes? 
        Iguanas, cobras, furões, tartarugas vão-se tornando bichos de estimação na cidade de carentes. O cão é o preferido, e muitos são criados como pessoas da família, mas quem não pode ter um, por alguma razão, recorre a animais silenciosos. Gatos domésticos vão rareando, não se sabe por quê, e seus irmãos vadios encontram quem lhes dê iscas nos parques da cidade.
         Na metrópole atribulada existem muitos exemplos de afeição desinteressada. Todos conhecem um. Tenho um amigo que cria galinhas, poleiro cheio, e nunca teve coragem de comer nenhuma. Logo galinha, bicho que não troca nada com ninguém, não tem cabeça para isso. Uma professora de balé leva o cágado a passear na calçada, para tomar sol. 
          Um veterinário criava no jardim de casa uns moluscos gigantescos, caracóis de quase 100 gramas. Foi ele quem recebeu de bom grado os três micos que um conhecido jornalista costumava levar emaranhados na própria cabeleira de estilo hippie, e dos quais desistiu quando trocou de namorada. Esse doutor recebe em casa bichos acidentados, e deles cuida pelo resto da vida. Quem vai querer um cachorro manco, um pássaro de asa quebrada, um gato cego? Só ele. 
        E tem o caso da jovem gaúcha que, em cena sensacional, parou o trânsito na saída do túnel da Nove de Julho para salvar um cavalo que corria solto e apavorado de um lado para o outro, em meio a buzinas e freadas. Ela estacionou o carro na calçada e correu atrás do animal, para agarrá-lo; o cavalo mudava de rumo, quase infartando. A moça não tinha com que segurá-lo, e os dois resvalavam nos carros na correria; motoristas gritavam olé, outros aplaudiam. Um caminhoneiro estendeu-lhe um pedaço de corda, com o qual ela improvisou um laço. Depois de quatro tentativas, laçou o bicho. Palmas e buzinaço. Irritada, ela abanou as mãos, pedindo silêncio. Conseguiu chegar perto do cavalo, falando com ele, murmurando, acalmando-o, logo acariciando-o, depois tirou a blusa, jogou-a sobre os olhos do animal e, só de sutiã, belíssima, conduziu-o docemente para a calçada.
                                                                                       Ivan Ângelo.
 Entendendo a crônica:

01 – O cronista inicia explicando para o leitor os motivos que o levam a retomar o assunto da última crônica. 
a)   Qual é o assunto retomado pelo cronista?
Que o dia-a-dia nas cidades grandes o homem vai perdendo o contato com a natureza.

b)    Qual o motivo de sua preocupação? 
Sua preocupação é que o ambiente urbano vá afastando aos poucos o homem dos animais.

02 – No segundo parágrafo, o cronista expõe o seu ponto de vista sobre o assunto. 
a)   O que ele defende? 
Ele defende a afeição desinteressada dos homens para com os animais, tanto os animais sadios ou não e o contato do homem com a natureza sem maltratá-la.

b)   Que exemplos da realidade urbana são empregados para confirmar o ponto de vista do cronista?
O seu amigo que cria galinhas sem comê-las, a professora de balé que levava um cágado para passear, a gaúcha que salvou um cavalo na Avenida Nove de Julho e o médico que recebe animais acidentados para cuidar o resto da vida.

03 – O cronista afirma que determinados animais recusam-se a ser expulsos da cidade, mesmo quando o ambiente lhes é desfavorável. 
a)   Na sua opinião, o que causa a expulsão dos animais dos grandes centros urbanos? 
Em minha opinião o que causa a expulsão dos animais dos grandes centros urbanos é que muitas pessoas não tem paciência para cuidar de animais, principalmente aqueles que fazem barulhos.

b)   Quem pode ser o responsável pela ação de expulsar os animais da cidade?
Nós mesmos.

c)    Segundo o cronista, quais as consequências desse afastamento para as pessoas que vivem nas grandes cidades?
As consequências é que as pessoas perdem o contato com os animais, não sabendo como são.

d)    Na sua opinião, estabeleça uma condição para que seja possível uma boa integração entre os animais e os centros urbanos. 
Resposta pessoal do aluno.

04 – O que torna o desfecho do texto surpreendente e original?
      O que torna o desfecho do texto assim, é que uma mulher quis salvar o coitado do cavalo que estava no meio de carros, correndo risco de vida.

05 – O que a apresentação desse fato permite concluir sobre a relação de algumas pessoas com os animais? 
      Algumas cuidam muito bem e amam os animais, já outras pessoas maltratam e ignoram os animais.

06 – Na sua opinião, qual a importância de o cronista afirmar que no ambiente urbano há meninos que nunca viram um frango vivo e só conhecem alguns animais como personagens de desenho animado.
      Mostra que as pessoas não tão nem aí para os animais nem se quer viram um de verdade.

07 – A crônica foi publicada no suplemento de uma revista que circula em um grande cetro urbano – a cidade de São Paulo.
Considerando os leitores a quem o texto é dirigido, você acha adequado o assunto tratado pelo cronista? 
      Sim, porque trata de uma realidade.

08 – O cronista expõe os argumentos de forma subjetiva (pessoal) ou de forma objetiva (impessoal)? 
      De forma subjetiva (pessoal).

09 – Que sentido você atribui ao subtítulo da crônica (“Esforços para tornar menos dura a vida animal na metrópole”)?
      Que a vida dos animais é muito difícil.


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