sexta-feira, 23 de novembro de 2018

CRÔNICA: DA OLIVETTI AO TORPEDO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: DA OLIVETTI AO TORPEDO

        Vai fazer 30 Natais que eu ganhei meu presente mais inesquecível. Não, não foi uma bicicleta. Foi uma máquina de escrever portátil Olivetti, modelo Lettera 22, verdinha. Vinha com uma tampa de plástico, que ao ser encaixada se transformava numa maleta. Mal abri o brinquedo, já fui pedindo; “Quero fazer o curso”
       Alguém aí pode explicar o que leva uma criança de 10 anos a pedir um curso de datilografia para seus pais? Hoje em dia é evidente que eu seria encaminhado a um bom psicólogo infantil – mas naquele tempo meu pai me inscreveu num curso e pronto. Lá pelo fim do curso, fazia fácil 200 toques por minuto.
       Na 8ª série, tive a felicidade de entrar para um colégio cujo currículo incluía... datilografia. Na aula inaugural, o professor pediu que todos os alunos batessem seus nomes à máquina, deixei que começasse; um “tlec” sem convicção, um “tlec” solitário ali, outro “tlec” solitário acolá. Então respirei fundo. E mandei ver: ratatatatatatatata! Todas as cabeças da sala se voltaram ao mesmo tempo na minha direção. Nunca mais viverei outro momento tão glorioso.
        Nunca mais mesmo. Depois de reinar por mais de 100 anos, o teclado – que foi inventado em 1880, não pela Olivetti, mas pela Remington – está com os dias contados. A máquina de escrever das crianças de 10 anos deste século não é nem mesmo o computador: é o celular. Crianças e adolescentes passam horas travando diálogos por escrito, como se estivessem jogando videogame.
         Você já tentou escrever um “torpedo” no celular? Eu tentei. Na semana passada, para ser mais preciso. As 26 letras do alfabeto se escondem em apenas nove teclazinhas. Levei cinco minutos para digitar quatro palavrinhas – e estou até agora tentando achar onde fica o ponto de interrogação. Se você souber de algum curso de datilografia-em-telefone, por favor me avise.
          Os celulares possuem poucas teclas porque na verdade quem escreve neles não tem lá muito amor pelas letrinhas. Tudo é abreviado. As vogais somem. Os acentos vão para o beleléu. Além de aprender a digitar, você tem de reaprender a escrever.
           De nada adianta ter evoluído das Olivettis e Remingtons para os PCs e Macs se a gente não consegue agora a se adaptar ao celular. Caso tudo o que os fabricantes prometem acabe um dia se realizando, o celular vai tomar o lugar do computador, da máquina fotográfica, do cartão de crédito, Da carteira de identidade e da chave de casa. Isso claro, para quem aprender a mexer nele. Se eu não consigo achar nem o ponto de interrogação, como eu vou descobrir a função que abre o portão da garagem?

                          (Ricardo Freire. Revista Época, Globo, 24/11/2003)
Entendendo a crônica:
01 – A crônica aborda um tema atual: os avanços da tecnologia.
a)   Que informação você desconhecia e descobriu com a leitura do texto?
O teclado que foi inventado em 1880 pela Remington.

b)   Qual o ponto de vista apontado no texto em relação aos avanços tecnológicos?
Que o celular vai tomar o lugar do computador, da máquina fotográfica, do cartão de crédito, da carteira de identidade e da chave de casa.

c)   Na sua opinião, com que finalidade se atribuiu um tom humorístico aos fatos narrados no texto?
Para que o texto ficasse mais interessante ao ser lido.

02 – O narrador-personagem inicia o texto referindo-se a fatos de sua infância.
a)   A que ele se refere como "presente inesquecível"?
Uma máquina de escrever portátil Olivetti, modelo lettera 22, verdinha.
b)   Quantos anos ele tinha e qual sua reação ao receber o presente?
Ele tinha 10 anos, e sua reação foi pedir um curso de Datilografia para seus pais.

03 – Ao iniciar o curso, o narrador-personagem rapidamente aprende a usar as teclas da máquina de escrever.
a)   Que expressões empregadas evidenciam essa agilidade?
“Totalmente caxias, eu jamais olhava para as teclas.”
“Lá pelo fim do curso, fazia fácil 200 toques por minutos.”

b)   Ele gostou muito de teclar a máquina. Que frase comprova esse sentimento do cronista?
Foi amor ao primeiro asdfgçkjh.

04 – A crônica também apresenta um momento glorioso vivenciado pelo narrador-personagem na 8ª série.
a)   Como ele se destaca dos seus colegas?
Pelo fato de ser o único a saber datilografar rapidamente.

b)   Que recursos linguísticos são empregados para ressaltar a sonoridade das teclas? O que eles sugerem ao leitor?
Onomatopeia, sugere o barulho do teclado.

05 – De acordo com a crônica, a máquina de escrever do momento é o celular.
a)    O narrador-personagem se inclui no público usuário dessa máquina? A que tipo de público especificamente ele se refere?
Não. Ele se refere aos jovens.

b)    Como ele se sente diante dessa "máquina de escrever"?
Se sente indignado, levando cinco minutos para digitar quatro palavras.

06 – Na crônica são apresentados alguns argumentos que servem para justificar o ponto de vista do narrador-personagem sobre o uso do celular.
a)   Que argumento é utilizado para justificar a dificuldade em digitar as teclas do celular?
“As 26 letras do alfabeto se escondem em apenas nove teclazinhas. Levei cinco minutos para digitar quatro palavras – e estou até agora tentando achar onde fica o ponto de interrogação.”

b)   Ao explicar por que o celular possuiu poucas teclas, o narrador faz uma crítica implícita. O que ou quem é criticado? Por quê?
Ele critica as crianças que trocam uma máquina de datilografia por um celular. “As 26 letras do alfabeto se escondem em apenas nove teclazinhas.”






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