terça-feira, 20 de novembro de 2018

ROMANCE: LUCÍOLA(FRAGMENTO) - JOSÉ DE ALENCAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

ROMANCE: Lucíola (fragmento)
        
                       José Alencar

        Apenas o médico saiu, ela olhou-me tristemente:
        -- Era o primeiro! Mas o tato das entranhas maternas, sejam elas virgens ainda, não engana. Nosso filho, Paulo, o teu, porque ele era mais teu do que meu, já não existe.
        À noite declarou-se a febre; uma febre intensa que a fez delirar. Foi então que conheci quanto eu vivia no seu pensamento: ela não disse no delírio uma só palavra que não se referisse a mim e alguma circunstância de nossa vida mútua, desde o primeiro dia em que nos encontramos.
        Pela manhã, depois de um sono curto e agitado, achei-a mais tranquila:
        — Tu me prometes, Paulo, casar com Ana!
        — Não tratemos disso agora, minha amiga! Quando ficares boa, tudo o que tu quiseres eu farei para a tua felicidade.
        — Mas essa promessa me daria tanto alívio agora!
        — Escuta, Maria, esse casamento nos tornaria infelizes a ti, à tua irmã, e a mim, que não poderia amá-la, mesmo por causa dessa semelhança! Tu viverias sempre entre mim e ela!
        — Pois bem, promete-me que se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai.
        — Juro-te!
        Beijou-me as mãos:
        — Ela vai ter tanta necessidade de um pai!
        Os acessos da febre repetiram-se durante três dias, e sempre mais graves. Uma tarde em que o médico apresentou a Lúcia um remédio:
        — Para que é isso? perguntou ela com brandura.
        — Para aliviá-la do seu incômodo. Logo que lançar o aborto, ficará inteiramente boa.
        — Lançar! ... Expelir meu filho de mim?
        E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.
        — Iremos juntos! ... Murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo.
        De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o remédio que a devia salvar.
        — Queres acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me só neste mundo. Vive por mim!
        — Se eu pudesse viver, haveria forças que me separassem de ti? Haveria sacrifício que eu não fizesse para comprar mais alguns dias da minha felicidade? Mas Deus não quis. Sinto que a vida me foge!
        A instâncias minhas bebeu finalmente o remédio, que nenhum efeito produziu. A febre lavrava com intensidade: eu já não tinha esperanças.
        — O remédio de que eu preciso é o da religião. Quero confessar-me, Paulo.
        Lúcia tomou os sacramentos com uma resignação angélica; e abraçando a irmã, disse-lhe:
        — Perdes uma irmã, Ana; fica-te um pai. Ama-o por ele, por ti e por mim.
        O dia se passou na cruel agonia que só compreendem aqueles que, ajoelhados à borda de um leito, viram finar-se gradualmente uma vida querida.”
                                                                                  Jose de Alencar
Entendendo o texto:

01 – UEGO Assinale V, para as afirmações verdadeiras, e F, para as falsas:
(F) Em “– Pois bem, promete-me que se ela não for tua mulher, lhe servirás de pai.” Neste período, evidencia-se um desrespeito às convenções gramaticais quanto ao uso do pronome oblíquo “lhe”, exemplificando assim um caso de próclise, que também ilustra a oralidade ou a espontaneidade da fala.
(V) É artifício da produção de textos o uso das reticências. Nesse texto em foco, elas foram usadas por duas vezes indicando então que o narrador imprime ao enredo a hesitação, a surpresa e estupefação da personagem ante a situação nova com que se defronta.
(V) O texto apresentado enquadra-se como narrativo-descritivo.
(F) Nos trechos: “– Queres acompanhar teu filho, Maria, e abandonar-me só neste mundo. Vive por mim!” e em: “O dia se passou, na cruel agonia que só compreendem aqueles...”, a palavra “” tem equivalente função morfológica (= classe de palavra) em ambas as situações.

02 – Este fragmento literário acima foi retirado de um romance. O que é um romance?
      Narrativa longa com apenas um núcleo.

03 – Defina os protagonistas.
·        Lúcia = apresentação direta, esférica, indivíduo.
·        Paulo = apresentação indireta, esférica, indivíduo.

04 – Defina o narrador e o espaço:
      Narrador-observador; espaço físico (quarto de Lúcia).

05 – Leia esta crítica ao livro:
        “Lucíola é um romance urbano, em que Alencar transforma a cortesã em heroína, esta purifica sua alma com o amor de Paulo. Ela não se permite amar, por seu corpo ser sujo e vergonhoso, e ao fim da vida, quando admite seu amor, declara-se pertencente à Paulo. É a submissão do amor romântico, onde a castidade é valorizada.”
Você concorda com essa firmação: JUSTIFIQUE a sua resposta.
      Sugestão: Sim. Porque ela prefere morrer a matar o fruto do amor dela e de Paulo.

06 – Releia: “E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.” O termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para a frase, por:
a) empurrado.
b) largado.
c) jogado.
d) destruído.

07 – Assinale o item que caracteriza corretamente as narrativas curtas:
a) conto, crônica, romance.
b) conto, crônica, fábula.
c) lenda, fábula, saga.
d) romance, saga, novela.

08 – Assinale o item que caracteriza corretamente as narrativas longas:
a) conto, crônica, romance.
b) conto, crônica, fábula.
c) lenda, fábula, saga.
d) romance, saga, novela.

09 – O enredo desse trecho aproxima-se mais do item:
a) Tendo sua ilusão desfeita de que conseguiria casar seu amigo com sua amiga, Lúcia morre de desgosto.
b) Não podendo casar com Paulo, Lúcia tentara casá-lo com sua irmã.
c) A heroína, Lúcia, abandona todos na miséria ao morrer com seu filho.
d) Paulo não deseja que Lúcia tenha o filho, por isso pede que ela tome o remédio que a fará abortar.

10 – São personagens secundárias deste trecho em estudo:
a) Paulo e Ana.
b) Paulo e o médico.
c) Ana e o médico.
d) Paulo e Lúcia.



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