Reportagem: A infância não pode esperar
O trabalho infantil vem caindo em nosso país, como resultado da redução
da pobreza, mas há desafios importantes a superar
Márcia
Lopes
A meta, fixada pela ONU, é um dos
nossos compromissos do milênio: erradicação das piores formas de trabalho
infantil até 2016. Durante a 2ª Conferência Global sobre o Trabalho Infantil,
em Haia (Holanda), da qual participamos, relatório da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) revelou a complexidade do desafio para todo o mundo. O
cenário mundial inspira muito cuidado: são 215 milhões de crianças, entre 5 e
17 anos, obrigadas a trabalhar, a maioria exercendo algum trabalho considerado
"perigoso" ou com jornada extensa. A voz daqueles a quem se dirige
nosso compromisso dá cor dramática às estatísticas, como o apelo do indiano
Kinsu Kumar, 14, há seis livre do trabalho da rua, no encerramento do evento:
"Vocês são aqueles que podem acabar com o trabalho infantil, porque têm
dinheiro, têm as leis, vocês têm que agir rápido". Ao mesmo tempo, temos
chamas de esperanças que se acendem pelo mundo, e o Brasil faz parte dessa
empreitada, pois o mesmo relatório indica que conseguiremos erradicar as piores
formas de trabalho infantil na meta fixada.
Como conseguir isso? Por meio da
proteção social integrada, educação universalizada, Assistência Social,
fortalecimento do mercado de trabalho para os adultos e garantia de renda
básica, como o programa Bolsa Família. O reconhecimento da atuação do governo
brasileiro resultou no convite para que o Brasil sedie a próxima Conferência
Global, em 2013. A proteção e o cuidado com as crianças e adolescentes são
política de Estado no Brasil, sendo um dos pilares centrais de nossa
Constituição. A partir de 2003, o combate ao trabalho infantil é elevado à
condição de meta presidencial. Essa decisão política se concretizou no Plano
Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, de 2004, como resultado de
intenso trabalho entre governo e sociedade civil. Mas estamos seguros de que
não vamos erradicar essa mazela pela atuação de um plano ou de seus defensores.
É preciso incorporá-la de forma
determinada, no cotidiano, como meta prioritária e compromisso ético e político
dos Estados, municípios e Distrito Federal, da sociedade organizada, de
empregadores, trabalhadores e das famílias. Nesse sentido, temos enfrentado as
duas graves consequências da nossa formação social e econômica ao longo da
história, desde a colonização: a pobreza e a desigualdade social,
responsabilizando o Estado como o provedor de políticas públicas garantidoras
de direitos, de caráter universal, de qualidade e respeitando a diversidade
étnica, racial e de gênero presente no território brasileiro.
O trabalho infantil vem caindo em nosso
país, como resultado da redução da pobreza e da desigualdade e das ações
específicas para seu enfrentamento. Contudo, ainda temos desafios importantes a
superar, como o trabalho doméstico e rural, além da exploração sexual. É
necessário reconhecer especificidades do país e desenvolver estratégias de
gestão integradas para cada situação concreta. É preciso ainda romper com a
visão conservadora de que o trabalho infantil é possibilidade de aprendizado e
ascensão social e continuar fomentando o pacto nacional em defesa dos direitos
das crianças e da Erradicação do Trabalho infantil. Temos também de manter os
olhos abertos ao nosso redor, pois esse combate é nosso, de todos os homens e
mulheres do mundo. Tudo para que nosso novo tempo seja o tempo de crianças que
tenham o direito de serem crianças. E que a voz do jovem Kumar não nos permita
esquecer: temos pressa.
Márcia Lopes é
ministra do Desenvolvimento Social e combate à fome
Artigo publicado no
jornal Folha de S. Paulo, de 06 de julho de 2010
Entendendo o texto:
01 – O texto que você acabou
de ler é um artigo de opinião, O que
significa isso?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Artigo de opinião tem o propósito de apresentar a opinião
do autor sobre um tema polêmico, sendo sua fundamentação feita com base em
argumentos.
02 – Você acha importante
que textos desse gênero sejam publicados? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Os artigos de opinião são importantes porque apresentam
diversos pontos de vista e podem esclarecer o leitor sobre determinados
assuntos.
03 – Você considera
necessário discutir a questão do trabalho infantil? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Todos os temas sociais devem ser discutidos com frequência
a fim de expor as atuais condições em que o país se encontra, e procurar
encontrar as soluções necessárias.
04 – Nesse texto, qual é a
opinião, isto é, o ponto de vista defendido pela autora em relação ao trabalho
infantil?
a)
É preciso aumentar a fiscalização em relação
ao trabalho infantil.
b)
É preciso cumprir a meta de
erradicar o trabalho infantil até 2016.
c)
É preciso que a Constituição do Brasil tenha
como um dos pilares centrais a proibição do trabalho infantil.
05 – Segundo a autora, de
que modo será possível acabar com o trabalho infantil até 2016?
Por meio da
proteção social integrada, da educação universalizada, da assistência social,
do fortalecimento do mercado de trabalho para os adultos e da garantia de renda
básica.
06 – Complete o trecho do
texto com os dados estatísticos que ele informa.
“O cenário mundial inspira muito
cuidado: são 215
milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, obrigadas a trabalhar, a maioria exercendo
algum trabalho considerado "perigoso" ou com jornada extensa.”
07 – Explique, qual é a
função de dados estatísticos em um texto.
Os dados
estatísticos servem para confirmar a veracidade do que está sendo dito e para
reforçar a opinião do autor do texto. Os dados estatísticos constituem,
portanto, um dos argumentos utilizados pela autora para defender seu ponto de
vista.
08 – Releia um dos
argumentos utilizados pela autora para defender a ideia de que criança não pode
trabalhar.
“A voz daqueles a quem se dirige nosso compromisso dá cor dramática
às estatísticas [...]”
A quem o termo em destaque
se refere? Assinale a alternativa correta.
a)
Aos membros presentes no encontro.
b)
Às crianças vítimas do trabalho
infantil.
09 – Com que intenção a autora
reproduziu a fala do menino indiano que foi vítima do trabalho infantil?
Dar mais
veracidade à matéria e também comprovar que existe trabalho infantil.
10 – A autora, na ocasião em
que escreveu esse texto, era ministra do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome. De que maneira um cargo público pode influir na opinião da autora do
artigo?
Esse cargo faz
com que ela fale do ponto de vista dos governantes. Isso faz com que a autora,
além de apresentar o problema, proponha uma solução para ele.
11 – Para você, esse texto
apresenta uma visão otimista ou pessimista em relação à erradicação do trabalho
infantil? Explique como você chegou a essa conclusão.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: O texto apresenta uma visão otimista, pois mostra que o
trabalho infantil ainda existe, mas tem diminuído e muitas coisas têm sido
feitas para erradica-lo. Ou seja, é um grave problema social, mas pode ser
combatido com medidas adequadas.
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