sexta-feira, 16 de novembro de 2018

CRÔNICA: PECHADA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: PECHADA
                     

   O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado. 
        – Aí, Gaúcho! 
        – Fala, Gaúcho! 
        Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações? 
        – Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato. 
        – E fala certo – disse a professora. – Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português. 
        O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara. 
        Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera. 
        – O pai atravessou a sinaleira e pechou. 
        – O que? 
        – O pai. Atravessou a sinaleira e pechou. 
        A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo. 
        – O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge. 
        – Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou. 
        – E o que é isso? 
        – Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu. 
        – Nós vinha... 
        – Nós vínhamos. 
        – Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto. 
        A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito. 
        "Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada. 
        – Aí, Pechada! 
        – Fala, Pechada!
                                                                                              Luís Fernando Veríssimo
Entendendo a crônica:

01 – Rodrigo, o aluno novo, logo recebe o apelido de Gaúcho quando entra naquela escola.
a)   O que os colegas mais estranham em Rodrigo?
Seu sotaque diferente.

b)   Essa escola fica no Rio Grande do Sul ou em outro Estado brasileiro? Por quê?
Esta escola não pertence ao Rio Grande do Sul. Porque no texto cita que o aluno é recém chegado do Rio Grande do Sul.

02 – Dos colegas da sala, o gordo Jorge era o que mais insistia em rir e debochar de Rodrigo. Por que você acha que ele agia desse modo?
      Porque Jorge não se conformava com o sotaque do gaúcho, ele achava engraçado o jeito de Rodrigo falar.

03 – Quando Rodrigo, ao contar por que chegou atrasado, diz "Nós vinha...", a professora o interrompe dizendo "Nós vínhamos". Por que você acha que ela disse isso?
      Porque Rodrigo estava falando de forma incorreta.

04 – Rodrigo conta que seu pai "atravessou a sinaleira e pechou". A professora não conhecia a palavra pechar, mas conseguiu descobrir o sentido dela.
a)   Como foi que ela descobriu o significado da palavra?
Ela deu a oportunidade que o próprio Rodrigo explicasse.

b)   Qual é a origem dessa palavra, que hoje também pertence ao português?
É de origem espanhola.

05 – A professora ensina à classe que, apesar de o país inteiro falar português, de um lugar para o outro existem muitas variações.
a)   Que palavras a professora provavelmente usaria em lugar de tu, sinaleira e auto?
Você, semáforo e carro ou automóvel.

b)   Na sua região, as palavras coincidem com as usadas pela professora ou com as usadas por Rodrigo?
Com as palavras usadas pela professora.

06 – Rodrigo acabou sofrendo preconceito em razão de falar português de modo diferente do falado pela maioria. Você já viveu ou presenciou uma situação parecida com essa? Comente-a.
      Resposta pessoal do aluno.



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