quarta-feira, 7 de novembro de 2018

CRÔNICA: OS NAMORADOS DA FILHA - MOACYR SCLIAR - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: OS NAMORADOS DA FILHA



        Quando a filha adolescente anunciou que ia dormir com o namorado, o pai não disse nada. Não a recriminou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua juventude. Homem avançado, esperava que aquilo acontecesse um dia. Só não esperava que acontecesse tão cedo.
Mas tinha uma exigência, além das clássicas recomendações. A moça podia dormir com o namorado:
        ─ Mas aqui em casa.
        Ela, por sua vez, não protestou. Até ficou contente. Aquilo resultava em inesperada comodidade. Vida amorosa em domicílio, o que mais podia desejar? Perfeito.
        O namorado não se mostrou menos satisfeito. Entre outras razões, porque passaria a partilhar o abundante café da manhã da família. Aliás, seu apetite era espantoso: diante do olhar assombrado e melancólico do dono da casa, devorava toneladas do melhor requeijão, do mais fino presunto, tudo regado a litros de suco de laranja.
        Um dia, o namorado sumiu. Brigamos, disse a filha, mas já estou saindo com outro. O pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era muito parecido com o anterior: magro, cabeludo, com apetite descomunal.
        Breve, o homem descobriria que constância não era uma característica fundamental de sua filha. Os namorados começaram a se suceder em ritmo acelerado. Cada manhã de domingo, era uma nova surpresa: este é o Rodrigo, este é o James, este é o Tato, este é o Cabeça. Lá pelas tantas, ele desistiu de memorizar nomes ou mesmo fisionomias. Se estava na mesa do café da manhã, era namorado. Às vezes, também acontecia ─ ah, essa próstata, essa próstata ─ que ele levantava à noite para ir ao banheiro e cruzava com um dos galãs no corredor. Encontro insólito, mas os cumprimentos eram sempre gentis.
        Uma noite, acordou, como de costume, e, no corredor, deu de cara com um rapaz que o olhou apavorado. Tranquilizou-o:
        ─ Eu sou o pai da Melissa. Não se preocupe, fique à vontade. Faça de conta que a casa é sua.
        E foi deitar.
        Na manhã seguinte, a filha desceu para tomar café. Sozinha.
        ─ E o rapaz? ─ perguntou o pai.
        ─ Que rapaz? ─ disse ela.
        Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, pôs-se de imediato a checar a casa. Faltava o CD player, faltava a máquina fotográfica, faltava a impressora do computador. O namorado não era namorado. Paixão poderia nutrir, mas era pela propriedade alheia.
        Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago no café da manhã.

Moacyr Scliar (Crônica extraída da Revista Zero Hora, 26/4/1998, e contida no livro Boa Companhia: crônicas, organizado por Humberto Werneck, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, 2. reimpressão, pp. 205-6.)


Entendendo a crônica:
01 – No texto, procure uma palavra que possa substituir os termos grifados nas frases abaixo sem alterar o sentido.

a) “Não a censurou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua juventude.”
        Censurou significa proibiu.

b) “Encontro inusitado, mas os cumprimentos eram sempre gentis.”
      Inusitado significa incomum.

02 – Qual é o tipo de crônica escrita por Moacyr Scliar?

(a) narrativa              
(b) reflexiva            
(c)  lírica                    
(d) crônica humorística.

03 – Essa crônica contém elementos predominantemente narrativos. Agora localize no texto cada um desses elementos.

a)   Situação inicial:
      A filha comunica ao pai que vai dormir com o namorado.

b)   Conflito:
      O sumiço do namorado e a descoberta da inconstância da filha.

c)   Clímax:
      O encontro no corredor entre o pai e o rapaz.

d)  Desfecho: 
      O pai descobre que o rapaz no corredor era ladrão e não o namorado.

04 – Quais são os personagens desse texto?
      O pai, a filha e os namorados. 

05 – Qual o cenário onde a história acontece? 
      Na casa da namorada.

06 – Como se apresenta o narrador nessa crônica?
      Narrador-observador.

07 – Por que o pai da jovem era realmente um homem avançado?
      Apesar de ter tido uma criação severa, diferente dos padrões mais liberais da filha, e julgá-la muito jovem, o pai soube ouvi-la e ponderar. 

08 – Qual é o tema retratado nessa crônica?
      O namoro atualmente.

09 – Qual o objetivo desse texto? 
      Ironizar as relações entre pais e filhos que estão no período da adolescência.

10 – Como o narrador conseguiu tornar o cômico equívoco do pai, no final do texto?
      Com a utilização de uma linguagem coloquial, irônica e bem-humorada, narração dos fatos; isto altera a situação de séria para engraçada.

11 – Qual é sua opinião a respeito do comportamento da adolescente do texto?
      Resposta pessoal do aluno.


20 comentários:

  1. A crônica é um texto predominantemente narrativo.retire do texto partes que evidenciem isso

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  2. Eu acho que com esse texto, as pessoas ainda tem muito a aprender com ele

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  3. Em relação ao texto atitude do pai teve boas consequências

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  4. Qual é a sua opinião a respeito do comportamento da adolescente do texto

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  5. Preciso de
    Três adjetivos do texto


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  6. Qual é sua opinião a respeito do comportamento da adolescente do texto?

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  7. Que devemos conhecer primeiro as pessoas pra poder se relacionar

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  8. Porque não sabemos quem São as pessoas de verdade e pode acabar que nem essa história 🤡

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  9. Quais são as características básicas da crônica????

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