Conto: O
defunto vivo
Em alguns arraiais do interior mineiro,
quando morria alguém, costumavam buscar o caixão na cidade vizinha, de
caminhão. Certa feita, vinha pela estrada um caminhão com sua lúgubre
encomenda, quando alguém fez sinal, pedindo carona. O motorista parou.
--- Se você não se incomodar de ir na
carroceria, junto ao caixão, pode subir.
O homem disse que não tinha
importância, que estava com pressa. Agradeceu e subiu. E a viagem prosseguiu.
Nisto começa a chover. O homem, não
tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor deitar-se
dentro dele, fechando a tampa, para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem,
logo pegou no sono.
Mais na
frente, outra pessoa pediu carona. O motorista falou:
--- Se você não se importa de viajar
com o outro que está lá em cima, pode subir.
O segundo homem subiu no caminhão.
Embora achasse desagradável viajar com um defunto num caixão, era melhor que ir
a pé para o povoado.
De tempos em tempos, novos caronas
subiam na carroceria, sentavam-se respeitosos em silêncio, em volta do caixão,
enquanto seguiam viagem.
Avizinhando-se o arraial, ao passar num
buraco da estrada, um tremendo solavanco sacode o caixão e desperta o dorminhoco
que se escondera da chuva dentro dele.
Levantando devagarinho a tampa do
caixão e pondo a palma da mão para fora, fala em voz alta:
--- Será
que já passou a chuva?
Foi um corre-corre dos diabos. Não
ficou um em cima do caminhão. Dizem que tem gente correndo até hoje.
Weitzel,
Antônio Henrique. Folclore literário e linguístico. Juiz de Fora, MG.
EDUFJF, 1995.
Entendendo o conto:
01 - No título da história
contêm hipérbole? Explique os prováveis objetivos do uso dela no texto?
a) (X) Sim. O
objetivo é informar o leitor, de modo ambíguo e provocante, sobre o conteúdo a
ser desenvolvido na história e despertar a curiosidade e interesse pela
leitura.
b) ( ) Não. O objetivo é não
informar o leitor, sobre o conteúdo a ser desenvolvido na história e não
despertar a curiosidade e interesse pela leitura.
02 – Há trechos na história
que contêm hipérbole? Explique os prováveis objetivos do uso delas no decorrer
do texto.
a) ( ) Não. Não há
passagens que podem ser consideradas hipérboles, pois não narra atitudes
anormais.
b) (X) Sim.
Há passagens que podem ser consideradas hipérboles, pois narra atitudes
anormais, quase impossíveis de acontecer na realidade.
03 – Qual o trecho onde há
intenção é construir condição para a confusão que vai estabelecer na sequência
da história?
a) ( ) “O homem, tendo
vários lugares para se esconder da chuva, escolhe o caixão vazio, achou melhor
deitar-se debaixo dele, para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem,
logo pegou no sono”.
b) (X) “O homem,
não tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor
deitar-se dentro dele, fechando a tampa, para melhor abrigar-se. Com o balanço
da viagem, logo pegou no sono”.
04 – Há hipérbole no trecho final?
“Foi um corre - corre dos diabos. Não ficou um em cima do caminhão.
Dizem que tem gente correndo até hoje”. Explique.
a) ( ) Não. O objetivo é
finalizar a história de maneira enfática, provocando tristeza no leitor.
b) (X) Sim. O
objetivo é finalizar a história de maneira enfática, provocando riso no leitor.
05 – O enredo de “O defunto
vivo” pode ser dividido em quatro momentos: situação inicial, início do
conflito, auge do conflito e conclusão. Explique-os apontando passagens do
texto onde começa e termina cada um desses momentos.
1) Situação inicial: O
narrador contextualiza a história apresentando indicações de espaço e tempo, os
personagens centrais e os acontecimentos que vão dar origem e suporte ao
surgimento do conflito. Vai de “Em alguns arraiais...” até “E a viagem
prosseguiu”.
2) Início do conflito:
Cai uma chuva, o primeiro carona se esconde dentro do caixão, fecha-o e acaba
dormindo. Outros caronas sobem na carroceria e supõem haver um morto no caixão.
Vai de “Nisto começa a chover” até “...enquanto seguiam viagem”.
3) Auge do conflito: O
primeiro carona acorda, abre o caixão e fala em voz alta. Vai de
“Avizinhando-se o arraial...” até “- Será que já parou a chuva?”.
4) Conclusão: Os
caronas se assustam com a atitude do suposto defunto e somem em disparada do
caminhão. Vai de “Foi um corre – corre...” até “...correndo até hoje. Estas
afirmações são:
a) (X) Todas são verdadeiras.
b) ( ) Apenas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
06 – Na história há emprego
de expressões que funcionam como marcas de espaço e tempo, por exemplo: “Em alguns arraiais do interior mineiro,
quando morria alguém...”. Percebe-se que essas marcas são espaciais e
temporais muito importante porque situam os fatos da narrativa, sinalizam,
descrevem para o leitor os movimentos espaço-temporais na arquitetura de
enredo. Quais são essas marcas?
a) ( ) Espaço: Na estrada,
na carroceria, junto do caixão, Mais na frente, lá em cima, no avião, na
carroceria, em volta do caixão, Avizinhando-se o arraial, ao passar num buraco
da estrada, em cima do caminhão. Tempo: Certa feita, quando alguém fez sinal,
Nisto começa a conversar, logo acordou do sono, De tempos em tempos, até
dançava.
b) (X) Espaço: Na
cidade vizinha, pela estrada, na carroceria, junto do caixão, Mais na frente,
lá em cima, no caminhão, na carroceria, em volta do caixão, Avizinhando-se o
arraial, ao passar num buraco da estrada, em cima do caminhão. Tempo: Certa
feita, quando alguém fez sinal, Nisto começa a chover, logo pegou no sono, De
tempos em tempos, enquanto seguiam viagem, até hoje.
07 - Na situação inicial, a
fala do motorista sustenta o ponto de partida do enredo. No início do conflito,
a expressão “com o outro” gera a situação ambígua, confusa, pois o carona
infere que o “outro” era um:
a) (X) morto
b) ( ) vivo
08 – A expressão “alguém”
aparece no primeiro e no segundo parágrafo. A quem elas se referem? Trata-se do
mesmo referente?
a) (X) Não. Alguém
no 1º parágrafo - se refere a qualquer carona; alguém - no 2º parágrafo – é um
carona específico.
b) ( ) Sim. Alguém no 1º parágrafo
- se refere a qualquer carona; alguém - no 2º parágrafo também a qualquer
carona.
09 – “Alguém” no 2º
parágrafo e “o homem” no 4º parágrafo são a mesma pessoa?
a) ( ) Não
b) (X) Sim
10 – A ambiguidade da
expressão "o outro" em “Se você não se importa de viajar
com o outro que está lá em cima, pode subir”, considerando a
referência atribuída pelo motorista e pelo segundo carona é:
a) ( ) A expressão não ficou
ambígua, pois ‘o outro’ na fala do motorista do caminhão não tem um referente
no texto: ‘o homem’.
b) (X) A expressão
ficou ambígua, pois ‘o outro’ na fala do motorista do caminhão tem um referente
no próprio texto: ‘o homem’ (que pediu carona anteriormente). Aqui há uma
recuperação anafórica. As demais pessoas que subiram no caminhão
entenderam ‘o outro’ como sendo um ‘defunto’; uma expressão dêitica, cuja
interpretação se deu de acordo com o contexto situacional.)
11 – Você teria coragem de
ficar ou até dormir dentro de um caixão?
Resposta pessoal
do aluno.
12 – Se você estivesse também
em cima do caminhão e de repente alguém falasse ou saísse de dentro de um
caixão. O que você faria?
Resposta pessoal
do aluno.
13 – Você acredita que houve
uma má interpretação no diálogo do motorista e das pessoas que pediram carona?
Resposta pessoal
do aluno.
obrigada
ResponderExcluirvlw
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