segunda-feira, 30 de abril de 2018

POESIA - VERSOS ÍNTIMOS - AUGUSTO DOS ANJOS - COM GABARITO

Poesia: VERSOS ÍNTIMOS
             AUGUSTO DOS ANJOS


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – essa pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo! Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

                           Augusto dos Anjos. In: Toda a poesia. 2º vol. Rio de Janeiro:
                                                                                             Paz e Terra, p. 125.

Entendendo a poesia:

01 – Assinale a característica que o texto NÃO contém:
     a) O título denuncia a tendência subjetiva do poema.
     b) O eu lírico se projeta pelo sentimento de desprezo em relação à ingratidão dos homens.
     c) A comunicação do texto encerra o alto grau de pessimismo que toma conta do poeta, o que se constata pela seleção vocabular.
     d) Pelas ideias apresentadas, o homem tem seu comportamento determinado pelo meio em que vive.
     e) Conclui-se pelo texto que o espírito de fraternidade existia a despeito das atitudes falsas do ser humano.

02 – Os vocábulos “pantera” e “fera” e a sua utilização semântica aproximam o texto da literatura naturalista. Comente a afirmação.
       A literatura naturalista vê o homem como animal social e registra seu comportamento avaliado segundo a óptica patológica e fisiológica.

03 – Do ponto de vista formal, o texto se caracteriza como um soneto clássico. Justifique esta afirmação, considerando o esquema métrico e o esquema rímico nele presentes.
      Os versos são decassílabos e as rimas são regulares (ABBA; BAAB; CCD; DDC).

04 – Desde a primeira estrofe, percebe-se que o sujeito lírico relaciona a vida social do homem à vida dos animais selvagens, por meio de imagens que lembram o estilo naturalista, em que determinismo cientificista e em seu materialismo. Que palavras da segunda estrofe melhor confirmam esta afirmação?
      Lama, terra miserável e fera.

05 – Os versos que iniciam a segunda e a terceira estrofes possuem um tom de conselho ou ordem, que é reiterado no desfecho do poema.
a)   Que característica permite associar o conselho ou ordem da segunda estrofe ao Naturalismo?
O determinismo.

b)   Repare que o conselho ou ordem da terceira estrofe introduz no poema, de forma inesperada, um tom prosaico, de conversa cotidiana. O verso surpreende o leitor de forma irônica e provocativa, fazendo lembrar o Realismo psicológico de Machado de Assis. Releia as duas estrofes finais e, a partir delas, explique o sentido da utilização desses recursos no referido verso.
Por meio da surpresa, da ironia e da provocação, o sujeito lírico procura quebrar a expectativa do leitor, como se aconselhasse a se preparar para ler a afirmação cruel sobre o ser humano que vem a seguir.

06 – O vocabulário do poema escandaliza o leitor acostumado com a poesia parnasiana, incluindo expressões que, do seu ponto de vista, podem ser consideradas “não poéticas”. Identifique expressões desse tipo na terceira e quarta estrofes e explique por que não poderiam ser consideradas poéticas, no contexto do Parnasianismo dominante na época?
      “... véspera do escarro”; “Apedreja essa mão vil”; “Escarra nessa boca” – tais expressões não poderiam ser consideradas poéticas no contexto do Parnasianismo, pois esse estilo literário se caracteriza pelo uso de um vocabulário erudito, com palavras elegantes e amenas.

07 – Observe que, no poema, homem, vida social, amizade, solidariedade, afeto (beijo, mão que afaga) transformam-se em ingratidão, terra miserável, fera, desafeto (escarro, mão que apedreja). Nessa perspectiva, tente interpretar a sua estrofe final.
a)   Que ações o sujeito lírico recomenda ao leitor?
O sujeito lírico recomenda apedrejar a mão vil de quem se recebeu um afago, escarrar na boca de quem se recebeu um beijo.

b)   Numa leitura mais profunda, poderíamos pensar que o sujeito lírico estaria nos advertindo, precavendo-nos contra aquilo que parece nos ordenar, aconselhar a fazer. Que recurso estilístico presente em todo o texto permite essa interpretação? Por quê?
O recurso estilístico é a ironia, que permite essa interpretação justamente porque consiste em afirmar o contrário do que se pensa.



 "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei." Allan Kardec

Um comentário:

  1. Questão 3 tá com a resposta errada. A rima certa (ABBA; BAAB; CCD; EED).

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