Poesia: VERSOS
ÍNTIMOS
AUGUSTO DOS ANJOS
Vês!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
de tua última quimera.
Somente a
ingratidão – essa pantera –
Foi tua
companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O homem,
que, nesta terra miserável,
Mora,
entre feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma um
fósforo! Acende teu cigarro!
O beijo
amigo, é a véspera do escarro,
A mão que
afaga é a mesma que apedreja.
Se a
alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos. In: Toda a poesia. 2º vol. Rio de Janeiro:
Paz
e Terra, p. 125.
Entendendo a poesia:
01 –
Assinale a característica que o texto NÃO contém:
a) O título denuncia a tendência
subjetiva do poema.
b) O eu lírico se projeta pelo
sentimento de desprezo em relação à ingratidão dos homens.
c) A comunicação do texto encerra o
alto grau de pessimismo que toma conta do poeta, o que se constata pela seleção
vocabular.
d) Pelas ideias apresentadas, o homem
tem seu comportamento determinado pelo meio em que vive.
e) Conclui-se pelo texto que o
espírito de fraternidade existia a despeito das atitudes falsas do ser humano.
02 – Os
vocábulos “pantera” e “fera” e a sua utilização semântica aproximam o texto da
literatura naturalista. Comente a afirmação.
A literatura naturalista vê o homem como animal
social e registra seu comportamento avaliado segundo a óptica patológica e
fisiológica.
b)
Repare que o conselho ou ordem da terceira
estrofe introduz no poema, de forma inesperada, um tom prosaico, de conversa
cotidiana. O verso surpreende o leitor de forma irônica e provocativa, fazendo
lembrar o Realismo psicológico de Machado de Assis. Releia as duas estrofes
finais e, a partir delas, explique o sentido da utilização desses recursos no
referido verso.
07 – Observe que, no poema,
homem, vida social, amizade, solidariedade, afeto (beijo, mão que afaga)
transformam-se em ingratidão, terra miserável, fera, desafeto (escarro, mão que
apedreja). Nessa perspectiva, tente interpretar a sua estrofe final.
03 – Do ponto de vista
formal, o texto se caracteriza como um soneto clássico. Justifique esta
afirmação, considerando o esquema métrico e o esquema rímico nele presentes.
Os versos são
decassílabos e as rimas são regulares (ABBA; BAAB; CCD; DDC).
04 – Desde a primeira
estrofe, percebe-se que o sujeito lírico relaciona a vida social do homem à
vida dos animais selvagens, por meio de imagens que lembram o estilo
naturalista, em que determinismo cientificista e em seu materialismo. Que
palavras da segunda estrofe melhor confirmam esta afirmação?
Lama, terra miserável
e fera.
05 – Os versos que iniciam a
segunda e a terceira estrofes possuem um tom de conselho ou ordem, que é
reiterado no desfecho do poema.
a)
Que característica permite associar o
conselho ou ordem da segunda estrofe ao Naturalismo?
O determinismo.
Por meio da surpresa, da ironia e da provocação, o sujeito lírico
procura quebrar a expectativa do leitor, como se aconselhasse a se preparar para
ler a afirmação cruel sobre o ser humano que vem a seguir.
06 – O vocabulário do poema
escandaliza o leitor acostumado com a poesia parnasiana, incluindo expressões
que, do seu ponto de vista, podem ser consideradas “não poéticas”. Identifique
expressões desse tipo na terceira e quarta estrofes e explique por que não
poderiam ser consideradas poéticas, no contexto do Parnasianismo dominante na
época?
“... véspera do
escarro”; “Apedreja essa mão vil”; “Escarra nessa boca” – tais expressões não
poderiam ser consideradas poéticas no contexto do Parnasianismo, pois esse
estilo literário se caracteriza pelo uso de um vocabulário erudito, com
palavras elegantes e amenas.
a)
Que ações o sujeito lírico recomenda ao
leitor?
O sujeito lírico recomenda apedrejar a mão vil de quem se recebeu um
afago, escarrar na boca de quem se recebeu um beijo.
b)
Numa leitura mais profunda, poderíamos pensar
que o sujeito lírico estaria nos advertindo, precavendo-nos contra aquilo que
parece nos ordenar, aconselhar a fazer. Que recurso estilístico presente em
todo o texto permite essa interpretação? Por quê?
O recurso estilístico é a ironia, que permite essa interpretação
justamente porque consiste em afirmar o contrário do que se pensa.
"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei." Allan Kardec
Questão 3 tá com a resposta errada. A rima certa (ABBA; BAAB; CCD; EED).
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