terça-feira, 10 de abril de 2018

POEMA: NOTURNO - FAGUNDES VARELA - COM GABARITO

Poema: NOTURNO
              Fagundes Varela



Nem uma luz de esperança              Quero morrer! Não é crime
Nem um sopro de bonança               O fardo que me comprime,
Na fronte sinto passar!                      Dos ombros lança-lo ao chão;
Os invernos me despiram                 Do pó desprender-me rindo
E as ilusões que fugiram                   E as asas brancas abrindo
Nunca mais hão de voltar!                Perder-se pela amplidão!

Tombam as selvas frondosas           Vem, oh! Morte! A turba imunda
Cantam as aves mimosas                 Em sua ilusão profunda
As nêmias de viuvez                         Te odeia, te calunia,
Tudo, tudo, finando                           Pobre noiva tão formosa
Mas eu pergunto chorando               Que nos espera amorosa
Quando será minha vez?                  No termo da romaria!

No véu etéreo os planetas                Virgens anjos e crianças
No casulo as borboletas                   Coroadas de esperanças
Gozam de calma final                       Dobram a fronte a teus pés!
Porém meus olhos cansados           Os vivos vão repousando!
São de mirar condenados                 E tu me deixas chorando!
Dos seres o funeral!                         Quando virá minha vez?

Quero morre! Este mundo                Minha alma é como um deserto
Com seu sarcasmo profundo           Por onde o romeiro incerto
Manchou-me de lodo e fel!               Procura uma sombra em vão;
Minha esperança esvaiu-se             É como a ilha maldita
Meu talento consumiu-se                 Que sobre as vagas palpita
Dos martírios ao tropel!                    Queimada por um vulcão!

                                                                                                                                                                                    Fagundes Varela.
Entendendo o poema:
01 – Percebemos pela leitura do texto que o poeta NÃO:
      a) Está desesperançoso diante da vida.
      b) Passa por situações de agonia de viver causada pelas frustações e ausência de ilusões.
      c) Vê na morte a saída para a melancolia e dolorida situação por que passa.
     d) Se indigna porque a morte não o toma de vez, a ele que tanto sofre e não tem motivos para viver.
     e) Estabelece com a realidade um vínculo de afeto. Enquanto tem na sua noiva uma pessoa a quem amar.

02 – No texto, há versos cujo significado remete à morte de maneira eufemística. Dentre os que foram transcritos, um NÃO pode ser visto assim. Assinale-o:
     a) “... Gozam da calma final;”
     b) “... Do pó desprender-me rindo...”
     c) “... No termo da romaria! ...”
     d) “... Os vivos vão repousando! ...”
     e) “... Procura uma sombra em vão; ...”

03 – Sobre o texto:
     a) Explique a metáfora contida no verso 43.
      O poeta compara a sua alma a um deserto, visto que noção de vazio, solidão, dor que caminha é transportada deste para aquele.
     b) É característica da poética romântica a fuga da realidade, motivada por várias situações de vida que passam pelo sofrimento e pelas frustações. No texto não é diferente, visto que o poeta busca o infinito como saída.
Transcreva um verso no qual tal fato esteja registrado.
      “Perder-me pela amplidão.”
     c) “Viver é sofrer. Morrer é ser feliz”
Que estrofe do texto melhor comprovaria essa máxima?
      Quinta estrofe.
     d) Retire da última estrofe uma hipérbole e comente o seu emprego estilístico relacionado à projeção do eu lírico no texto.
      “Queimada por um vulcão.” – A hipérbole no Romantismo está associada diretamente à prática poética dos sentimentos exagerados.
     e) Com base no texto, relacione três características que marcaram a 2ª Geração romântica conhecida como Mal-do-século:
      - Profunda melancolia.
      - Desilusões.
      - Vontade de morrer.

04 – A presença da mulher no Romantismo comumente marca-se pela idealização e pela distância entre o poeta e ela, objeto de seu amor, tornando-a inacessível. Destaque uma passagem da primeira estrofe que comprove tal situação.
       “Perdoa-me, visão dos meus amores, / se a ti ergui meus olhos suspirando”.

05 – Na segunda estrofe, percebe-se a proximidade da morte, situação típico da Segunda Geração romântica, de que o texto é representante. A que o poeta atribuiu a sua morte?
       As dores do amor.

06 – Na terceira estrofe, o poeta acaba especificando a referida causa para a morte que se aproxima. Transcreva o verso no qual a causa esteja anunciada.
       “A dor de um desengano me devora.”

07 – Sendo o Romantismo a apologia dos sentimentos, da valorização do conteúdo, que contraste há entre este pensamento e a forma do poema?
       O texto é um soneto, forma rígida, contrastando com a valorização das emoções do autor, as quais fluem livremente.

08 – O poema é um exemplo da poesia ultrarromântica, poesia do Mal-do-século? Justifique sua afirmação.
       Tematiza o amor não correspondido e as frustações e dores. Em função disso, e como decorrência final, o sentimento de morte, a vontade de morrer.


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