Poema: NOTURNO
Fagundes Varela
Nem uma luz de esperança Quero
morrer! Não é crime
Nem um sopro de
bonança O
fardo que me comprime,
Na fronte sinto
passar! Dos
ombros lança-lo ao chão;
Os invernos me
despiram Do
pó desprender-me rindo
E as ilusões que
fugiram E as asas brancas abrindo
Nunca mais hão de
voltar! Perder-se
pela amplidão!
Tombam as selvas
frondosas Vem, oh! Morte! A turba imunda
Cantam as aves
mimosas Em
sua ilusão profunda
As nêmias de
viuvez
Te odeia, te calunia,
Tudo, tudo,
finando
Pobre
noiva tão formosa
Mas eu pergunto
chorando Que
nos espera amorosa
Quando será minha
vez? No
termo da romaria!
No véu etéreo os
planetas Virgens
anjos e crianças
No casulo as
borboletas Coroadas
de esperanças
Gozam de calma
final Dobram
a fronte a teus pés!
Porém meus olhos
cansados Os
vivos vão repousando!
São de mirar
condenados
E tu me deixas chorando!
Dos seres o
funeral!
Quando virá minha vez?
Quero morre! Este
mundo Minha
alma é como um deserto
Com seu sarcasmo
profundo Por
onde o romeiro incerto
Manchou-me de lodo e
fel! Procura
uma sombra em vão;
Minha esperança
esvaiu-se É como a ilha maldita
Meu talento
consumiu-se Que
sobre as vagas palpita
Dos martírios ao
tropel! Queimada
por um vulcão!
Fagundes
Varela.
Entendendo o poema:
01 – Percebemos pela leitura do
texto que o poeta NÃO:
a) Está desesperançoso diante da
vida.
b) Passa por situações de agonia de
viver causada pelas frustações e ausência de ilusões.
c) Vê na morte a saída para a
melancolia e dolorida situação por que passa.
d) Se indigna porque a morte não o
toma de vez, a ele que tanto sofre e não tem motivos para viver.
e) Estabelece com a realidade um
vínculo de afeto. Enquanto tem na sua noiva uma pessoa a quem amar.
02 – No
texto, há versos cujo significado remete à morte de maneira eufemística. Dentre
os que foram transcritos, um NÃO pode ser visto assim. Assinale-o:
a) “... Gozam da calma final;”
b) “... Do pó desprender-me rindo...”
c) “... No termo da romaria! ...”
d) “... Os vivos vão repousando! ...”
e) “... Procura uma sombra em vão;
...”
03 –
Sobre o texto:
a) Explique a metáfora contida no
verso 43.
O poeta compara a sua alma a um deserto,
visto que noção de vazio, solidão, dor que caminha é transportada deste para
aquele.
b) É característica da poética
romântica a fuga da realidade, motivada por várias situações de vida que passam
pelo sofrimento e pelas frustações. No texto não é diferente, visto que o poeta
busca o infinito como saída.
Transcreva
um verso no qual tal fato esteja registrado.
“Perder-me pela amplidão.”
c) “Viver é sofrer. Morrer é ser
feliz”
Que
estrofe do texto melhor comprovaria essa máxima?
Quinta estrofe.
d) Retire da última estrofe uma
hipérbole e comente o seu emprego estilístico relacionado à projeção do eu
lírico no texto.
“Queimada por um vulcão.” – A hipérbole
no Romantismo está associada diretamente à prática poética dos sentimentos
exagerados.
e) Com base no texto, relacione três
características que marcaram a 2ª Geração romântica conhecida como
Mal-do-século:
- Profunda melancolia.
- Desilusões.
- Vontade de morrer.
04 – A
presença da mulher no Romantismo comumente marca-se pela idealização e pela
distância entre o poeta e ela, objeto de seu amor, tornando-a inacessível.
Destaque uma passagem da primeira estrofe que comprove tal situação.
“Perdoa-me, visão dos meus amores, / se a ti ergui meus olhos suspirando”.
05 – Na
segunda estrofe, percebe-se a proximidade da morte, situação típico da Segunda
Geração romântica, de que o texto é representante. A que o poeta atribuiu a sua
morte?
As
dores do amor.
06 – Na
terceira estrofe, o poeta acaba especificando a referida causa para a morte que
se aproxima. Transcreva o verso no qual a causa esteja anunciada.
“A dor de um desengano me devora.”
07 –
Sendo o Romantismo a apologia dos sentimentos, da valorização do conteúdo, que
contraste há entre este pensamento e a forma do poema?
O texto é um soneto, forma rígida, contrastando com a valorização das emoções
do autor, as quais fluem livremente.
08 – O
poema é um exemplo da poesia ultrarromântica, poesia do Mal-do-século?
Justifique sua afirmação.
Tematiza o amor não correspondido e as frustações e dores. Em
função disso, e como decorrência final, o sentimento de morte, a vontade de
morrer.
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