Música(Atividades): Meu
Guri
HOLANDA, Chico Buarque de.
Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)
Entendendo a canção.
01 – Quem fala nessa música?
Para quem se fala? Comprove sua resposta com elementos da letra.
Quem fala na
música é uma mãe que se dirige ao “seu moço”, o qual parece representar a
comunidade em geral. Para se dirigir ao povo, ela faz o uso de uma espécie de
vocativo: “Seu moço,”. Esse povo pode ser também uma pessoa apenas, como por
exemplo, um policial que aparece no desfecho da história, ou um jornalista, a
contar a verdade desse guri para essa mãe. E há passagens que comprovam que se
trata de uma mãe, como, por exemplo: “Nasceu meu rebento” e “Ai o meu guri,
olha aí!”. O uso do pronome possessivo ‘meu’, nos dois trechos, revela que se
trata de uma mãe a falar do filho. Além disso, os personagens dessa música
podem servir de metonímia daqueles que não têm projeção social nem perspectiva
de vida na sociedade contemporânea, uma vez que os personagens não têm nome,
podem, portanto, representar a história de qualquer um.
02 – O que significa dizer: “Não era o momento dele
rebentar”?
Significa que,
no momento em que o guri nasceu, a mãe não estava preparada para recebê-lo nem
para cuidar dele, seja psicológica ou financeiramente falando. Com isso,
pode-se perceber que ela teve uma gravidez não planejada e sem a presença do
pai da criança.
03 – Quais são as possíveis
condições socioeconômicas do eu lírico? Justifique sua resposta com elementos
da música.
Provavelmente
o eu-lírico possui condições socioeconômicas precárias. Podemos perceber isso
por meio da realidade que se revela em trechos como: “E eu não tinha nem
nome//Pra lhe dar//Como fui levando//Não sei lhe explicar//Fui assim
levando//Ele a me levar”; “...e uma penca//De documentos//Pra finalmente//Eu me
identificar”; “Chega no morro”. Tais trechos nos mostram que essa mãe mora na
periferia, ao utilizar a palavra ‘morro’, e que ela sequer tinha documentos,
embora já mais madura. Além disso, quando ela diz: “E eu não tinha nem
nome//Pra lhe dar”, o ‘nem’ revela que havia outras coisas, além do nome, que
ela também não podia dar ao filho, como, por exemplo, comida, escola, qualidade
de vida.
04 – Quando se diz: “Como
fui levando/Não sei lhe explicar/Fui assim levando/Ele a me levar”, quais os
possíveis sentidos do verbo levar aí? Levar o quê?
Os trechos
“como fui levando” e “fui assim levando” denotam que a mãe foi criando o filho
sem ter boas condições financeiras. Nessas expressões, o verbo ‘levar’ se
relaciona à criação do filho, ao modo como ela ia sobrevivendo. Já no trecho
“Ele a me levar”, o verbo ‘levar’ apresenta outros sentidos, o sentido de que o
filho ajudava a mãe em casa e também no sentido de que ele a enganava, ato ao
que, popularmente, referimo-nos por meio de expressões como: “levar no bico/no
papo/na lábia”.
05 – A expressão “Chegar lá”
é muito comum na nossa sociedade. Qual sentido ela adquire na letra d’O meu
guri?
A expressão
“Chegar lá”, muito comum na nossa sociedade, significa ascender socialmente,
financeiramente e, talvez, intelectualmente, ou seja, chegar em um patamar que
nos permite ter boa qualidade de vida. Além disso, pessoas que ‘chegam lá’,
pessoas bem sucedidas costumam aparecer no jornal. Na letra d’O meu guri, a
expressão diz respeito a uma ascensão social, entretanto, para ascender
socialmente, o guri se valia de meios ilícitos, que vão contra as regras
sociais, ou seja, ele queria ter qualidade de vida sem esforço, queria ganhar
dinheiro facilmente.
06 – A expressão “Olha aí”
aparece várias vezes durante a música. Ela aparece sempre com o mesmo sentido?
Explique.
Não. Ora ela aprece com
o sentido de “Olha bem”, “Preste atenção”, ora com o sentido de “Olhe na
fotografia”.
07 – Que visão a mãe tem do filho e do trabalho dele?
A mãe enxerga
de forma inocente o “trabalho” do filho. Ao vê-lo sair de casa sempre muito
cedo, chegar sempre cansado, suado e com muitas coisas para a casa, ela
imaginava que ele era um rapaz cujo trabalho era honesto, o que, na verdade,
não era.
08 – O guri parece ser um
rapaz trabalhador? Justifique sua resposta.
Aparentemente,
sim. Uma vez que ele sempre sai de casa cedo, o que é comum na vida de muitos
trabalhadores, e sempre chega cansado e suado, uma característica muito
associada, nos dias de hoje, a pessoas que trabalham muito, arduamente. Por
outro lado, é possível desconfiar do “trabalho” desse guri, uma vez que, em
momento algum se fala onde ele trabalha, com o que ele trabalha, e, ainda
assim, ele sempre chega com artigos de valor em casa.
09 – O guri levou para a mãe
uma “bolsa já com tudo dentro”, e ela, inocentemente, achou que era um
presente. E você, no lugar da mãe, como interpretaria essa situação?
Nessa questão,
o professor deve levar os alunos a problematizarem a postura dessa mãe, ou
seja, julgarem se ela agia corretamente, se ela sabia, de fato, ou não das
coisas que o filho fazia e se, hoje, é possível existir uma mãe assim, com essa
postura.
10 – Explique os possíveis
sentidos que o trecho “Chega suado / E veloz do batente” pode ter.
A princípio,
pode se imaginar que o guri chega suado por ter trabalhado muito, isso porque a
palavra ‘batente’ é associada a trabalho. Entretanto, quando se diz que ele
chegava suado e veloz, isso pode significar que ele estava fugindo, ou da
polícia ou de outras pessoas, já que roubava. Mas, para a mãe, ele vinha do
‘batente’, e, como a história da música é contada sob a perspectiva da mãe,
utilizou-se a palavra ‘batente’ para se referir ao “trabalho” pesado que o guri
desempenhava.
11 – Veja o seguinte trecho:
“Um lenço e uma penca / De documentos / Pra finalmente / Eu me identificar”.
Que sentido a palavra finalmente traz para o trecho em questão?
A palavra
mostra que a mãe, dada sua situação socioeconômica, ainda não tinha documentos.
O ‘finalmente’ nos mostra que essa identificação vem de forma tardia, já que o
natural é termos essa identificação desde crianças.
12 – O trecho “É o meu guri
e ele chega! / Chega estampado / Manchete, retrato / Com venda nos olhos / Legenda
e as iniciais” revela uma cena. Que cena é essa? O que aconteceu?
Trata-se de
uma cena em que a mãe vê o filho morto no jornal. Provavelmente em uma
tentativa de fuga, o filho não escapara e fora morto. Por isso, o nome dele e a
manchete noticiando o fato no jornal.
13 – Por que, depois dessa cena, o guri apareceu com
venda nos olhos e, na legenda, só apareceram as iniciais?
Porque o guri
era menor de idade. Quando se é menor de idade, em casos policiais, não se
podem divulgar o nome da pessoa nem a imagem nítida de seu rosto em meios de
comunicação.
14 – Por que, depois dessa
cena, o eu lírico diz: “Desde o começo eu não disse / Seu moço! / Ele disse que
chegava lá!”? Ele realmente chegou lá? Explique.
Como o “chegar
lá” possui vários sentidos, há várias possibilidades, tanto sob a perspectiva
da mãe quanto sob a perspectiva do filho. A expressão ode se referir a se
tornar o chefe dos bandidos, virar celebridade, ficar famoso, ficar rico, etc.
Nessa questão, o professor deve levar os alunos a perceberem as dificuldades
existentes hoje para se ascender socialmente. Para isso, pode-se discutir: a
exclusão social, os meios de se ascender socialmente hoje, o que leva algumas
pessoas a roubarem, como se pode resolver essa situação hoje, etc.
O que aconteceu com o guri?
ResponderExcluirMorreu assassinado.Era larápio.
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