Texto: AS RAINHAS DO
RÁDIO
“Um ano antes da eleição de Getúlio Vargas [...] houve uma outra eleição
bastante disputada: a de ‘Rainha do Rádio’. Se o cargo não era tão fundamental
para os destinos da nação, como o de presidente da República, a eleição
movimentou as paixões populares tanto quanto a eleição presidencial. O concurso
de Rainha do Rádio havia sido reorganizado em 1948 pela Associação Brasileira
do Rádio e, naquele ano, a cantora Dircinha Batista havia sido eleita.
Mas foi em 1949 que a coisa pegou fogo.
A favorita da Marinha, Emilinha Borba (Emília Savana da Silva Borba), ovem
cantora de origem pobre do subúrbio do Rio de Janeiro, perdeu a eleição para a
paulista Marlene (Vitória Bonaiutti de Martino). Na verdade, a eleição era
feita a partir da compra de cupons, parte integrante das populares revistas de
rádio da época, e a Antarctica, empresa de refrigerantes, compara os cupons
para a eleição da cantora Marlene. Os fãs das duas cantoras, ambas
contratadas da Rádio Nacional, a maior emissora da época, iniciaram uma rivalidade
histórica, amplamente estimulada pelos meios de comunicação e que até hoje é
lembrada pelos mais velhos. Emilinha Borba só viria a ser eleita em 1953,
depois de uma ampla mobilização de seu fã-clube, que conseguiu reunir um milhão
de votos.
Mas, como e por que uma simples eleição simbólica [...] conseguia movimentar
tantas paixões? A resposta pode estar na importância que o rádio tinha na vida
das massas urbanas.
A sociedade brasileira, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo,
assistia a um considerável processo de urbanização desde as primeiras décadas
do século XX. Mas foi na segunda metade dos anos 1940 que este processo se
intensificou [...]. Obviamente, não se pode falar de urbanização no Brasil sem
citar dois fenômenos correlatos: migração (do norte para o sul e do interior
para a capital) e industrialização. Os migrantes, seja das áreas rurais do
centro-sul, seja do Nordeste como um todo, se tornarão a base social das novas
camadas populares urbanos [...]. Para todo esse conjunto [...] de população,
que fornecia os contingentes de mão de obra para as indústrias que se
instalavam no país, o rádio tinha um papel fundamental. Ele era fonte de
informação, de lazer, de sociabilidade, de cultura. Estimulava paixões [...] não
só individuais, mas, sobretudo, coletivas”.
NAPOLITANO, Marcos.
Cultura Brasileira: utopia e massificação
(1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. p. 12-13.
(Repensando a História).
Entendendo o texto:
01 – O
autor aponta uma diferença e uma semelhança entre as eleições presidenciais e a
de Rainha do Rádio. Quais são elas?
Ele afirma
que a eleição de “Rainha do Rádio” não é tão importante quanto a de presidente
da República para os rumos da nação, mas movimenta paixões populares tanto
quanto a eleição presidencial.
02 –
Explique de que modo a cantora Marlene venceu a eleição para a Rainha do Rádio
em 1949.
Naquela
época, as eleições para Rainha do Rádio se faziam não pelo voto direto das
pessoas, mas pela compra de cupons. A cantora cujos cupons fossem mais vendidos
ganhava. A empresa paulista Antártica comprou então um grande número de cupons
da cantora Marlene, o que determinou sua vitória.
03 – Como
Marcos Napolitano explica o envolvimento das massas urbanas nas eleições de
Rainha do Rádio?
Para Marcos Napolitano, o Brasil, especialmente a região centro-sul do país,
passava por um processo intenso de urbanização, marcado por industrialização e
migrações. As pessoas deixavam a zona rural e deslocavam-se para cidades, como
São Paulo e Rio de Janeiro, em busca de empregos nas indústrias que se
formavam. Essas pessoas tinham de se adaptar a uma situação. É aí que entra o rádio,
um meio de comunicação de massa que, naquele momento, levava informação,
entretenimento e atrações com as quais eles podiam se identificar. Desse modo,
tal como hoje muitas pessoas se identificam com os times de futebol (dizendo
“sou Flamengo”, “sou Palmeiras” ou “sou São Paulo”), naquela época havia
pessoas que se identificavam com uma cantora ou com outra, experimentando assim
a sensação de fazer parte de algo maior, de uma torcida que gostava da mesma
cantora e demonstrava isso por meio de gestos, gritos, aplausos, etc.
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