sexta-feira, 27 de abril de 2018

TEXTO: AS RAINHAS DO RÁDIO - MARCOS NAPOLITANO - COM GABARITO


Texto: AS RAINHAS DO RÁDIO

    “Um ano antes da eleição de Getúlio Vargas [...] houve uma outra eleição bastante disputada: a de ‘Rainha do Rádio’. Se o cargo não era tão fundamental para os destinos da nação, como o de presidente da República, a eleição movimentou as paixões populares tanto quanto a eleição presidencial. O concurso de Rainha do Rádio havia sido reorganizado em 1948 pela Associação Brasileira do Rádio e, naquele ano, a cantora Dircinha Batista havia sido eleita.
        Mas foi em 1949 que a coisa pegou fogo. A favorita da Marinha, Emilinha Borba (Emília Savana da Silva Borba), ovem cantora de origem pobre do subúrbio do Rio de Janeiro, perdeu a eleição para a paulista Marlene (Vitória Bonaiutti de Martino). Na verdade, a eleição era feita a partir da compra de cupons, parte integrante das populares revistas de rádio da época, e a Antarctica, empresa de refrigerantes, compara os cupons para a eleição da cantora Marlene.  Os fãs das duas cantoras, ambas contratadas da Rádio Nacional, a maior emissora da época, iniciaram uma rivalidade histórica, amplamente estimulada pelos meios de comunicação e que até hoje é lembrada pelos mais velhos. Emilinha Borba só viria a ser eleita em 1953, depois de uma ampla mobilização de seu fã-clube, que conseguiu reunir um milhão de votos.
        Mas, como e por que uma simples eleição simbólica [...] conseguia movimentar tantas paixões? A resposta pode estar na importância que o rádio tinha na vida das massas urbanas.
        A sociedade brasileira, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, assistia a um considerável processo de urbanização desde as primeiras décadas do século XX. Mas foi na segunda metade dos anos 1940 que este processo se intensificou [...]. Obviamente, não se pode falar de urbanização no Brasil sem citar dois fenômenos correlatos: migração (do norte para o sul e do interior para a capital) e industrialização. Os migrantes, seja das áreas rurais do centro-sul, seja do Nordeste como um todo, se tornarão a base social das novas camadas populares urbanos [...]. Para todo esse conjunto [...] de população, que fornecia os contingentes de mão de obra para as indústrias que se instalavam no país, o rádio tinha um papel fundamental. Ele era fonte de informação, de lazer, de sociabilidade, de cultura. Estimulava paixões [...] não só individuais, mas, sobretudo, coletivas”.

         NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: utopia e massificação
                                 (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. p. 12-13.
                                                                              (Repensando a História).

Entendendo o texto:
01 – O autor aponta uma diferença e uma semelhança entre as eleições presidenciais e a de Rainha do Rádio. Quais são elas?
     Ele afirma que a eleição de “Rainha do Rádio” não é tão importante quanto a de presidente da República para os rumos da nação, mas movimenta paixões populares tanto quanto a eleição presidencial.

02 – Explique de que modo a cantora Marlene venceu a eleição para a Rainha do Rádio em 1949.
     Naquela época, as eleições para Rainha do Rádio se faziam não pelo voto direto das pessoas, mas pela compra de cupons. A cantora cujos cupons fossem mais vendidos ganhava. A empresa paulista Antártica comprou então um grande número de cupons da cantora Marlene, o que determinou sua vitória.

03 – Como Marcos Napolitano explica o envolvimento das massas urbanas nas eleições de Rainha do Rádio?
       Para Marcos Napolitano, o Brasil, especialmente a região centro-sul do país, passava por um processo intenso de urbanização, marcado por industrialização e migrações. As pessoas deixavam a zona rural e deslocavam-se para cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, em busca de empregos nas indústrias que se formavam. Essas pessoas tinham de se adaptar a uma situação. É aí que entra o rádio, um meio de comunicação de massa que, naquele momento, levava informação, entretenimento e atrações com as quais eles podiam se identificar. Desse modo, tal como hoje muitas pessoas se identificam com os times de futebol (dizendo “sou Flamengo”, “sou Palmeiras” ou “sou São Paulo”), naquela época havia pessoas que se identificavam com uma cantora ou com outra, experimentando assim a sensação de fazer parte de algo maior, de uma torcida que gostava da mesma cantora e demonstrava isso por meio de gestos, gritos, aplausos, etc.

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