Poema: Canção
Ao ver a
ave leve mover
Alegres
as alas contra a luz,
Que se
olvida e deixa colher
Pela
doçura que a conduz,
Ah! tão
grande inveja me vem
Desses
que venturosos vejo!
É
maravilhosa que o meu ser
Não se
dissolva de desejo.
Ah! tanto
julguei saber
De amor e
menos que supus
Sei, pois
amar não me faz ter
Essa a
que nunca farei jus.
A mim de
mim e a si também
De mim e
tudo o que desejo
Tomou e
só deixou querer
Maior e
um coração sobejo.
[...]
Bem
feminino é o proceder
Dessa que
me roubou a paz.
Não quer
o que deve querer
E tudo o
que não deve faz.
Má sorte
enfim me sobrevém,
E tudo me
foi suceder
Só porque
quis mais horizonte.
Piedade
já não pode haver
No
universo para os mortais.
Se aquela
que a devia ter
Não tem,
quem a devia ter
Não tem,
quem a terá jamais?
Ah! como
acreditar que alguém
De olhar
tão doce e clara fronte
Deixe que
eu morra sem beber
Água de
amor em sua fonte?
[...]
Ventadorn, Bernart de. Verso reverso contraverso.
Tradução de Augusto de Campos. São Paulo:
Perspectiva,
1978. p. 83-87. (Fragmento).
Alas: asas
(forma arcaica)
Ventuosos:
felizes, afortunados.
Sobejo: audaz,
ousado.
Entendendo
o poema:
01 – Qual
é o estado de espírito do eu lírico?
O eu lírico
está sofrendo por um amor não correspondido. Imaginou que soubesse tudo desse
sentimento, mas descobre que nada sabia, pois o amor não lhe trará aquela a
quem ele ama.
a) Que imagem se opõe ao
seu estado?
A imagem do voo da ave, símbolo de
liberdade.
b) De que maneira o uso
dessa imagem contribui para caracterizar o sofrimento do eu lírico? Explique.
O eu lírico inveja essa liberdade e a
capacidade de entrega que pode constatar no voo da ave. Já ele está aprisionado
pelo sofrimento de viver um amor não correspondido. A imagem do voo enfatiza o
“aprisionamento” e a infelicidade em que o eu lírico se encontra.
02 – Na
cantiga, o eu lírico caracteriza o objeto de seu amor. Que imagem da mulher é
apresentada?
Ela é caracterizada como uma mulher a quem ele nunca fará jus, que roubou a sua
paz e que se mostra insensível aos seus apelos. Além disso, tem, segundo o eu
lírico, um comportamento tipicamente feminino: “Não quer o que deve querer / E
tudo o que não deve faz”
a)
Explique de que maneira essa imagem é fundamental para
caracterizar o amor cortês.
Na descrição que o eu lírico faz de sua amada, ele deixa claro que se coloca em
uma posição de inferioridade em relação a ela e sofre por ter se apaixonado por
alguém que não corresponde ao seu amor. Um amor que leva à loucura. A imagem de
uma mulher que é insensível aos apelos do eu lírico, colocando-se como ser
inacessível, é fundamental para o amor cortês.
03 –
Releia:
“Piedade já não pode haver
No universo para os mortais”.
a) Por que o eu lírico
faz tal afirmação?
Para o eu lírico, não pode haver piedade
no mundo, se a amada não corresponde às suas expectativas, ou seja, não tem
piedade dele, rejeitando seu amor e seu louvor.
b) De que maneira essa
afirmação comprova a relação de subordinação dele em relação à dama que louva?
Como ela não responde às suas súplicas e
despreza a homenagem que faz, o eu lírico questiona os valores universais: se
sua amada não demonstra piedade, não pode haver piedade no universo.
04 – Como
mostra a linha do tempo, a Europa viveu um período de entre as invasões e o
aparecimento da produção literária do Trovadorismo mais de 500 anos após o
início da Idade Média.
É importante que os alunos percebam a impossibilidade de uma literatura
produzida no ambiente das cortes surgir no período em que a Europa Medieval
está sendo atacada por invasores. Eles devem articular as informações sobre o
período em que predominaram as invasões com outras que obtiveram na primeira
parte do capítulo.
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