sábado, 28 de abril de 2018

POEMA: MOTIVO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: Motivo
Neste poema, o eu lírico trata 
Do significado do fazer poético.


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

MEIRELES, Cecília. Viagem.
In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1991. p. 228.

Entendendo o poema:
01 – Segundo o eu lírico, o que define um poeta?
>Como pode ser entendida a palavra instante no poema? Ela está relacionada apenas a tempo?
      Poeta é alguém que não é “alegre nem triste”, que canta “porque o instante existe” e cuja vida “está completa”. 
Ø       “Instante”, no poema, não está relacionado apenas a tempo, mas a circunstâncias especiais que o poeta muitas vezes é capaz de captar e que registra em seus poemas. 

02 – Nos versos a seguir, porque é uma conjunção explicativa. De que maneira ela retoma o sentido do título do poema?
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.” 
>O uso dessa conjunção gera duas possibilidades de leitura do segundo verso. Quais são elas?
      A conjunção explica qual é o motivo de o eu lírico cantar: as experiências singulares vividas a cada instante. 
> O verso pode ser interpretado como uma segunda explicação para o canto: “eu canto porque minha vida está completa”. Também pode ser lido como a consequência de o “instante” existir: a vida do eu lírico fica completa (porque o instante existe, minha vida está completa). 

03 – Explique a relação de causa e consequência estabelecida entre as informações apresentadas nos dois primeiros versos da segunda estrofe.
> De que maneira a palavra fugidias, associada à existência do “instante”, define o que é “ser poeta” para o eu lírico?
      Como é irmão das coisas fugidias, o eu lírico não sente gozo nem tormento, ou seja, como aceita o fato de tudo ser efêmero, o começar e o terminar das coisas não o abalam. 
> Os dois termos revelam que o poeta é aquele que canta o momento presente, vivido em sua plenitude. Por isso, ele se define como irmão do que é efêmero. 

04 – Qual o tempo e qual o modo em que estão todos os verbos do poema com exceção de “estarei”?
> Como o uso desse tempo verbal se relaciona ao tema do poema?
      Todos os verbos estão no presente do indicativo (canto, existe, sou, sinto, atravesso, etc.). 
> O uso do presente enfatiza a ideia do “instante” que determina o canto do presente, do instante. Por meio dos verbos, o eu lírico evidencia sua relação com o momento, que motiva o seu canto. 

05 – Na terceira estrofe, o eu lírico apresenta várias antíteses. Quais são elas e o que simbolizam no poema?
> Elas encaminham a conclusão do poema: a única certeza que o eu lírico tem sobre si mesmo. Qual é ela?
      Desmorono / edifico; permaneço / me desfaço; se fico / passo. Podemos dizer que as antíteses representam as dúvidas ou as incertezas do eu lírico, ou ainda o que ele não consegue ou não quer definir sobre si mesmo. 
> A certeza de seu canto e de que “a canção é tudo”. O eu lírico também sabe que um dia estará mudo. Podemos dizer que ele se define a partir de seu fazer poético: sugere que a única coisa que importa na sua existência é a criação poética.





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