TEXTO: On
the road, de Jack Kerouac
Trecho 1:
Num piscar de olhos estávamos de volta à estrada principal e naquela noite vi
todo o estado de Nebraska desenrolando-se diante dos meus olhos. Cento e
setenta quilômetros por hora, direto sem escalas, cidades adormecidas, tráfego
nenhum, num trem da Union Pacific deixado para trás, ao luar. Eu não estava nem
um pouco assustado aquela noite; me parecia algo perfeitamente normal voar a
170, conversando e observando todas as cidades do Nebraska – Ogallala,
Gothenburg, Kearney, Grand Island, Columbus – se sucederem com uma rapidez
onírica enquanto seguíamos viagem. Era um carro magnífico; portava-se na
estrada como um navio no oceano. Longas curvas graduais eram o seu forte. “Ah,
homem, essa barca é um sonho”, suspirava Dean. “Pense no que poderíamos fazer
se tivéssemos um carro assim. [...] Curtiríamos o mundo inteiro num carro como
esse, você e eu, Sal, porque, na verdade, a estrada finalmente deve conduzir a
todos os cantos do mundo. Não pode levar a outro lugar, certo? [...]”
Trecho 2:
[...] “Qual é a sua estrada, homem? – a estrada do místico, a estrada do louco,
a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada... Há sempre uma
estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância.
Como, onde, por quê?” Concordamos gravemente, sob a chuva. “[...] Decidi abrir
mão de tudo. Você me viu quebrar a cara tentando de tudo, me sacrificando e
você sabe que isso não importa; nós sacamos a vida, Sal – sabemos como domá-la,
e sabemos que o negócio é continuar no caminho, pegando leve, curtindo o que
pintar da velha maneira tradicional. Afinal, de que outra maneira poderíamos
curtir? Nós sabemos disso.” Suspirávamos sob a chuva. [...]
“E assim”, disse Dean, “vou seguindo a vida para onde ela me levar. [...]”
Kerouac,
Jack. On the road (Pé na estrada).
Tradução de Eduardo Bueno. Porto Alegre:
L&PM, 2004 p. 281-282; 305-306. (Fragmento).
Onírica:
relativa aos sonhos.
Entendendo
o texto:
01 –
Vamos ver como a literatura explora possibilidades da linguagem.
a) Que elementos, presentes no trecho
1, asseguram ao leitor tratar-se da história de uma viagem?
O narrador faz referência à estrada por
onde viajam, à velocidade do carro, às cidades do estado do Nebraska por onde
passam durante a noite. Todos esses elementos, combinados, dão ao leitor a
possibilidade de confirmar que se trata da história de uma viagem.
b) No texto, quais as passagens que
revelam ser essa viagem a concretização de um desejo típico da juventude: a
busca da liberdade?
As passagens mais sugestivas da liberdade
dos jovens são: “me parecia algo perfeitamente normal voar a 170”; “Ah, homem,
essa barca é um sonho [...]. Pense no que poderíamos fazer se tivéssemos um
carro assim. [...] Curtiríamos o mundo inteiro num carro como esse, você e eu,
Sal, porque, na verdade, a estrada finalmente deve conduzir a todos os cantos
do mundo”.
02 – No
trecho a seguir, explique de que maneira a pontuação contribui para dar ao
leitor a sensação de velocidade do carro em que viajam Sal e Dean.
“Cento e setenta quilômetros por hora,
direto sem escalas, cidades adormecidas, tráfego nenhum, um trem da Union
Pacific deixado para trás, ao luar”.
As virgulas criam um ritmo mais ágil, porque promovem o encadeamento de várias
cenas do que vai sendo deixado para trás à medida que o carro “voa” pelas
estradas do Nebraska.
03 – Logo
no início do trecho 2, Dean pergunta a Sal: “Qual é a sua estrada, homem?” O que ele quer dizer com isso? Que
sentido atribui ao termo “estrada”?
Dean refere-se ao caminho escolhido por Sal para a própria vida. “Estrada”,
nesse texto, ganha o sentido de escolha, de trajetória pessoal, caminho a ser
trilhado ao longo da vida.
04 –
Identifique, no trecho 2, uma passagem que permite associar o comportamento das
personagens a valores próprios da juventude.
Explique por que ela transmite valores associados à juventude.
“... nós sacamos a vida, Sal – sabemos como domá-la, e sabemos que o negócio é
continuar no caminho, pegando leve, curtindo o que pintar da velha maneira
tradicional”.
Nessa fala, vemos Dean defender a ideia de que é preciso viver a vida de acordo
com o momento, sabendo “curtir” o que aparecer, “pegando leve”.
05 – Como
Dean resume sua filosofia de vida?
O que essa filosofia sugere em termos de comportamento?
Segundo Dean, sua filosofia de vida pode ser resumida da seguinte forma: “Vou
seguindo a vida para onde ela me levar”.
Essa filosofia de vida sugere que devemos estar abertos a novas possibilidades,
em lugar de tentar controlar todas as opções que a vida nos apresenta.
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