segunda-feira, 9 de abril de 2018

TEXTO: ON THE ROAD, DE JACK KEROUAC - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


TEXTO: On the road, de Jack Kerouac


Trecho 1:
        Num piscar de olhos estávamos de volta à estrada principal e naquela noite vi todo o estado de Nebraska desenrolando-se diante dos meus olhos. Cento e setenta quilômetros por hora, direto sem escalas, cidades adormecidas, tráfego nenhum, num trem da Union Pacific deixado para trás, ao luar. Eu não estava nem um pouco assustado aquela noite; me parecia algo perfeitamente normal voar a 170, conversando e observando todas as cidades do Nebraska – Ogallala, Gothenburg, Kearney, Grand Island, Columbus – se sucederem com uma rapidez onírica enquanto seguíamos viagem. Era um carro magnífico; portava-se na estrada como um navio no oceano. Longas curvas graduais eram o seu forte. “Ah, homem, essa barca é um sonho”, suspirava Dean. “Pense no que poderíamos fazer se tivéssemos um carro assim. [...] Curtiríamos o mundo inteiro num carro como esse, você e eu, Sal, porque, na verdade, a estrada finalmente deve conduzir a todos os cantos do mundo. Não pode levar a outro lugar, certo? [...]”

Trecho 2:
        [...] “Qual é a sua estrada, homem? – a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada... Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância. Como, onde, por quê?” Concordamos gravemente, sob a chuva. “[...] Decidi abrir mão de tudo. Você me viu quebrar a cara tentando de tudo, me sacrificando e você sabe que isso não importa; nós sacamos a vida, Sal – sabemos como domá-la, e sabemos que o negócio é continuar no caminho, pegando leve, curtindo o que pintar da velha maneira tradicional. Afinal, de que outra maneira poderíamos curtir? Nós sabemos disso.” Suspirávamos sob a chuva. [...]
       “E assim”, disse Dean, “vou seguindo a vida para onde ela me levar. [...]”

                                      Kerouac, Jack. On the road (Pé na estrada).
                                        Tradução de Eduardo Bueno. Porto Alegre:
                                 L&PM, 2004 p. 281-282; 305-306. (Fragmento).

Onírica: relativa aos sonhos.

Entendendo o texto:
01 – Vamos ver como a literatura explora possibilidades da linguagem.
     a) Que elementos, presentes no trecho 1, asseguram ao leitor tratar-se da história de uma viagem?
      O narrador faz referência à estrada por onde viajam, à velocidade do carro, às cidades do estado do Nebraska por onde passam durante a noite. Todos esses elementos, combinados, dão ao leitor a possibilidade de confirmar que se trata da história de uma viagem.

     b) No texto, quais as passagens que revelam ser essa viagem a concretização de um desejo típico da juventude: a busca da liberdade?
      As passagens mais sugestivas da liberdade dos jovens são: “me parecia algo perfeitamente normal voar a 170”; “Ah, homem, essa barca é um sonho [...]. Pense no que poderíamos fazer se tivéssemos um carro assim. [...] Curtiríamos o mundo inteiro num carro como esse, você e eu, Sal, porque, na verdade, a estrada finalmente deve conduzir a todos os cantos do mundo”.

02 – No trecho a seguir, explique de que maneira a pontuação contribui para dar ao leitor a sensação de velocidade do carro em que viajam Sal e Dean.
      “Cento e setenta quilômetros por hora, direto sem escalas, cidades adormecidas, tráfego nenhum, um trem da Union Pacific deixado para trás, ao luar”.
        As virgulas criam um ritmo mais ágil, porque promovem o encadeamento de várias cenas do que vai sendo deixado para trás à medida que o carro “voa” pelas estradas do Nebraska.

03 – Logo no início do trecho 2, Dean pergunta a Sal: “Qual é a sua estrada, homem?” O que ele quer dizer com isso? Que sentido atribui ao termo “estrada”?
      Dean refere-se ao caminho escolhido por Sal para a própria vida. “Estrada”, nesse texto, ganha o sentido de escolha, de trajetória pessoal, caminho a ser trilhado ao longo da vida.

04 – Identifique, no trecho 2, uma passagem que permite associar o comportamento das personagens a valores próprios da juventude.
      Explique por que ela transmite valores associados à juventude.
      “... nós sacamos a vida, Sal – sabemos como domá-la, e sabemos que o negócio é continuar no caminho, pegando leve, curtindo o que pintar da velha maneira tradicional”.
      Nessa fala, vemos Dean defender a ideia de que é preciso viver a vida de acordo com o momento, sabendo “curtir” o que aparecer, “pegando leve”.

05 – Como Dean resume sua filosofia de vida?
      O que essa filosofia sugere em termos de comportamento?
      Segundo Dean, sua filosofia de vida pode ser resumida da seguinte forma: “Vou seguindo a vida para onde ela me levar”.
      Essa filosofia de vida sugere que devemos estar abertos a novas possibilidades, em lugar de tentar controlar todas as opções que a vida nos apresenta.



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