REPORTAGEM: GERAÇÃO
TIPO ASSIM
Imagens comparativas e novas gírias reacendem a discussão sobre a erosão da
linguagem entre os jovens.
Ao adolescente dos anos 90 que não consegue entender o que se conversa numa
roda de contemporâneos, resta o consolo de não pertencer aos grupos acusados de
promoverem a chamada erosão da linguagem. Para esses grupos, segundo estudiosos
como o poeta, tradutor e ensaísta José Paulo Paes, tem sido cada vez mais
cômodo seguir o caminho das imagens comparativas, evitando expor o próprio
potencial intelectual ao risco de um raciocínio elaborado. Não é à toa que um
dos recursos mais usados hoje para facilitar a explicação de uma ideia é o
“tipo assim” (“Ele é um cara tipo assim ...”). [...]
Enquanto a discussão volta a mobilizar estudiosos, novas gírias são criadas e
absorvidas numa velocidade impressionante. [...] “A conversa de adolescentes é
feita de diálogos exclamativos e sem fluência, próprios de quem apenas reafirma
um comportamento de grupo”, alerta Paes. O poeta reconhece, no entanto, que
“existem gírias muito saborosas”. Mas restringe: “Gíria é coisa de moda. Muitas
vezes você substitui uma boa intensão verbal de gírias anteriores sem que haja
ganhos expressivos.”
Em outra vertente, o escritor Affonso Romano de Sant´Anna acha normal que cada
grupo social crie sua própria linguagem. “E os jovens que passaram a existir
socialmente a partir dos anos 60, coma emergência do poder juvenil, também tem
a sua linguagem”, diz. “Esse é um fato que não recrimino nem reprovo, mas sua
constatação é inevitável.” O escritor vê a leitura como única solução para as
divergências entre as linguagem usadas por jovens e adultos. “É lendo que você
aumenta seu vocabulário”, sugere.
Affonso Romano observa que hoje os jovens não são a única tribo a usar uma
linguagem própria, de difícil entendimento por quem está de fora: “O mesmo
acontece, por exemplo, com o pessoal que mexe com computador. Sua linguagem é
restrita, falava em códigos.” [...]
Os adolescentes não veem problema no uso de gírias e expressões recém-criadas,
e julgam seu vocabulário “inofensivo”. “As gírias são um meio muito legal de se
comunicar e simplificar as coisas. Além disso, é irado falar de um jeito que os
professores e o pessoal lá de casa não entendam”, diz Thiago, 16 anos.
“A moda não muda? A de coração não muda? Qual é o problema de atualizar também
o vocabulário?”, questiona Tatiana, 17 anos. Sua colega Maíra, 16 anos, tenta
explicar o uso frequente de expressões, como o tipo assim: “Você quer falar
alguma coisa e descobre uma expressão que consegue resumir seu pensamento. O
tipo assim é o espaço que a gente usa para pensar e articular as palavras. É
impossível contar uma história sem usar pelo menos um aí”.
“As gírias mudam e não vão deixar de existir. A gente não fala mais é uma brasa,
mora? Que era moda nos anos 70. No lugar disso, falamos outras coisas”,
justifica o estudante Marcos, 17 anos. “O mais legal disso tudo é que ampliamos
o nosso vocabulário”, opina Thiago, afirmando em seguida: “Eu também sei falar
formalmente, mas não gosto. Não me dirijo ao padre do colégio com um, aí
velhinho. Estou apto a usar a linguagem formal, quando necessário.”
A babel de gírias também afeta os diferentes grupos da mesma geração. “Tenho
amigos que convivem com o pessoal que frequenta bailes funk. Eles usam gírias
próprias e eu não entendo nada”, conta Tatiana. “Não vejo problema nenhum no
fato das tribos não se entenderem. A gente traduz e aprende cada vez mais”,
assegura Gabriel, 17 anos.
Jornal do Brasil, Caderno B, 5 maio 199, p. 7.
(O
sobrenome dos adolescentes citados e o nome do colégio em que estudam foram
omitidos.)
Entendendo
o texto:
01 –
Identifique a data em que a reportagem foi publicada, observe as palavras com que
ela começa e responda:
a) A reportagem se refere
a adolescentes de que época?
Dos anos 90 do século XX.
b) Quanto tempo separa os
adolescentes de que época?
A resposta depende da época em que a
questão estiver sendo respondida; provavelmente, de 10 a 15 anos.
c) Os adolescentes atuais
também tem um modo próprio de usar a língua, como os adolescentes da
reportagem? Tem opiniões semelhantes às dos adolescentes citados na reportagem?
Resposta pessoal; o mais provável é que a
resposta seja sim, já que adolescentes de qualquer época usam gírias e defendem
esse uso.
02 –
Releia a primeira frase da reportagem: ela se refere a um adolescente par quem
resta um consolo.
a) Se resta um consolo,
significa que esse adolescente tem um problema de que precisa ser consolado;
qual é o problema?
Não consegue entender a conversa de
outros adolescentes como ele.
b) Que consolo resta ao adolescente?
Por que isso é um consolo?
O consolo de não pertencer aos grupos acusados
de promoverem a erosão da linguagem. É um consolo porque esses grupos são
criticados, censurados, depreciados.
03 – As
opiniões de José Paulo Paes citadas na reportagem coincidem com as que ele dá
na entrevista reproduzida reproduzida nas páginas 169-170? Comprove sua
resposta comparando palavras do escritor na reportagem e na entrevista.
O objetivo é que o aluno identifique os mesmos pensamentos expressos de formas
diferente.
04 –
Observe a expressão que introduz o terceiro parágrafo:
“Em outra vertente...”
a) Que relação essa expressão
estabelece entre o que se vai dizer em seguida e o que se disse antes?
Relação de oposição, de contraste, de
divergência.
b) Cite outras expressões que
poderiam ser usadas para introduzir o terceiro parágrafo.
Resposta pessoal; exemplos: Ao contrário,
...Em oposição, ...Assumindo outra posição, ...Diferentemente,
05 –
Confronte as palavras de Affonso Romano de Sant´Anna com as de José Paulo Paes:
a) Os dois escritores tem opiniões
diferentes em relação à linguagem dos jovens: qual é a diferença?
José Paulo Paes recrimina, censura a
linguagem dos jovens; Affonso Romano acha normal que os jovens tenham sua
própria linguagem.
b) Com qual dos
dois escritores você concorda? Ou não concorda com nenhum dos dois? Justifique
sua resposta.
Resposta pessoal.
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