Texto: AME A SUA SELEÇÃO
A Seleção Brasileira
nasceu pra mim na Copa de 1986. Muitos de vocês já conhecem essa história: eu
não tinha completado três anos ainda, mas já adorava a farra do futebol. Na
ocasião, uma de minhas avós, ao voltar de uma viagem com presentes para os
netos, trouxe para meu irmão uma camisa da Seleção e, para mim, uma boneca. Era
dia de jogo do Brasil e eu achei aquilo um absurdo. Do jeito que só uma criança
faria, chorei e protestei pelo fato dele ter recebido um presente relacionado à
festa da Copa do Mundo e eu não. Felizmente, minha mãe encontrou uma solução:
tratou de escrever Brasil com lápis de cera verde numa folha de papel ofício e
colou a “obra” numa camiseta amarela que eu já tinha no armário. Estava pronta
a camisa da Seleção Brasileira que, pela minha reação de felicidade e
satisfação, era tão oficial quanto a que Falcão, Casa grande, Zico, Sócrates e
companhia desfilavam nos campos do México.
Pra minha mãe, a
Seleção Brasileira nasceu em 58, quando ela era arremessada pra cima por meu
avô a cada gol do Brasil no nosso primeiro título mundial. Pra meu pai, foi na
Copa do Mundo seguinte, quando a família toda se reunia em volta do rádio pra
ouvir as partidas do time que conquistou o bicampeonato. Sempre tive a certeza
que a cada partida, gol de Pelé e de Ronaldo, drible de Garrincha e Neymar,
jogada de Sócrates e Ronaldinho, título, goleada ou derrota do Brasil, nascia
uma Seleção Brasileira particular pra alguém. Umas mais espetaculares e outras
sem muito brilho e com algumas cabeças de bagre dentro de campo, mas todas
especiais de alguma forma.
No meu caso, já que não
tive a felicidade de crescer assistindo a genialidade de Pelé e sua turma ou a
arte da Seleção de 82, ela sempre teve uma outra característica muito
importante: festa, sim, papel picado, sorrisos, fogos de artifício e gols (que
você pode substituir por Romário), mas não necessariamente muito futebol. Ou
alguém que viu sua primeira taça de título mundial ser levantada por Dunga
poderia pensar diferente?
Pois bem, oficialmente,
a Amarelinha nasceu em 1914 e em quase cem anos de existência, como todo mundo
já sabe, se transformou não só na seleção mais vitoriosa do mundo, mas também
na maior expressão da nossa cultura. Seria normal pensar, então, que na
milésima partida oficial da Seleção Brasileira, ela merecia, no mínimo, uma
chuva de papel picado, não acham? Pois a CBF acha que não. Na
milésima vez que o escudo mais poderoso do futebol mundial entrar em campo,
será contra o Gabão, num lugar onde toda vez que eu vou falar, preciso
consultar de novo pra lembrar.
Fico assustada com a
quantidade de pessoas que dizem que a Seleção Brasileira morreu para elas. Confesso
que isso está bem longe de acontecer pra mim, mas preciso dizer também, que,
infelizmente, não é nada difícil entendê-la.
Clara Albuquerque. Disponível em:
Acesso
em: 10 dez. 2011.
Entendendo o texto:
01 – No início do texto, a cronista conta sua primeira experiência com a
Copa do Mundo, assim como a de seus pais. Qual seu objetivo com esses relatos?
A cronista pretende comprovar que uma Copa do Mundo sempre “faz nascer” uma
seleção Brasileira para alguém, ou seja, sempre apresenta uma primeira seleção
marcante para alguém.
02 – A cronista menciona três Copas do Mundo que apresentam,
respectivamente, uma Seleção Brasileira para ela, para a mãe e para o pai. O
que, nos três casos, parece ter ajudado a tornar essa experiência marcante para
as três crianças?
Para as três crianças, a Copa do Mundo envolvia um
contato alegre com a família, tinha um caráter de reunião festiva. Isso ajudou
a tornar memorável essa experiência com o futebol.
03 – Para a cronista, a noção de “nascimento” de uma Seleção Brasileira
para alguém implica que essa seleção tivesse sido bem-sucedida? Comprove sua
resposta.
Não. Quando falou do “nascimento” de uma seleção, a cronista mencionou partida,
gol, drible, jogada, título, goleada, mas também mencionou derrota. Em seguida,
ela afirmou que algumas seleções eram mais espetaculares, outras não tinham
muito brilho (mas algumas cabeças de bagre), mas todas eram especiais.
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