quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ARTIGO DE OPINIÃO: AS PALAVRAS E AS COISAS - (FRAGMENTO) - JOSÉ GERALDO COUTO - COM GABARITO

 Artigo de opinião: As palavras e as coisas – Fragmento

José Geraldo Couto – colunista da folha – Futebol

        Guimarães Rosa, possivelmente o maior escritor brasileiro depois de Machado de Assis, dizia que seu sonho era escrever um dicionário.

        Ignoro se Rosa gostava de futebol (até onde eu sei, nunca escreveu nada a respeito), mas certamente ele se encantaria com a riqueza vocabular associada ao esporte mais popular do mundo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibREf84yxbFfbRC5BR5AuEL1Tu2awM7eo4HbWEIkG7avHtg_B26vOGPj19mSBrMSKJBgo4dBwWMzTQUvZ495Ek6ZPEPGctpWwebhHvzfH8m9P4VQc4Sqs1m_qViny2Ktul6eGtvKB0Q6muerAcq7E9TeneDl8viKopEJZrLRnHADaWBqBl3cKMoDC2gyM/s320/Joao%20Guimar%C3%A3es%20Rosa%2001.jpg


        Poliglota, cultor dos neologismos formados a partir de diversos idiomas, o autor de "Sagarana" devia se deliciar com as palavras de origem inglesa aclimatadas ao português do Brasil por obra e graça do jogo da bola.

        É certo que alguns desses termos ingleses caíram em desuso. É o caso de "offside" (substituído por "impedimento"), "hands" ("toque" ou "mão"), "center forward" ("centroavante") etc.

        Outros, entretanto, foram devidamente abrasileirados e incorporados de tal maneira ao nosso idioma que raramente lembramos de sua origem: "chute" (versão de "shoot"), "beque" (de "back"), "pênalti" (de "penalty") etc., sem falar no próprio "futebol" ("football").

        Há ainda as palavras inglesas que mantiveram uma vigência praticamente apenas regional, como "corner", ainda muito usada no Rio de Janeiro, mas substituída no resto do país por "escanteio", "tiro de canto" ou somente "canto".

        Rosa, se acompanhasse o futebol, se deliciaria com a variedade de metáforas produzidas para dar conta do que acontece dentro das quatro linhas.

        Há, por exemplo, o recurso a uma infinidade de objetos cujo formato ou movimento lembra o de certas jogadas: carrinho, chapéu, bicicleta, janelinha (expressão gaúcha para bola entre as pernas), ponte.

        Mas o ramo mais bonito, do ponto de vista de um escritor, deve ser o das metáforas extraídas da natureza: meia-lua, frango, peixinho, folha seca.

        Ao criar uma jogada dessas – como Didi, que "inventou" a folha seca –, ou executá-la com perfeição, um craque faz poesia pura, rivalizando com Deus e nomeando as coisas como se estivesse no primeiro dia da Criação.

        Guimarães Rosa, infelizmente, não produziu seu sonhado dicionário.

        Nunca saberemos, portanto, se o homem que criou a saga fantástica de Riobaldo e Diadorim sabia o significado, dentro do campo de futebol, de uma chaleira, um lençol, um chuveirinho ou um corta-luz.

        [...]

Folha de São Paulo, 17/7/02.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 274-275.

Entendendo o artigo:

01 – Qual era o sonho de Guimarães Rosa, segundo o artigo?

      O sonho de Guimarães Rosa era escrever um dicionário.

02 – Qual a opinião do autor sobre a relação de Guimarães Rosa com o futebol?

      O autor desconhece se Guimarães Rosa gostava de futebol, mas acredita que ele se encantaria com a riqueza vocabular associada ao esporte.

03 – Que tipo de palavras do futebol o autor menciona como sendo de origem inglesa?

      O autor menciona palavras como "offside", "hands", "center forward", "chute", "beque", "pênalti" e "futebol" como sendo de origem inglesa.

04 – O que o autor destaca sobre a variedade de metáforas no futebol?

      O autor destaca a variedade de metáforas no futebol, tanto aquelas que se referem a objetos (carrinho, chapéu, bicicleta, janelinha, ponte) quanto aquelas que se referem à natureza (meia-lua, frango, peixinho, folha seca).

05 – Qual a comparação que o autor faz entre um craque de futebol e um escritor?

      O autor compara um craque de futebol que cria uma jogada nova ou executa uma jogada com perfeição a um escritor, afirmando que ambos fazem poesia pura e rivalizam com Deus ao nomear as coisas.

06 – O que o autor lamenta no final do artigo?

      O autor lamenta que Guimarães Rosa não tenha produzido seu sonhado dicionário, pois nunca saberão se ele conhecia o significado de certas expressões do futebol.

07 – Qual a principal ideia que o autor explora no artigo?

      O autor explora a riqueza da linguagem do futebol, mostrando como ela se apropria de palavras de origem inglesa, cria metáforas originais e expressa a beleza e a imprevisibilidade do esporte.

 

 

 

 

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