quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

AUTOBIOGRAFIA: NASCE UM ESCRITOR - JORGE AMADO - COM GABARITO

 Autobiografia: Nasce um escritor

                       Jorge Amado

        O primeiro dever passado pelo novo professor de português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados, o episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada. Prisioneiro no internato, eu vivia da saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema da minha descrição.

 
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-jSEi7WJT-KR7ZXmN-W7_VdCPrekj6TG2-lRLgttJb1a_p_45721NT3DU2iHpxJa1zy6pgumhBC4Bf-4MrPf4HicUA9TO83iPp9gtHfvWiCs1N7OAfFZ_-jTimLjEZdeKINMelNo2Pb4ZSQces22YQIp39VnlgcfdoAL47K9IU1l66XeyjZQcclrfEPs/s320/praia-de-mamoan.jpg



        Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu acabara de completar onze anos.

        Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, os campeões de matemática e de religião, dos que obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo Literário onde brilhavam alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudei no colégio dos jesuítas.

        Houve, porém, sensível mudança na limitada vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em minhas mãos livros de sua estante. Primeiro “As viagens de Gulliver”, depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Data dessa época minha paixão por Charles Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark Twain, o norte-americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral.

        Recordo com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me haver dado o amor aos livros, por me haver me revelado o mundo da criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de internato, a fazer mais leve a minha prisão, a minha primeira prisão.

Jorge Amado. “O menino Grapiúna”.  Rio de Janeiro: Record, 1987. p.117-120.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 245.

Entendendo a autobiografia:

01 – Qual foi o primeiro dever de português que Jorge Amado realizou e qual foi o tema?

      O primeiro dever de português passado pelo novo professor foi uma descrição tendo o mar como tema.

02 – Qual foi a reação do Padre Cabral ao ler a descrição de Jorge Amado?

      O Padre Cabral anunciou, risonho e solene, a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Afirmou que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido e não regateou elogios.

03 – Como Jorge Amado se sentiu após o anúncio do Padre Cabral?

      Jorge Amado passou a ser uma personalidade no colégio, mas nem assim deixou de se sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudou no colégio dos jesuítas.

04 – Qual foi a principal mudança na vida de Jorge Amado após o anúncio do Padre Cabral?

      O Padre Cabral tomou-o sob sua proteção e colocou em suas mãos livros de sua estante, como "As viagens de Gulliver" e clássicos portugueses, o que despertou a paixão de Jorge Amado por Charles Dickens.

05 – Qual é a principal lembrança que Jorge Amado tem do Padre Cabral?

      Jorge Amado recorda com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável, não apenas por tê-lo anunciado escritor, mas sobretudo por ter lhe dado o amor aos livros e revelado o mundo da criação literária, ajudando-o a suportar os dois anos de internato.

 

 

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