Autobiografia: Nasce um escritor
Jorge Amado
O primeiro dever passado pelo novo
professor de português foi uma descrição tendo o mar como tema. A classe
inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes
navegados, o episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada. Prisioneiro no
internato, eu vivia da saudade das praias do Pontal onde conhecera a liberdade
e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema da minha descrição.
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Padre Cabral levara os deveres para
corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a
existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que
escutassem com atenção o dever que ia ler. Tinha certeza, afirmou, o autor
daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. Eu
acabara de completar onze anos.
Passei a ser uma personalidade, segundo
os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, os campeões de matemática e de
religião, dos que obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo
Literário onde brilhavam alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir
prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudei no colégio
dos jesuítas.
Houve, porém, sensível mudança na limitada
vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em
minhas mãos livros de sua estante. Primeiro “As viagens de Gulliver”, depois
clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Data
dessa época minha paixão por Charles Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark
Twain, o norte-americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral.
Recordo com carinho a figura do jesuíta
português erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo
por me haver dado o amor aos livros, por me haver me revelado o mundo da
criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de internato, a fazer
mais leve a minha prisão, a minha primeira prisão.
Jorge Amado. “O menino Grapiúna”. Rio de Janeiro: Record, 1987.
p.117-120.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 245.
Entendendo a autobiografia:
01 – Qual foi o primeiro dever
de português que Jorge Amado realizou e qual foi o tema?
O primeiro dever
de português passado pelo novo professor foi uma descrição tendo o mar como
tema.
02 – Qual foi a reação do
Padre Cabral ao ler a descrição de Jorge Amado?
O Padre Cabral
anunciou, risonho e solene, a existência de uma vocação autêntica de escritor
naquela sala de aula. Afirmou que o autor daquela página seria no futuro um
escritor conhecido e não regateou elogios.
03 – Como Jorge Amado se
sentiu após o anúncio do Padre Cabral?
Jorge Amado
passou a ser uma personalidade no colégio, mas nem assim deixou de se sentir
prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudou no colégio
dos jesuítas.
04 – Qual foi a principal
mudança na vida de Jorge Amado após o anúncio do Padre Cabral?
O Padre Cabral
tomou-o sob sua proteção e colocou em suas mãos livros de sua estante, como
"As viagens de Gulliver" e clássicos portugueses, o que despertou a
paixão de Jorge Amado por Charles Dickens.
05 – Qual é a principal
lembrança que Jorge Amado tem do Padre Cabral?
Jorge Amado
recorda com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável, não apenas
por tê-lo anunciado escritor, mas sobretudo por ter lhe dado o amor aos livros
e revelado o mundo da criação literária, ajudando-o a suportar os dois anos de
internato.
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