quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

CRÔNICA: ADOLESCÊNCIA - (FRAGMENTO) - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Adolescência – Fragmento

               Luís Fernando Veríssimo

        O apelido dele era "cascão" e vinha da infância. Uma irmã mais velha descobrira uma mancha escura que subia pela sua perna e que a mãe, apreensiva, a princípio atribuiu a seguida descobriu que era sujeira mesmo.

        -- Você não toma banho, menino?

        -- Tomo, mãe.

        -- E não se esfrega?

        Aquilo já era pedir demais. E a verdade é que muitas vezes seus banhos eram representações. Ele fechava a porta do banheiro, ligava o chuveiro, forte, para que a mãe ouvisse o barulho, mas não entrava no chuveiro. Achava que dois banhos por semana era o máximo de que uma pessoa sensata precisava. Mais do que isso era mania.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-pcWIWXfoYSvUtkJHlKDekMOo5K15kHp6VogW2z5gSisd2XwrGzDXJeZ2v9AKb6gPRWsTCg_Qp5Igfccq436QKVFxheb4gJEuDEQoviU2dK1pNkaOeeoCY9dYpI0EZ_rqidpgPARkaisFhe61vrOdrHAuiDJUqL1SXQihyphenhypheneGRb9zvT1ZeCuJEuhQRHZk/s320/CASCAO.jpg

        O apelido pegou e, mesmo na sua adolescência, eram frequentes as alusões familiares à sua falta de banho. Ele as aguentava estoicamente. Caluniadores não mereciam resposta. Mas um dia reagiu.

        -- Sujo, não.

        -- Ah, é? – disse a irmã.

        -- E isto o que é?

        Com o dedo ela levantara do seu braço um filete de sujeira.

        -- Rosquinha não vale.

        -- Como não vale?

        -- Rosquinha, qualquer um.

        Entusiasmado com a própria tese, continuou:

        -- Desafio qualquer um nesta casa a fazer o teste da rosquinha! A irmã, que tomava dois banhos por dia, o que ele classificava de exibicionismo, aceitou o desafio.

        Ele advertiu que passar o dedo, só, não bastava. Tinha que passar com decisão. E, realmente, o dedo levantou, da dobra do braço da irmã, uma rosquinha, embora ínfima, de sujeira.

        -- Viu só – disse ele, triunfante. – E digo mais: ninguém no mundo está livre de uma rosquinha.

        -- Ah, essa não. No mundo? Manteve a tese.

        -- Ninguém.

        -- A rainha Juliana?

        -- Rosquinha. No pé. Batata.

        No dia seguinte, no entanto, a irmã estava preparada para derrubar a sua defesa.

        -- Cascão... – disse simplesmente. – A Catherine Deneuve. Ele hesitou. Pensou muito. Depois concedeu. A Catherine Deneuve, realmente, não.

        A irmã, sadicamente, ainda fingiu que queria ajudar.

        -- Quem sabe atrás da orelha?

        -- Não, não – disse o Cascão tristemente, renunciando à sua tese. – A Catherine Deneuve, nem atrás da orelha.

Luís Fernando Veríssimo. Comédias para se ler na escola. PDL – Projeto Democratização da Leitura. www.portaldetonando.com.br.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o apelido do personagem principal e qual a origem dele?

      O apelido do personagem principal é "Cascão". A origem do apelido vem da infância, quando sua irmã mais velha descobriu uma mancha escura em sua perna, que a mãe inicialmente pensou ser sujeira.

02 – Qual era o hábito de higiene do personagem na infância?

      O personagem não gostava de tomar banho e muitas vezes fingia que estava se banhando, ligando o chuveiro sem entrar embaixo d'água. Ele achava que dois banhos por semana eram suficientes.

03 – Como o personagem reagia às alusões familiares sobre sua falta de higiene?

      O personagem aguentava estoicamente as alusões familiares sobre sua falta de banho, considerando os caluniadores como não merecedores de resposta.

04 – Qual é o argumento do personagem sobre a sujeira?

      O personagem argumenta que ninguém no mundo está livre de ter um pouco de sujeira, usando o termo "rosquinha" para se referir a essa sujeira.

05 – Como a irmã do personagem tenta refutar seu argumento?

      A irmã do personagem tenta refutar seu argumento mencionando a rainha Juliana e a atriz Catherine Deneuve como exemplos de pessoas que, segundo ela, não teriam "rosquinhas" de sujeira.

06 – Qual é a reação do personagem ao ser confrontado com o exemplo de Catherine Deneuve?

      O personagem hesita, pensa bastante e acaba concedendo que Catherine Deneuve realmente não teria "rosquinhas" de sujeira, nem mesmo atrás da orelha, renunciando à sua tese inicial.

07 – Qual é o tom geral da crônica de Luís Fernando Veríssimo?

      O tom geral da crônica é humorístico e irônico. Veríssimo utiliza uma situação cotidiana e familiar para fazer uma reflexão sobre hábitos de higiene, argumentos e a dificuldade de admitir quando estamos errados.

 

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