quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

TEXTO: DIFERENÇA ENTRE O CARNAVALESCO, O TÉCNICO DE FUTEBOL E O MARQUETEIRO POLÍTICO - VEJA - COM GABARITO

 Texto: Diferença entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político

        Que há em comum entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político? Primeiro: eles não entram em campo. São, por natureza, profissionais de ensaios e bastidores. Segundo: não se prendem à cor da camisa. Podem defender um time, escola ou candidato hoje, e amanhã o time, escola ou candidato oposto. Terceiro: cada vez mais, roubam o espetáculo. Os imperativos de discrição e de silêncio que seriam de supor em quem ali está para preparar e coordenar o espetáculo, mas não é o espetáculo, têm sido largamente superados pela compulsão da exposição e pela sofreguidão dos egos. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgN0IarmTL2zqZirHjgJ-EjHfma-gSgXhQGiikr0XbHzGZERl1EcFLqRKHYKc4_0ZSkfGovvrC9ziTFHYmXOqWlawn_jEX_dF0giq1F582_eC522r-Ym32PRQymWWq1eMN8IQZBSePjhNACL9SLGX26uSNQo8dFUPTHHqt1YCKKJXcYnu1XwGkNa8tUFpY/s320/R%C3%A9gi.jpg


        O carnavalesco, até alguns anos atrás, era um desconhecido. Um pobre funcionário de segundo plano, mais desconhecido que a mais humilde das integrantes da ala das baianas, mais ainda que o gari que limpa a pista depois da passagem da escola. Foi então que, em 1976, com um primor de desfile, na Beija-Flor de Nilópolis, e a frase que lhe foi atribuída ("Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual"), Joãosinho Trinta deu corpo e alma à profissão.

        O técnico de futebol nunca foi um desconhecido. Sempre foi profissional prestigiado. Mas era um participante discreto no conjunto do espetáculo. Mais propriamente, era invisível. De uns anos para cá, desde que o técnico foi liberado para ficar junto ao campo e dar instruções durante o jogo, a profissão mudou de natureza. O técnico virou parte do show.

        Bem, se os carnavalescos e os técnicos adquiriram tais culminâncias, que dizer dos marqueteiros? Seu prestígio é tal que aumenta a cada dia o reclamo de que Duda Mendonça e Nizan Guanaes se enfrentem diretamente nas urnas. "Chega de intermediários!" Guanaes é um profissional que fez decolar uma candidata com base em uma única qualidade: a de ser mulher. Roseana, diga-se, nesse ponto tem todo o merecimento, pois realmente é mulher. Não está fingindo, como tantos políticos fazem. Já Duda Mendonça foi além do que iria um técnico. Ao mudar de Paulo Maluf para Lula, não é que tenha trocado o Corinthians pelo Palmeiras, o Flamengo pelo Vasco ou o Atlético pelo Cruzeiro. É muito mais. Trocou Deus pelo diabo. Ou o diabo por Deus – decida o leitor quem, entre os destinatários da troca, merece o papel de Deus e quem do diabo.

Veja, n. 1734, jan. 2002.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 340-341.

Entendendo o texto:

01 – Quais são os três pontos em comum entre o carnavalesco, o técnico de futebol e o marqueteiro político, segundo o texto?

      Não entram em campo: São profissionais que atuam nos bastidores, preparando e coordenando o espetáculo, mas não são o espetáculo em si.

      Não se prendem à cor da camisa: Podem trabalhar para diferentes times, escolas de samba ou candidatos, sem fidelidade a uma única bandeira.

      Roubam o espetáculo: A busca por exposição e reconhecimento tem feito com que esses profissionais se destaquem mais do que deveriam, ultrapassando os limites da discrição.

02 – Como Joãosinho Trinta contribuiu para a mudança na percepção sobre os carnavalescos?

      Joãosinho Trinta, com um desfile inovador na Beija-Flor de Nilópolis em 1976 e a frase "Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual", transformou a imagem do carnavalesco de um funcionário desconhecido para um artista criativo e importante.

03 – Qual foi a principal mudança na atuação dos técnicos de futebol nos últimos anos?

      A principal mudança foi a permissão para que os técnicos ficassem à beira do campo durante os jogos, dando instruções. Isso os transformou em parte do espetáculo, com maior visibilidade e protagonismo.

04 – O que o autor destaca sobre o prestígio dos marqueteiros políticos?

      O autor destaca que o prestígio dos marqueteiros políticos é tão grande que há quem defenda que eles mesmos deveriam se candidatar, em vez de apenas trabalharem nos bastidores. Cita Duda Mendonça e Nizan Guanaes como exemplos de marqueteiros de destaque.

05 – Qual é a comparação feita pelo autor em relação à mudança de lado de Duda Mendonça na política?

      O autor compara a mudança de Paulo Maluf para Lula como uma troca muito mais drástica do que trocar de time de futebol. Ele usa uma metáfora religiosa, questionando quem seria Deus e quem seria o diabo nessa troca, deixando a interpretação para o leitor.

 

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