terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

ROMANCE: AS AVENTURAS DE NGUNGA - FRAGMENTO - PEPETELA - COM GABARITO

 Romance: AS AVENTURAS DE NGUNGA – Fragmento

                 Pepetela

        A vida de Ngunga continuou assim por certo tempo. Gostava era de passear, de fala às árvores e aos pássaros. Tomar banho nas lagoas, descobrir novos caminhos na mata. Subir às árvores para apanhar um ninho ou mel de abelhas. Era isso que ele gostava.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_4OF4UJ9DDvOPsIUiOzBI39xylxCNv4HFfmmPSc63qjma2R9ichtnaL8u-9JcJCB-miq3SQ23K-kEvVnxoXJATNJ-6EPgM8Qo3yG0fBcAcHlW48cyjruxk4GBYQCrVbALNOW_sgdrCleqKkXfedFey9TrFAdXiXctEAHuwrA02Yji6kAaBd_ktkEtA5s/s320/Kimbo-Angola-As-aventuras-de-Ngunga.png


        Só aceitara ficar e trabalhar porque o velho Kafuxi lhe falara. O velho convenceu-o com a sua conversa sobre a comida dos guerrilheiros. Kafuxi era o Presidente, quer dizer, era o responsável da população de uma série de aldeias. Ele devia organizar e
resolver os problemas do povo. Ele devia organizar o reabastecimento dos guerrilheiros.

        Mas, depois da conversa que tinha ouvido. Ngunga ficou a pensar. Afinal o velho estava a aproveitar. Era mais rico que os outros, pois tinha mais mulheres. Além disso, tinha Ngunga, que trabalhava todo o dia e só comia um pouco. Uma parte do seu trabalho, uma canequita talvez, ia para os guerrilheiros. Algumas canecas iam para a alimentação. E o resto? As quindas de fubá que ele ajudava a produzir, o peixe que pescava no Kuanda, o mel que tirava dos cortiços? Tudo isso ia para o velho, que guardava para
trocar com pano.

        Quando chegava um grupo de guerrilheiros ao kimbo, Kafuxi mandava esconder a fubá. Dizia às visitas que não tinham comida quase nenhuma. Se alguma visita trouxesse tecido, então ele propunha a troca. Sempre se lamentando que essa era a última quinda de fubá que possuía. Se a visita não tivesse nada para trocar, então partia do kimbo com a fome que trouxera.

        Ngunga pensava, pensava. Todos os adultos eram assim egoístas? Ele, Ngunga, nada possuía. Não, tinha uma coisa, era essa força dos bracitos. E essa força ele oferecia aos outros, trabalhando na lavra, para arranjar a comida dos guerrilheiros. O que ele tinha,
oferecia. Era generoso. Mas os adultos? Só pensavam neles. Até mesmo um chefe do povo, escolhido pelo Movimento para dirigir o povo. Estava certo?

        E, um dia em que apareceu o Comandante do Esquadrão com três guerrilheiros, aconteceu o que tinha de acontecer.

        O velho lamentou-se da fome, dos celeiros vazios. Mandou trazer um pratinho de pirão para o Comandante. Para os outros nada havia. O Comandante teve de dar dois metros de pano e outro pratinho apareceu.

        Ngunga não falou. Começava a perceber que as palavras nada valiam. Foi ao celeiro, encheu uma quinda grande com fubá, mais um cesto. Trouxe tudo para o sitio onde estavam as visitas e o Presidente Kafuxi. Sem uma palavra, pousou a comida no chão. Depois foi à cubata arrumar as suas coisas.

        Partiu, sem se despedir de ninguém. O velho Kafuxi, furioso, envergonhado, só o mirava com olhos maus.

PEPETELA. As aventuras de Ngunga. 3. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 14-16.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 557-558.

Entendendo o romance:

01 – Qual é a principal atividade que Ngunga gosta de fazer?

      Ngunga gosta de passear, falar com as árvores e pássaros, nadar nas lagoas, descobrir novos caminhos na mata e subir em árvores para pegar ninhos ou mel de abelhas.

02 – Por que Ngunga decide ficar e trabalhar com o velho Kafuxi?

      Ngunga decide ficar e trabalhar porque o velho Kafuxi o convence com sua conversa sobre a comida dos guerrilheiros. Kafuxi é o responsável pela população de várias aldeias e precisa organizar o reabastecimento dos guerrilheiros.

03 – O que Ngunga percebe sobre o velho Kafuxi depois de um tempo?

      Ngunga percebe que o velho Kafuxi está se aproveitando da situação. Ele é mais rico que os outros, pois tem mais mulheres e Ngunga trabalha para ele o dia todo, recebendo apenas um pouco de comida. Ngunga percebe que parte do seu trabalho vai para os guerrilheiros, mas outra parte fica com Kafuxi, que guarda para trocar por pano.

04 – Como o velho Kafuxi age quando os guerrilheiros chegam ao kimbo?

      Quando um grupo de guerrilheiros chega ao kimbo, Kafuxi manda esconder a fubá e diz às visitas que não tem comida suficiente. Se a visita trouxer tecido, ele propõe a troca, lamentando que aquela seja a última quinda de fubá que ele possui. Se a visita não tiver nada para trocar, ela parte do kimbo com fome.

05 – O que Ngunga pensa sobre os adultos ao seu redor?

      Ngunga pensa se todos os adultos são egoístas como o velho Kafuxi. Ele se considera generoso por oferecer sua força de trabalho aos outros, enquanto os adultos parecem pensar apenas em si mesmos. Ele questiona se está certo um chefe do povo, escolhido pelo Movimento para dirigir o povo, agir dessa forma.

06 – O que acontece quando o Comandante do Esquadrão visita o kimbo?

      Quando o Comandante do Esquadrão visita o kimbo com três guerrilheiros, o velho Kafuxi se lamenta da fome e dos celeiros vazios. Ele oferece um prato de pirão para o Comandante, mas não oferece nada para os outros. O Comandante precisa dar dois metros de pano para que outro prato de pirão apareça.

07 – Qual é a atitude de Ngunga diante da situação com o Comandante e o velho Kafuxi?

      Ngunga não fala, mas começa a perceber que as palavras não valem nada. Ele vai ao celeiro, enche uma quinda grande com fubá e um cesto, e leva tudo para onde estão as visitas e o Presidente Kafuxi. Sem dizer nada, ele coloca a comida no chão e depois vai arrumar suas coisas para partir, sem se despedir de ninguém. O velho Kafuxi o observa com olhos maus, furioso e envergonhado.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário