sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

CONTO: A DEMANDA DO SANTO GRAAL - II - NA CORTE DO REI ARTUR - (FRAGMENTO) - HEITOR MEGALE - COM GABARITO

 Conto: A DEMANDA DO SANTO GRAALII – Na corte do rei Artur – Fragmento

        [...]

        Como Lancelote e Boorz e Leonel chegaram à corte. Assim falando, chegaram a Camalote, e sabei que quantos na corte estavam ficaram com isso muito alegres, porque muito seria a festa menor e mais pobre, se eles nela não estivessem. O rei foi então ouvir missa na Sé em companhia de tantos cavaleiros que ficaríeis maravilhado de os ver. E ele trajava tão rica vestimenta que maravilha era. E com a rainha iam tantas donas e donzelas, que era grande maravilha. E ela e eles ouviram missa e foram para o paço. E aconteceu, entrementes, que, procurando os assentos da távola redonda, acharam: “Aqui deve ser fulano e aqui fulano.” E quando chegaram ao assento perigoso, encontraram letreiro recentemente escrito que dizia: “A quatrocentos e cinquenta e três anos cumpridos da morte de Jesus Cristo, em dia de Pentecostes, deve haver este assento senhor.”

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitELatluj9DumeG4BYKw6Ai5WFbOonaecdcYkl8tsItKPtLJrihciS-Y1VdVpYRFvf28SSUIwwbslAfzbBq4dizuDwquh9JY_aULj7Hs86fmWpbdmJnbmNkCUKaNW6QTHpUXd8mYDo7_oHtdv-bzEZA4YMhpiiXLEC3OnnFCuSN4lBNN646D-RFevvrwA/s320/Holygrail.jpg


        — Por Deus, disse Lancelote, quando esta maravilha ouviu: pois hoje deve haver senhor, porque da morte de Jesus Cristo a este Pentecostes há quatrocentos e cinquenta e três anos. E bem quereria, se pudesse, que este letreiro ninguém visse, até que viesse aquele que o há de acabar.

        E eles disseram:

        — Nós guardaremos bem.

        Então cobriram o assento com um pano de seda vermelha, assim como os outros estavam cobertos.

        Quando o rei veio da igreja, a rainha foi para a câmara com todas as suas donzelas e companhia. E o rei perguntou se era hora de comer.

        — Senhor, disse Quéia, já tempo é de comer, pois já está perto de meio dia; mas se vosso costume, que mantivestes até aqui em todas as grandes festas, quereis manter, não me parece que comer possais, porque em tão grande festa como esta não aconteceu ainda aventura nenhuma; e enquanto aventura não vos acontecesse, não costumáveis comer em nenhuma grande festa.

        — Verdade é, disse o rei; este meu costume mantive sempre desde que fui rei e manterei enquanto viver. E pelas grandes aventuras que na minha corte acontecem, chamam-me rei aventuroso; e por isso manterei as aventuras, porque, a partir da época em que deixarem de acontecer, bem sei que a Nosso Senhor não agradará que muito eu reine daí em diante. Mas assim como as aventuras costumavam acontecer nas festas grandes, nesta sei bem que no dia de hoje não faltarão, antes acontecerão as maiores e as mais maravilhosas que nunca aconteceram, pois adivinha meu coração isto. Não me incomodo de esperarmos um pouco, pois bem sei verdadeiramente que nossa festa não será hoje sem aventura, mas tive tão grande prazer com a vinda de Lancelote e de seus coirmãos, que me esquecia o costume.

        Como o cavaleiro caiu da janela bradando. Enquanto o rei isto dizia, dom Lancelote e muitos outros cavaleiros olhavam para umas janelas que davam para um regato e viram lá estar um cavaleiro que era natural de Irlanda, muito fidalgo e bom cavaleiro de armas, de muito grande fama e muito bem vestido. E estava pensando tanto, que ninguém o podia acordar de seu pensar, de modo que não prestava atenção à festa nem à corte. E quando estava assim pensando, deu um grito:

        — Ai! desgraçado de mim, estou morto!

        E deixou-se cair da janela e quebrou-lhe o pescoço. E os cavaleiros que lá estavam foram até ele para ver o que era e acharam que lhe saía pela boca e pelas narinas chama de fogo tão forte como se fosse de um forno aceso, e tinha em suas mãos uma carta que lhe escapou. Os cavaleiros pegaram a carta, e o rei chegou lá com seus cavaleiros para ver aquela maravilha. E porque era companheiro da távola redonda, quando o rei viu que estava morto, mandou que o levassem fora do paço, porque não quis que sua corte fosse perturbada com ele. E então o levaram para fora com muito grande dificuldade, porque queimava tanto que toda a roupa tinha virado cinza, e não se podia a ele chegar ninguém que não se queimasse, e, posto ele fora do paço, novamente começaram sua alegria como antes e muito tinham grande pesar todos do cavaleiro, porque era muito estimado. Ao rei, muito pesava, mas não o ousava mostrar para não ficar a corte mais triste. E depois que soube que estava na igreja, disse:

        — Cavaleiros, agora podeis comer, porque já por aventura maravilhosa não deixareis de comer, pois me parece muito estranha esta aventura.

        Como o escudeiro disse ao rei as novas da pedra. E eles disto falando, eis que vem um escudeiro que disse ao rei:

        — Senhor, eu vos trago as mais maravilhosas novas de que ouvistes falar.

        — E que novas são? disse o rei, dizei-no-las.

        — Neste vosso paço, aportou agora uma pedra de mármore, na qual está metida uma espada, e sobre esta pedra, no ar, está uma bainha. E eu vos digo que vi a pedra nadar sobre a água, como se fosse madeira.

        E o rei, que o teve por chufa, disse-lhe se podia ver esta pedra. Então disse o escudeiro:

        — Já estão lá muitos cavaleiros da vossa companhia para ver aquela maravilha.

        E o rei, assim que isto ouviu, foi logo para lá com sua companhia de homens bons. E Lancelote, apenas soube o que era, logo foi para lá atrás deles; e Heitor e Persival, que já haviam visto, queriam ver, entre tão grande companhia como lá estava reunida, se haveria alguém que desse cabo agora daquela aventura.

        Quando o rei chegou à ribeira e viu a pedra e a espada que nela estava metida, pelo encantamento de Merlim, assim como o conto já referiu, e uma bainha que estava perto dela no meio do ar, e o letreiro que Merlim fizera, ficou todo espantado.

        — E, amigos, disse ele, novas vos direi. Ora, sabei que por esta espada será conhecido o melhor cavaleiro do mundo, porque esta é a prova pela qual se há de saber; e nenhum, se não for o melhor cavaleiro do mundo, poderá sacar a espada desta pedra.

        [...]

A Demanda do Santo Graal. Texto sob os cuidados de MEGALE, Heitor.  São Paulo: T. A. Queiroz – Editora da Universidade de São Paulo, 1988, p. 29-31.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 516-518.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o clima geral na corte do Rei Artur no início do fragmento?

      Há um clima de expectativa e alegria pela chegada de Lancelote, Boorz e Leonel, pois sua presença é importante para a festa.

02 – O que é a "távola redonda" e qual a sua importância?

      A távola redonda é uma mesa lendária do Rei Artur, onde se reuniam os mais nobres e corajosos cavaleiros do reino. Ela simboliza igualdade entre os cavaleiros e é palco de muitas aventuras e feitos heroicos.

03 – O que é o "assento perigoso" e qual a inscrição que aparece nele?

      O assento perigoso é um lugar na távola redonda reservado para um cavaleiro especial. A inscrição que aparece nele diz: "A quatrocentos e cinquenta e três anos cumpridos da morte de Jesus Cristo, em dia de Pentecostes, deve haver este assento senhor."

04 – Por que Lancelote fica preocupado com a inscrição no assento perigoso?

      Lancelote percebe que a data na inscrição coincide com o dia de Pentecostes em que estão, e teme que a revelação do cavaleiro destinado a ocupar o assento perigoso possa trazer algum tipo de perturbação ou desafio.

05 – Qual é o costume do Rei Artur em relação às grandes festas?

      O Rei Artur tem o costume de não comer em grandes festas até que alguma aventura aconteça em sua corte.

06 – O que acontece com o cavaleiro que é encontrado perto das janelas?

      O cavaleiro, que estava em um estado de transe, tem um acesso de fúria e se joga da janela, morrendo.

07 – Qual é a reação dos cavaleiros ao verem o corpo do cavaleiro morto?

      Os cavaleiros ficam perplexos ao verem que o corpo do cavaleiro emana chamas de fogo.

08 – Que novas maravilhosas o escudeiro traz ao rei?

      O escudeiro traz a notícia de que uma pedra de mármore com uma espada cravada apareceu no paço, e que a pedra está flutuando na água.

09 – O que significa a espada na pedra, segundo o rei?

      Segundo o rei, a espada na pedra é um teste para identificar o melhor cavaleiro do mundo, pois apenas ele será capaz de retirar a espada da pedra.

10 – Qual é a importância de Merlim na história da espada na pedra?

      Merlim, o mago, é quem criou o encantamento da espada na pedra, como forma de revelar o verdadeiro rei ou líder.

 

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