quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

POEMA: HORAS MORTAS - CESÁRIO VERDE - COM GABARITO

 Poema: HORAS MORTAS

            Cesário Verde

O teto fundo de oxigênio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-se a quimera azul de transmigrar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJRNLkpylOfkWtj2oX9wHog8hq0zRPx4FjXyRw1E2n7BCM7yAIZbqIYQcnsXSOnu8TaGzZGt4Y574SLnPsBM-z6jcwRQvihDGp9aVVJV-enfsgdaAjJzjsCF85CdLPOcK1BZWLS1IF4BsSKWvPM7miAfbBeodY6h0VY_p9fh29Vw-s-cln2plPKgmeeQw/s1600/HORAS.jpg



Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nômadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, os imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Junho, 1880. VERDE, Cesário. Poesias. Rio de Janeiro: Agir, 1967, p. 52-54.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 380-381.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "Horas Mortas"?

      O poema "Horas Mortas" explora a dualidade entre o sonho e a realidade, a esperança e a desesperança, a beleza e a feiura, a vida e a morte, através da descrição de uma paisagem urbana noturna e opressora.

02 – Descreva a atmosfera do ambiente urbano apresentado no poema.

      O ambiente urbano é descrito como sombrio, opressivo e claustrofóbico. Predominam elementos como a escuridão, o silêncio, a sujeira, a violência e a sensação de isolamento. A cidade é personificada como um "monstro" que aprisiona e oprime seus habitantes.

03 – Quais são os sentimentos expressos pelo eu lírico ao longo do poema?

      O eu lírico expressa uma variedade de sentimentos, como angústia, tédio, solidão, medo, desesperança e, ao mesmo tempo, um anseio por um futuro melhor, um desejo de transcendência e de alcançar a perfeição.

04 – Que elementos do poema podem ser interpretados como símbolos da opressão e da desigualdade social?

      Diversos elementos podem ser interpretados como símbolos da opressão e da desigualdade social, como os "portões" e "arruamentos" que representam a divisão social, os "taipais" e "fechaduras" que simbolizam o isolamento e a exclusão, os "olhos dum caleche sangrentos" que evocam a violência, e os "guardas" e "imorais" que representam a repressão e a corrupção.

05 – Qual é a importância da natureza no poema?

      A natureza surge no poema como uma civilização de um mundo puro e belo, em contraste com a realidade urbana opressora. O eu lírico evoca imagens de "mansões de vidro transparente" e de "vastidões aquáticas", expressando o desejo de um futuro em que a humanidade possa viver em harmonia com a natureza.

06 – Que recursos estilísticos são utilizados por Cesário Verde para criar a atmosfera do poema?

      Cesário Verde utiliza diversos recursos estilísticos para criar a atmosfera do poema, como a descrição detalhada de cenários urbanos, a personificação da cidade, a utilização de metáforas e comparações, a aliteração e a assonância, e a alternância entre versos longos e curtos.

07 – Qual é a mensagem principal do poema "Horas Mortas"?

      O poema "Horas Mortas" é um retrato crítico da vida urbana moderna, expondo a opressão, a desigualdade social e a alienação que caracterizam as grandes cidades. Ao mesmo tempo, o poema expressa a esperança em um futuro melhor, um anseio por um mundo mais justo e harmonioso, onde a beleza e a liberdade possam florescer.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário