domingo, 9 de fevereiro de 2025

POEMA: NO MESMO LADO DA CANOA - ALDA ESPÍRITO SANTO - COM GABARITO

 Poema: No mesmo lado da canoa

            Alda Espírito Santo

As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia-a-dia.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7rZahEACMLZ72hz7g9Xgxb0XNiV3avWghIjBsNHpr9WMlHVnC_OJXOhASSFpwveBWSzews6LB7norhUx7L99oPTuYsnu2lkBtIyBOee0jw3L0PfpgbFR7Wp9hZGx7BvsdQisJopPGwCdkRMWk_mnX0nL5zWEZ4ERg8QNDQmgCdBe6n2nNHLa10meCah0/s320/PALAVRAS.jpg


É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta com o gandu.


Minha irmã, lavando, lavando
p'lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p'lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p'la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá
juntando-me na gamela
vadô tlebessá
a dez tostões.

Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p'la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p'los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.

Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás sombrios...
O pito dóxi arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.

Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras, Maldições.
Estou aqui, sim, irmão
nos nozados sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.

Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum pólo a outro da terra
p'los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

MEDINA, Cremilda de A. Sonha Mamana África. São Paulo: Epopeia – Secretaria de Estado da Cultura, 1987, p. 202-204.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 552-554.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema?

      O poema aborda a solidariedade e a luta em conjunto, mesmo diante das dificuldades e desigualdades. A canoa simboliza a vida e as experiências compartilhadas, enquanto os versos exploram a união e a esperança de um futuro melhor.

02 – Quem são os "irmãos" mencionados no poema?

      Os "irmãos" são pessoas comuns que enfrentam desafios diários, como o irmão contratado na roça de café, a irmã que trabalha para sustentar os filhos e aqueles que lutam pela sobrevivência no mar. São trabalhadores e trabalhadoras que compartilham a mesma condição de vida.

03 – Qual é a importância da canoa no poema?

      A canoa é um símbolo poderoso de união e de jornada coletiva. Ela representa a vida, com seus desafios e esperanças, e a necessidade de estarem juntos para enfrentar as dificuldades. Estar "no mesmo lado da canoa" significa compartilhar o mesmo destino e lutar pelos mesmos objetivos.

04 – O que significa a expressão "mãos milenárias"?

      "Mãos milenárias" representa a ancestralidade e a força do trabalho humano, transmitida de geração em geração. As mãos que trabalham na roça, no mar, na feira, são as mesmas mãos que construíram a história e carregam a esperança de um futuro melhor.

05 – Qual é o tom do poema?

      O poema tem um tom de esperança e de luta. Apesar de reconhecer as dificuldades e desigualdades, a autora expressa a crença na força da união e na possibilidade de construir um futuro mais justo e igualitário para todos.

06 – O que representa a "Praia Maravilhosa" mencionada no final do poema?

      A "Praia Maravilhosa" é um símbolo de um futuro ideal, onde todos estarão juntos, lado a lado, na canoa da vida. É um lugar de encontro e de celebração da união e da solidariedade.

07 – Qual é a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema é que, apesar das diferenças e desafios, é possível construir um futuro melhor se todos estiverem "no mesmo lado da canoa", unidos na luta por seus direitos e por uma vida mais justa e digna. A esperança é a força que impulsiona essa jornada coletiva.

 

 

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