quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

CRÔNICA: A CIDADE TRAÇADA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A cidade traçada

              Luís Fernando Veríssimo

        Toda a cidade que tem um rio é bela. Porto Alegre exagera, esparrama-se ao longo de vários que, de lambuja, se transformam num lago imenso. Com toda essa lindeza, gosto de tomar nossa cidade como modelo e temática. Tenho desenhado como ela era, como ela é e como a desejo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj-ryHhYm5mTC5cGtIpfkMRTD-tqTO_cOb5YEspgAG09B0Dqk5FjwKm6aSmpZeBTgzypdtu9A3sEYhdwI7rkBnYPQa3Yv3QZrIlPI9gj6gu1c1VOj1dUoExsKVPPOG4HTC9TMCKMGu7XCn1LhcXwVPJVPcCt1KCcV-mxPjUJ8yC8EyTX3542PrRpCKrP4/s320/PORTO%20ALEGRE.jpg


        Pode parecer estranho atribuir sexo a uma cidade. Porto Alegre, que tem alma, eu vejo feminina. Caprichosa e temperamental, é a um só tempo provinciana e avançadinha, mantendo hábitos recatados, porém sem nunca perder o compasso com o nosso tempo. Metrópole, é neurótica, opiniática e exigente. Também aldeia, é pudica, singela e dócil.

        Sensualmente lânguida, se deita estirada no seu sinuoso contorno fluvial. Dominadora e envolvente, avança voraz sobre os morros, pelos vales e pelas planuras. Impetuosa, lança-se ao alto em pontas de concreto. Fogosa, vibra entrelaçada por artérias dinâmicas e congestionadas. Carola, reza com fé na Festa dos Navegantes. Peleadora, trabalha feito louca nas oficinas do quarto distrito. Ciumenta, esconde com o muro seu perfil mais lindo.

        É faceira quando se veste com as flores do jacarandá, anunciando a primavera, e é manhosa ao se derreter nos dias tórridos de verão. Romântica, se pinta toda nos fins de tarde, no outono. Malvada, venta fria e cinzenta nas noites de inverno.

        Quando aqui cheguei, nos tempos do bonde, do rolo compressor e das balas esportivas, Porto Alegre ainda mantinha, ao menos no centro, um certo ar tradicional que lembrava Buenos Aires. Com o tempo, foi se tornando mais interesseira, substituindo seus cafés de esquina pelas agências financeiras. Além da inocência, perdeu nos últimos anos muito de sua identidade original. As matinês e as anedotas de rua, por exemplo, foram sumindo, dando lugar aos cômicos da tevê. Mas foi ganhando outras coisas que a fazem moderna, adulta e madura, como a Feira do Livro, espaços de cultura, museus, teatros, galerias de arte.

        Tanto o LFV [Luís Fernando Veríssimo] como eu conhecemos outras, é verdade. mas cada um na sua, elegemos este porto como nosso ponto de referência. Traça-la, para nós, é literalmente e graficamente um ato de amor.

VERÍSSIMO, Luís Fernando; FONSECA, Joaquim da. Traçando Porto Alegre. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1994, p. 7-8.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 366-367.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal característica da cidade de Porto Alegre, segundo o autor?

      O autor destaca a beleza da cidade, com seus rios que se transformam em um lago imenso. Além disso, ele a descreve como feminina, caprichosa, temperamental, provinciana e avançadinha, capaz de ser metrópole e aldeia ao mesmo tempo.

02 – Que tipo de comparações e personificações o autor utiliza para descrever Porto Alegre?

      O autor utiliza diversas comparações e personificações para descrever a cidade. Ele a compara a uma mulher sensual e lânguida, que se deita em seu contorno fluvial, e a descreve como dominadora, envolvente, impetuosa, fogosa, carola, peleadora e ciumenta.

03 – Como Porto Alegre se transformou ao longo do tempo, de acordo com o autor?

      O autor relata que, quando chegou à cidade, ela ainda mantinha um ar tradicional que lembrava Buenos Aires. Com o tempo, Porto Alegre se tornou mais interesseira, substituindo seus cafés por agências financeiras e perdendo parte de sua identidade original, como as matinês e as anedotas de rua.

04 – O que a cidade ganhou com essa transformação, segundo o autor?

      Apesar de perder elementos de sua identidade original, Porto Alegre ganhou outras coisas que a tornaram moderna, adulta e madura, como a Feira do Livro, espaços de cultura, museus, teatros e galerias de arte.

05 – Qual o significado da expressão "traçá-la" no contexto da crônica?

      No contexto da crônica, "traçá-la" significa desenhar a cidade, tanto no sentido literal quanto no sentido figurado. Para o autor e o LFV, traçar Porto Alegre é um ato de amor, uma forma de expressar seu carinho e sua conexão com a cidade.

 

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