Poesia: A cruz da estrada
Castro Alves
Caminheiro que passas pela
estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDrz_rmH-rctY7IsJhYwIUBRdZTJqJR2faBh5ThxySta177QTDhQ1Me8PnjG1bMAxC9JUi8QvkVdds2S8Oh7gI6HFUhLkC4ZUgkJaOT42AZAaNfm3bRKrk2P2tUxjPPZmhyphenhyphen1IWkXLTA8GNhKwFfK3V_tMa_p2IWTl2mukYWxdIYGwQWBmvo5aFHff1S0E/w173-h97/CRUZ.jpg)
Que vale o ramo do alecrim
cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.
É de um escravo humilde
sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.
Não precisa de ti. O gaturamo
Geme, por ele, à tarde, no sertão.
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.
Dentre os braços da cruz, a
parasita,
Num abraço de flores, se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.
Quando, à noite, o silêncio
habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro! do escravo
desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
CASTRO ALVES, A. Os escravos. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1964, p.
42-43.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 468.
Entendendo a poesia:
01 – Qual é o tema central do
poema "A Cruz da Estrada"?
O tema central do
poema é o respeito e a reverência devidos à sepultura de um escravo, marcada
por uma cruz à beira da estrada. O poeta convida o caminhante a não perturbar o
descanso do falecido, enfatizando a importância de seu sono e de sua liberdade
recém-conquistada.
02 – Que elementos da natureza
são mencionados no poema e qual o seu significado?
O poema menciona
diversos elementos da natureza, como o alecrim, as borboletas, o gaturamo, a
juriti, a parasita, o orvalho, o vaga-lume, as cascatas e os astros. Esses
elementos simbolizam a integração do escravo com a natureza, que se torna seu
leito de descanso e testemunha de sua história. A natureza também representa a liberdade
e a beleza que o escravo não pôde desfrutar em vida.
03 – Qual é a mensagem
principal do poema em relação à escravidão?
A mensagem
principal do poema é uma crítica à escravidão e uma exaltação da liberdade. O
poeta expressa sua compaixão pelo escravo que sofreu durante a vida e agora
pode descansar em paz. A cruz à beira da estrada se torna um símbolo da luta
pela liberdade e da memória daqueles que foram oprimidos.
04 – Que imagens poéticas são
utilizadas para descrever a sepultura do escravo?
O poema utiliza
diversas imagens poéticas para descrever a sepultura do escravo, como
"leito de verdura", "braços da cruz", "abraço de
flores" e "leito de noivado". Essas imagens evocam a ideia de um
lugar de descanso e de união com a natureza, onde o escravo encontra paz e
liberdade.
05 – Qual é o tom geral do
poema e que sentimentos ele transmite?
O tom geral do
poema é de respeito, compaixão e reverência. O poeta convida o caminhante a ter
um olhar piedoso sobre a sepultura do escravo, reconhecendo sua história de
sofrimento e sua busca por liberdade. O poema transmite sentimentos de tristeza
pela escravidão, mas também de esperança e de consolo, ao imaginar o escravo
livre e descansando em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário