quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

REPORTAGEM: OBESIDADE MUDA OFERTA DE COMIDA NO MUNDO - ROBERTO DIAS - COM GABARITO

 Reportagem: Obesidade muda oferta de comida no mundo

          Problema, causa prejuízo anual de US$ 117 bilhões nos EUA, leva companhias alimentícias a rever seus produtos.

Roberto Dias

        O crescimento da obesidade começa a mudar significativamente a oferta de comida pelo mundo.

        Após anos concentrada na demanda – ou seja, em educação alimentar das pessoas –, a pressão passa agora para o outro lado.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjEJgnmSErHE43tHHGJYB035tAN60azIgRHEe0q7v5fKDP_9USqBygOlYql6pQfauleIi4fOELRsjxBrspnRcpMYySTy8jfbsUGSfB3ivnm-ibNqOMkN0nMSC_TgEtpZcCMHFiQ6sP7JUFDyUie-xSCxCupTibkJlS4BMIq0Oxrs4lkkBmQn8wwWYLXhM/s1600/COMIDA.jpg


        A reviravolta ganhou forma com o anúncio feito na última semana pela Kraft, líder americana no setor alimentício e segunda maior empresa do tipo no mundo. A companhia vai estabelecer um teto para o tamanho das porções que vende. Irá reestudar o conteúdo de alguns produtos, de forma a torná-los menos calóricos. Cessará todo o programa de marketing dentro das escolas.

        Enquanto outras empresas trilham os passos da Kraft, autoridades públicas e organizações internacionais introduzem barreiras à oferta de comida.

        A revolução começa já no próximo ano letivo nas escolas públicas de Nova York, o maior sistema civil de alimentação dos EUA. Pizzas e nuggets vão encolher, doces irão sumir, assim como os refrigerantes, que serão tirados das máquinas de alimentação.

        Um deputado nova-iorquino apresentou uma proposta para que se cobre 1% do faturamento com comidas gordurosas e os gastos em sua publicidade. Na Califórnia, a ideia é taxar refrigerantes e repassar o dinheiro a escolas que deixem de vendê-los. Já a Associação Médica Britânica propôs recentemente imposto de 17,5% sobre comidas gordurosas.

        A OMS (Organização Mundial de Saúde) encerrou em junho uma rodada de reuniões com associações empresariais do setor. Vai condensar o debate numa estratégia global de alimentação.

        "A magnitude e a velocidade do aumento da epidemia horrorizam autoridades de saúde; os custos serão estonteantes. E a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública assustam as empresas", afirma Marion Nestlé, professora de nutrição da New York University e autora de livro sobre o tema.

        Especificamente, o anúncio mundial da Kraft é emblemático da discussão em andamento agora. Controlada pela Altria (ex-Philip Morris), gigante do setor de tabaco, ela diz que tomou tal decisão porque quer participar da reação ao problema de peso.

        "Queremos ser responsáveis e dar uma resposta à questão global da obesidade", diz Jonathan Atwood, porta-voz da empresa.

        "Queremos deixar claro que o que nós vendemos e como vendemos é feito responsavelmente em relação à maneira que as pessoas comem e à questão do peso", afirma Atwood.

        Processos judiciais

        Mas o anúncio foi seguido por intermináveis comparações entre a situação atual do setor de alimentos e a da indústria de tabaco na década passada, quando foi alvo de processos judiciais e novas regulamentações.

        "O crescimento da obesidade a proporções epidêmicas é motivo de séria preocupação para a indústria de alimentos", escreveram analistas do banco JP Morgan em relatório. "Dado o custo humano do mal, acreditamos que os governos não poderão ignorar a pressão de organizações de saúde para agir. Fabricantes de comida correm o risco de aumento nas regulações. Também acreditamos que os riscos de processos não devem ser subestimados. A indústria vai ter que rever seu marketing e se transformar."

        As empresas rebatem apontando a liberdade dos consumidores em fazer o que querem e pregam a necessidade de reeducação física e alimentar, algo repetido há anos por médicos. Do ponto de vista das empresas, o problema é que a tentativa de regular a demanda não tem contido o problema.

        "A obesidade está se tornando um problema em países como China e Índia, que eram tradicionalmente tão pobres que ninguém ficava gordo. A comida ficou tão barata que qualquer pessoa pode engordar se não tiver um trabalho que exija muita atividade física", diz Jack Calfee, do American Enterprise Institute.

        A estimativa da OMS é que os obesos somem mais de 300 milhões pelo mundo, sendo 115 milhões em países subdesenvolvidos – tradicionalmente mais preocupados com o problema oposto, a subnutrição. Doenças relacionadas ao excesso de peso representam 59% das 56,5 milhões de mortes anuais no globo.

        Nos EUA, o problema já foi declarado "epidêmico" pelo governo. Em 20 anos, a obesidade dobrou entre os adultos. A perspectiva para o futuro é pior ainda, já que os índices crescem mais rápido ainda entre as crianças – no mesmo período, triplicaram.

        Estudo do Harvard Institute of Economic Research mostra que, no período, o maior crescimento no consumo de calorias se deu nos lanches – campo dominado por produtos industrializados.

        Segundo o governo, 61% dos americanos estão acima do peso, e 27% deles são obesos (ou seja, com índice de massa corpórea a partir de 30). Há mais gente sofrendo com a balança do que fumando diariamente ou enfrentando problemas de alcoolismo.

        Por ano, o prejuízo nos EUA por causa da obesidade é de US$ 117 bilhões (pouco menos que todo o PIB do Peru, por exemplo). O número incluiu as perdas econômicas com mortes precoces, queda de produtividade e investimento extra em saúde. Levantamento da Rand Corporation indica que obesos gastam 77% mais em medicamentos do que quem não tem problemas de peso.

        Frase

        “A magnitude e a velocidade do aumento da epidemia horrorizam autoridades de saúde; os custos serão estonteantes. E a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública assustam as empresas”.

Marion Nestlé. Professora de nutrição da NYU.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 222-223.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é o principal problema abordado na reportagem?

      A reportagem aborda o crescimento da obesidade como um problema global que está levando empresas e autoridades a repensarem a oferta de alimentos.

02 – Qual é a principal mudança observada na abordagem do problema da obesidade?

      A principal mudança é que, além da educação alimentar, a pressão agora se concentra na oferta de alimentos, com empresas e órgãos públicos introduzindo medidas para limitar o tamanho das porções, reduzir o teor calórico dos produtos e restringir o marketing de alimentos não saudáveis.

03 – Que medidas a Kraft, líder americana no setor alimentício, anunciou que irá adotar?

      A Kraft anunciou que irá estabelecer um teto para o tamanho das porções que vende, reestudar o conteúdo de alguns produtos para torná-los menos calóricos e cessar todo o programa de marketing dentro das escolas.

04 – Que tipos de medidas estão sendo introduzidas por autoridades públicas e organizações internacionais para combater a obesidade?

      Autoridades públicas e organizações internacionais estão introduzindo barreiras à oferta de comida, como a restrição de alimentos não saudáveis em escolas, a proposta de taxar alimentos gordurosos e seus anúncios, e a criação de uma estratégia global de alimentação pela OMS.

05 – Qual é a preocupação da professora de nutrição Marion Nestlé em relação à obesidade?

      Marion Nestlé destaca a magnitude e a velocidade do aumento da epidemia de obesidade, que horrorizam autoridades de saúde, e os custos estonteantes que ela acarretará. Além disso, ela menciona a ameaça de processos, novas leis e hostilidade pública que assustam as empresas do setor alimentício.

06 – Qual é a justificativa da Kraft para tomar medidas para combater a obesidade?

      A Kraft afirma que tomou essa decisão porque quer participar da reação ao problema de peso e se mostrar responsável em relação à maneira como vende seus produtos e à questão da obesidade.

07 – Que comparação é feita na reportagem entre a situação atual do setor de alimentos e a da indústria de tabaco no passado?

      A reportagem compara a situação atual do setor de alimentos, que enfrenta processos judiciais e novas regulamentações devido à obesidade, com a situação da indústria de tabaco na década passada, quando passou por problemas semelhantes.

08 – Qual é a opinião das empresas do setor alimentício em relação à necessidade de combater a obesidade?

      As empresas defendem a liberdade dos consumidores em fazer o que querem e pregam a necessidade de reeducação física e alimentar, argumentando que a tentativa de regular a demanda não tem sido suficiente para conter o problema da obesidade.

09 – Qual é a estimativa da OMS em relação ao número de obesos no mundo?

      A estimativa da OMS é que os obesos somem mais de 300 milhões pelo mundo, sendo 115 milhões em países subdesenvolvidos.

10 – Qual é o prejuízo anual nos EUA por causa da obesidade, de acordo com a reportagem?

      De acordo com a reportagem, o prejuízo anual nos EUA por causa da obesidade é de US$ 117 bilhões, incluindo perdas econômicas com mortes precoces, queda de produtividade e investimento extra em saúde.

 

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