Notícia: Os perigos do mar
Carlos Nobre
Claro que eu não sou nenhum Dorival
Caymmi, mas de mar – não é pra me gambá – eu manjo. E posso dizer uma coisa
procês: por ser traiçoeiro às pampas, é o negócio mais fio da mãe do mundo. Portanto,
muito cuidado com ele.
Recomendo aos banhistas acreditar nas
bandeiras hasteadas nos postos. Se for branca, tudo legal, sinal que o mar tá
de bom humor, hospitaleiro, numa boa. Agora, meu camaradinha, se o que tremula
é a bandeira vermelha, não te besteia e não entra além do tornozelo, que o
repuxo te engole. Vá prum bar, prum joguinho de cartas com os amigos. Enfim, vá
pro raio que o parta, menos pro mar, porque voltar pra casa morto por
afogamento esculhamba qualquer veraneio. E se o distinto morrer, passa pelo
vexame de voltar recambiado pra areia firme nos braços de dois salva-vidas e
ainda por cima levar um chupão na boca dado por um baita sujeito com boca em
forma de frô. Apesar de tudo, encare o sujeitão e não ligue pro vexame. Portanto,
não se vexe: se a barra estiver pesada pro teu lado nas funduras, levante o
braço que a moçada vai te pegar.
Sobretudo, não brinque com o mar,
principalmente com esse nosso, que é todo abertão. O desgranido pode tá com a
cara calma, cochilando, se fazendo de morto, de repente te apronta uma de
lascar que pode ser um valão, uma mãe-d’água, uma caibra, uma corrente
traiçoeira que quietinha vai levando a vítima lá pra arrebentação. Pra quem não
tá acostumado, a arrebentação – que é a linha onde as ondas se quebram – é
desesperadora, porque não dá aparentemente chance de sair. Se você, entretanto,
conseguir por graça de Iemanjá, te manda rápido, porque o mar já encheu o peito
pra te jogar mais uma porção de bombas que só alegram surfistas. Falar em surfistas,
jamais fique perto deles que você pode levar uma pranchada na boca e se
transformar num 1001.
Bão, pra encerrar estas recomendações,
melhor seguir a do João Miranguaia, velho pescador de Tramandaí, que chama o
mar de Tinhoso, com o maior respeito:
-- O Tinhoso só tem três perigo: quando
tá quieto, quando tá arreliado e quando tá com a cachorra.
Mas não é só na água que tá o perigo,
não. Também tá no sol, principalmente aquele solão forte perto do meio-dia.
Evite de se expor de peito aberto que você acaba se ralando todo. Como um amigo
nosso que se expôs tanto que teve de dormir uma semana pendurado pela língua!
Zero Hora. Porto
Alegre, 18/1/85, p. 39.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 346-347.
Entendendo a notícia:
01 – Qual é o principal alerta
dado pelo autor sobre o mar?
O autor alerta
que o mar é traiçoeiro e perigoso, e que os banhistas devem ter muito cuidado.
Ele enfatiza que o mar pode parecer calmo e inofensivo, mas pode surpreender
com valões, mães-d'água, caibras e correntes traiçoeiras.
02 – Qual a importância de
seguir as indicações das bandeiras nos postos de salva-vidas?
As bandeiras nos postos
de salva-vidas indicam as condições do mar. A bandeira branca significa que o
mar está seguro para banho, enquanto a bandeira vermelha indica perigo e que
não se deve entrar na água. O autor recomenda seguir rigorosamente essas
indicações para evitar acidentes.
03 – O que é a
"arrebentação" e qual o perigo que ela representa?
A arrebentação é
a área onde as ondas quebram. Para quem não está acostumado, essa área pode ser
desesperadora, pois aparentemente não oferece chances de sair. O autor alerta
que o mar joga várias ondas seguidas nessa área, dificultando ainda mais a
saída.
04 – Qual a recomendação do
autor em relação aos surfistas?
O autor recomenda
que os banhistas jamais fiquem perto dos surfistas, pois podem ser atingidos
por uma prancha e sofrerem ferimentos.
05 – Qual a principal
recomendação do pescador João Miranguaia sobre o mar?
O pescador João
Miranguaia, de Tramandaí, chama o mar de Tinhoso e diz que ele tem três
perigos: quando está quieto, quando está agitado e quando está com a
"cachorra" (maré de enchente). Essa recomendação reforça a ideia de
que o mar é sempre perigoso, independentemente de sua aparência.
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