Poema: Agosto 1964
Ferreira Gullar
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estada de Ferro – Leblon
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Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções de juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista dos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira.
Dentro da noite veloz
& Poema sujo. São Paulo: Círculo do livro. s.d. p. 55.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães. Ensino Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p.
492.
Entendendo o poema:
01 – Qual é o contexto
histórico e social retratado no poema "Agosto 1964"?
O poema, "Agosto
1964" de Ferreira Gullar foi escrito durante um período de grande
repressão política no Brasil, logo após o golpe militar de 1964. O país
vivenciava uma atmosfera de medo, censura e perseguição, com a instauração da
ditadura militar.
02 – Qual é a principal emoção
expressa pelo poeta no poema?
O poeta expressa
principalmente a frustração e a desilusão diante da realidade política e social
do país. Ele se mostra "fatigado de mentiras" e descreve um ambiente
opressor, onde a poesia é submetida a "inquérito policial-militar" e
o peso dos impostos sufoca a liberdade de expressão.
03 – O que o poeta quer dizer
com os versos "Adeus, Rimbaud, relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções de juventude"?
Nesses versos, o
poeta se despede de ideais e movimentos artísticos que representavam a
liberdade e a esperança de um futuro melhor. Ele reconhece que a realidade
daquele momento histórico o afasta dessas "ficções de juventude" e o
coloca diante de um mundo mais cruel e opressor.
04 – Como o poeta relaciona a
experiência da opressão com a criação artística no poema?
O poeta mostra
que, mesmo diante da opressão, da injustiça e da violência, é possível
transformar a dor em arte. Ele afirma que "do salário injusto, da punição
injusta, da humilhação, da tortura, do terror" é possível retirar algo e
construir um "artefato", um poema, uma bandeira. A arte, nesse
contexto, surge como uma forma de resistência e de expressão da esperança.
05 – Qual é a mensagem final
do poema "Agosto 1964"?
A mensagem final
do poema é um chamado à resistência e à luta pela liberdade, mesmo em tempos de
escuridão. O poeta se recusa a abandonar o mundo e a vida, que são seu
"reduto e reino", e reafirma a importância da arte como forma de
expressão e de resistência diante da opressão.
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