Texto: Usar piercings e tatuagens – “Não"
Haylton Santos
O uso do piercing me passa a ideia do
“ter que ter”, do ter que usar “porque minha tribo está usando”. Algo como a
caneta Montblanc para os executivos.
Mesmo pensando na questão por um ângulo
puramente estético, o piercing não me agrada. Eu ainda prefiro, por exemplo, os
inúmeros aros no pescoço das africanas, ou os ossos e argolas dos poucos índios
que nos restam. Além de me parecerem mais consistentes em sua beleza
particular, tais enfeites têm significado cultural que ultrapassa uma fase de
vida.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh2c64IdHkP659YTe9U8wHrg0F_2_POgQaHVljRb6VUnX0iLYx9SSsCQjmSXJEVw_k0HRb6L3v4EUSTXG_YwtLzDbGhxYIeVjotapBFeHdOU4VY8r0uDeGRbBCFMOzZgLM7ZDMv7B9ZY_oCoOQ7j-sEQseFlRYtX4lcRekrPyw1cIBhVf8vpGEwvqDF5A/w176-h98/z1-1.jpg)
Sabemos que as nossas tribos
adolescentes não duram mais que alguns anos e que cada indivíduo deverá se
inserir em muitas outras “tribos” ao longo de sua vida. As cicatrizes
permanentes que os fetiches adolescentes dos últimos tempos têm acarretado
(tatuagens, piercings ou cicatrizações) aumentam a responsabilidade dos
adultos, no sentido de reforçar no jovem a informação e o compromisso
consciente com suas escolhas, além do imediato e dos modismos, mesmo que seja
um simples piercing (simples mesmo?). Tais escolhas passam também pelas
questões relativas à saúde, hoje cada vez mais entendida como um valor
cultural. Também me parece que, além de deixar uma marca indelével, o piercing
– dependendo do lugar em que for colocado – não é propriamente higiênico.
Alguns entendem o uso de enfeites
perfurando o corpo como manifestação do antagonismo próprio do adolescente,
questionamento ou crítica à sociedade, ou tentativa de chocar. Para mim, isso
carece de solidez: tem mais jeito de regras e normas, ou apego exagerado ao
modismo. O espírito transformador e crítico é a colaboração mais rica que a
juventude tem para dar à sociedade. Sociedade que pede, hoje, atitudes
prioritárias em relação à AIDS, às drogas e à responsabilidade social, por
parte de jovens mais autônomos e mais conscientes.
Afinal... eu não gostaria que minhas
filhas usassem piercings, porque é um símbolo que definitivamente não me atrai.
Mas como essa é uma opinião pessoal, se alguma delas insistir em pendurá-los
pelo corpo, eu de minha parte vou continuar usando minha caneta Bic, ou outra
qualquer que estiver à mão.
Haylton Santos. Revista
Pais e Filhos. Pais&Teens, nº 3.
Fonte: Livro – Português:
Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino
Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 136-137.
Entendendo o texto:
01 – Qual é a principal
crítica do autor em relação ao uso de piercings?
O autor critica a
ideia de que o uso de piercings se tornou uma moda passageira, como um
"ter que ter" imposto por tribos adolescentes, sem significado
cultural duradouro como os adornos de culturas tradicionais africanas e
indígenas.
02 – Que preocupações o autor
levanta sobre as escolhas de piercings e tatuagens entre adolescentes?
O autor se
preocupa com a falta de informação e compromisso consciente dos jovens ao
fazerem escolhas permanentes como tatuagens e piercings, além das questões de
higiene e saúde relacionadas, já que tais escolhas podem ter consequências
negativas a longo prazo.
03 – Qual é a visão do autor
sobre a alegação de que piercings e tatuagens são formas de expressão e
antagonismo adolescente?
O autor discorda dessa visão,
argumentando que tais práticas são mais ligadas ao modismo do que a um real
espírito crítico e transformador, que ele considera mais valioso para a
sociedade.
04 – O que o autor prioriza
como atitudes mais importantes para os jovens na sociedade atual?
O autor prioriza
atitudes de maior responsabilidade social, como a conscientização sobre AIDS,
drogas e a necessidade de ações que contribuam para o bem-estar da comunidade.
05 – Qual é a opinião pessoal
do autor sobre o uso de piercings por suas filhas?
O autor expressa
que não gostaria que suas filhas usassem piercings, pois não se sente atraído
por esse símbolo. No entanto, reconhece que é uma opinião pessoal e que
respeitará a decisão delas caso insistam em usar piercings, demonstrando que
sua preocupação é com a conscientização e não com a imposição.
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