Soneto: Dos tórridos sertões, pejados d’ouro
Bocage
Dos tórridos sertões, pejados
d’ouro,
Saiu um sabichão d’escassa
fama,
Que os livros preza, os
cartapácios ama,
Que das línguas repartem o
tesouro:
Arranha o persiano, arranha o
mouro,
Sabe que Deus em turco Alá se
chama;
Que no grego alfabeto o G é
gama,
Que taurus em latim quer dizer
touro:
Para papaguear saiu do mato:
Abocanha talentos, que não
goza;
É mono, e prega unhadas como
gato:
É nada em verso, quase nada em
prosa:
Não conheces, leitor, neste
retrato
O guapo charlatão Tomé
Barbosa?
BOCAGE. Antologia
escolar portuguesa. Rio de Janeiro: MEC-Fename, 1970, p. 232.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 533.
Entendendo o soneto:
01
– Quem é o personagem retratado no soneto?
O personagem
retratado é um "sabichão" que saiu dos sertões, um homem que se
vangloria de seu conhecimento, mas que, na verdade, possui apenas uma erudição
superficial e pedante.
02
– Qual é a crítica principal do soneto?
A crítica
principal do soneto é dirigida àqueles que ostentam um conhecimento superficial
e fragmentado, usando-o para se promover e menosprezar os outros, em vez de
aplicá-lo de forma útil e genuína.
03
– Que elementos do soneto evidenciam a crítica ao personagem?
Vários elementos
evidenciam a crítica:
"Escassa fama":
já no primeiro verso, o poeta indica que o personagem não é reconhecido por sua
sabedoria, mas sim por sua pretensão.
"Arranha o persiano,
arranha o mouro": a repetição do verbo "arranhar" sugere que
o conhecimento do personagem é apenas superficial e incompleto.
"Sabe que Deus em
turco Alá se chama": o verso destaca a erudição pedante do personagem,
que se preocupa com detalhes triviais em vez de buscar um conhecimento mais
profundo.
"Para papaguear saiu
do mato": a metáfora do papagaio reforça a ideia de que o personagem
apenas repete o que ouve, sem compreender o significado.
"Abocanha talentos,
que não goza": o personagem se apropria de ideias e conhecimentos que
não são seus, sem realmente compreendê-los ou utilizá-los de forma produtiva.
"É mono, e prega
unhadas como gato": a comparação com um macaco que imita os outros e
com um gato que ataca sem motivo revela a natureza pretensiosa e agressiva do
personagem.
"É nada em verso,
quase nada em prosa": o verso final resume a inutilidade do
conhecimento do personagem, que não se traduz em nenhuma produção intelectual
relevante.
04
– Qual é a forma poética do texto e quais são suas características?
O texto é um
soneto, uma forma poética composta por 14 versos, geralmente em decassílabos,
divididos em dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos
(estrofes de três versos). O soneto possui rimas ricas e segue um esquema
métrico e rítmico específico. No caso do soneto em questão, o autor explora a
descrição do personagem e a crítica à sua pretensão, utilizando recursos
poéticos como metáforas, comparações e adjetivações expressivas.
05
– Quem é Tomé Barbosa, mencionado no último verso?
Tomé Barbosa é um personagem histórico, um advogado e poeta
português do século XVIII, conhecido por sua vaidade e erudição superficial.
Bocage utiliza a figura de Tomé Barbosa como exemplo do tipo de
"sabichão" que ele critica no soneto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário