sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

SONETO: DOS TÓRRIDOS SERTÕES, PEJADOS D'OURO - BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Dos tórridos sertões, pejados d’ouro

              Bocage

Dos tórridos sertões, pejados d’ouro,

Saiu um sabichão d’escassa fama,

Que os livros preza, os cartapácios ama,

Que das línguas repartem o tesouro:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnOPdWTqRTP4ko1x2OLLZqx7c8RauNPzzUibg986Ww9fMMjALH2VfWZ-rU6l9E2xIW2HPaRsCCfP0yJpNeLZ_9g3t0JG2sfHrYxJgQWx7quXoX8SG2ADaZ2XxgKdsbPdTlouTNWqdER5-TENTVpE7cobjAE8NIz-tRW9up8uZHCsBkY-U4SNZxvJG0un4/s320/SERT%C3%83O.jpg

 

Arranha o persiano, arranha o mouro,

Sabe que Deus em turco Alá se chama;

Que no grego alfabeto o G é gama,

Que taurus em latim quer dizer touro:

 

Para papaguear saiu do mato:

Abocanha talentos, que não goza;

É mono, e prega unhadas como gato:

 

É nada em verso, quase nada em prosa:

Não conheces, leitor, neste retrato

O guapo charlatão Tomé Barbosa?

BOCAGE. Antologia escolar portuguesa. Rio de Janeiro: MEC-Fename, 1970, p. 232.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 533.

Entendendo o soneto:

01 – Quem é o personagem retratado no soneto?

      O personagem retratado é um "sabichão" que saiu dos sertões, um homem que se vangloria de seu conhecimento, mas que, na verdade, possui apenas uma erudição superficial e pedante.

02 – Qual é a crítica principal do soneto?

      A crítica principal do soneto é dirigida àqueles que ostentam um conhecimento superficial e fragmentado, usando-o para se promover e menosprezar os outros, em vez de aplicá-lo de forma útil e genuína.

03 – Que elementos do soneto evidenciam a crítica ao personagem?

      Vários elementos evidenciam a crítica:

      "Escassa fama": já no primeiro verso, o poeta indica que o personagem não é reconhecido por sua sabedoria, mas sim por sua pretensão.

      "Arranha o persiano, arranha o mouro": a repetição do verbo "arranhar" sugere que o conhecimento do personagem é apenas superficial e incompleto.

      "Sabe que Deus em turco Alá se chama": o verso destaca a erudição pedante do personagem, que se preocupa com detalhes triviais em vez de buscar um conhecimento mais profundo.

      "Para papaguear saiu do mato": a metáfora do papagaio reforça a ideia de que o personagem apenas repete o que ouve, sem compreender o significado.

      "Abocanha talentos, que não goza": o personagem se apropria de ideias e conhecimentos que não são seus, sem realmente compreendê-los ou utilizá-los de forma produtiva.

      "É mono, e prega unhadas como gato": a comparação com um macaco que imita os outros e com um gato que ataca sem motivo revela a natureza pretensiosa e agressiva do personagem.

      "É nada em verso, quase nada em prosa": o verso final resume a inutilidade do conhecimento do personagem, que não se traduz em nenhuma produção intelectual relevante.

04 – Qual é a forma poética do texto e quais são suas características?

      O texto é um soneto, uma forma poética composta por 14 versos, geralmente em decassílabos, divididos em dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). O soneto possui rimas ricas e segue um esquema métrico e rítmico específico. No caso do soneto em questão, o autor explora a descrição do personagem e a crítica à sua pretensão, utilizando recursos poéticos como metáforas, comparações e adjetivações expressivas.

05 – Quem é Tomé Barbosa, mencionado no último verso?

      Tomé Barbosa é um personagem histórico, um advogado e poeta português do século XVIII, conhecido por sua vaidade e erudição superficial. Bocage utiliza a figura de Tomé Barbosa como exemplo do tipo de "sabichão" que ele critica no soneto.

 

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