quarta-feira, 4 de junho de 2025

CONTO: A PALAVRA - SANTIAGO VILLELA MARQUES - COM GABARITO

 Conto: A palavra

           Santiago Villela Marques

        A mãe sobe o morro. Passo difícil para uma velha que já fez três filhos homens.

        Desafio maior, porém, é este por vir. Enfrentar o prefeito do tráfico é empreitada temerária, mesmo para quem já se acostumou à brutalidade do macho. Mesmo para fêmeas como esta, que madurou à força de porrada do marido e palavrão e afronta das crias.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMplnQGD1PZmakCmvpMeASWBtA2muO0dsBKxM7dAlpm4rGl5GZYKGxWpkONKZRtB6YBZL58CVZAXiGnP05rpv9m7HBbb7DodPqxVEZQhAGzfotoTkH2Jo-CBhnrzZ1FcvxA-5TUTaDIF7tNTVZrmSMFw-eMZ7P3l4S1R75Jik6dssFl_LDfrTGcFP0FFE/s1600/images.png

        A favela passou o dia nervosa e em preparativos. Nesta hora do crepúsculo, se agita como um animal furtivo, esperando o tempo de botar fora da toca o focinho. Escorregando no horizonte, um sol bêbado espia atrás dos barracos, o olho sangrento. As sombras que caem nas soleiras parecem multiplicar as vias e ruelas, povoadas, elas também, de olhos à espreita, os canos de revólveres e fuzis desconfiados se insinuam nas esquinas.

        Sem deter o passo, Dona Nazária percorre o labirinto de feras tocaiadas, indiferente a rosnados e dentes à mostra. Desliza morro acima, até o barraco do dono das bocas. Sobe o último degrau.

        O brutamonte armado ergue o peito na frente da porta. Ela o encara e faz entender que é capaz de tirar o chinelo e lhe dar um corretivo se quiser impedi-la:

        -- Preciso lembrar o que é que faz uma mãe?

        -- Que é isso, minha tia – respondei o outro, relaxando o corpo, mas sem sair do posto. – Minha velha já é comida de bicho faz ano.

        -- Pois eu acabo de te adotar. Então toma tento. Nazária põe a mão na cintura:

        -- Quero ver o chefe.

        -- O chefe está ocupado. Vocês já receberam ordem pra não sair de casa hoje.

        -- Pois saí e deu trabalho chegar aqui. Não volto sem palavra com ele.

        -- Não posso deixar.

        Ela procura um banco. Agora sente que os pés ardem da subida. Dobra uma perna e retira o chinelo. O porteiro recua e retesa a mão no fuzil.

        -- Vem cá, mocinho. É isso que você vai contar pra sua velha amanhã, quando acender uma vela de Dia das Mães? Que o herói salvou o chefe de uma costureira com calo no pé? A favela inteira já sabe do “salve geral”. Segredo é que nem droga, meu filho: de mão em mão corre sertão. Eu preciso falar com seu chefe é disso mesmo.

        O outro ainda desconfia um restinho. Baixa os olhos no chinelo. Por fim grita para dentro do barraco:

        -- Tem uma velha aqui pedindo palavra.

        A resposta não vem logo. Dona Nazária calça o chinelo antes de ouvir a ordem do fundo:

        -- Se não estiver armada, deixa entrar.

        O guarda pendura o fuzil no ombro e se apruma para revista-la. Ela firma os olhos e endurece o queixo. O bruto se desarma.

        -- Tá bem, entra lá, Dona Nazária.

        Outros três grandalhões vigiam a casa por dentro. O dono das bocas risca um mapa na mesa.

        -- Fala logo, mulher. Você sabe que hoje é dia de serão.

        -- Vim mandar você liberar o Rubinho.

        O traficante empurra o mapa, atira o lápis sobre a mesa.

        Os três guardas se entreolham. Tosses, pigarros, dedos nervosos. Todo o mundo sabe que é preciso zelas na palavra que se usa com traficante. Tem verbo que é propriedade de chefe. “Mandar”, por exemplo. Só dono de boca conjuga em primeira pessoa. Dona Nazária descompunha a gramática.

        -- Você já mandou pra morte meu marido e os dois filhos. Nenhum dos meus homens foi meu. Você tomou tudo, viveram pra você e morreram pra você. O caçula, não. Esse é meu. Sei que você convocou toda a favela pro confronto do comando com a polícia. Rubinho não vai. Vim exigir essa palavra. Você me promete que ele vai ficar em casa hoje e eu vou embora.

        Dona Nazária não é boba. É mãe. Sabe que é o dia da guerra, mas também é Dia das Mães, e o traficante já não tem a quem presentear. Ela aprendeu com a novela a fraqueza desses bandidos durões: cara feia e coração mole.

        -- Tudo bem. Prometo que seu filho passará o fim de semana com a senhora. Este é meu presente de Dia das Mães.

        Ela procura soltar devagar o ar sufocado, para não deixar notar o alívio. Vinha aflita, confiante na versão da novela, mas temerosa com as lições da experiência. A generosidade do dono das bocas é ambígua, oblíqua, nunca se tem certeza de se obter benevolência. É homem de oferecer a vida, mas também de retirá-la, com a lógica de uma roleta de cassino.

        Uma vez, porém, confirmada a graça, é infalível como os deuses. Por isso esta mãe fica em paz. Sabe que palavra do chefe é irrevogável. Ele tinha adquirido daí o nome respeitados de Benito-Boa-Fé.

        A palavra não é de ninguém. Palavra não tem dono, por isso tem que ser respeitada. E a lei não está no escrito, mas no pensado. É o que Benito-Boa-Fé aprendeu quando estagiou na Febem, preso na lida de avião para boca de fumo. À época ela ainda era só Benito e ainda só acreditava. Depois aprendeu. Leu a lei nas inversões de culpa dos agentes da Febem, que entendiam as normas sempre a favor deles; leu a lei nos muitos julgamentos de traficantes livrados da cadeia pela boa oratória dos advogados; leu a lei nas notícias explicando por que a prisão de figurões do colarinho branco tinha sido um mal-entendido.

        -- O curso de Direito é o pé-de-meia do malandro – pregava o pai, que ficou desgostosos quando soube que o filho, com inclinação para outros crimes, se ofereceu aos donos das bocas para cumprir o ofício de avião, moleque a levar e trazer pacote.

        Ademais, Benito-Boa-Fé já tinha notado que a figura de retórica mais eficaz é um bolo de notas nas mãos do juiz corrupto. Diante disso, ser advogado parecia bom; mas ser rico era ainda melhor.

        Na favela, a história de Benito-Boa-Fé corre como enredo de cordel. Todo o mundo já ouviu e já contou como ele subiu a cacique do tráfico. Era gerente do maior traficante da região. Um dia o grandão pediu uma promessa:

        -- Preciso que você cumpra o que eu mandar antes de saber o quê.

        Benito deu a palavra. Fosse o que fosse, já tinha aprendido a fazer pior. E conhecer o pior é o que dá coragem no homem. O chefe se tranquilizou na promessa e amargou a ordem:

        -- É minha filha. Você precisa cuidar dela pra mim.

        Benito tinha aprendido também a língua enviesada de bandido. Entendeu que “cuidar” não era dar proteção. Irritou-se de ter feito a promessa. Exigiu pelo menos saber a razão do ordenado. E era esta: a menina tinha se enrabichado com um filhinho de papai viciado em craque. O moleque já tinha sido apagado, mas o chefe não podia executar a própria filha. Daí a encomenda.

        -- Mas tem que ser do jeito que eu vou dizer – continuou o dono da boca. – E vai ser assim: prometa para mim que você vai afundar a menina no mar. É meu presente pra Iemanjá não mandar castigo.

        -- Se não quer castigo, retira a ordem. Não gosto de ser enganado. Você sabia que ia me pedir coisa errada e me exigiu a promessa. Retira a ordem.

        -- A ordem está dada. Não vou voltar atrás. Vai quebrar a palavra?

        -- Não. Vou, ao contrário, espicha-la: prometo fazer o que me pediu e prometo voltar depois pra te matar. Dou minha palavra. Não se incomode, que vou cumprir a ordem ao pé da letra. Mas é meu último serviço. Ou penúltimo.

        A narração do povo colore a briga dos bandidos, põe susto, armas, rimas. Conta que Benito saiu e convocou os homens de confiança, explicando a cachorrada em que o chefe o metera. A quadrilha se santificou de indignação. Eram bandidos honrados, não aprovavam matar uma menina porque se perdeu de amor. Honrados e sensíveis.

        Mas também leais. Por isso aceitaram, a contragosto, acompanhar o gerente no cumprimento da promessa.

        -- Se confiam em mim, vão buscar a menina – ele mandou e foi obedecido. – Desço na praia e espero vocês.

        Acharam um penhasco no litoral sul, zona de reserva. Só os bichos e ondas por testemunhas. Amarraram a menina numa corda e atiraram o corpo ao mar.

        -- Pronto. Gritou Benito. Agora podem subir a moleca.

        Os homens não entenderam.

        -- Vamos, subam logo. Se demoram, a menina se afoga.

        Puxaram. Benito desamarrou a moça, deu-lhe dinheiro e recomendações para não voltar a São Paulo, que o pai a queria morta. Pregou nova ordem aos homens:

        -- Vamos subir a serra, macacada. A primeira promessa está cumprida: joguei a menina no mar. Falta só a outra.

        Assentado na admiração de seus homens pela esperteza e honra na manutenção da palavra, Benito voltou ao escritório do chefe, liquidou-o e tomou seu lugar. Era agora o Boa-Fé.

        -- Então posso voltar pra casa? O senhor me garante? – Dona Nazária confia.

        -- Precisa mesmo que eu repita?

        Não, ela não precisa. Por isso é tão difícil conseguir a palavra de Benito-Boa-Fé. O que é raro custa caro. O traficante faz poucas promessas porque paga todas.

        Esta, contudo, é apenas metade do trabalho de Nazária. A outra metade é convencer o filho. Para isso, conta ainda com a palavra do chefe, que nunca é desobedecida. Por isso veio ver Benito-Boa-Fé. Se pedisse apenas ao filho para ficar, certamente não seria ouvida. Homens têm seus brios.

        -- Licença, Seu Benito, mas tem mais uma coisa.

        O traficante mantém o silêncio no olho duro fixo na velha.

        -- Rubinho viveu o dia na espera do conflito. Só desiste se o chefe mandar.

        -- Dou ordem. Fica fria, minha velha. Seu filho passa a noite com a senhora. É promessa.

        Coma apalavra do homem, Dona Nazária pode tornar à casa. A alegria faz rápida a descida, o coração agora leve desliza ladeira abaixo até o barraco com a placa na porta: “Nazária Costureira”.

        “Foi fácil”, comemora. “Bom moço, esse Benito. Meu menino tá protegido”. Igual fazer vestido de noiva. No começo dá aquele medo de tratar com a freguesa, gente bacana, endinheirada de meter medo, exigente no pedido, “tem que ser igual ao da revista, nas rendas e babados”. A gente fica sem saber o que falar. Se diz muito, pode falar bobagem, se não fala nada, passa por songamonga. De qualquer jeito, arrisca perder a encomenda. Mas Dona Nazária sempre sabe a palavra certa, falar é que nem fazer costura, ir juntando tecido no tecido, seguindo firme por uma risca com a linha e agulha, alinhavando as fendas, amarrando os fios, corrigindo as sobras. Até o arremate final e aquela lindeza de discurso como um vestido de fada. Seduz até chefão do narcotráfico.

        Só o filho não lhe põe ouvido, acostumado de pequeno a desprezar ofício de mãe. Com esse funciona melhor silêncio.

        Nazária entra de gato, consegue até calar a dobradiça barulhenta da porta para não atrair a atenção do filho. Segue a passo ladino até o quartinho de costura, pega em panos e agulhas e senta na sala.

        Hoje as novelas vão menos interessantes que a vida. A luzinha da televisão pisca ao léu, que Dona Nazária está em horas de vigília, um olho na costura, outro no filho, que vê crescer em preocupação com a noite. Este olha o celular a cada punhado de minutos que a ansiedade não consegue segurar.

        -- Porra! Ele falou pra não sair antes da chamada...

        -- O que foi, filho?

        -- Nada, mãe. Tou falando comigo.

        -- Isso é mau. Você não sabe se dar conselho.

        -- Cala boca, mãe! E a senhora sabe? Desgraçado do homem que dá ouvido a palavra de mulher! Porra! Que demora!

        -- Xiu! Pelo menos controla essa língua!

        -- Vou sair...

        -- Não!

        -- Por que não? Eles me esqueceram...

        -- Não! Espera te chefe!

        Ele estranha a autoridade na voz, a recomendação, inusitada, de obediência ao patrão que ela nunca aprovou. Contrariado, senta e espera, mastigando a desconfiança.

        Já é perto da meia-noite, quando batem palmas. Rubinho atende no pulo. Imita-lhe o salto o coração de Nazária.

        Enquanto sai o filho, a mãe aperta contra o peito o trabalho de costura, sem sofrer as picadas dos alfinetes que lhe coroam o seio. De dentro, escuta que há uma discussão, mas não o que diz. Como feras rosnando, as vozes se confinam em sussurros, evitando chamar sobre si a atenção da noite. Nazária reza, sem atinar nas frases das ave-marias, tantas vezes repetidas que já nem atingem o juízo – será que atingiram o céu? “Deus não escuta o palavrório mas a aflita”, ensinou-lhe a mãe, pouco dada a novenas, e ela aprendeu direitinho e praticava todas as vezes que precisava arrancar um favor do marido ou dos filhos, chorando quando já não lhe ouviam as queixas, pena que homens não t/~em orelhas de deuses e pouco se deram para as lamúrias da velha, por isso vão agora com as orelhas para sempre surdas e entupidas de terra.

        Para ouvir melhor o que se atiram esses homens ainda bons de ouvido – queira Deus! –, Dona Nazária se ergue do sofá. Não chega à porta antes que esta irrompa e jogue casa adentro o filho de rosto convulso.

        -- Foi você velha!

        Com uma bofetada, faz a mãe cair de volta no sofá. O chefe vem atrás e lhe agarra o braço que ia descer outra vez sobre a mulher. Depois de empurrar o rapaz para o lado, o chefe do tráfico dirige-se à mãe aflita:

        -- Dona Nazária, eu tentei. Mas este teu filho é mesmo uma mula empacada.

        A mulher geme e os olhos úmidos. Busca a palavra certa, não pode desistir desse último filho. Precisa comover esse homem duro, todo homem pode ser convencido, basta lhe depositar no juízo o que não espera escutar. Encontrar a frase sem retruques, o pedido sem ambiguidades, a força incorruptível de um termo que não admita refúgios.

        Apenas a palavra certa... A palavra...

        Dona Nazária limpa a as lágrimas. Levanta o rosto sobre firmezas. A voz é serena:

        -- Por favor. O senhor me prometeu que ele ficava.

        Benito-Boa-Fé se apruma. Sente os empregados segurando seu silêncio com os olhos. Ele é, agora, o senhor dono proprietário da palavra. “A lei não está no escrito, mas no pensado”. Consulta o celular. Já passam cinco minutos da meia-noite. É Dia das Mães. Salve geral.

        Assenta os olhos no rapaz:

        -- Você não sai daqui. Dei minha palavra a sua mãe.

        E, dizendo isto, saca a pistola do cinto e dispara uma bala na testa do último filho de Dona Nazária.

MARQUES, Santiago Villela. Sósias: Contos. Cuiabá: Carlini&Caniato Editorial, 2005, p. 07-15.

Entendendo o conto:

01 – Qual o objetivo principal de Dona Nazária ao subir o morro e procurar Benito-Boa-Fé?

      Dona Nazária sobe o morro para convencer Benito-Boa-Fé, o chefe do tráfico, a liberar seu filho caçula, Rubinho, do confronto iminente entre o comando e a polícia. Ela quer garantir que ele fique em casa e não se envolva na violência.

02 – Como Dona Nazária consegue a permissão para entrar e falar com Benito-Boa-Fé, apesar da resistência inicial do guarda?

      Dona Nazária utiliza sua perspicácia e a "palavra" de mãe. Ela ameaça tirar o chinelo para dar um corretivo no guarda e apela para a sensibilidade dele ao mencionar o Dia das Mães, fazendo-o reconsiderar e chamar o chefe.

03 – Qual a "palavra" que Dona Nazária usa para se dirigir a Benito-Boa-Fé e qual o impacto dela sobre ele e seus subordinados?

      Dona Nazária usa o verbo "mandar" ("Vim mandar você liberar o Rubinho") e "exigir" ("Vim exigir essa palavra"). Essa escolha de palavras é um descompasse gramatical no ambiente do tráfico, onde "mandar" é prerrogativa apenas do chefe. Isso causa estranhamento e nervosismo nos guardas, mas surpreendentemente, Benito-Boa-Fé a ouve.

04 – Por que o conto enfatiza que o Dia das Mães é um fator importante na decisão de Benito-Boa-Fé?

      O conto sugere que o Dia das Mães amolece o coração do traficante. Ele já não tem a própria mãe para presentear, e a astúcia de Dona Nazária em usar essa data como "fraqueza" humana o leva a conceder o pedido como um "presente" de Dia das Mães.

05 – Qual o significado do apelido "Benito-Boa-Fé" e como ele o adquiriu?

      O apelido "Benito-Boa-Fé" se refere à sua reputação de sempre cumprir suas promessas. Ele o adquiriu ao executar a ordem de seu antigo chefe de "afundar" a filha dele no mar, mas de forma engenhosa: jogou-a no mar com uma corda e a puxou de volta, dando-lhe dinheiro e mandando-a para longe, e depois matou o chefe, assumindo seu lugar.

06 – Como Benito-Boa-Fé justifica sua interpretação particular da "lei" e da "palavra"?

      Benito-Boa-Fé aprendeu que "a lei não está no escrito, mas no pensado". Ele viu a lei ser manipulada a favor de agentes da Febem, advogados de traficantes e figurões do colarinho branco, compreendendo que a "palavra" e as regras são flexíveis e podem ser usadas para alcançar objetivos, especialmente se houver dinheiro envolvido.

07 – Qual a segunda parte do "trabalho" de Dona Nazária, além de obter a palavra de Benito-Boa-Fé?

      A segunda parte do trabalho de Dona Nazária é convencer o próprio filho, Rubinho, a obedecer à ordem de ficar em casa. Ela sabia que Rubinho não a ouviria se ela mesma pedisse, mas acataria a ordem do chefe.

08 – Como Dona Nazária reage à agressão de Rubinho quando ele descobre que ela interveio?

      Apesar da bofetada do filho, Dona Nazária não desiste. Ela limpa as lágrimas, levanta o rosto com firmeza e, com voz serena, lembra a Benito-Boa-Fé de sua promessa: "Por favor. O senhor me prometeu que ele ficava."

09 – Qual a ironia trágica no desfecho da história em relação à "palavra" de Benito-Boa-Fé?

      A ironia trágica reside no fato de que Benito-Boa-Fé cumpre sua palavra à mãe de Rubinho ("Você não sai daqui. Dei minha palavra a sua mãe.") ao matar o filho. Ele garante que Rubinho não sairá de casa, mas o faz de forma definitiva e letal, mantendo sua reputação de "Benito-Boa-Fé", que nunca quebra uma promessa, mesmo que a interpretação seja brutal.

10 – Que temas o conto "A palavra" aborda, considerando o contexto da favela e a interação entre os personagens?

      O conto aborda temas como a força e a resiliência materna, a brutalidade e as regras do tráfico, a relatividade da lei e da moralidade no ambiente da favela, o poder da "palavra" e suas múltiplas interpretações, e a ironia do destino em um mundo onde as promessas podem ter consequências devastadoras.

 

CONTO: MENSAGEM DA NUVEM NEGRA - FRAGMENTO - ALVES REDOL - COM GABARITO

 Conto: MENSAGEM DA NUVEM NEGRA – Fragmento

           Alves Redol

        Pareciam cercados no trabalho pelo braseiro de um fogo que alastrasse na Lezíria Grande. Como se da Ponta de Erva ao Vau a leiva se consumisse nas labaredas de um incêndio que irrompesse ao mesmo tempo por toda a parte.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxfy2MawhUIPn27B6vWl7sqhn2wgMUw_1vVjjxFdA2yCYOAGsFAx-cqkEIiH_hOHDU5_unvJVb8P2kQ99t7_j7fWtb7hAsIKiLeCTc0FCtxSwkAF1etyzEi7ZYRuzUbf6I5ovoVmfdG_NyHO9Sp3TEx220q8DDpI6af3eQWDEL0KMNU8G1gPj7q0WpvXs/s1600/images.jpg 


        O ar escaldava; lambia-lhes de febre os rostos corridos pelo suor e vincados por esgares que o esforço da ceifa provocava. O Sol desaparecera há muito, envolvido pela massa cinzenta das nuvens cerradas. Os ceifeiros não o sentiam penetrar-lhes a carne abalada pela fadiga. Lento, mas persistente, parecia ter-se dissolvido no ar que respiravam, pastoso e espesso. Trabalhavam à porta de uma fornalha que lhes alimentava os pulmões com metal em fusão.

        Quase exaustos, os peitos arfavam num ritmo de máquinas velhas saturadas de movimento.

        A ceifa, porém, não parava, e ainda bem – a ceifa levava o seu tempo marcado. Se chovesse, o patrão apanharia um boléu de aleijar, diziam os rabezanos na sua linguagem taurina. Eles próprios não a desejavam; se as foices não cortassem arroz, as jornas acabariam também. E se ao sábado o apontador não enchesse a folha, as fateiras não trariam pão e conduto da vila.

        Então os dias tornar-se-iam ainda mais penosos e o degredo por terras estranhas mais insuportável.

        Vencidos pelo torpor, os braços não param. Lançam as foices no eito, juntando os pés de arroz na mão esquerda, e o hábito arrasta-os em gestos quase automáticos, mais um passo e outro, a caminho da maracha que fecha o extremo de cada canteiro. Caminham sempre no mesmo balouçar de ombros; as pegadas do seu esforço ficam marcadas na resteva lodosa.

        Talvez muitos deles pensem que o arroz deitado nas gavelas repousa primeiro do que os seus corpos. Se pudessem deter-se também, por instantes, e descansarem depois a cabeça nos montes de espigas que deixam atrás de si, a ceifa poderia animar.

        Mas o bafo que vem da seara queima mais em cada minuto e as cabeças dos alugados pesam já tanto como o cabo das foices nos braços esgotados. Estão atafulhadas de amarelo, de pensamentos e de grãos de fogo que a canícula doente lhes insuflou no sangue.

        Ninguém entoa cantigas para animar, embora os capatazes tenham incitado as raparigas cantaroleiras para o fazer. Nos ranchos não há agora quem saiba cantar.

        Como podem as cachopas entrar em cantos ao desafio, se os peitos parecem fendidos pela fadiga e o ar que respiram se tornou lava do vulcão da planície?!...

        -- Auga!... Auga!... gritam os rapazes aguadeiros.

        [...]

        Para o ceifeiro rebelde os brados dos aguadeiros assemelham-se a gritos de socorro no meio do incêndio. Sente-se mais abatido do que os outros, porque compreende as causas da angústia do rancho e sabe que os outros sofrem mais. Ele tem um norte. E os camaradas ainda não encontraram bússola.

        “Se todos a tivessem...”

        O ceifeiro rebelde pende mais a cabeça para a seara, como se as torturas e as esperanças lhe pesassem.

        [...]

        A ceifa não para – a ceifa não para nunca.

        O Agostinho Serra tem os seus encargos, fala deles a toda a hora, e se começa a chover apanha um boléu dos grandes. A Senhora Companhia não perdoa a renda da terra, haja o que houver.

        De quando em quando, um deixa a foice e vai saltando as travessas para se ir abaixar a boa distância do olhar dos capatazes.

        E procuram todos o mesmo rumo. É que um deles passou ao companheiro do lado que na regadeira do meio a água ainda corre para os canteiros mais rezentos.

        A notícia correu de ceifeiro em ceifeiro. Por isso levam todos o mesmo rumo quando largam a foice nas travessas.

        Deitados de borco na linha que faz berço às águas, podem refrescar o rosto e molhar a cabeça à vontade. Um deles atirou-se para dentro da regadeira, querendo apagar a chama que lhe consumia o corpo. Quando voltou ao rancho, disse ao capataz que caíra à regadeira, numa explicação tola.

        -- Empeci num almeirão, seu Francisco.

        -- Vais fresco, vais. Largas-te aí com algumas sezões que não te ajudas com elas. Vai lá mudar de fato, homem.

        [...].

Portugal: Publicações Europa-América, 1980.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 283-284.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Atafulhado: cheio em demasia.

-- Gavela: feixe de espigas.

-- Rezento: úmido.

-- Boléu: queda, baque.

-- Jorna: salário diário.

-- Seara: campo de cereais.

-- Cachopa: moça.

-- Maracha: pequeno muro de terra.

-- Sezão: febre intensa e intermitente.

-- Canícula: cana pequena e delgada.

-- Empeçar: emaranhar, enredar.

-- Resteva: restolho; vegetação rasteira e seca.

02 – Como o narrador descreve a intensidade do calor no local de trabalho dos ceifeiros logo no início do fragmento?

      O narrador descreve a intensidade do calor comparando o local de trabalho a um "braseiro de um fogo que alastrasse na Lezíria Grande", como se toda a leiva estivesse sendo consumida por labaredas. O ar é descrito como "escaldava", lambendo os rostos dos trabalhadores com febre e fazendo com que seus pulmões parecessem ser alimentados por "metal em fusão".

03 – Apesar das condições extremas de trabalho, por que a ceifa não podia parar, de acordo com as preocupações dos rabezanos e dos próprios ceifeiros?

      A ceifa não podia parar porque, se chovesse, o patrão teria grandes prejuízos ("apanharia um boléu de aleijar"). Além disso, os próprios ceifeiros dependiam da ceifa para seus salários ("jornas") e para que o apontador enchesse a folha no sábado, garantindo pão e sustento para suas famílias. A interrupção do trabalho significaria dias ainda mais penosos e um degredo ainda mais insuportável.

04 – Como o narrador descreve o movimento dos ceifeiros durante o trabalho, enfatizando a exaustão e a automatização de seus gestos?

      O narrador descreve o movimento dos ceifeiros como um hábito que os arrasta em "gestos quase automáticos", com um balançar constante de ombros e pegadas marcadas na "resteva lodosa". Seus peitos arfavam como "máquinas velhas saturadas de movimento", e suas cabeças pesavam como o cabo das foices, indicando um profundo torpor e exaustão.

05 – Qual o desejo implícito dos ceifeiros em relação ao descanso, comparado ao arroz que colhem?

      O desejo implícito dos ceifeiros é poderem repousar como o arroz deitado nas gavelas. Eles pensam que o arroz descansa primeiro do que seus corpos e anseiam por poderem deter-se por instantes e descansar a cabeça nos montes de espigas que deixam para trás.

06 – Quem é o "ceifeiro rebelde" mencionado no texto e qual a sua diferença em relação aos outros trabalhadores no que diz respeito à compreensão da situação?

      O "ceifeiro rebelde" é um dos trabalhadores que, diferentemente dos outros, compreende as causas da angústia do rancho e sabe que os outros sofrem mais. Ele possui um "norte", uma direção ou entendimento da situação, enquanto seus camaradas ainda não encontraram essa "bússola".

07 – Qual a atitude dos ceifeiros quando um deles espalha a notícia de que ainda há água corrente em uma das regadeiras, e o que essa atitude revela sobre suas necessidades?

      Quando a notícia da água corrente na regadeira se espalha, os ceifeiros largam suas foices e seguem todos na mesma direção para se refrescarem. Essa atitude revela a sua necessidade extrema de alívio do calor e da sede, mostrando que mesmo uma pequena oportunidade de conforto é avidamente buscada em meio ao sofrimento.

08 – Qual a explicação "tola" que um dos ceifeiros dá ao capataz após se atirar na regadeira e qual a reação do capataz a essa explicação?

      O ceifeiro dá uma explicação "tola" ao capataz, dizendo que "empeci num almeirão" (tropecei numa chicória). A reação do capataz, seu Francisco, é de descrença e ironia, percebendo que o trabalhador apenas buscou se refrescar. Ele comenta que o ceifeiro volta "fresco" e o adverte sobre as possíveis sezões (malária) que poderia ter contraído na água, mandando-o trocar de roupa.

 

CONTO: MACÁRIO E NOITE NA TAVERNA - FRAGMENTO - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Conto: Macário e Noite na taverna – Fragmento

            Álvares de Azevedo

        [...]

        E o homem pode esquecer tudo isto. Mas ele não era ainda feliz. As noites passava-as ao redor do palácio dela, via-a às vezes bela e descorada ao luar, no terraço deserto, ou distinguia suas formas na sombra que passava pelas cortinas da janela aberta de seu quarto iluminado. Nos bailes seguia com olhares de inveja aquele corpo que palpitava nas danças. No teatro, entre o arfar das ondas da harmonia, quando o êxtase boiava naquele ambiente balsâmico e luminoso, ele nada via senão ela — e só ela! E as horas de seu leito... suas horas de sono não, que mal as dormia, porque às vezes eram longas de impaciência e insônia, outras vezes eram curtas de sonhos ardentes! O pobre insano teve um dia uma ideia: era negra sim mas era a da ventura. O que fez não sei, nem o sabereis nunca. E depois bastante ébrio para vos sonhar, bastante louco para nos sonhos de fogo de seu delírio imaginar gozar-vos, foi profano assaz para roubar a um templo o cibório d’oiro mais puro. Esse homem... tende compaixão dele, que ele vos amara... ó anjo, Eleonora...

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzRZZGvWrFY_Avve7_VV5t4bkCFqwANPbr9hc9xDEalmJ2WRcu2wH0c9H4_cWzb9sKwN13B-AJclaDsw68z0IfbCinFF60Y_2XbV9ROWs6bvO6wq2Tzmo3kEwouqHuIU_ZeUmSS8_TMzpyuGVLpvKcQ8IxoZxsnZtFmc9y-SxsNYFHYbQsFw2Rc6VEBV0/s320/9788536818009-1.jpg


        — Meu Deus! meu Deus! por que tanta infâmia, tanto lodo sobre mim? Ó minha Madona! por que maldissestes minha vida, por que deixastes cair na minha cabeça uma nódoa tão negra?

        As lágrimas, os soluços abafavam-lhe a voz.

        — Perdoai-me, senhora, aqui me tendes a vossos pés! tende pena de mim, que eu sofri muito, que vos amei, que vos amo muito! Compaixão! que serei vosso escravo, beijarei vossas plantas, ajoelhar-me-ei à noite à vossa porta, ouvirei vosso ressonar, vossas orações, vossos sonhos... e isso me bastará... Serei vosso escravo e vosso cão, deitar-me-ei a vossos pés quando estiverdes acordada, velarei com meu punhal quando a noite cair, e, se algum dia, se algum dia vos me puderdes amar... então... então...

        — Eleonora! Eleonora! Perder noites e noites numa esperança! Alentá-la no peito como uma flor que murcha de frio, alentá-la, revive-la cada dia, para vela desfolhada sobre meu rosto!... Absorver-me em amor e só ter irrisão e escárnio! Dizei antes ao pintor que rasgue sua Madona, ao escultor que despedace a sua estátua de mulher.

        [...]

Claudius Hermann. In: Macário e Noite na taverna. São Paulo: Saraiva, 2010. Col. Clássicos Saraiva.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 288.

Entendendo o conto:

01 – Qual o sentimento predominante do narrador em relação a Eleonora?

      O sentimento predominante do narrador em relação a Eleonora é uma paixão avassaladora e obsessiva, misturada com grande sofrimento, inveja (em relação àqueles que a cercam) e um desejo de possessão. Ele a idealiza e a busca incansavelmente, mesmo que isso o leve à loucura e à infâmia.

02 – Como o narrador descreve a intensidade de seu amor por Eleonora e suas consequências?

      O narrador descreve a intensidade de seu amor de forma que ele consome suas noites ("horas de sono não, que mal as dormia"), o impede de ver qualquer outra coisa em bailes ou no teatro ("ele nada via senão ela — e só ela!"), e o leva a um estado de delírio e desespero. As consequências são a insônia, sonhos ardentes, loucura e a sensação de que sua vida foi amaldiçoada.

03 – Que ato extremo o narrador confessa ter cometido em sua obsessão por Eleonora?

      O narrador confessa ter cometido um ato de sacrilégio, roubando "a um templo o cibório d’oiro mais puro". Esse ato é descrito como uma "ideia negra" que o levaria à "ventura", evidenciando a distorção de sua percepção em sua obsessão.

04 – Qual a reação de Eleonora (ou a percepção do narrador sobre a reação dela) diante das confissões dele?

      A reação de Eleonora (ou a percepção do narrador) é de repulsa e angústia, expressa nas frases "Meu Deus! meu Deus! por que tanta infâmia, tanto lodo sobre mim? Ó minha Madona! por que maldissestes minha vida, por que deixastes cair na minha cabeça uma nódoa tão negra?". Há a sensação de que as ações dele a maculam.

05 – Que tipo de súplica o narrador faz a Eleonora após sua confissão?

      O narrador faz uma súplica de perdão e compaixão, oferecendo-se para ser seu "escravo" e "cão". Ele promete beijar seus pés, ajoelhar-se à sua porta, ouvir seu ressonar e orações, e até mesmo velar com um punhal. Essa súplica demonstra a total submissão e desespero de seu amor.

06 – Qual a comparação que o narrador faz para expressar a futilidade de seu amor e sofrimento?

      O narrador compara sua esperança e seu amor a uma flor que murcha de frio e é desfolhada sobre seu rosto. Ele também afirma que seu amor só lhe trouxe "irrisão e escárnio". Para ele, é preferível que um pintor rasgue sua Madona ou um escultor despedace sua estátua de mulher, tamanha a decepção e o vazio de sua paixão.

07 – Considerando o contexto do Romantismo, que características da escola literária podem ser identificadas neste fragmento?

      Neste fragmento, várias características do Romantismo são evidentes: o subjetivismo extremo (foco nos sentimentos e na visão do eu-lírico), o egocentrismo amoroso (a paixão que consome o indivíduo), a idealização da mulher (Eleonora como um ser quase divino), o sofrimento amoroso e o pessimismo, a fuga da realidade para um mundo de sonhos e delírios, a nocturnidade (as noites de insônia e vigília) e o sacrilégio, que expressa a rebeldia e a intensidade dos sentimentos românticos.

 

 

domingo, 1 de junho de 2025

POESIA: RECEITA DE MULHER - FRAGMENTO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poesia: Receita de mulher – Fragmento

             Vinicius de Moraes

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcN82X7r35NL_dh4SWN23VgS9dypNbBFGxx_b67mStJxsA-K33yBoOTRzLrTKDq3xlVRi6AKiWzDTAav1qyXvffzmf_8sLs6PBRi9xE8ehH0gxmdy7iZZ07xDsvxBb-gZ2l_y4Upicpu4uPvItobxa3hccUxk_g5WxnC4xLkjxsqMYgLoBrhxMryLNn9o/s320/maxresdefault.jpg

Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos.

[...]

Vinícius de Moraes. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. p. 192.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 290.

Entendendo a poesia:

01 – Qual é a ideia central que Vinicius de Moraes defende sobre a mulher neste poema?

      A ideia central que Vinicius defende é que a beleza é fundamental na mulher. Ele não se refere apenas à beleza física óbvia, mas a uma beleza que engloba graça, elegância, mistério e uma certa leveza que se assemelha a uma flor ou a uma garça.

02 – Que tipo de metáforas e comparações o poeta utiliza para descrever a beleza que ele busca?

      O poeta utiliza metáforas e comparações como "qualquer coisa de flor", "qualquer coisa de dança", "haute couture" (alta costura), a "impressão de ver uma garça apenas pousada", um rosto que adquire a "cor só encontrável no terceiro minuto da aurora", pálpebras cerradas que "Lembrem um verso de Éluard" e braços tocados "como o âmbar de uma tarde".

03 – Para Vinicius, a beleza feminina deve ser apenas visível ou deve ter uma dimensão mais profunda? Explique.

      Para Vinicius, a beleza feminina não deve ser apenas visível; ela deve ter uma dimensão mais profunda e quase etérea. Ele afirma: "É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche / No olhar dos homens." Isso sugere que a beleza deve ser uma essência, uma aura, que se manifesta e é percebida, mas que não se restringe apenas à carne ou a algo puramente material.

04 – O que o verso "As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental" revela sobre a perspectiva do poeta?

      Este verso revela a sinceridade e a frontalidade da perspectiva do poeta sobre a importância da beleza. Embora pareça controverso à primeira vista, ele estabelece de imediato o pré-requisito da beleza como ponto de partida para sua "receita de mulher", destacando seu valor primordial em sua concepção idealizada.

05 – Como o poema aborda a interação entre a beleza da mulher e a percepção masculina?

      O poema aborda a interação entre a beleza da mulher e a percepção masculina ao afirmar que a beleza deve "refletir-se e desabrochar / No olhar dos homens". Isso indica que, para o poeta, a beleza feminina não é um conceito isolado, mas algo que ganha vida e validação na forma como é vista e apreciada pelo olhar masculino, gerando admiração e fascínio.

 

 

POEMA: O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO - FRAGMENTO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

 Poema: O operário em construção – Fragmento

              Vinicius de Moraes

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEsvUWqkPE00zUsVh1wnJkO2PxZGmwsmudb7gn2KKx-sctjWvE10PNZuqg9yz1pNIXpA3IusijzKZjfmquc1bArDyfhjymNXKoE0LfMq_D9Z3aQZSKx09UJFbcKXKfXLN77ApYytnYbUsmT1AkUu08ueOAvzVLZsGe72WcCYAHNfUNYAnlFueSYenawmo/s320/maxresdefault.jpg

Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

[...]

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!

[...].

Poesia completa e prosa, cit. p. 293-294.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 274.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal atividade do operário descrita no início do poema e qual a comparação inusitada utilizada para ilustrar sua ascensão nas construções?

      A principal atividade do operário é erguer casas onde antes só havia chão. A comparação inusitada utilizada para ilustrar sua ascensão é a de "um pássaro sem asas", que, paradoxalmente, sobe com as casas que lhe "brotavam da mão", enfatizando a força de seu trabalho manual.

02 – Segundo o poema, que aspectos importantes da sua própria obra o operário desconhecia inicialmente?

      Inicialmente, o operário desconhecia a "grande missão" do seu trabalho. Especificamente, não sabia que a casa de um homem é um "templo sem religião" e que a casa que ele construía, embora representasse a liberdade para outros, era para ele uma forma de "escravidão", aprisionando-o em um ciclo de trabalho.

03 – Que "fato extraordinário" o operário passa a compreender em um determinado momento, e qual a situação cotidiana que desencadeia essa revelação?

      O "fato extraordinário" que o operário passa a compreender é que "o operário faz a coisa / E a coisa faz o operário", revelando uma relação de interdependência e transformação mútua entre o trabalhador e o produto do seu trabalho. Essa revelação ocorre em uma situação cotidiana, à mesa, ao cortar o pão.

04 – Após a súbita emoção, o que o operário constata de forma "assombrada" ao olhar ao seu redor?

      Ao olhar ao seu redor, o operário constata de forma "assombrada" que praticamente tudo o que está à sua volta – desde os objetos simples da mesa ("garrafa, prato, facão") até estruturas maiores como "gamela, banco, enxerga, caldeirão", e até mesmo conceitos abstratos como "casa, cidade, nação" – era ele quem fazia, ele, um humilde operário em construção.

05 – Qual a mudança na autopercepção do operário que o poema destaca ao final do fragmento?

      A mudança na autopercepção do operário é que ele passa de ser um mero executor de tarefas ("um humilde operário / Um operário em construção") para um indivíduo consciente do seu papel fundamental na criação do mundo material ("Ele, um humilde operário / Um operário que sabia / Exercer a profissão"). Há um reconhecimento do seu valor e da sua habilidade.

06 – A quem o eu lírico se dirige na penúltima estrofe e qual a sua afirmação sobre o conhecimento do operário naquele momento?

      O eu lírico se dirige aos "homens de pensamento" e afirma que eles nunca saberão o quanto aquele humilde operário soube naquele momento. Isso sugere que a compreensão do operário, embora não intelectualizada, possui uma profundidade e um significado que escapam àqueles que apenas teorizam sobre o trabalho.

07 – Qual a principal reflexão sobre o trabalho e a consciência do trabalhador que emerge deste fragmento do poema?

      A principal reflexão que emerge é sobre a complexa relação entre o trabalhador e o seu trabalho, a alienação inicial da sua importância e o potencial despertar para a consciência do seu papel fundamental na construção da realidade. O poema destaca a dignidade do trabalho manual e a profunda compreensão que pode surgir da experiência prática, contrastando com a mera abstração intelectual.

 

POEMA: MÚSICA - FRAGMENTO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Música – Fragmento

             Cecília Meireles

Noite perdida,
não te lamento:
embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,
puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.
Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,
[...].

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1WifcYnPeyAYON5nuyBcki_c_sYmC9XNh2y89W-Wf6ZaBH6TNp2sh5R7XniNyMXNfuBIL8z6qV-wh5CFCO-KOGbLzwfysdWmDfXIqmyWncwk_RiVzlfhsoJM-k5PkHLT0yZuLOg61UpyhyYxndPXHlDRNgL0MP0jAe_8Llil_20OunBPtoG7kExd3NjM/s320/2309752-silhueta-design-de-jovem-solitario-em-noite-silenciosa-no-pico-do-penhasco-vetor.jpg


Cecília Meireles. Obra poética, cit., p. 84-85.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 269.

Entendendo o poema:

01 – Qual a atitude do eu lírico em relação à "noite perdida" mencionada no início do poema?

      A atitude do eu lírico em relação à "noite perdida" é de não lamentá-la ("não te lamento"). Essa postura sugere uma aceitação do passado ou de uma experiência talvez negativa, sem se deter na tristeza ou no arrependimento.

02 – Onde o eu lírico decide "embarcar a vida" e qual o destino dessa jornada?

      O eu lírico decide "embarcar a vida no pensamento". O destino dessa jornada é a busca pela "alvorada do sonho isento", um sonho puro e livre de influências ou pesos ("sem nada").

03 – Que imagem é utilizada para descrever a natureza desse sonho buscado pelo eu lírico?

      A natureza desse sonho buscado é descrita através da imagem de uma "- rosa encarnada, / intacta, ao vento". Essa imagem evoca beleza, pureza, intensidade (encarnada), preservação (intacta) e liberdade (ao vento).

04 – Qual a aparente contradição apresentada na última estrofe do fragmento em relação à "noite perdida"?

      A aparente contradição é que a "noite perdida" é, simultaneamente, uma "noite encontrada". Essa dualidade sugere que mesmo as experiências negativas ou os momentos perdidos podem levar a algum tipo de descoberta, aprendizado ou novo sentido.

05 – Qual a sensação geral que o fragmento do poema transmite em relação ao passado e ao futuro?

      A sensação geral transmitida é de um desapego do passado ("noite perdida, não te lamento") e uma esperançosa busca pelo futuro ("busco a alvorada do sonho isento"). Há uma aceitação do que se foi, mas um direcionamento da energia vital para a construção de um futuro idealizado e puro, ancorado no poder do pensamento.

 



 

POEMA: PEQUENA CANÇÃO DA ONDA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Pequena canção da onda

             Cecília Meireles

Os peixes de prata ficaram perdidos,
com as velas e os remos, no meio do mar.
A areia chamava, de longe, de longe,
ouvia-se a areia chamar e chorar!

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKBax4yemmXjoxnzvuo8XBWN1NzoOqcegibxjIQ8WICLDr1t3Ak2-vdIRG-NskfV7pWUhxRae11pCXgnqLsP2oNZcFg-uM0Usi0uNNDIBUD2mEL41e9bJS9PORoIJ1i7rSdc8qD2VDlcv6hrO14ox97dStvpNrqKzJ-J-5TsZonvNI5YGaIIForxehSMk/s320/65118921-desenho-animado-desenhado-%C3%A0-m%C3%A3o-da-paisagem-do-mar-desenho-animado-colorido-do-fundo-do-mar-ou-do-oc.jpg


A areia tem rosto de música
e o resto é tudo luar!

Por ventos contrários, em noite sem luzes,
do meio do oceano deixei-me rolar!
Meu corpo sonhava com a areia, com a areia,
desprendi-me do mundo do mar!

Mas o vento deu na areia.
A areia é de desmanchar.
Morro por seguir meu sonho,
longe do reino do mar!

Cecília Meireles. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987. p. 145.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 269.

Entendendo o poema:

01 – Qual a situação inicial apresentada no poema em relação aos "peixes de prata" e onde eles se encontram?

      A situação inicial apresenta os "peixes de prata" como perdidos "com as velas e os remos, no meio do mar". Essa imagem sugere uma desorientação e uma mistura de elementos marítimos (velas e remos) com a natureza dos peixes, criando uma sensação de deslocamento e talvez de busca.

02 – Como a areia é personificada no poema e qual o seu apelo para o eu lírico?

      A areia é personificada como algo que "chamava, de longe, de longe" e que se podia "ouvir a areia chamar e chorar!". Esse apelo distante e carregado de emoção (choro) sugere um forte desejo ou nostalgia do eu lírico pela terra firme, pela estabilidade e talvez por um estado de ser diferente do oceano.

03 – Que características são atribuídas à areia na segunda estrofe e como essa descrição se contrasta com o "resto" do cenário?

      À areia é atribuído um "rosto de música", sugerindo uma qualidade sonora, rítmica e talvez melancólica. Essa descrição contrasta com o "resto" do cenário, que é definido como "tudo luar!", evocando uma atmosfera mais etérea, luminosa e talvez fria ou distante.

04 – Qual a decisão tomada pelo eu lírico em relação ao oceano e qual o seu destino ao alcançar a areia?

      O eu lírico decide se deixar rolar "do meio do oceano" por "ventos contrários, em noite sem luzes", impulsionado pelo sonho com a areia. No entanto, ao alcançar a areia, descobre que "a areia é de desmanchar", revelando a fragilidade e a impermanência do seu objeto de desejo.

05 – Qual o sentimento final expresso pelo eu lírico e qual a causa desse sentimento?

      O sentimento final expresso pelo eu lírico é de morte iminente: "Morro por seguir meu sonho, / longe do reino do mar!". A causa desse sentimento é a desilusão ao perceber a natureza efêmera da areia, o que o leva a um destino fatal por ter abandonado seu ambiente natural (o reino do mar) em busca de um sonho que se desfaz. O poema evoca uma reflexão sobre a busca por ideais e as possíveis consequências da desilusão.

 

 

POEMA: PARA NÃO DEIXAR DE AMARTE NUNCA - PABLO NERUDA - COM GABARITO

 Poema: Para não Deixar de Amarte Nunca

             Pablo Neruda

Saberás que não te amo e que te amo 
pois que de dois modos é a vida, 
a palavra é uma asa do silêncio, 
o fogo tem a sua metade de frio. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9aH0CvYui852OCjICeKYAbMBwxAGmYrIlZSx7NvxUeZoEi9ydbTX7ZuevUwUjbHAA_aZa4yGNKjoE0tAw6950Qyjgzyui48Ii0gZ7qjP1x0EiYGE6iEBdr7hheO8LZ_0aFnoo-evP853Uz4NEDV3lG9xr7xNwOhoeIZ6R3LaIEkUjFnnzJtd9MbzOVxs/s1600/images.jpg


Amo-te para começar a amar-te, 
para recomeçar o infinito 
e para não deixar de amar-te nunca: 
por isso não te amo ainda. 

Amo-te e não te amo como se tivesse 
nas minhas mãos a chave da felicidade 
e um incerto destino infeliz. 

O meu amor tem duas vidas para amar-te. 
Por isso te amo quando não te amo 
e por isso te amo quando te amo. 

Pablo Neruda. Presente de um poeta. 3. ed. Tradução de Thiago de Mello. São Paulo: Ver, 2003. p. 26-27.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 238.

Entendendo o poema:

01 – Qual a aparente contradição expressa no primeiro verso ("Saberás que não te amo e que te amo") e como os versos seguintes tentam explicar essa dualidade?

      A aparente contradição reside na afirmação simultânea de não amar e amar. Os versos seguintes explicam essa dualidade ao apresentar a vida como tendo "dois modos", a palavra como uma "asa do silêncio" e o fogo com sua "metade de frio". Essas imagens paradoxais sugerem que o amor de Neruda é complexo, permeado por opostos que coexistem e se complementam, indicando uma profundidade que vai além de uma simples afirmação ou negação.

02 – Na segunda estrofe, qual o propósito declarado do eu lírico ao amar ("Amo-te para começar a amar-te") e como essa intenção se relaciona com a ideia de eternidade e a razão de ainda não amar completamente ("por isso não te amo ainda")?

      O propósito declarado é amar para "começar a amar-te", para "recomeçar o infinito" e para "não deixar de amar-te nunca". Essa intenção revela um amor que se projeta para o futuro, buscando a eternidade e a continuidade. A razão de ainda não amar completamente ("por isso não te amo ainda") sugere que esse amor é um processo contínuo, um eterno recomeço, e que a plenitude do sentimento reside nessa busca incessante e não em um estado finalizado.

03 – Como o eu lírico descreve a natureza do seu amor na terceira estrofe, utilizando a metáfora da "chave da felicidade" e do "incerto destino infeliz"?

      O eu lírico descreve seu amor como algo que não possui a "chave da felicidade" em suas mãos, nem um "incerto destino infeliz". Essa metáfora sugere que seu amor não é uma garantia de felicidade plena nem está fadado à tristeza. É um sentimento mais genuíno e desapegado, que existe independentemente de promessas de felicidade ou temores de infelicidade.

04 – Qual a afirmação final do eu lírico sobre a duração do seu amor ("O meu amor tem duas vidas para amar-te") e como isso se conecta com a dualidade apresentada no início do poema?

      A afirmação final de que seu amor tem "duas vidas para amar-te" reforça a dualidade apresentada no início do poema. Essas "duas vidas" podem ser interpretadas como as duas faces do amor expressas ao longo do poema: o amar e o não amar simultaneamente, o presente e o futuro, a intensidade e a busca. Essa dualidade é essencial para a perpetuação do sentimento.

05 – Qual a principal ideia ou sentimento que o poema busca transmitir sobre a natureza do amor, considerando as contradições e a linguagem paradoxal utilizada?

      A principal ideia transmitida é a de que o amor verdadeiro é complexo, dinâmico e paradoxal. Ele não se limita a uma simples afirmação, mas abrange contradições e um movimento constante de recomeço. O poema sugere que a intensidade do amor reside justamente nessa dualidade, nessa busca incessante e na promessa de um sentimento que se renova perpetuamente, evitando a estagnação e garantindo sua eternidade ("para não deixar de amar-te nunca").