Poema: Para não Deixar de Amarte Nunca
Pablo
Neruda
Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.
O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
Pablo Neruda. Presente
de um poeta. 3. ed. Tradução de Thiago de Mello. São Paulo: Ver, 2003. p.
26-27.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 238.
Entendendo o poema:
01 – Qual a aparente
contradição expressa no primeiro verso ("Saberás que não te amo e que te
amo") e como os versos seguintes tentam explicar essa dualidade?
A aparente
contradição reside na afirmação simultânea de não amar e amar. Os versos
seguintes explicam essa dualidade ao apresentar a vida como tendo "dois
modos", a palavra como uma "asa do silêncio" e o fogo com sua
"metade de frio". Essas imagens paradoxais sugerem que o amor de
Neruda é complexo, permeado por opostos que coexistem e se complementam,
indicando uma profundidade que vai além de uma simples afirmação ou negação.
02 – Na segunda estrofe, qual
o propósito declarado do eu lírico ao amar ("Amo-te para começar a amar-te")
e como essa intenção se relaciona com a ideia de eternidade e a razão de ainda
não amar completamente ("por isso não te amo ainda")?
O propósito
declarado é amar para "começar a amar-te", para "recomeçar o
infinito" e para "não deixar de amar-te nunca". Essa intenção
revela um amor que se projeta para o futuro, buscando a eternidade e a
continuidade. A razão de ainda não amar completamente ("por isso não te
amo ainda") sugere que esse amor é um processo contínuo, um eterno recomeço,
e que a plenitude do sentimento reside nessa busca incessante e não em um
estado finalizado.
03 – Como o eu lírico descreve
a natureza do seu amor na terceira estrofe, utilizando a metáfora da
"chave da felicidade" e do "incerto destino infeliz"?
O eu lírico descreve
seu amor como algo que não possui a "chave da felicidade" em suas
mãos, nem um "incerto destino infeliz". Essa metáfora sugere que seu
amor não é uma garantia de felicidade plena nem está fadado à tristeza. É um
sentimento mais genuíno e desapegado, que existe independentemente de promessas
de felicidade ou temores de infelicidade.
04 – Qual a afirmação final do
eu lírico sobre a duração do seu amor ("O meu amor tem duas vidas para
amar-te") e como isso se conecta com a dualidade apresentada no início do
poema?
A afirmação final
de que seu amor tem "duas vidas para amar-te" reforça a dualidade
apresentada no início do poema. Essas "duas vidas" podem ser
interpretadas como as duas faces do amor expressas ao longo do poema: o amar e
o não amar simultaneamente, o presente e o futuro, a intensidade e a busca.
Essa dualidade é essencial para a perpetuação do sentimento.
05 – Qual a principal ideia ou
sentimento que o poema busca transmitir sobre a natureza do amor, considerando
as contradições e a linguagem paradoxal utilizada?
A principal ideia
transmitida é a de que o amor verdadeiro é complexo, dinâmico e paradoxal. Ele
não se limita a uma simples afirmação, mas abrange contradições e um movimento
constante de recomeço. O poema sugere que a intensidade do amor reside
justamente nessa dualidade, nessa busca incessante e na promessa de um
sentimento que se renova perpetuamente, evitando a estagnação e garantindo sua
eternidade ("para não deixar de amar-te nunca").
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