sexta-feira, 14 de agosto de 2020

POEMA: KYVY MIRIM - BRÍGIDO IBANHES - COM GABARITO

Poema: Kyvy Mirim

            Brígido Ibanhes


Fascinados pelas estrelas

Do firmamento,

Conta a Yvypoty

A criação do mundo.

 

-- No começo de tudo

Existia apenas Tupã Jasuka,

A Neblina Branca, a Energia Criadora.

 

No começo de tudo

Tupã Jasuka gerou o Nosso Pai,

Chamado d Nhande Ru.

 

Amamentou-o

Na flor dos seus poderes,

Como o colibri que suga os deleites

Dos seios dos bem-me-queres.

Nhande Ru

Criou então os céus e a terra,

Apoiados sobre dois paus cruzados,

O divino Kurusu.

 

Criou Nhande Syete,

A nossa Mãe Primeira,

E com ela se deitou

Na branca esteira

Do mais puro algodão.

Assim ficaram casados,

Deitados ali no chão.

Kyvy Mirim, Brígido Ibanhes.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 166.

Entendendo o poema:

01 – O que conta o poema?

      A criação do mundo na história dos índios.

02 – Comente a poesia do 4° verso.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Como tem início a família indígena?

      Estrofes 3 e 5.

04 – Existe poesia na última estrofe? Justifique sua resposta a partir de análise do texto.

      Resposta pessoal do aluno.

 

REPORTAGEM: TERRA EM TRANSE - CRISTINA ZAHAR E CLÁUDIA GONÇALVES - FOLHA DE S.PAULO - COM GABARITO

REPORTAGEM: Terra em transe

          Cristina Zahar e Cláudia Gonçalves

        Tempestades no Sudeste do Brasil e na Califórnia. Secas atípicas na Austrália e América Central. Surpresos com as mudanças, cientistas investigam o comportamento caótico da natureza sobre o equilíbrio do planeta e delineiam um futuro em que o descontrole climático pode ser rotina.

        Um homem está parado à janela do apartamento. Observa o movimento. Ele transpira muito, o termômetro aponta 50 graus. Seus olhos ardem com a fumaça dos carros. Dentro ou fora do apartamento, o ar quente é o mesmo: insuportável. Na TV, o noticiário das 20h alerta para o calor excessivo e o aquecimento do mar. “Milhares de espécies marinhas estão ameaçadas e o derretimento das geleiras pode inundar cidades costeiras em todo o mundo”, diz o locutor.

        A cena dá um roteiro de ficção. Mas também pode ser premonitória, caso um coquetel perverso de alterações no clima e na temperatura esteja mesmo – conforme alguns cientistas – conduzindo a Terra para uma era de catástrofes cotidianas.

          Entenda El Niño

        É o aquecimento anormal da superfície das águas do oceano Pacífico, que se manifesta a cada três ou cinco anos. No Pacífico, a massa de água quente migra para o leste rumo à América do Sul. A movimentação acarreta uma série de tempestades tropicais desde a Indonésia até o leste do Pacífico, altera o fluxo das correntes no oceano e modifica, em consequência, os padrões meteorológicos do Hemisfério Norte. É responsável por seca e aumento de chuvas em diversos pontos do mundo, nas quais mais de 1.100 pessoas morreram em 1982 e 1983, quando o fenômeno foi mais devastador. Os danos superaram os US$ 8,5 bilhões. O nome El Niño foi usado pela primeira vez por pescadores sul-americanos, que notaram a chegada de uma corrente oceânica quente na época do Natal.

          Entenda efeito estufa

        O efeito estufa é o aquecimento gradual da atmosfera terrestre provocado pela queima de combustíveis fósseis (como a gasolina e o óleo diesel, por exemplo) e a consequente liberação de gases, como CO2, o gás carbônico, resultante da combustão. Uma vez na atmosfera, o CO2 atua como a cobertura de uma estufa de plantas: permite a entrada do calor do sol, mas impede que a Terra devolva este calor para o espaço. O tempo de permanência desses gases na atmosfera é da ordem de centenas de anos. Além das indústrias e dos carros, queimadas nas florestas também contribuem para o efeito. Se não forem adotadas medidas de controle, haverá aumento da temperatura da Terra, elevação do nível do mar e alteração na quantidade de chuvas.

 Folha de S. Paulo. Revista da Folha, ano III, n. 156, 16 abr. 1995.

                         Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 156/7.

Entendendo o texto:

01 – “Reciclar, racionalizar, reutilizar. Precisamos incorporar isso ao nosso cotidiano”. O que esses verbos trazem em seu contexto? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – por que dizemos que “Deu a louca no clima”?

      Porque há um clima incerto e diferente no normal. Temos chuvas fortes, ventos, calor intenso, frio, seca, tudo em excesso.

03 – Você conhece o significado da palavra “transe”? Pesquise e responda, tendo em vista a manchete Terra em transe.

      Transe: momento aflitivo. Combate, luta. Resposta pessoal do aluno.

04 – Diariamente acontecem catástrofes climáticas. Quais seriam as razões principais?

      Fenômeno El Niño; efeito estufa e outros fenômenos.

05 – O que é El Niño? O que ele provoca?

      É o aquecimento anormal da superfície das águas do oceano Pacífico. A movimentação acarreta uma série de tempestades tropicais desde a Indonésia até o leste do Pacífico.

06 – Descubra a origem do nome El Niño.

      Do Menino Jesus, porque “nasceu”, como ele, no Natal.

07 – O que significa o efeito estufa? O que ele provoca?

      É o aquecimento gradual da atmosfera terrestre provocado pela queima de combustíveis fósseis. Provoca a liberação de gases como CO2, o gás carbônico.

08 – O que acontecerá se este efeito estufa não for controlado? Argumente.

      Resposta pessoal do aluno.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): GIRASSOL - KELL SMITH - COM GABARITO

 Música(Atividades): Girassol

                                                        Kell Smith

Eu sei que cada um só tem a vista da montanha que escalar

Por isso, todo dia eu me preocupo em fazer a coisa certa

E mesmo assim, infelizmente, às vezes não parece adiantar

Porque o mundo tá tão louco e as pessoas andam tão estranhas

 

Me diz se ainda passa o medo de não ser o melhor de mim

E se a gente se cobra menos em algum momento disso aqui

Me diz!

 

Quando já não sei qual é a direção

E tudo que posso é seguir meu coração

Então, me viro

E giro para onde gira o sol

Quando já não sei qual é a direção

E tudo que posso é seguir meu coração

É por instinto

Que eu encontro a luz, sou girassol

 

Eu quero aquela vida que a gente inventa antes de dormir

Mas, pra dar certo, sei que tenho que acordar tomando atitude

O tempo não me espera só porque quero jogar tudo pro ar

E quase sempre é em desistência que o fracasso se resume

 

Me diz se ainda passa o medo de não ser o melhor de mim

E se a gente se cobra menos em algum momento disso aqui

Me diz!

 

Quando já não sei qual é a direção

E tudo que posso é seguir meu coração

Então, me viro

E giro para onde gira o sol

Quando já não sei qual é a direção

E tudo que posso é seguir meu coração

É por instinto

Que eu encontro a luz, sou girassol

É por instinto

Que eu encontro a luz, sou girassol.

Kell Smith

Entendendo a canção:

01 – O que o eu lírico faz quando não sabe qual é a direção a seguir?

      O eu lírico segue o coração.

02 – Segundo o texto, em que se resume o fracasso?

      Fracassamos quando desistimos.

03 – Explique porque o eu lírico se compara ao girassol?

      Porque apenar dos problemas ele(a) sempre procura a luz, ou seja, busca solução. Assim como o girassol que está sempre em busca da luz do sol.

04 – Explique qual vida o eu lírico quer?

      Aquela vida que a gente inventa antes de dormir.

05 – Por que supostamente ele quer esse tipo de vida?

      Porque geralmente antes de dormir ficamos sonhando com uma vida melhor sem preocupações.

06 – E o que fazer para essa vida dar certo, segundo a concepção do eu lírico? Explique.

      Para essa vida dar certo é preciso acordar tomando atitude.

07 – Na primeira estrofe o eu lírico afirma que sempre procura fazer a coisa certa, mas parece não adiantar, explique porque isso acontece?

      Porque o mundo está louco e as pessoas andam estranhas.

08 – E você o que faz quando os problemas chegam? O que fazer para superar as dificuldades da vida?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Que retrata esta canção, baseando em seu título?

      Retrata a questão de que o mundo gira como o girassol, e que as pessoas devem se virar para a esperança, assim como o girassol se vira para o sol.

     

 

 

POEMA: PECADO ORIGINAL - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: Pecado Original

             Álvaro de Campos

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!


Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

Entendendo o poema:

01 – Pode-se dizer, quanto ao sentido geral do poema, que:

a)   Sua temática é de natureza psicológica, pois se baseia na autenticidade do ser humano.

b)   Sua temática transcende a psicologia porque um dos elementos fundamentais do texto é o destino do homem jogado num mundo aparente.

c)   Sua temática é moral e psicológica, pois se refere à fuga do que se havia proposto na infância e posteriormente.

d)   Sua temática problematiza a realidade do ser humano.

e)   O texto, por ser totalmente negativista, não se presta a qualquer rotulação.

02 – A leitura atenta do texto permite concluir que:

a)   A história da humanidade é inenarrável.

b)   É impossível narrar a história da humanidade, mas, se alguém conseguisse fazê-lo, ela seria a história da própria essência do homem.

c)   A verdadeira história da humanidade só poderia ser contada por quem tivesse consciência de todas as possibilidades de vida que não se realizaram.

d)   A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por um só indivíduo que realizasse todas as possibilidades que se abrissem para a sua existência.

e)    A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por quem tivesse a consciência de tudo aquilo que de fato aconteceu com todos os homens e com o mundo exterior.

03 – No poema a afirmação de que “a história do que poderia ter sido” será, “se alguém a escrever, a verdadeira história da humanidade”, o que o eu lírico pretende mostrar nesses versos?

      Pretende mostrar que os projetos de futuro são aquilo que revela a verdadeira essência das pessoas que os fazem.

04 – No verso: “Sou quem falhei ser” mostra, precisamente, que aquilo que o sujeito poético desejou e não alcançou é o que o define como pessoa. Que figura de linguagem há nesse verso?

      Antítese.

05 – A confissão da falha do sujeito poético mostra o quê?

      Mostra ainda a consciência da frustação dos seus projetos de vida.

06 – A referência à infância, realizada no poema, corresponde a que momento da vida do sujeito poético?

      Ao tempo em que ele vivia na verdade, no “sonho à janela...”, já que a infância era o momento em que ele poderia ser quem quisesse e podia fazer projetos e vivenciar sonhos que pensava realizar um dia.

 

TEXTO: A PALAVRA COMO FERRAMENTA - HILDEGARD FEIST - COM GABARITO

 Texto: A palavra como ferramenta

       (...) os filmes geralmente contam histórias, mas às vezes apenas apresentam uma situação específica (por exemplo, um drama interior, em que as personagens se debatem entre sentimentos opostos). Nos dois casos o cinema usa imagens visuais e sonoras – nós vemos e ouvimos um filme.

        A literatura faz a mesma coisa, só que usa exclusivamente palavras. E tem duas formas de contar uma história ou de apresentar uma situação específica: a prosa e a poesia.

        (...)

        Existem duas formas tradicionais de poesia: a lírica e a épica. Vamos começar pela primeira.

 O Predomínio dos sentimentos

        A poesia lírica é a que mais costuma apresentar situações específicas, sem contar uma história com começo, meio e fim. Ele expressa mais sentimentos, estado de espírito, emoções. Veja, por exemplo, o “Soneto de separação”, do poeta brasileiro Vinícius de Moraes (1913-1980).

                    De repente do riso fez-se o pranto 
                    Silencioso e branco como a bruma 
                    E das bocas unidas fez-se a espuma 
                    E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

                    De repente da calma fez-se o vento 
                    Que dos olhos desfez a última chama 
                    E da paixão fez-se o pressentimento 
                    E do momento imóvel fez-se o drama. 

                    De repente, não mais que de repente 
                    Fez-se de triste o que se fez amante 
                    E de sozinho o que se fez contente. 

                    Fez-se do amigo próximo o distante 
                    Fez-se da vida uma aventura errante 
                    De repente, não mais que de repente.

        Nesses versos o poeta está descrevendo uma separação e principalmente expressando seus sentimentos em relação a ela: espanto, tristeza, solidão. Leia-os de novo. Observe, por exemplo, que a repetição da locação adverbial “de repente” reforça a ideia de que o autor absolutamente não esperava essa separação.

          Os feitos dos heróis

        Já a poesia épica é especialista em contar histórias, histórias grandiosas de heróis e de lutas, das quais os deuses às vezes também participam.

        Antigamente se escrevia muita poesia épica, ou seja, epopeia. A mais famosa epopeia da língua portuguesa é Os Lusíadas, do grande poeta português Luís Vaz de Camões (1524? – 1580), publicada em 1572. O herói desse poema épico é Vasco da Gama (c. 1460 – 1524), o navegador igualmente português que descobriu o caminho das Índias.

        Mas, ao contar a aventura de Vasco da Gama, Camões conta também outras histórias – reais, como as que se referem à História de Portugal, ou inventadas, como as que envolvem gigantes e ninfas.

        Uma das histórias mais bonitas de Os Lusíadas é a de Inês de Castro e Pedro I, rei de Portugal, que viveram no século XIV.

        (...)

        Atualmente já não se escreve tanta poesia épica como nos tempos de Camões. Mas ainda se escreve.

        Cecília Meireles (1901 – 1964), um dos maiores nomes de nossa literatura, publicou em 1952 uma epopeia intitulada Romanceiro da Inconfidência. A história central desse poema é a de Tiradentes e seus companheiros, que queriam libertar o Brasil do domínio de Portugal. Veja como a autora descreve uma reunião secreta dos inconfidentes:

                         Atrás de portas fechadas,

                         à luz de velas acesas,

                         brilham fardas e casacas,

                         junto com batinas pretas.

                         E há finas mãos pensativas,

                         entre galões, sedas, rendas,

                         e há grossas mãos vigorosas,

                         de unhas fortes, duras veias,

                         e há mãos de púlpito e altares,

                         de Evangelhos, cruzes, bênçãos.

        Não é difícil perceber que esses inconfidentes eram padres, fidalgos, militares, escritores, trabalhadores braçais. Repare como a autora os define usando elementos que sugerem essas pessoas: a farda, a casaca, a batina, as mãos finas, as mãos grossas.

        Vasco da Gama, Inês de Castro, Tiradentes e muitas outras personagens de Os Lusíadas e do Romanceiro da Inconfidência existiram na vida real. Mas, quando contaram a história dessas pessoas, tanto Camões quanto Cecília acrescentaram diversos detalhes, sentimentos, emoções que só existiam em sua própria imaginação.

          Realidade e invenção

        Já no romance o escritor inventa personagens, história, cenários e até época (quando decide situar a ação no futuro, por exemplo). Mas não tira tudo isso do nada.

        Para descrever um ambiente, por exemplo, o romancista mistura vários dados da realidade que ele conhece e inventa outras.

        Uma sala de aula normalmente se compõe de quadro-negro, carteiras, bancos, mesa e cadeira do professor. Mas de repente o escritor resolve incluir um elemento que não faz parte integrante da sala de aula. Foi o que fez o brasileiro Manuel Antônio de Almeida (1830-1861), em seu romance Memórias de um sargento de milícias (1855):

        Foi o barbeiro recebido na sala, que era mobiliada por quatro ou cinco longos bancos de pinho, sujos já pelo uso, uma mesa pequena que pertencia ao mestre, e outra maior, onde escreviam os discípulos, toda cheia de pequenos buracos para os tinteiros; nas paredes e no teto havia penduradas uma porção enorme de gaiolas de todos os tamanhos e feitios, dentro das quais pulavam e cantavam passarinhos de diversas qualidades: era a paixão predileta do pedagogo.

        Gaiolas de passarinho numa sala de aula? É uma coisa bem esquisita, mas está aí para mostrar uma característica importante do “pedagogo”, ou seja, do professor.

        Quando cria suas personagens, o romancista também aproveita muitos elementos reais de pessoas que ele conhece ou apenas viu passar na rua. E acrescenta detalhes essenciais para marcar bem os aspectos mais relevantes da história que deseja contar:

        No romance Dom Casmurro (1900), uma das maiores obras-primas de nossa literatura, Machado de Assis descreve Capitu, uma de suas criações mais extraordinárias. Ele nos diz que na adolescência Capitu era uma menina “alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado”. Que tinha “cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo”. Que era “morena”, de “olhos claros e grandes, nariz reto e comprido”, “a boca fina e o queixo largo”.

        Até aí nada nos sugere a personalidade de Capitu. Porém, mais adiante, no mesmo romance, Machado nos diz que sua personagem tinha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. E com isso nos faz esperar que, ao longo da história, Capitu faça alguma coisa deia e se finja de inocente.

        Esses olhos são um detalhe fundamental na caracterização da personagem. E não são olhos que Machado de Assis andou encontrando na rua a todo instante. Ele os imaginou para com pouquíssimas palavras definir o caráter de Capitu.

        Um romancista também inventa grande parte da história, reformulando fatos da vida real, selecionando e “cruzando” histórias de várias pessoas que ele conhece ou sobre as quais leu ou ouviu falar.

        Você também pode escrever histórias. Basta observar o que acontece a sua volta, dar asas à imaginação e à sensibilidade. Repare, por exemplo, naquele mendigo que todo dia você vê sentado na calçada quando vai para a escola. Não fique encarando o coitado do homem, mas olhe para ele discretamente, procure registrar na memória alguns traços marcantes de seu rosto, alguns detalhes de sua roupa. Será que o jeito dele sugere um sujeito bondoso e inteligente, ou um brutamontes? E como será que ele caiu na miséria? Perdeu o emprego, não achou outro, começou a beber, foi abandonado pela mulher...? Invente uma história para ele.

          Pequena viagem pelo mundo da arte, Hildegard Feist.

                          Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 167/70.

Entendendo o texto:

01 – O que contam os filmes? O que são imagens visuais e sonoras?

      Contam histórias, drama interior. Imagens visuais e sonoras são aquelas que podemos ver e ouvir.

02 – Qual é a diferença entre literatura e o cinema?

      A diferença é que a literatura usa exclusivamente palavras.

03 – Quais são as formas usadas na literatura para apresentar uma situação específica? Comente-as.

      As formas são a prosa e a poesia.

04 – O que é um poema lírico e o que pretende?

      O poema lírico expressa mais sentimentos, estado de espírito e emoções. Suas situações são específicas, sem contar uma história com começo, meio e fim.

05 – Traga para a sala alguns poemas líricos e comprove o que acabamos de afirmar.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Faça uma pesquisa, em pequenos grupos, sobre Vinícius de Moras: sua vida, sua arte, suas características pessoais. Procure fazer um jornal mural juntamente com os demais grupos da sala.

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Analisando o poema de Vinícius, pergunto: você concorda que a expressão de repente tem grande força no poema? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal d aluno.

08 – O que é poesia épica? Como também é chamada a poesia épica?

      A poesia épica conta histórias grandiosas de heróis e de lutas. Ela também é chamada de epopeia.

09 – Qual é a mais famosa poesia épica da língua portuguesa?

      Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.

10 – Qual o herói desse poema tão famoso e universal?

      Vasco da Gama.

11 – No Brasil tivemos uma grande poesia que também escreveu poemas épicos. Quem foi ela?

      Cecília Meireles.

12 – Todos os poemas épicos são verdadeiros em sua totalidade? converse a respeito com seus colegas.

      Não. O poema épico pode apresentar fatos verídicos ou imaginados.

13 – Passando para o romance, responda às questões abaixo: As respostas são conclusivas a partir da leitura do texto Realidade e invenção.

a)   O que faz o romancista ao compor seus trabalhos?

Parágrafos 1 a 3.

b)   Comente o que fez Manuel Antônio de Almeida ao descrever uma sala de aula. O que o romancista faz é usar criatividade? Justifique sua resposta à segunda parte desta questão.

Parágrafos 3 a 5.

c)   Falando das personagens, como age o romancista em relação a elas? Por quê?

Parágrafo 6.

d)   Temos como exemplo citado no texto informativo a personagem Capitu – uma das mais famosas de Machado de Assis. Descreve suas características físicas e psicológicas que terão grande importância no desenrolar dos fatos.

Parágrafos 7 a 9.

e)   Os acontecimentos num romance são todos voltados a um determinado fato ou são o fruto final da imaginação do autor? Por que isso acontece?

Há muita imaginação misturada com a realidade. A ficção se faz presente.

f)    Realize a atividade descrita no último parágrafo do texto. 

Resposta pessoal do aluno. Professor, organize e apresentação do pequeno romance narrativo que os alunos comporão nesta atividade.

 

CONTO: O MUNDO SEM MIM - GUSTAVO CORÇÃO - COM GABARITO

 CONTO: O MUNDO SEM MIM

     Gustavo Corção

   Teria eu uns doze anos quando um dia me assaltou a mente, com particular relevo, a ideia de que o mundo já existira sem mim. Essa ideia é aparentemente trivial, pois nenhum de nós, em são juízo, pretende ter sido companheiro de armas de Carlos Magno, ou tripulante da caravela de Cristóvão Colombo. O mundo, evidentemente, era mais antigo do que o menino que suspendia o brinquedo para olhar em volta de si com estranheza; ali estavam as pessoas mais velhas, as grossas árvores, as casas, as montanhas, tudo a me falar de uma história anterior e de um cenário anterior.
Mas o caso é que eu, de repente, achava muito esquisita essa ideia tão simples.

        As pessoas mais velhas tinham um privilégio perturbador: bastava-lhes querer, para que dentro delas se armasse um mundo em que eu não era, nem havia necessidade que fosse. Pedia então à mamãe:

        -- Conta uma história de antigamente.

        Ela contava. A gente grande virava criança, os mortos saíam das sepulturas, e as crianças como eu, nesse recuo, mergulhavam na morte branca do não-ser. E de todas as transmutações era essa a que me parecia mais incompreensível. Na história que minha mãe contava, os personagens não davam por falta de mim; ninguém esperava por mim. Os mortos mais mortos, que não chegavam a emergir na data do episódio, eram todavia lembrados, e lá
estavam presentes pelos ecos e vestígios. Havia o Barão, a tia Elvira, que fora ao baile da Ilha Fiscal, o Juvêncio, negro legendário pelos exemplos de fidelidade e dedicação. O nome deles, a saudade deles entrava na história. A marca deles.
Eu não. Naquela cena vagamente amarela, que eu via desenhar-se atrás da testa de minha mãe, revivia um mundo em que eu não era; nem havia necessidade que fosse.

                                                            Lições de abismo. Rio de Janeiro: Agir, 1989, p. 69-71.

             Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 71/3.

Entendendo o texto:

01 – Segundo o narrador, a ideia de que o mundo já existia sem ele é “aparentemente trivial”. Por que é uma ideia trivial?

      Porque qualquer pessoa sensata sabe que não existia no tempo de acontecimentos históricos do passado.

02 – Localize esta frase, no primeiro parágrafo: “O mundo, evidentemente, era mais antigo do que o menino...”. Que evidências o menino tinha de que o mundo era mais antigo que ele?

      O que ele via à sua volta com mais idade que ele: as pessoas mais velhas, às árvores grossas (logo, de muitos anos), as casas, as montanhas.

03 – Recorde o início do segundo parágrafo: “As pessoas mais velhas tinham um privilégio perturbador”. Privilégio designa uma vantagem: as pessoas mais velhas tinham uma vantagem que o menino não tinha.

a)   Que privilégio tinham as pessoas mais velhas?

Podiam recordar acontecimentos anteriores ao nascimento do menino.

b)   Por que isso era um privilégio?

Porque as pessoas mais velhas podiam ter recordações que o menino não podia ter.

c)   Por que, para o menino, ouvir uma história de antigamente era uma forma de compensar o privilégio que tinham as pessoas mais velhas?

Porque ficava conhecendo os acontecimentos que as pessoas mais velhas conheciam.

04 – Localize esta frase no quarto parágrafo: “E de todas as transmutações era essa a que me parecia mais incompreensível”.

a)   Quais são “todas as transmutações a que se refere o narrador?

Gente grande passava de adultos a crianças, mortos voltavam a viver, crianças deixavam de existir.

b)   Qual era a transmutação que parecia mais incompreensível?

A de as crianças deixarem de existir, não participarem das histórias de antigamente.

05 – Na história que a mãe contava, “os mortos saíam das sepulturas” e “as crianças mergulhavam na morte branca do não-ser”.

a)   Por que os mortos saíam das sepulturas?

Porque, no tempo em que se passava a história, ainda não tinham morrido, participam da história como personagens.

b)   Em geral, fala-se da morte do ser: a perda da vida por um ser até então vivo. O que significa, no texto, “morte do não-ser”?

Morte como ausência de vida, referindo-se ao período antes de um ser existir.

c)   Por que, na história, as crianças mergulhavam na morte do não-ser?

Porque, no tempo em que se passava a história, ainda não existiam, ainda não eram seres, ainda não tinham vida.

06 – Da “história de antigamente” contada pela mãe, não participavam:

·        Os que já tinham morrido na época do episódio;

·        Os que ainda não tinham nascido na época do episódio.

Entretanto, há uma diferença na forma como uns e outros são tratados, na narração do episódio; qual é a diferença?

      Os que já tinham morrido estavam presentes na história, porque eram lembrados, eram mencionados; os que ainda não tinham nascido estavam inteiramente ausentes da história, porque ainda não existiam e nem se sabia que viriam a existir.

07 – Observe no texto as expressões: “Morte branca do não-ser” e “Naquela cena vagamente amarela, que eu via desenhar-se atrás da testa de minha mãe...”

a)   Por que, para o narrador, a morte do não-ser é branca?

Porque a cor branca é associada à ausência, ao nada.

b)   Por que o narrador vê como sando amarela a cena da “história de antigamente” que a mãe conta?

Porque as coisas antigas se tornam amareladas (fotos, papéis, etc.), o amarelo é associado ao velho, ao antigo.

08 – O narrador não estranha a ideia de não ter sido companheiro de Carlos Magno ou de Cristóvão Colombo, mas estranha a ideia de não ser companheiro dos personagens da história que a mãe conta. Por que a segunda situação lhe parece estranha e a primeira não?

      A primeira situação não é estranha porque ele não é estranha porque ele não tem uma relação pessoal com figuras dos acontecimentos históricos, são acontecimentos de que ele não participaria mesmo se estivesse vivo na época; a segunda situação é estranha porque são pessoas com quem ele tem uma relação pessoal, sente-se parte integrante do grupo familiar que, no entanto, viveu no passado sem a presença dele e sem que ele fizesse falta.

09 – Retome a primeira questão e explique, agora, por que, para o narrador, a ideia de que o mundo existira sem ele é aparentemente trivial: parece trivial, mas não é. Por que não é?

      Se é trivial em relação ao passado histórico, não é trivial, é estranha em relação ao passado da própria família.

10 – Faça como o narrador: pense no mundo sem você. Você acha, como o narrador, essa ideia esquisita? Ou não? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.