segunda-feira, 10 de agosto de 2020

POEMA: PECADO ORIGINAL - ÁLVARO DE CAMPOS - COM GABARITO

 Poema: Pecado Original

             Álvaro de Campos

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!


Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa

Entendendo o poema:

01 – Pode-se dizer, quanto ao sentido geral do poema, que:

a)   Sua temática é de natureza psicológica, pois se baseia na autenticidade do ser humano.

b)   Sua temática transcende a psicologia porque um dos elementos fundamentais do texto é o destino do homem jogado num mundo aparente.

c)   Sua temática é moral e psicológica, pois se refere à fuga do que se havia proposto na infância e posteriormente.

d)   Sua temática problematiza a realidade do ser humano.

e)   O texto, por ser totalmente negativista, não se presta a qualquer rotulação.

02 – A leitura atenta do texto permite concluir que:

a)   A história da humanidade é inenarrável.

b)   É impossível narrar a história da humanidade, mas, se alguém conseguisse fazê-lo, ela seria a história da própria essência do homem.

c)   A verdadeira história da humanidade só poderia ser contada por quem tivesse consciência de todas as possibilidades de vida que não se realizaram.

d)   A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por um só indivíduo que realizasse todas as possibilidades que se abrissem para a sua existência.

e)    A verdadeira história da humanidade poderia ser escrita por quem tivesse a consciência de tudo aquilo que de fato aconteceu com todos os homens e com o mundo exterior.

03 – No poema a afirmação de que “a história do que poderia ter sido” será, “se alguém a escrever, a verdadeira história da humanidade”, o que o eu lírico pretende mostrar nesses versos?

      Pretende mostrar que os projetos de futuro são aquilo que revela a verdadeira essência das pessoas que os fazem.

04 – No verso: “Sou quem falhei ser” mostra, precisamente, que aquilo que o sujeito poético desejou e não alcançou é o que o define como pessoa. Que figura de linguagem há nesse verso?

      Antítese.

05 – A confissão da falha do sujeito poético mostra o quê?

      Mostra ainda a consciência da frustação dos seus projetos de vida.

06 – A referência à infância, realizada no poema, corresponde a que momento da vida do sujeito poético?

      Ao tempo em que ele vivia na verdade, no “sonho à janela...”, já que a infância era o momento em que ele poderia ser quem quisesse e podia fazer projetos e vivenciar sonhos que pensava realizar um dia.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário