segunda-feira, 13 de abril de 2020

CRÔNICA: PAREM DE MATAR CACHORROS! FABRÍCIO CARPINEJAR - COM QUESTÕES GABARITADAS


Crônica: PAREM DE MATAR CACHORROS! 
                   
      Fabrício Carpinejar

  Ou a memória é um retrovisor que não tem como arrancar

        Na BR-116, é certo que encontrarei engarrafamento e cachorro morto. A cada animalzinho estirado na mureta, tapo os olhos de meu filho Vicente – não é uma boa recordação para se levar à escola logo de manhã.
        Mas fui notando que teria que deixá-lo vendado o trajeto inteiro. No intervalo de 10 quilômetros, avistava um novo corpo já despossuído de alma e Deus, inchado e anônimo, sem a gentileza de cruz e o amparo da coleira.
        Cachorro atropelado na Grande Porto Alegre é tão frequente quanto as capivaras abatidas na BR-471.
        Procurava desvendar como o cão atingiu o miolo da estrada. Na minha idealização, o bicho esquecera o caminho de volta e não contara com sorte ao cruzar a mão dupla. Por uma série de tristes casualidades, fora jogado na loucura assassina de um autorama.
        Não me passava maldade pela cabeça. Sei o quanto um cachorro costuma cheirar caminhos e se distrair com facilidade.
        Até que descobri que existe um nazismo canino. Cachorros são abandonados na rodovia pelos próprios donos. Aquilo que vejo todo o dia não representa acidentes, é, sim, resultado de uma matança deliberada.
        Famílias compram ou recebem de presente um cãozinho, acham que é barbada cuidar, enfrentam uma semana de experiência, gastam demais com ração e higiene, e decidem sacrificar o hóspede. Sem tempo a perder, desaparecem com as provas de uma existência. E ainda raciocinam que não é um assassinato, que Palmira Gobbi é apenas o nome de uma avenida. Fingem acreditar que não cometeram mal nenhum, largaram o pequeno à mera provação do destino.
        O motivo é sempre gratuito. Matam o cão para prevenir incômodos. Ou porque ele adoeceu ou envelheceu. Ou porque o remédio e o veterinário são caros ou porque o abrigo é longe e não podem se atrasar para o trabalho.
        Que mundo é este? Pela janela, eliminam uma vida com a leviandade de alguém que arremessa longe uma bagana de cigarro, uma embalagem de picolé, um saco de salgadinho. Absolutamente crentes na impunidade.
        Quem faz isso não merece perdão. Não merece explicação. Não merece defesa. É um crime premeditado. A mais implacável execução que conheço, antecedida de lenta tortura emocional.
        Repare na insensibilidade: o dono mente ao seu cachorro que irão passear, para desová-lo no corredor da morte. Calcule o terror do bichinho quando não entende o castigo, e corre uivando, desesperado, atrás de um carro que nunca será mais o seu.
        Cansei de esconder os olhos de meu filho.
                                                                              Fabrício Carpinejar
Entendendo a crônica:

01 – O texto é construído com base nas informações que o cronista colhe nos lugares que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:
a)   Qual fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?
O fato de todo dia o autor ter que por uma venda nos olhos de seu filho, no trajeto da escola porque sempre havia cachorro atropelado na rua.

b)   Em que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?
No sexto parágrafo.

c)   Descreva o lugar onde ocorreu o fato.
Na BR – 116, na Grande Porto Alegre e na rua Palmira Gobbi.

02 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?
      O fato é contado em 1ª pessoa do singular.

03 – Quem são os personagens do fato narrado?
      O autor, seu filho e os cachorros atropelados.

04 – Quais características pertinentes ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?
      Personagens – narrador – um fato – ações – clímax – desfecho – espaço.

05 – No texto estudado predomina a ação ou a reflexão? Comente.
      A ação, pois o cronista nos revela um crime premeditado de cães em plena rodovia pelos próprios donos, sem sequer direito de se salvarem.

06 – Existe uma relação entre a situação vivida pelas personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.
      Sim, infelizmente deparamos com pessoas insensíveis que praticam tamanha atrocidades.

07 – Qual o desfecho da crônica?
     O autor diz que cansou de esconder os olhos de seu filho desta dura realidade.


QUADRO: MOÇAS À MARGEM DO SENA - GUSTAVE COUBERT - COM QUESTÕES GABARITADAS


Quadro:  Moças à Margem do Sena
A imagem em foco – Análise e apreciação
                          Quadro Moças à Margem do Sena: Verão (1857), de Gustave Courbet

Entendendo a pintura:

01 – O título do quadro dá pistas importantes para sua compreensão. Além disso, observe alguns detalhes da tela, como o buquê de flores que uma das moças tem sobre o corpo, uma bolsa com tom vermelho-vivo na parte direita superior e a presença de um barco ancorado na margem do rio.
a)   Em que lugar estão as moças retratadas?
A margem do Sena.

b)   Levante hipóteses: como provavelmente chegaram a esse lugar?
É possível que a pé ou de barco (no caso da outra margem).

c)   O que supostamente foram fazer lá?
Provavelmente foram se refrescar, pois é verão.

d)   O que provavelmente estavam fazendo, antes de se deitarem para descansar?
Colhendo flores, em virtude da presença de um buquê na mão de uma delas.

02 – Na pintura clássica, era comum as personagens e as cenas retratadas fazerem parte de uma história conhecida, quase sempre da mitologia. Na pintura romântica, havia uma inclinação para os painéis grandiosos, dramáticos, cheios de emoção. Tais características se verificam no quadro em estudo? Justifique sua resposta com características das personagens do quadro.
      Não. O quadro retrata uma cena comum, mostrando duas moças que descançam. Essas não são figuras históricas ou mitológicas.

03 – Na pintura romântica, tanto a natureza quanto os seres humanos são retratados de forma especial, elevada, grandiosa. As personagens, destacadas por sua beleza ou pela grandiosidade da situação que estão vivendo, dão sempre a sensação de estar posando para o pintor. Observe as personagens do quadro de Courbet e responda:
a)   As duas moças apresentam uma beleza idealizada?
Não. Formam um conjunto gracioso, mas não chegam a ser bonitas, tanto pelos critérios da época como pelos de hoje.

b)   Na sua opinião, o ambiente natural tem um papel decisivo na significação do quadro ou é um cenário comum?
É um cenário comum que não possui uma significação destacada no conjunto.

c)   As personagens parecem estar posando para o pintor ou parecem ter sido flagradas num momento de descontração e intimidade? Por quê?
Parecem ter sido flagradas num momento de descontração e intimidade, pois tem as roupas desalinhadas pela posição de descanso em que se encontram e, enquanto uma tem o olhar distante, a outra dorme.

04 – Quais dos seguintes sentimentos e sensações é possível depreender do quadro de Courbet?
·        Sentimento místico.
·        Sonolência.
·        Preguiça.
·        Sensualidade.
·        Amor.
·        Delicadeza.
·        Tédio.
·        Alegria.
·        Calor.

05 – Logo, o quadro parece estar interessado em captar uma dimensão física e material ou uma dimensão interior, espiritual?
      A obra em estudo é bem próxima ao real.

06 – Considerando as respostas dadas na questão anterior (4 e 5), conclua: a obra em estudo é mitológica, grandiosa, dramática e idealizada, ou é uma obra que se aproxima do real?
      A obra ilustra bem os dois comentários. Coubert é considerado o primeiro grande pintor do Realismo, rompendo com a tradição clássica e romântica, ele abriu as portas para a pesquisa em torno da cor e das técnicas de representação, traços que caracterizam o grande grupo de pintores impressionistas e simbolistas.

07 – Leia estes dois comentários, um do próprio Courbet e outro de um crítico de arte:
I – “A pintura é uma arte essencialmente concreta, e não pode consistir senão na representação de coisas reais e existentes.” (Gustave Courbet).
II – “Courbet quer viver a realidade como ela é, nem bela nem feia: para chegar a isso, não tendo outro caminho, desfaz-se de todos os esquemas, preconceitos, convenções, tendências do gosto. Para tocar a verdade, ele elimina a mentira, a ilusão, a fantasia. Tal é o seu realismo, princípio antes moral do que estético.” (Giulio C. Argan)
        Confronte-os com o quadro em estudo e responda: a tela Moças à margem do Sena; Verão corresponde aos princípios estéticos defendidos por Courbet e aos comentários feitos pelo crítico? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

CONTO: CIÚME FATAL - WILLIAM SHAKESPEARE - COM GABARITO

Conto: CIÚME FATAL
          
 William Shakespeare

     De volta ao castelo, Desdêmona correu a procurar o marido em todos os lugares onde ele poderia estar àquela hora. Porém não o encontrou em parte alguma.
        Um mau pressentimento lhe ocorreu; contudo, ela o afastou de imediato, lembrando-se de que Otelo não havia dormido na noite anterior. Com certeza ele havia ido descansar após o expediente da manhã e acabara dormindo, tendo se atrasado para o almoço.
        Reconfortada por essa ideia, ganhou o rumo do corredor e encaminhou-se para o quarto. Não chegou, porém, a caminhar dez passos e Otelo surgiu: o punhal na mão direita, o lenço e a carta na esquerda, os olhos vermelhos, a boca crispada, a respiração ofegante. Ao vê-lo, Desdêmona parou, estupefata, e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu a lâmina fria e fina penetrar-lhe o peito.
        -- Otelo... – gemeu, caindo sem vida.
        O mouro ficou parado, segurando a arma de seu crime e as falsas provas do crime da esposa. Contemplava o rosto de Desdêmona, imobilizado para sempre numa expressão de espanto e pavor.
        Nesse momento, Emília apareceu na outra ponta do corredor. Ao deparar com o quadro horrível, deteve-se por uma segundo, assustada, mas logo recuperou a coragem e aproximou-se depressa:
        – Oh, não... não ...
        A aia, ajoelhou-se ao lado da patroa e abraçou-a tão estreitamente que suas próprias roupas ficaram ensanguentadas. Otelo apenas olhava, talvez sem ver.
        Os soluços de Emília chegaram aos ouvidos de Montano, que caminhava pelo corredor externo, não longe dali, e em alguns instantes o capitão estava também diante da triste cena. Pouco depois surgiu Iago, ofegante por ter corrido, supostamente na tentativa de impedir o mouro de cometer a loucura para qual trabalhava com tanto esforço e astúcia. Os dois homens ficaram mudos, olhando para Desdêmona e Otelo que, por fim, parecendo recobrar a consciência, num fiapo de voz declarou, sem necessidade:
        – Fui eu quem a matei.
        A confissão fez os outros recuperarem a fala.
        – Mas... por quê? – gaguejou Montano.
        – Ela me traía... Com... Cássio! – completou, avançando na direção do tenente, que acabava de assomar ao corredor.
        Montano e Emília rapidamente saltaram sobre Otelo e agarraram-no pelos braços, com toda a força que tinham. Era evidente, porém, que, sozinhos, não conseguiriam segurá-lo por muito tempo. Precisavam de ajuda. Iago, mesmo contra a vontade, achou-se na obrigação de colaborar. Seu plano corria o risco de não se completar, pois incluía a morte de Cássio; no entanto, se não participasse daquela ação, acabaria por denunciar seu desejo de sangue.
        – Que loucura! – exclamou o tenente, acercando-se do corpo inanimado da prima. – Desdêmona amava o senhor, general, desde o momento em que a conheceu. O senhor foi seu primeiro e único amor!
        – Mentira! Vocês me usaram! – gritou o mouro, debatendo-se furiosamente entre as mãos que o prendiam. – O casamento não passou de um plano para ela sair da casa do pai e continuar esse romance sujo com você. Está aqui... eu li... – continuou, tentando estender para os outros as provas da traição. – Primeiro ela lhe deu o lenço, achando que com isso me afastaria. Depois escreveu a carta, contando que o plano avançava bem. Está tudo aqui... Veja! Vejam todos!
        Balançando a cabeça, inconformado, Cássio aproximou-se mais do comandante e apanhou os objetos que segurava.
        – Mas... onde estava isto? ... – balbuciou, pousando em Otelo um olhar carregado de angústia.
        – Ainda pergunta? – o general contorcia-se como uma fera amarrada. – Estava em seu quarto.
        – Mas... como?
        Cássio não entendia como aquelas coisas teriam ido parar em seu quarto. Entretanto, na cabeça de Emília, o enigma principiava a desvendar-se rapidamente.
        – Foi Iago quem pôs isso lá – declarou a mulher, com firmeza.
        (...)
        Era verdade. Emília tinha razão. O general de mil batalhas, de triunfos e glórias, de estratégias invencíveis, havia se deixado enganar por truques grosseiros. Otelo soltou um longo suspiro e deixou a cabeça altiva pender, desalentada, sobre o peito. Já não parecia merecer o título de “soberbo guerreiro” e em nada lembrava o Leão de Veneza. Ao contrário, mostrava-se tão abatido e inofensivo que os homens acabaram por soltá-lo
        (...)
        E, antes que alguém pudesse pensar em detê-lo, ergueu o punhal com ambas as mãos e cravou-o mortalmente na garganta.

     William Shakespeare, Otelo. Adaptação de Hildegard Feist, São Paulo, Scipione, 1992.
Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 95-8.

Entendendo o conto:

01 – Como se explica a atitude passiva de Desdêmona, apesar do seu “mau pressentimento”?
      Ela era uma mulher honesta, sem culpas, por isso não se preocupou com os maus pressentimentos que tivera.

02 – Ao descrever Otelo, no início do texto, qual é a imagem que o autor nos passa?
      De uma pessoa alucinada, completamente arrebatada pela dor do ciúme e da incerteza.

03 – Por que ele diz que “Otelo apenas olhava, talvez sem ver”?
      Seu desespero e ciúme eram tão intensos que ele apenas movia os olhos na direção de Desdêmona, mas não conseguia enxerga-la.

04 – Quem é Iago? Qual é o seu papel nessa trama?
      Iago é o mentor da trama. Para separar o casal, faz com que Otelo enlouqueça de ciúme e mate Desdêmona.

05 – O que ele fez para desencadear o ciúme no coração de Otelo?
      Simulou um romance entre Desdêmona e seu primo Cássio.

06 – Como se descobriu a inocência de Desdêmona?
      Emília, sua fiel camareira, sabia da trama e denunciou os planos de Iago, acusando-o de ter colocado o lenço e a carta no quarto de Cássio.

07 – Qual foi a reação de Otelo, ao constatar seu engano?
      Abatido pela tragédia, pela loucura do seu ato, se suicidou com um punhal.

08 – Otelo era um respeitado general, possuidor de vários títulos como e de “soberbo guerreiro” e o de “Leão de Veneza”; entretanto transforma-se num fraco, vencido pelo ciúme. Por que o ciúme é tão destrutivo?
      Além de enfraquecer as pessoas, ele tira a tranquilidade e obscurece a razão do ser humano, que passa a agir sem pensar.

09 – Algumas pessoas dizem que “o ciúme é o tempero do amor”. O que você pensa sobre isso?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – De que forma superamos certos sentimentos que nos impedem de crescer?
      Sendo mais forte e racionais. Analisando bem o que sentimos, antes de decidir qualquer coisa.



CRÔNICA: TERNO X TÊNIS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO


Crônica: Terno X Tênis
          
                 Walcyr Carrasco

        É incrível. Os maitres e garçons de restaurantes finos andam mais chiques que a decoração. Se chego descontraído, de tênis e jeans, me tratam como se fosse um meliante. Aparece alguém de terno seja tão elegante quanto uma barraca de acampamento. Dia desses, um amigo, diretor de empresa, foi me encontrar em um estrelado do Itaim. Desembarcou do táxi de calça de preguinhas e camiseta. O maitre aproximou-se, com um sorriso de boca torta:
        -- Onde o senhor vai?
        -- Almoçar.
        -- Tem reserva?
        Por sorte, eu já estava lá dentro. O restaurante, um deserto. Fomos tratados como candidatos a faxineiros. Quando pedi sobremesa, o garçom me olhou com jeito desconfiado. Como se fosse um atrevimento da minha parte. Nem tive coragem de dar cheque. Ofereci o cartão de crédito, que ele ficou revirando alguns momentos nos dedos.
        Porteiros de prédio são piores. Fui visitar uma amiga em seu novo apartamento no Morumbi. Vesti tênis, jeans, camisa branca. Falei com a guarita pelo interfone. O porteiro:
        -- Não sei se ela vai poder atender.
        Fico furioso: ele tem de saber de alguma coisa? Por acaso foi contratado como secretário, para tratar da agenda dela? Pois que ligue o interfone e verifique. Ele me olha com rancor. Chega um rapazinho de terno e gravata, todo amarfanhado. Parece que dormiu dentro de uma batedeira de bolo. Mal espeta o dedo na campainha, o porteiro abre solícito:
        -- Posso ajudá-lo em alguma coisa?
        Pior me aconteceu numa corretora de investimentos. Sou atendido no portão por uma recepcionista de calça de linho. Peço para falar com um amigo que trabalha lá.
        -- Está numa reunião e não pode atendê-lo – rugiu o cavalheiro, sem saber do que se tratava.
        -- Só vim buscar um livro. Talvez a secretária possa passar um bilhete e resolver o assunto.
        -- O quê? Ela não pode, não. Pensa que todo mundo é obrigado a fazer suas vontades?
        Fico em dúvida: chamo a ambulância? Loucura tem limite. Mais louco deve ser o dono da empresa, que deixa alguém atender à porta dessa maneira. Em casa, me examino no espelho. Pareço um espantalho? Coisa nenhuma: gosto de misturar paletó com jeans, blazer com camiseta. Igualzinho nas revistas de moda. Talvez o negócio seja botar uma delas embaixo do braço e negociar:
        -- Olha aqui, seu maitre. Estou vestido que nem o moço da foto. Não me trata mal.
        Com as mulheres é até pior. Uma amiga que faz o gênero descontraído vive sendo barrada. Nem ousa chegar perto de restaurante francês. Costuma ficar ancorada no bar horas e horas, porque nunca tem mesa. Se insiste, é atarraxada no fundo da sala e passa a noite toda tentando atrair a atenção dos garçons. Que fogem, de nariz empinado. Acham brega atender quem parece suburbano. Sem falar das casas noturnas que proíbem tênis. Hoje, por um desses mistérios de indústria, um par tornou-se mais caro do que mocassim. O recepcionista parece sentir um prazer sádico em declarar:
        -- De tênis não entra.
        Fico fascinado ao verificar como certas pessoas adoram bancar o oficial nazista. Um terno pode ter sido comprado a prestação. O jeans pode ser de grife. Analisar uma pessoa pelo que ela veste só dá confusão, pois atualmente, à primeira vista, um encanador e um milionário correm o risco de andar com roupas parecidas. O que me dá mais raiva é que maitres, garçons e porteiros talvez pensem que são tão finos como as cadeiras e os objetos de arte dos lugares onde trabalham. Mas e na hora de ir para casa? Algum deles possui, por acaso, a última coleção de Paris no guarda-roupa? Ou um terninho soterrado na naftalina, para usar em casamento de amigos? Fico imaginando que chegam em casa e caçam caramujos no quintal só para ter o prazer de comentar:
        -- Em casa tem escargot.
        O pior de tudo: e se alguém quiser torrar as economias num restaurante de luxo, merece ser mal recebi só porque ganha pouco?
        Cheguei a tentar usar terno até para ir à quitanda. Me dei mal. Noite dessas, me emperiquitei todo e fui a um restaurante. Até coloquei minha gravata inglesa com desenho de porquinhos. Adiantou? Percebi o olhar de censura do maitre cabeludo no instante em que pus os pés no local, próximo da Avenida Paulista. Todos os garçons de jeans e tênis. O único de gravata era eu. Ouvi um comentário:
        -- Olha o cafona.
        Quase choro. Regra vem, regra vai, eu sempre acabo como espantalho. Ai, que vida!
                                   Walcyr Carrasco, O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1996. Para gostar de ler, v. 20.
                                   Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 149-152.
Entendendo a crônica:

01 – A seu ver, por que as pessoas de terno são mais bem tratadas do que as de tênis? Ou você discorda do autor? Esclareça a sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A aparência das pessoas influencia muito o comportamento de quem julga o ser humano pelo que veste e possui; na nossa sociedade, usar terno é sinal de status; tênis é popular.

02 – Além dos maitres, garçons e porteiros, que outras pessoas assumem o mesmo comportamento discriminatório? Que incoerência há na atitude desses profissionais?
      Balconistas que acham tudo barato porque estão vendendo e não comprando. Certas cabeleireiras, recepcionistas, secretárias, sem muita experiência, que ficam afetadas ao se relacionar com o público. São normalmente pessoas humildes, que lutam com dificuldades e por isso não têm boa aparência. Mesmo assim, criticam os outros.

03 – Explique o sentido das seguintes frases do texto:
a)   “Mesmo que o terno seja tão elegante quanto uma barraca de acampamento”.
Há ternos mal confeccionados, com péssimo caimento no corpo; por isso o autor os compara a barracas que, geralmente, não são bem ajustadas, causando má impressão.

b)   “Parece que dormiu dentro de uma batedeira de bolo”.
O autor refere-se ao terno todo amarrotado, completamente em desalinho.

c)   “Costuma ficar ancorada no bar horas e horas, porque nunca tem mesa”.
Há pessoas que são mal recebidas devido à má aparência e ficam à espera de uma atenção, que nunca acontece.

d)   “... certas pessoas adoram bancar oficial nazista”.
Trata-se de gente grosseira, sem trato, que tem o costume de ser estúpida com os outros.

04 – Releia esta frase: “Analisar uma pessoa pelo que ela veste só dá confusão...”. Você concorda com essa afirmação? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

05- Por que o narrador foi considerado “cafona”? O que essa nova situação nos mostra?
      No momento em que ele decidiu melhorar seu visual, vestindo terno, de acordo com as convenções sociais, ele destoou dos outros que estavam de jeans e tênis. Isso nos prova que são as pessoas que inventam as regras, tudo não passa de modismo.

06 – Você considera que as pessoas devem sempre seguir as regras sociais? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Narre um outro caso de discriminação de que você tenha conhecimento.
      Resposta pessoal do aluno.



TEXTO: CUIDADO COM O ASSÉDIO SEXUAL - JÔ SOARES - COM GABARITO

Texto: Cuidado com o assédio sexual
       
             Jô Soares

        Deu no jornal: 500 mulheres vão à justiça nos Estados Unidos contra a empresa Mitsubishi por assédio sexual. É o maior processo do gênero. (...).
        Viro para a página de esportes e lá está o campeão Mike Tyson, também acusado de assédio. Não de 500 mulheres, o que seria difícil mesmo para o campeão, mas de uma moça só, que se diz muito abalada pelos ferimentos que sofreu. (...) Há quem diga que foi uma mordida, outros garantem que foi beliscão. Diga-se de passagem que um beliscão dele equivale a atropelamento.
        A mim parece muito difícil que Tyson, depois de tudo por que passou, tenha se envolvido em mais essa. (...).
        De qualquer forma, não quero duvidar da queixosa. Por ter sido assédio e pode ser que não. O que é assédio para uns é galanteio para outros. Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual? Para aqueles que não estão muito bem informados sobre o assunto, aqui vão algumas dicas preciosas:
        O que é o assédio sexual?
        Aperto de mão por mais de dez segundos – Pode ser considerado assédio, sobretudo se o apertador de mão ficar olhando fixamente a vítima. (...).
        Mexer as sobrancelhas várias para cima e indicar o seu carro estacionado bem em frente – Assédio certo. Principalmente quando o sobrancelheiro em questão tem o hábito de ficar rodando as chaves do automóvel nos seus dedos. (...).
        Pedir para dar uma voltinha com o cachorro da vizinha – Já foi considerado uma abordagem original em 1648. Hoje em dia é assédio. Se a dona do animal for casada e o marido ouvir, ele pode obrigar o assediador a passear sozinho com o cão durante várias horas, até de madrugada, sob a mira de uma espingarda calibre 12.
        Assédio sexual específico do Mike Tyson – Qualquer coisa que ele faça é considerada assédio. Se ele respirar perto de alguém, homem ou mulher, não importa a idade, esse simples ato natural será imediatamente qualificado de fungada no pescoço.
                Jô Soares, in revista Veja, 24 abr. 1996.
                                    Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 115-7.
Entendendo o texto:

01 – Por que o autor, já no título, nos alerta quanto ao assédio sexual?
      Por ser muito difícil caracterizar, claramente, o que é assédio sexual.

02 – Segundo o texto, as mulheres são as maiores vítimas de assédio sexual. Como se explica esse fato?
      As mulheres são consideradas o sexo frágil e por isso são o alvo de tantas brincadeiras e atitudes, contra os quais, às vezes, elas não conseguem reagir.

03 – Mike Tyson é um dos mais famosos pugilistas mundiais, detentor do título de campeão, até bem pouco tempo, na categoria dos peso-pesados. Tyson esteve envolvido em vários escândalos, dentre eles o de assédio sexual de que nos fala Jô Soares. Por que, nesse caso, o autor não se mostra muito convencido da culpa de Tyson?
      Tyson foi muito perseguido pela imprensa devido a seu passado de violência. Há pessoas que se aproveitam dessa situação; o autor, sabendo disso, procura se manter cauteloso.

04 – Releia este trecho: “Depois, quem sabe ao certo como definir o assédio sexual?” Você saberia dizer o que é o assédio sexual? Defina-o com clareza.
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Dentre as “dicas preciosas” sugeridas pelo autor, qual lhe pareceu um verdadeiro assédio? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Afinal, qual é a opinião de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual?
      O autor deixa perceber que há situações bastante complicadas que envolvem o assédio sexual. Nesses casos, torna-se quase impossível determinar se houve ou não assédio.

07 – Por que qualquer atitude de Mike Tyson é considerada suspeita, de acordo com o autor?
      Como o lutador é muito grande e forte, qualquer gesto de Tyson pode ofender ou revelar algum atrevimento.

08 – Você concorda com o ponto de vista de Jô Soares sobre a questão do assédio sexual? Esclareça a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.



quarta-feira, 8 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): CARTAS PRA VOCÊ - NX ZERO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Cartas pra Você

                            NX Zero

Eu tento te esquecer
Mas tudo que eu escrevo
É sobre você

Eu não posso me enganar
Fingir que estou bem
Porque não estou

Preciso de você
Essa noite

E hoje estou aqui
Só pra te cobrar
O que você disse
Que iria ser pra sempre
Mas não foi assim
Agora o que me resta
Escrever nessa carta
Pra lembrar

Eu passo tanto tempo
Só te procurando
Em um outro alguém
Mas não posso me enganar
Sinto sua falta
E ninguém pode ver

Entendendo a canção:

01 – Quais os dois gêneros textuais que se misturam nesse texto do NX Zero?
      São os gêneros poema e carta.

02 – A que tipo de carta esse texto melhor se encaixa? Carta pessoal, carta oficial, carta ao leitor, carta ou carta comercial? Explique.
      Carta pessoal, pois é informal, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial.

03 – Pela estrutura, linguagem e temática desse texto, podemos classificá-lo como formal ou informal?
      Informal.

04 – O texto apresenta um eu-lírico (uma voz interior) que expressa suas emoções. Como podemos descrever a personalidade dessa pessoa?
      Sentimental, perseverante e leal.

05 – Qual o objetivo do eu-lírico ao escrever esse texto?
        O objetivo é cobrar a promessa de seu (ua) amado(a) de que seu amor seria para sempre.

06 – Você concorda com a postura do eu-lírico do texto? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – O eu lírico conta algo que:
a)   Está acontecendo no presente.
b)   Aconteceu em um passado bem próximo.
c)   Aconteceu num passado distante.
d)   Acontecerá num futuro próximo.