sexta-feira, 1 de maio de 2020

REPORTAGEM: OS FILHOS DE NINGUÉM - JOAQUIM DE CARVALHO - COM GABARITO

Reportagem: Os filhos de ninguém
                 
      Joaquim de Carvalho

      M. S. M., de 03 anos, não se cansa de escutar elogios do tipo: “Que criança bonitinha”. Mas ela quer muito mais do que isso. No fim de semana passado, ela percorria todo o abrigo em que mora, em São Paulo, pilotando a bicicleta que acabara de ganhar. M. S. M. é uma daquelas crianças que o jargão dos assistentes sociais classifica de “institucionalizada”. M. é uma órfã. Ao nascer, ela foi abandonada pela mãe, também órfã. M. ainda tem dificuldade para falar, mas dá um jeito de dizer que quer uma família só sua – e é urgente. Ao ver um adulto, ela se aconchega, faz graça, prende e solta os cabelos. Se tem lápis e papel por perto, faz desenhos caprichosos. Para alguns, pede até que que lhe deem comida na boca. Com pouco mais de conversa, pergunta se o interlocutor vai leva-la dali. M. tem uma família interessada na sua adoção. Pode ser que deixe o orfanato. Pode ser que consiga esquecer que aprendeu a fazer fila antes mesmo de aprender a andar.
        Segundo estimativa da Secretaria de Assistência Social, órgão do Ministério da Previdência, existem no Brasil cerca de 200.000 meninos e meninas abandonados, dos quais 195.000 estão em entidades de amparo, públicas ou privadas. Dentre os que estão em orfanatos, a maioria, 120.000, tem mais de 6 anos e menos de 14 anos. Os demais, 75.000 crianças, tem menos de 6 anos de idade. Chamados em geral de orfanatos, o que menos há nesses abrigos são crianças órfãs. A maioria são meninos e meninas expelidos da família pela miséria material e pela loucura doméstica – um levantamento realizado nos orfanatos de Belo Horizonte revelou que 15% são filhos de mães que trabalham fora e moram nos empregos, 18% são filhos de pais sem-casa e 7% vêm de famílias paupérrimas, que não podem garantir o sustento da prole. Quinze por cento vão para os abrigos por ter sido vítimas de violência praticada por suas próprias famílias. Só 14% vão para essas instituições por morte ou ausência do pai ou da mãe.
        L. C. M., que passou cinco de seus 10 anos na Fundação Romão Duarte, no Rio de Janeiro, disfarça o trauma de ter sido abandonado pelos pais imaginando como seria uma nova mãe. Em tempo de sociedades globalizadas, ele, que assiste à TV todos os dias, estabelece seus critérios sobre a mãe ideal: “Ela tem de ser francesa e loira”. Mas por que francesa? “Porque na França tem neve”. L. sente saudade da mãe de carne e osso, negra como ele, mas prefere que ela não esteja por perto. “Não queria que minha mãe viesse aqui: ela me bate, faz o que quer, e eu prefiro outra”. Confundindo os tempos verbais, L. fala como se a mãe francesa estivesse por perto. “Eu gosto de abraçar a mãe que eu ainda vou ter”, afirma. A casa de L. é um prédio imponente, casarão construído ainda no tempo do império, com cômodos amplos. Tudo organizado e limpo. E também um tanto frio, apesar das boas intensões dos que nele trabalham.
        Nos grandes orfanatos, tirando o sapato do pé, tudo é coletivo. Roupa, brinquedo, toalha, sabonete, xampu – quando há –, lençol e cobertor pertencem a todos. “Estimulamos o espírito de grupo para facilitar a adaptação das crianças no caso de uma adoção”, explica o padre Clodoveo Piazza, diretor da Organização do Auxílio Fraterno, de Salvador. No Sampaio Vianna, em São Paulo, um dos maiores orfanatos brasileiros, com 350 internos, só se admite como objeto particular aquilo que couber num saco plástico de 5 quilos, que as crianças prendem no espaldar da cama. No caso das roupas, trocadas diariamente, quem faz a escolha é a educadora de plantão. Não há sequer um espaço privativo em armários. “As crianças exigem os sapatos como um bem particular e nós deixamos”, diz Wilson Barbalho da Fonseca Junior, diretor do Sampaio Vianna.
        A coletivização é uma exigência do gigantismo da instituição. Ela tem de funcionar como uma indústria de manter crianças em ordem. É por isso que até o próprio Fonseca acha que os grandes orfanatos deveriam ser desmembrados em unidades menores. “Nas pequenas unidades, as crianças poderiam ser atendidas como indivíduos, e não massa”, afirma ele. No Auxílio Fraterno, em Salvador, e no Romão Duarte, no Rio, os banhos são sempre coletivos e as refeições, servidas em horários rígidos. Se não comer no horário, passa fome. No Sampaio Vianna, em cada quarto dormem trinta crianças. O horário para dormir é livre, mas depois das 9 e meia da noite não se encontra ninguém acordado. As crianças podem assistir à televisão, mas o que elas preferem é que as educadoras contem ou leiam alguma história, ouvida em grupo.
        Para um garoto “institucionalizado”, por sua vez, a única riqueza possível é ter alguém que se preocupe especificamente com ele. Assim, os meninos e as meninas que são visitados pelos próprios pais, ainda que de vez em quando, se consideram mais importantes que outro que só tenha um voluntário a se preocupar com ele. E a criança que conta com a atenção de um profissional se julga em melhor conta do que aquela que não consegue sequer receber um presente de uma alma caridosa no Natal. Ser ou não objeto do afeto de alguém é o que distingue uma criança de outra.
        Uma das maneiras encontradas para substituir a família que os abandonou é inventar uma nova enquanto os pais adotivos não chegam – e eles raramente chegam.
        Embora haja mais adultos interessados na adoção do que crianças disponíveis, a adoção só se concretiza quando os candidatos a pai ou a mãe encontram uma criança próxima de seus sonhos. Em geral, a criança sonhada é ainda bebê e tem traços físicos parecidos com os do pai ou da mãe. Ou de ambos. Dificilmente, por exemplo, branco adota negro. E vice-versa.
        A realidade de uma adoção malsucedida é uma tragédia de consequências talvez ainda mais danosas do que a perda dos pais biológicos.
        Segundo o padre Piazza, é por volta dos 14 anos a fase mais aguda do desejo de conhecer os pais. Para os psicólogos, essa é uma curiosidade instintiva. A pessoa tem necessidade estrutural de saber de que corpo saiu. Sem essa informação, resta uma dúvida incômoda: qualquer namorado ou namorada pode ser seu irmão ou irmã. “Os pais adotivos devem informar seus filhos da adoção e compreender a curiosidade em relação aos pais biológicos”, afirma Antônio Carlos Gomes da Costa, ex-presidente da Febem de Minas Gerais.
        O orfandade tem uma longa história no Brasil. Em 1553, Dom João III, rei de Portugal, determina que as crianças órfãs tenham sua alimentação garantida pelos administradores da colônia. Não era apenas um ato humanitário do rei. Os órfãos tinham um papel fundamental no desenvolvimento da terra descoberta. Eram eles que aprendiam a língua indígena e serviam de intérpretes para os jesuítas e oficiais da coroa. Foi par isso que Portugal mandou uma legião de órfãos para o Brasil. Convivendo com os pequenos índios, arrancados de sua tribo, esses meninos e meninas aprendiam o novo idioma. Em razão de seu ofício, eram chamados de meninos-língua.
        A história da orfandade também registra a existência de um cilindro oco de madeira, com a abertura de um único lado, engenhosa inventada na França para facilitar o abandono de crianças. Era a Roda dos Expostos. Importada pelo Brasil em 1726, teve similares nas grandes cidades até 1948, quando foi desativada a unidade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Instalada no muro d fundo do hospital, girava no sentido da calçada para o interior da Santa Casa, levando um bebê, normalmente acompanhado de uma trouxa de roupas. Quem colocava o bebê na Roda não era visto por quem o apanhava, do outro lado do muro.
                 Revista Veja, 25 dez. 1996. p. 142-50. N° especial. (Texto adaptado).
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 166-71.
Entendendo a reportagem:

01 – O texto trata da orfandade. Que diferença você pode notar no enfoque dado ao assunto no primeiro e no segundo parágrafo?
      O primeiro apresenta uma situação particular de uma criança órfã; o segundo mostra dados estatísticos sobre crianças em entidades de amparo no Brasil.

02 – Se o autor tivesse invertido a ordem de apresentação desses dois parágrafos, você acha que o impacto da leitura seria o mesmo? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Na sua opinião, por que o nome das crianças foi omitido e substituído pelas iniciais correspondentes?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Na linha 2, na frase “Mas ela quer muito mais do que isso”, a que termo do texto se refere a palavra destacada?
      Ela quer elogios.

05 – O que o autor quer dizer com “[...] aprendeu a fazer fila antes mesmo de aprender a andar”?
      As crianças ficam “na fila” à espera de adoção, e nas entidades de amparo devem fazer fila para tudo; tomar banho, receber presentes, etc.

06 – De acordo com o texto, nos grandes orfanatos, todos os objetos são coletivizados. Como essa coletivização é explicada:
a)   Pelo diretor de um dos orfanatos?
Estímulo do espírito de grupo para facilitar a adaptação das crianças em caso de adoção.

b)   Pelo autor do texto?
Exigência do gigantismo das instituições, que tem de funcionar como uma indústria de manter crianças em ordem.

c)   Com qual dessas explicações você concorda? Concorda com as duas? Com nenhuma? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.

07 – “Nos grandes orfanatos, tirando o sapato do pé, tudo é coletivo.” Por que o autor usou a expressão “do pé”, já que ela poderia parecer redundante?
      A expressão “do pé” reforça a ideia do sapato que está em uso. Um outro par de sapatos provavelmente seria passado a outra criança.

08 – Textos informativos geralmente apresentam dados estatísticos a respeito do assunto de que tratam. Dos dados apresentados nessa matéria jornalística, qual foi o que mais o impressionou? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – As estatísticas apresentadas mostram que a palavra orfanato não é rigorosamente adequada para denominar as instituições onde se encontram tais crianças, explique.
      As maiorias das crianças não são órfãs, no sentido estrito do termo; são crianças abandonadas pelas famílias. Os que perderam os pais (ou um deles) constituem a minoria 14%.

10 – Uma característica do texto informativo é a objetividade. No texto lido, apesar de informativo, o autor dá sua opinião, e a própria escolha que faz dos depoimentos das crianças tem intenção de emocionar o leitor, além de servir para dar veracidade ao texto. No trecho seguinte, que parte traz a informação mais objetiva e que parte está mais carregada de emoção? Leia-o: “No Auxílio Fraterno, em Salvador, e no Romão Duarte, no Rio, os banhos são sempre coletivos e as refeições servidas em horários rígidos. Se não comer no horário, passa fome.”
      O primeiro período contém a informação objetiva.

11 – Numa das entidades citadas no texto, as crianças preferem ouvir histórias contadas pelas educadoras a assistir a televisão. Considerando a situação dessas crianças, qual pode ser uma das razões dessa preferência?
      O fato de receber a atenção de uma pessoa, ainda que essa atenção venha de um profissional e seja dividida com o grupo.

12 – Do ponto de vista dos garotos e garotas institucionalizados, a preocupação em possuir coisas parece ser a menor. Qual é a maior?
      Segundo o texto, é ter alguém que se preocupe exclusivamente com eles(as).

13 – Releia: “Ser ou não objeto do afeto de alguém é o que distingue uma criança de outra.”
a)   Por que, nos orfanatos, esse critério acaba pesando tanto na distinção de uma criança da outra?
Por um lado, elas são “massificadas” pela coletivização do espaço e dos bens materiais, bem como pela uniformização dos hábitos. Por outro, há uma extrema carência de afeto.

b)   Você acha que nas famílias esse critério é idêntico? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

14 – Além de apresentar dados estatísticos e depoimentos de pessoas envolvidas, as boas matérias jornalísticas costumam apresentar informações históricas sobre o assunto de que tratam. O que mais o impressionou na história da orfandade no Brasil? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

15 – Que informações novas você obteve ao ler essa matéria jornalística? E que sentimentos essa matéria provocou em você?
      Resposta pessoal do aluno.

16 – Agora, releia a data de publicação da revista da qual retiramos a matéria. Considerando o calendário cristão, comente a relação entre essa data e o tema da matéria jornalística.
      A revista foi às bancas na época do Natal, festa cristã que comemora o nascimento de cristo.


RESENHA: HOMEM-ARANHA -FOLHA DE SÃO PAULO - COM QUESTÕES GABARITADAS


Resenha: Homem-Aranha 

 Filme ganha adaptação acertada   Sérgio Rizzo

     Você pode não saber onde estará nos próximos anos, mas os principais estúdios americanos já sabem o que vão lhe oferecer: Continuações de “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Matrix”, “X-Men” e, agora, ao menos mais duas sequências de “Homem-Aranha”. Tobey Maguire já havia assinado contrato para fazê-las, o que o tornará exclusivo do personagem por algum tempo, mas sempre havia a possibilidade – remota, é verdade – de fracasso do primeiro episódio. O estrondoso sucesso de bilheteria nos EUA, que deve se repetir no Brasil, pavimenta o caminho para outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões.
        Para alegria dos fãs que o personagem em quadrinhos cultiva desde 1962, o diretor Sam Raimi (“Darkman – Vingança sem Rosto” e “Um Plano Simples”) acertou em cheio no conceito da adaptação. Eis, afinal, um super-herói diferente da média. Peter Parker é um adolescente franzino e órfão, que mora com os tios no Queens (bairro sem glamour de Nova York), usa óculos, é apaixonado pela vizinha e jogado para escanteio pelos colegas de escola. Até que um contato imediato com uma aranha radioativa muda-lhe a vida – e ele não sabe muito bem o que fazer com isso. Nasce um mutante com sérios problemas de consciência, no meio do rito de passagem da juventude para a maturidade.
        Os autores o conceberam como um herói “comum” com o qual o leitor de HQs pudesse se identificar, e foi assim que Raimi optou por leva-lo ao cinema. Manteve-se a fidelidade à trama de origens, com modificações inofensivas providenciadas pelo roteirista David Koepp (“O jornal”, “Missão Impossível”). O tom de aventura adolescente, com pitadas de romance, sustenta-se na escolha apropriada de Tobey Maguine (“Tempestade de Gelo” e “Garotos Incríveis”) para o papel principal e de Kirsten Dunst (a menina de “Entrevista com o Vampiro”) para o de sua amada, Mary Jane. Pode-se reclamar da obviedade de escalar o manjado Willem Dafoe como o vilão, o Duende Verde, mas aí também já seria exigir demais de um filme de ação que, com tudo para se enrolar nas dificuldades que a adaptação oferecia, saiu incólume até mesmo na avaliação de seus mais rigorosos críticos, os fãs do Aranha.
              Folha de São Paulo, 17-23 maio 2002. Guia da Folha, p. 6.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 229-30.
Entendendo a resenha:

01 – No final do primeiro parágrafo, o crítico afirma: “...outra série bem-sucedida – embora o adjetivo, aqui, não se restrinja apenas a números e cifrões”.
a)   A que adjetivo ele se refere?
Bem-sucedida.

b)   A que mais se refere o adjetivo, segundo o crítico?
A adaptação ao cinema.

02 – Por que, na opinião do crítico, a adaptação do Homem-Aranha para o cinema foi acertada?
      Porque o diretor manteve o conceito original de um herói comum, diferente, com o qual o leitor de HQ se identifica, manteve-se fiel à trama original; e conseguiu conservar o tom de aventura adolescente na escolha dos atores principais.

03 – Qual é a única crítica que o resenhista faz ao filme?
      A obviedade da escolha do ator que faz o papel de vilão.

04 – Por que ele diz que os críticos mais rigorosos do filme são os fãs do Aranha?
      São eles que conhecem características do herói e detalhes das histórias e, portanto, são mais exigentes em relação a coerência.

05 – Você já assistiu a esse filme? Se não, procure vê-lo em vídeo. Você concorda com o que o jornalista escreveu sobre o filme? Ou você faria diferente? Justifique. Se você já leu os quadrinhos do Homem-Aranha, seja rigoroso.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Escolha uma resenha crítica sobre um filme publicada num jornal de sua região e resuma em três ou quatro linhas a opinião do jornalista.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Durante uma semana leia o maior número possível de resenhas críticas que aparecerem nos jornais da sua região e em outros de grande circulação no país. A que filmes ou espetáculos você tem vontade de assistir com base nos comentários que leu?
      Resposta pessoal do aluno.

terça-feira, 28 de abril de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): FESTA DA NATUREZA - (GEREBA/PATATIVA DO ASSARÉ) - FAGNER - COM GABARITO

Música(Atividades): Festa da Natureza

              Fagner

Chegando o tempo do inverno
Tudo é amoroso e terno
No fundo do pai eterno      
Sua bondade sem fim

Sertão amargo esturricado
Ficando transformado
No mais imenso jardim
Num lindo quadro de beleza

Do campo até na floresta
As aves lá se manifestam
Compondo a sagrada orquestra
Da natureza em festa

Tudo é paz tudo é carinho
No despertar de seus ninhos
Cantam alegres os passarinhos
O camponês vai prazenteiro

Plantar o seu feijão ligeiro
Pois é o que vinga primeiro
Nas terras do meu sertão
Depois que o poder celeste

Mandar a chuva pro nordeste
De verde a terra se veste
E corre água em borbotão

A mata com seu verdume
E as fulô com seu perfume
Se enfeita com vagalumes
Nas noites de escuridão

Nesta festa alegre e boa
Canta o sapo na lagoa
O trovão no ar reboa

Com a força desta água nova
O peixe e o sapo na desova
O camaleão que se renova
No verde-cana que cor

Grande cordão de borboletas
Amarelinhas brancas e pretas
Fazendo tanta pirueta
Com medo do bentiví

Entre a mata verdejante
Seu pajé extravagante
O gavião assartante
Que vai atrás da jurití

Nesta harmonia comum
Num alegre zum zum zum
Cantam todos os bichinhos...
                FESTA DA NATUREZA
(Gereba/Patativa do Assaré)
Gravadora: Sony Music
Editora: Direto/Nossa Música edições
Lançamento: 2002 (CD)
Disco: ''ME LEVE''
Entendendo a canção:

01 – De que trata a canção?
      Fala do bioma nordestino, pedindo que a chuva venha para deixar tudo mais verde.

02 – Nos versos: “Chegando o tempo do inverno / Tudo é amoroso e terno”, o que o poeta está dizendo?
      Está falando que quando o inverno chega, tudo fica em clima de festa.

03 – Copie da canção um verso que identifiquem a seca nordestina.
      “Sertão amargo esturricado”.

04 – Como as aves se manifestam no inverno?
      Se manifestam compondo a sagrada orquestra.

05 – Há estrofes na música? Quantas?
      Sim. Há doze estrofes.

06 – Copie da canção marcas de oralidade.
      Pro / fulô.

07 – Que figura de linguagem há nestes versos? “Num alegre zum zum zum / Cantam todos os bichinhos...”
      Onomatopeia.

08 – Identifique a opção que completa corretamente o enunciado a seguir. Pode-se afirmar que a letra da canção “Festa da Natureza” cumpre seu objetivo, pois:
a)   Simplesmente passa informações.
b)   Provoca emoções e reflexões.
c)   Serve de diversão.
d)   Modifica o comportamento.



POEMA: MUNDO GRANDE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Mundo Grande
               Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
                                                          Carlos Drummond de Andrade
Entendendo o poema:

01 – No poema de Drummond, há uma metáfora que faz referência ao tipo de postura de sujeito romântico, rejeitada pelo poeta. O termo que indica esta METÁFORA é:
a)   Coração.
b)   Mundo.
c)   Fogo.
d)   Amor.

02 – Drummond refere-se a desajustes diante do mundo, que podem ser relacionados com o contexto histórico em que produziu o livro Sentimento do Mundo, do qual o poema “Mundo Grande” foi retirado. A opção que melhor caracteriza o contexto e a referência da época, que justificam a postura crítica do poeta no livro “Sentimento do Mundo” é:
a)   A implantação do Estado Novo.
b)   A Semana de Arte Moderna.
c)   O golpe militar de 1964.
d)   A primeira Guerra Mundial.

03 – Qual é a ânsia do eu poético?
      Em enlaçar destinos (o poeta / os outros), reunir os homens, nem que seja em forma de arquipélagos.

04 – Nos versos: “Fecha os olhos e esquece.
                             Escuta a água nos vidros,
                             tão calma, não anuncia nada.”
        De que se trata estes versos?
      Trata da alienação de uma classe privilegiada que se encontra protegida dentro de espaços fechados.

05 – O poeta percebe que o mundo cresce entre o “amor e o fogo”, entre “a vida e o fogo”, de que forma?
      Cresce todos os dias entre os homens, e que há esperança por trás de tanta maldade e sofrimento.

06 –Por que o poeta sabe que todos nós precisamos uns dos outros?
      Para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas, inundando tudo de verdades e vidas futuras.


TEXTO: MODA PODRÃO - CHANTAL BRISSAC, IN REVISTA ISTO É - COM GABARITO

Texto: Moda Podrão
        
    Roupas de segunda mão e tênis remendados compõem o visual largado dos adolescentes

     Nos anos 70 foi a romântica fase do bicho-grilo, com muita sandalinha de couro, vestido de chita, cabelão, barba e bolsa. Em 90, foi a vez da era grunge, nascida com as bandas de Seattle, Washington – camiseta rota, tênis furado e cabelo ensebado tornaram-se obrigatórios. Agora, uma mistura desses visuais domina alguns redutos de jovens de classe média e de elite, colocando em alta o estilo sujo e pobre de ser. Não há apenas uma classificação possível para a tendência. Ripongas, esbagaçados ou largados, eles vão na direção oposta das patricinhas e playboys. Dizem abominar shopping centers, roupas de grife e consumismo. Integrantes de várias tribos, muitos garimpam sua indumentária em lojas nas galerias do centro das grandes cidades e em brechós. A facção esbagaçada, formada por garotos entre dez e quatorze anos, de boné, bermudas imensas e tênis remendados com silver-tape (um durex largo prateado), também não é muito chegada a água e sabão, gerando entre pais e familiares o sugestivo apelido de “podrões”. “É uma luta convencê-los a tomar banho”, diz Marina Cardoso, mãe de Tiago, doze anos, que insiste em usar camiseta por duas semanas. Na porta do colégio Rudolf Steiner, no bairro paulistano do Brooklin, os amigos Paolo, Vitor, Tayguara, Fernando e Miguel, todos de treze anos, explicam que o banho faz parte de sua rotina, mas escasseia no período de férias. “Aí, a gente também tira férias de banho”, diz Miguel fragues, vestido como os outros, com o uniforme padrão: bermuda big, tênis lesado e remendado com silver-tape e camiseta amarfanhada. “A gente é normal, os outros é que são estranhos”, resume Paolo Pascolo.
        Nessa idade, a aversão à água é compreensível. “Quando começam a se voltar para as meninas, a fase cascão acaba e começa uma produção daquelas, com perfume e tudo”, diz a psicopedagoga Josefina Faccioli. Entre os mais velhos, porém, mesmo com a aparência detonada, não falta uma cuidadosíssima produção.
        “É gostoso se vestir muito mal quando se sabe, entre aspas, que você pode se vestir bem. Dificilmente um garoto que não pode ter um tênis vai achar legal andar de sandália havaiana”, pondera Josefina Facioli.
        Na busca de uma identidade própria e da aceitação do grupo, vale tudo.
        Rica fase de experimentações, a adolescência hoje é vivida sem os radicalismos de outras épocas. As posturas são soft e as pessoas transitam pelos grupos sem muitas cobranças. Há convertidos, iniciantes, recorrentes.
        Para Josefina Faccioli, a adolescência é uma das mais privilegiadas fases da vida, quando se pode experimentar àa vontade. “Depois, inevitavelmente, surge a necessidade de se encaixar, enquadrar e assumir compromissos com a sociedade. Este período de liberdade deve ser compreendido pelos pais de maneira natural. Quando não há espaço e oportunidade para experimentar, há maior chance de se transformar em um adulto com problemas”.
                          Chantal Brissac, in revista IstoÉ, 20 nov. 1996.
                                 Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 76-8.
Entendendo o texto:

01 – Segunda a autora, o que determina a mudança do visual do adolescente, a cada década?
      Há influência de conjuntos ou bandas musicais que normalmente apresentam estilos bem diferentes, excêntricos, que agradam aos jovens.

02 – A seu ver, por que justamente os jovens de classe média e de elite adotam a “moda podrão”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Justamente porque têm posses, podem escolher o que vestir, procuram mostrar-se extravagantes, como forma de contestação.

03 – Você faz parte de alguma “tribo”? Qual a sua opinião sobre esse tipo de comportamento em grupo?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – A moda de “tirar férias de banho” é uma rotina normal entre os jovens? O que você sabe a respeito desse costume?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Entre os jovens ocorre uma fase em que tomar banho é raro, pois acham que é desnecessário, mania de gente mais velha. Com o tempo, em geral, as coisas voltam ao normal.

05 – Segundo o texto, quando acaba a “fase cascão”?
      O jovem começa a se cuidar, tomar banho e até passar perfume, ao se interessar por alguma garota.

06 – Você considera a sua geração menos radical do que a de seus pais, quando tinham a sua idade? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – De acordo com o texto, por que o adolescente assume um comportamento tão estranho? Você concorda com essa resposta? Justifique sua resposta.
      A adolescência é uma fase de muitas mudanças, tanto físicas como psicológicas, e é difícil para o jovem adaptar-se a elas, com tranquilidade e segurança. Ele então procura se afirmar, questionando a tudo e a todos.

08 – A adolescência lhe parece uma fase privilegiada? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – O adolescente que vive com liberdade se torna um adulto mais equilibrado e feliz? Dê a sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Em síntese, como se explica a irreverência do jovem no vestir e no falar? O que ele pretende na verdade?
      Ele procura se auto-afirmar, chamar a atenção, para se sentir prestigiando, menos carente de afeto e atenção.


CRÔNICA: ACHANDO O AMOR - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

Crônica: Achando o amor

                  Paulo Mendes Campos

        Ele tem quinze anos, calça 42, usa cabelos razoavelmente compridos. Estava num bar do Leblon, na companhia de castigados adultos. Estes tomavam uísque; o rapazinho tomava a segunda coca média. Quando os homens feitos já tinham falado sobre mulheres, o time do Flamengo, o custo de vida, reviravolta política dum país africano, desastre espetacular no aterro, música da moda, o silêncio entrou no bar e empapou tudo como gordura. Um silêncio hepático ou pancreático ou esplenético. O silêncio que intoxica os etílicos. Para agravar o oleoso drama, era aquela hora da noite, já um pouco tarde para o jantar doméstico e ainda um pouco cedo para a irresponsabilidade. O encaroçado point of no return dos boêmios.
        Aí o jovem disse que estava juntando dinheiro para comprar um sabiá. Talvez não comprasse um sabiá, mas um curió. Ia para o colégio de ônibus porque sempre estava em cima da hora, mas voltava a pé. Não comia sanduíche no recreio. Sabiá tá caro! Vendedor de passarinho tem muito trambique. Ele chateou tanto um, ali naquela lojinha de Ipanema, pedindo abatimento para pintassilgo, que o homem acabou lhe ensinando onde se compra pintassilgo mais barato na cidade. Tinha em casa azulão, canário, coleiro, bigodinho... Teve bicudo, corrupião, mainá... O triste é que passarinho morre.
        Então os etílicos foram buscar passarinhos no fundão do tempo e começaram também a passarinhar. O bar noturno virou um viveiro de cantores e cores. O Silêncio voltou de novo mais limpo, exorcizado.
        O jovem retomou a palavra: o passarinho que mais o entusiasmou a vida toda não cantava nem era bonito. Até o dicionário dizia que ele era feio. Foi ao dicionário por não saber se o certo era chopim ou chupim.
        O chupim põe os ovos em ninho de tico-tico, e é este que cria os filhotes. Tinha descoberto numa árvore da lagoa Rodrigo de Freitas um ninho de tico-tico com um ovo de chupim. Quando o chupim nasceu, o problema era mantê-lo vivo: arranjou um conta gotas e, todas as tardes, depois das aulas, subia à árvore e descia alimentos líquidos pela goela do filhote. No momento certo, levou o chupim pra casa. O passarinho não ficava preso, pelo menos grande parte do tempo, mas pousado num galho de arbusto decorativo. Saía às vezes para passear com o chupim e a cachorrinha: ele na frente, o chupim andando atrás, a cachorrinha saltitando em torno. Bastava um gesto e um assovio para que o chupim decolasse e viesse pousar em seu ombro. Espetacular! Pouco depois, passou a lançar o passarinho pela janela; ele sumia durante uma ou duas horas, pousando à tarde na amendoeira de defronte; um assovio, e o passarinho entrava pela janela, pousando no ombro do dono. Como um falcão amestrado! Mas era um chupim, um feio e triste chupim!
        Uma tarde, quando o passarinho andava lá por fora, caiu a tempestade. O chupim não voltou. Ele ficou à janela até depois de escurecer; mas o chupim não voltou. Esperou ainda durante uma semana, sabendo que esperava sem motivo.
        Confesso que fiquei triste às pampas, disse o jovem.
        Aí o Silêncio que entrou parecia uma enorme bola de sabão, uma coisa que não vale nada, mas que nos inquieta de leve quando se desfaz.
        O jovem arrematou: É engraçado, eu senti por aquele chupim um negócio esquisito. Eu não tenho vergonha de dizer pra vocês: chorei por causa do meu chupim. Eu sentia uma afeição pelo chupim... uma coisa profunda mesmo... Ora, eu amava aquele chupim... Agora é que tou entendendo: o que eu tinha pelo chupim era amor.
     CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato e outras crônicas. São Paulo, Ática, 1998. p. 93-5.
Fonte: Linguagem Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 12-4.

Entendendo a crônica:

01 – O texto é narrado em primeira pessoa ou em terceira pessoa? Transcreva do primeiro parágrafo o pronome pessoal que justifica sua resposta.
      Terceira pessoa. Ele.

02 – Nesse mesmo parágrafo, o narrador emprega um adjetivo para caracterizar os adultos.
a)   Que adjetivo é esse?
Castigados.

b)   Que conotação pode ter essa palavra no texto?
Ao empregar essa palavra, o narrador possivelmente quis referir-se ao sofrimento das pessoas ou ao fato de já terem tido bastante experiência com fatos tristes na vida.

03 – “... o Silêncio entrou no bar e empapou tudo como gordura.” Por que a palavra silêncio está empregada como inicial maiúscula?
      A maiúscula personifica o silêncio, reforçando ideia da sua presença.

04 – O silêncio que toma conta do bar é caracterizado, no primeiro parágrafo, por adjetivos que se referem a três órgãos do corpo: baço, pâncreas e fígado.
a)   Transcreva do texto o adjetivo correspondente a cada um desses órgãos.
Baço: esplenético. Pâncreas: pancreático. Fígado: hepático.

b)   Por que o narrador faz referência a esses órgãos do corpo e não a outros? Considere que se trata de um grupo de boêmios.
Porque esses são os órgãos geralmente mais afetados pelas bebidas alcoólicas.

05 – Etílico significa “provocado pelo álcool; alcoólico”. No texto, quem são os etílicos?
      São os adultos que tomam bebidas alcoólicas.

06 – “... os etílicos fora buscar passarinhos no fundão do tempo...”. O que o autor quis dizer com essa afirmação?
      Os boêmios começaram a contar suas histórias de passarinho que tinham ocorrido muito tempo atrás.

07 – No segundo parágrafo, o narrador emprega uma frase que antecipa o final da história. Que frase é essa?
      “O triste é que passarinho morre”.

08 – No terceiro parágrafo, utiliza-se uma metáfora para caracterizar a atmosfera do bar depois que começaram as conversas sobre passarinho. Transcreva essa metáfora.
      “Viveiro de cantores e cores”.

09 – O que o narrador quer dizer ao afirmar que o silêncio voltara mais limpo?
      Todos já tinham falado sobre suas histórias com passarinho; não havia mais ambiente tenso, angustiante, em que não se sabe o que dizer.

10 – O narrador compara o silêncio que se instalou pela terceira vez no bar ao efeito provocado por uma enorme bola de sabão que se desfaz. Explique.
      A história contada pelo jovem era uma história comum, sem nenhum valor especial para as pessoas que a ouviam, como a bola de sabão, mas seu final e a confissão da tristeza causaram o silêncio inquietante, a inquietação da bola que se desfaz.

11 – Até chegar à constatação de que seu sentimento pelo chupim era amor, o jovem estabelece uma gradação de sentimentos. Transcreva essa gradação.
      Negócio esquisito / afeição / coisa profunda / amor.

12 – No texto, o silêncio sempre aparece com características de um ser vivo, é tratado como pessoa. Como se chama essa figura de estilo?
      Personificação ou prosopopeia.

13 – O verbo passarinhar pode significar “caçar passarinho”. No texto, esse verbo não foi empregado com esse sentido, mas sim com sentido figurado. Justifique essa afirmativa.
      No texto o verbo pode ter o sentido de contar histórias de passarinho, com a alegria e a algazarra que fazem os passarinhos quando estão em bando.

14 – “O chupim põe os ovos em ninho de tico-tico, e é este que cria os filhotes”.
a)   O comportamento do chupim pode caracterizar que tipo de gente?
Pode caracterizar pessoas que vivem à custa de outras ou que se aproveitam de outras.

b)   Na escola, o que seria um(a) chupim?
Alunos que não fazem trabalho e só assinam; alunos que não estudam e colam, e assim por diante.